Cultura

AS APOLINÁRIAS N’O PAÍS DE AKENDENGUÊ

Ao final da tarde, meia gelada, da passada sexta-feira, dia 4, a comunidade lusófona em Lisboa e não só, na resposta ao convite da RDP-África compareceram e honraram com aplausos de “bate mão” ao lançamento da terceira obra poética da jornalista e escritora santomense Conceição Lima.

As primeiras palavras de agradecimentos saíram da boca do editor da obra, o senhor Zeferino Coelho da Editorial Caminho que numa linha curta deu abertura a sessão, passando de seguida à apresentadora do livro, a professora Inocência Mata, a quem coube a tarefa de despir ao nu a “transversalidade” da escrita de São Lima aos presentes e não só.

Inocência Mata, conhecedora, através das confidências da poetisa, da história de lágrimas escondidas num dos poemas do livro, compartilhou com o público a emoção sangrenta que ainda dilacera a sua alma trazendo ao seu patamar as memórias do assassinato do seu pai Lereno Mata em S.Tomé e Príncipe pela polícia política do regime totalitário da Iª República.

À São Lima consumida, quiçá, pelo cansaço das correntes de Escritas de Norte, preferiu recitar alguns dos poemas e agradecer no leve-leve das palavras aos que compareceram a chamada com uma nota especial ao senhor Embaixador de Portugal em São Tomé e Príncipe, um privilégio para a autora que com o canto de Pierre Akendenguê desbravou em homenagens a geração que coube o destino de despresar a África, Kwame Nkrumah, Amílcar Cabral, Patrice Lumumba, a geração do seu convívio literário Ana Paula Tavares, Luís Carlos Patraquim e a geração dos Santos da Casa embora estes não fizessem milagres, Francisco José Tenreiro, Alda do Espírito Santo, entre outros.

Na sala da editora Leya Barata na Avenida de Roma responsabilizada para acomodar brilhantemente o lançamento d’ O País de Akedenguê, ficou no registo das presenças, a ausência da representação diplomática de S.Tomé e Príncipe em Lisboa, sita uns minutos de distância na Avenida Gago Coutinho que apenas tinha de correr a Avenida João XXI para chegar até São Lima. Inen mwala tela, desde alguns anos a esta parte com o coração de mãe e de mulher para brotar sementes levantaram as saias à cabeça e vêm colocando nas prateleiras da língua camoniana e ao além fronteiras o quanto a escrita paira no verdejante das ilhas. Inocência Mata, Olinda Beja e agora São Deus Lima, são testemunhos das palavras publicadas que ousam questionar:

Será que a nossa Embaixada tem cadeado nas portas, estas portas letradas que viajam longe o nosso S.Tomé e Príncipe ou de outra versão ainda suspeita, será que as mulheres de costas viradas com o nosso Estado, entenderam caminhar sozinhas no levantamento das consciências? Uma coisa é certa! Estes pequenos gestos fazem toda a diferença para que a fotografia aos olhos dos que compareceram e não, fique desajustada, lá fica e ficou. Creio da disponibilidade e do carácter do actual Embaixador, ele teria todo o gosto de esticar as mãos do Estado Santomense com os parabéns a poetisa.

O senhor Fernando Silva, antigo adido cultural do Instituto de Camões em STP (com Alda do Espírito Santo e outros muito fizeram para o despoletar de escritas de novas gerações), o nosso amigo alemão e o jornalista e escritor guineense Tony Tcheka ressaltaram dentre os que ousaram não ficar de fora na lista dos olhares de São Lima.

Nos estandartes do recheio humano que compareceu para saciar “O país de Akendenguê”, além de algumas Apolinárias em carne viva representando particularmente a comunidade santola que aproveitaram, as Apolinárias, em enobrecer a arte da poetisa e responder pessoalmente a carta que deviam a São Lima, também honrou a sala de Leya Barata, o, talvez sim, talvez não, próximo Presidente das ilhas, Liberato Moniz, que embora não se lhe denotasse algum namoro para Julho, enquanto não iniciava o lançamento dos poemas, teve de dispensar a klônvessa com os seus para correr atrás do trim-trim do seu telemóvel para jogar o segredo das palavras para o outro lado da linha.

Dos poemas postos ao apetite dos leitores e também aos ouvidos da comunidade lusófona que fugiu o corre-corre de Lisboa e reservou a tarde para São Lima, roubei-lhe uma outra canção d’ O País de Akendenguê.

POUCO A POUCO

Corpo a corpo a palavra subjuga a culatra.

Pouco a pouco à sombra do poilão

regressam

anciãos com cajados e lendas

guerreiras com fardos de luto e verduras.

Em trôpegos bancos aconchegam os ombros.

Sem alternativa à respiração, cantam.

Navegantes do medo e da devastação.

04.03.11

José Maria Cardoso

15 Comments

15 Comments

  1. Albertino Silva Braganca de Sousa

    9 de Março de 2011 at 9:01

    quem tem mérito, pode-se sentir o seu aroma a distancia.

    e a escrita dessa senhora, tem mérito e beleza!

  2. Buter teatro esquecido

    9 de Março de 2011 at 11:22

    Não tenho dúvidas da ausência dos senhores da Embaixada de S.Tomé e Príncipe em Lisboa. Muitos dos nossos dirigentes são pobres na Diplomacia, não sabem o que è representar um Estado, chegam ao poder com as cunhas e alcunhas.
    O nosso Embaixador, veio trabalhar e decidiu estudar, nem na Universidade que o mesmo estuda, ele consegue negociar algum beneficio para ajudar outros seus colegas da universidade, Santomenses que têm dificuldades em pagar propinas.

    • Celsio Junqueira

      9 de Março de 2011 at 12:25

      Concordo consigo meu caro,

      Confesso que essa situação entristece-me e envergonha-me profundamente. Ninguém entende a falta de sentido de Estado e de educação dos representantes da Nação.

      Como é possivel um Governo e uma representação diplomática do mesmo fazer um silêncio absoluto e estar completamente ausente de acontecimentos culturais como este?!

      Acredito sinceramente que estamos cada vez mais pobres de “espirito” do que outra coisa qualquer.

      Não gosto dessa perpetuação de estilo de fazer politica, “os que estão com o Governo e os que não estão com o mesmo, são uma espécie de pária”.

      Finalizando, o Governo de STP é o governo de todos os Santomenses independentemente de qualquer caracter que possa diferenciar os cidadãos.

      Abraços entristecidos e envergonhados,

  3. ovumabissu

    9 de Março de 2011 at 14:38

    Zeca,

    Ando um tanto ou quanto lerdo, mas o embaixador esteve ou não esteve presente?

    Num do parágrafos escreves: “À São Lima consumida, quiçá, pelo cansaço das correntes de Escritas de Norte, preferiu recitar alguns dos poemas e agradecer no leve-leve das palavras aos que compareceram a chamada com uma nota especial ao senhor Embaixador de Portugal em São Tomé e Príncipe, um privilégio para a autora…”.

    Dessa passagem interpreto que o Sr. Embaixador esteve presente. Ou será que a São agradeceu a… ausência.

    • Fernanda Alegre

      9 de Março de 2011 at 19:16

      Meu caro ( ovumabissu) eu sei que o senhor é inteligente por isso, convidu-o
      a reler este texto e terá a resposta.

    • ovumabissu

      10 de Março de 2011 at 12:14

      Fernanda,

      Tem razão. “Li” o que me parecia óbvio (que seria a presença do embaixador de STP em Portugal e não o contrário).

      Zeca, o erro foi meu. Peço desculpa.

      Assim sendo, é efectivamente de lamentar e deplorar a ausência dos representantes de STP em Portugal.

      Fica sempre bem separar as águas e esse tipo de represália está na base do nosso insucesso enquanto nação.

      Junto, portanto, a minha voz ao côro de protesto. Lamentável, simplesmente!

    • coblo

      9 de Março de 2011 at 20:38

      A ausência é de representantes da Embaixada de São Tomé e Príncipe em Portugal…. Isso inclui o Embaixador a outros funcionários do corpo diplomático a ela afeta.

  4. Albertino Silva Braganca de Sousa

    9 de Março de 2011 at 18:45

    é o embaixador portugues, aquele que vive em stp que esteve temporariamente no seu proprio pais portugal e acudiu ao evento, e nao o embaixador, damiao vaz dalmeida, porque pesa-lhe o facto de nao ter curso superior, pelo que insiste em querer formar-se pra ter titulo superior. embora ja tenha tres filhos licenciados. nunca é tarde e o senhor tambem quer ser verdadeiro licenciado, como se diz em stp ” só dotor”.

    • ovumabissu

      10 de Março de 2011 at 12:17

      Albertino,

      Não conheço assim tão bem o Sr. Damião V. Almeida. Mas sei que ele não é pessoa para esse tipo de melindre e de atitude.

      A César o que é de César.

  5. Fernanda Alegre

    9 de Março de 2011 at 19:19

    Tbm acho triste essa falta de cultura por parte dos nossos representantes.

    Viva São Lima, que Deus a abencõe sempre.

  6. jair nascemento da costa

    10 de Março de 2011 at 8:57

    Caro Albertino o senhor Damião não tem tres filhos licenciados mas sim dois.. 1 formado em Cuba e outra em Brazil.. e outra a que trabalha na direcção do Turismo tem formação tecnico profissional feito em Portugal… informa-te

  7. J. A

    10 de Março de 2011 at 17:23

    Cara Lima, não admires da ausência do nosso embaixador em Portugal, não sei se o cargo que exerce não lhe permite dialogar, visitar a nossa comunidade, uma coisa é certa, está a aproveitar do seu cargo para fazer sua licencitura o que é comum na nossa embaixada para os todos fucionários, deixando porém os assuntos da diáspora em segunda mão.

  8. Lucumy

    11 de Março de 2011 at 10:20

    Achei feio, ver o Srº Embaixador estudar neste preciso momento em que este tem uma importante tarefa, que é a representação do nosso país no estrangeiro. Enquanto que noutro país, a pessoa nomeada para o cargo de embaixador ser político de carreira e, possuidor de formação académida,em S.Tomé e Príncipe passa-se o contrário.É triste e vergonhoso; assim vai o nosso País. A sua substituição do cargo não seria nada mal.

  9. Baptista

    13 de Março de 2011 at 7:37

    O Sr. Embaixador provavelmente estava na eminencia dalgum exame e tinha que estudar mas, podia mandar um representante.
    Esqueceu-se.

  10. jaka doxi

    15 de Março de 2011 at 23:55

    Quá Lumadu.
    Zémé.

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