Cultura

A CIDADE DE SÃO TOMÉ:A Cidade de Todas as Esperanças

A cidade de São Tomé completa esta sexta-feira 476 anos. É uma das mais antigas do espaço lusófono em África. É tão bela que nem a degradação provocada pelos seus filhos, conseguiu ofuscar a sua beleza passados 476 anos. Francisco Costa Alegre, escritor São-Tomense, preparou um rico documento de investigação, sobre a história da capital são-tomense.
A CIDADE DE S. TOMÉ:
A Cidade de Todas as Esperanças

Por : Francisco Costa Alegre

As Mundanças Sociais e/ou Políticas são inevitáveis e imprescindíveis, mas só que muitas vezes elas parecem não ser consentâneas e, mesmo quando visivelmente são, não estamos dispostos em aceitá-las como quem toma um comprimido de multivitamina para manter o organismo.

O Programa do XIV Governo Constitucional ergue a palavra MUDANÇA como o norte para construção do país e consequentemente da Cidade, onde se declarou a independência nacional em 12 de Julho de 1975. As Cidades do Mundo enquanto entidades urbanas legais são consequência de Mudanças Sociais e/ou Políticas. É por isso que de uma forma ou de outra, a Cidade de S. Tomé é uma cidade de todas as esperanças e consequentemente a cidade de todas as gerações, quer queiramos, quer não. São as gerações que fazem as mudanças, muitas vezes sem saber da ocorrência delas.

De 22 de Abril de 1535, momento do nascimento régio da Cidade de S. Tomé, até aos nossos dias, foram várias as gerações que definiram o seu perfil que se mantem ainda com um rosto feudal, agrícola e Gorgulhano (ou seja referente ao então Governador Carlos Sousa Gorgulho), embora sejam aceites os esforços das autoridades camarárias de dar-lhe um novo rosto. No entanto por uma questão de desenvolvimento e repeito pelos fundamentos históricos, a Cidade de S. Tomé poderia chamar-se Cidade de Ana Chaves..

1- INTRODUÇÃO

A História é para mim a  maior agência reitora da Humanidade, de tal forma que ela se impõe perante factos e se evidência em todos os campos da Ciência compartimentando-a em Filosofia, Antropologia, Sociologia, Matemática, Física, Química, Medicina, por aí fora. A análise histórica se baseia em fundamentos humanos relegados a explicações consistentes de factos discutíveis e discutidos por uma ordem lógica sequencial e construtiva. Nunca os relatos históricos foram destrutivos, embora se possa encontrar degradação, erros humanos e desgraças, infortúnios e percas nos relatos históricos. É por isso que devemos ser capazes de reinvistir o passado no futuro, considerando lições apreendidas, não ficando eternamente preso ao passado.

De todos esses ramos de ciências supra citados, também espaçados pelos conceitos translucidos e/ou transparentes de Ciências Puras, Ciencias Exactas e Ciências Sociais, aquelas que lidam de facto com o assentamento humano são especificamente a Sociologia e a Antropologia, quando muito também a Economia pelo facto dessa se referir a abardagem de circulação de pessoas, bens e serviços.

Com a Antropologia e a Sociologia podemos conhecer as nossas origens e entender no êxtase o porquê da ocorrência de alguns fenómenos sociais que grassam as nossas sociedades. Dos fenómenos sociais transitamos à fenómenos ambientais onde a nossa preplexidade perante factos levam-nos a procurar refúgio religioso ou explicação científica. Um exemplo disso pode ser apontado para o crescimento populacional que define o perfil de muitas sociedades neste momento que o princípio da globalização se tornou preocupação, imposição ou realidade. Neste caso, até a explicação do próprio Deus se conforma com a História como a agência reitora da Humanidade pelo facto do Seu entendimento merecer o recurso de meios científicos e tecnológicos a medida que o tempo passa e o Homem acumula conhecimentos. Muitas seitas religiosas só existem hoje devido a capacidade do Homem utilizar os meios desponíveis para revelar a grandeza da existência de Deus, com instrumentos e meios de comunicação quase se pode classificar de milagreiros.

Os historiadores apoixonados com a análise dos factos, interpretam os fundamentos históricos de tal modo que, argumentam que eles (os factos) se baseiam em explicações físicas, explicações químicas e explicações exclusivamente históricas e humanas. Assim, a realidade no meio de tudo isso é que os povos do mundo inteiro vêem-se cada vez mais confinados a espaços mais exíguos sujeitos a partilhar o que dantes era inviolável e proibido quebrando deste modo as barreiras que em tempos antigos separavam as raças, distanciavam as religiões uma das outras, dividiam os poderes políticos e económicos. Eis aí a base de todo esse relacionamento fisico-químico que promete a continuidade da vida na Terra e alicerça a razão dos feitos dos nossos antepassados.

Os fundamentos por que se assentam a filosofia de Redução da Pobreza, a Defesa da Equidade de Género, a atênção especial ao continente africano, uma maior parceria mundial, enquadrados nos Objectivos do Milénio, revelam a afirmação do mundo em cumprir e fazer cumprir essa sublime decisão internacional em velar por uma maior aproximação das sociedades, das pessoas, de tudo. O fim da guerra fria e da bipolarização, o espetro do terrorismo e a perca do domínio unipolar do mundo, também sustentam elementos demonstrativos dessa inquestionável vontade em transportar esse valioso e pesado fardo de explicações históricas e humanas, num eterno investir o passado no presente: A Convivência Pacífica.

Nesta convivência é que surge a distinção ou a relação entre ricos e pobres, entre países grandes e pequenos, entre a chamada civilização e o atraso, a relação entre a cidade e o campo  em que S. Tomé e Príncipe não escapa a interpretação como sendo a relação entre a Cidade e a Roça, em que a Roça tem duas facetas, uma as empresas agrícolas e outra os luchans e bairros rurais; ao ponto de se questionar jocosamente, como proteger o campo e livrar a cidade do mato?! Como ?! Como favorecer todos os valores extremos da liberdade democrática e como exercer com firmeza a autoridade de Estado?! Como?! Como repor a Cidade de S. Tomé o seu perfil feudal, agrícola e colonial dos tempos idos e como lidar com a realidade demográfica desafiante imposta pelos fundamentos históricos e políticos?! Enfim, Como?! São perguntas cujas respostas despidas de túnicas políticas devem ser respondidas por cada geração e em cada época histórica. Neste momento muitos procuram algumas respostas a estas questões com trabalho, questionando estupefactos sempre…O que é uma Cidade?

2- O QUE É UMA CIDADE?

A Cidade de S. Tomé é o tema central deste ensaio, o que nos leva também a questionar o conceito de cidade. O que é de facto afinal uma Cidade? Que distância física e química existe entre uma cidade e uma vila, ou para o caso de S. Tomé e Príncipe, o que é que separa  a cidade da roça ou do luchan?

A configuração física e geográfica do mundo é espelhada através de continentes e ilhas com povos e culturas diferentes que no seu relacionamento viram-se na necessidade obrigatória de, individual e colectivamente, de viverem em comunidades. É assim que surge o princípio por que se alicerçam as cidades tendo em conta a partilha e a aceitação das diferenças na troca de interesses e bens, na oferta de entretenimentos e serviços, na assitência e cumprimento de deveres públicos e privados.

Considerando essas diferenças físicas e geográficas do planeta Terra com seus povos também diferentes uns dos outros, esse conceito de cidade embora possa ter como base um fio condutor de definição, a realidade impõe interpretações diferentes. No entanto, fica claro a ideia de cidade passa por essa diferença marcada pelo que é a Roça e o que é a Cidade, ou seja, a diferença entre o mundo urbano e o mundo rural que com a evolução do mundo nalgurs lugares fora do nosso país começa a ser exíguo.

Albertino Brangança, uma das figuras publicas do espaço político e literário do país e, pessoa que enquanto Deputado da Républica batalhou para que o dia da Cidade de S. Tomé fosse reconhecido a partir de 22 de Abril de 2005,  assim como a personalidade de Amador Vieira fosse exaltada, define Cidade como, espaços vivos, que se renovam e desdobram a cada passo como se dispusessem da capacidade de se apresentar com novas feições, novas vestes, à semelhança das diferentes gerações que com elas convivem em cada época.

Por isso, as cidades têm uma história, feita de sítios e lugares específicos, bem como de episódios caricatos protagonizados por personagens típicas que lhes marcaram e marcam por muito tempo a existência.Na maior parte dos casos, elas não entram na historiografia oficial, não influenciam o curso da vida dos respectivos povos, mas como ignorá-las quando a sua memória atravessa a cortina dos anos e perdura viva na memória dos seus concidadãos? Ao falar da cidade de S. Tomé, recordemos então personagens, lugares e bairros, uns já desaparecidos, outros sujeitos a novos usos e configurações, numa viagem nostálgica que revigora aos nossos olhos os tempos de outrora e faz necessariamente a ponte entre o passado e o presente, duas faces inseparáveis da vida dos santomenses.

Outras pessoas referem-se as Cidades como um centro urbano onde existe a concentração de serviços administrativos, sede de empresas, distinção de arruamentos e de edifícios públicos. Uma cidade tanto pode ser económica, onde se operam as transacções e diversos tipos de trocas, como pode ser política, onde funciona a equipa governamental e se regulamentam as leis das translações e de funcionamento de todo o país. (Leia-se no livro A CIDADE DE S, TOMÉ – A Cidade de Todas as Esperanças, S. Tomé 2008).

Sendo assim a cidade é onde se plasma as leis e onde impera a lei e a ordem e onde emana a amostra de toda a ciadadania. Em tempos idos os populares diziam em crioulo Forro quando se deslocavam a capital: “Nska bá poson d’alê” o que quer dizer, eu vou em direcção a cidade do rei, eu vou partir em direcção a cidade onde impera a lei.  Assim como no passado a lei e o rei se confundiam porque ninguém podia estar acima dele ou dela, nem ele próprio o rei, assim também a cidade e a lei se compaginam. Na cidade tem que haver a lei e a ordem, o civismo e o repeito uns pelos outros, entre deveres e direitos porque todos são iguais perante a lei, mas todos devem respeito a ela, desde a mais alta magistratura até ao mais infantil. Tudo porque as relações de amizade e de cooperação são estabelecidas entre povos através das suas cidades que são a porta de entrada e de saída estabelecidas por leis que na sua forma erudita ganha o nome de Direito. Desde o Direito Civil Público e Privado até ao Direito Internacional Público, a presença urbana está sempre presente como instrumento de relação entre pessoas.

De qualquer forma, qualquer definição da Cidade repousa na conceição do facto da passagem do Homem nómada ao Homem sedentário, da revelação da passagem do rústico e selvagem, do mundo da humildade e do saber, pois consta-se que muitas das invenções e descobertas ocorreram nas cidades e os grandes textos a favor da PAZ foram escritos e rubricados pelos beligerantes nos grandes centros urbanos, desde mesmo a Antiguidade até aos nossos dias em que essa realidade é mais palpável.

Prova disso podemos constatar no nosso continente onde diversas expedições comerciais, políticas e culturais indicaram as cidades como fonte de toda inspiração de convivência, ao ponto de hoje com a nova filosofia do desempenho do poder local se estender esse príncipio das zonas rurais, como vilas e luchans, serem extenções das cidades. A cidade de Argel na Argélia por exemplo constitui para muitos outros países um grande ponto de referência, que no caso de S. Tomé e Príncipe o significado é entendido como berço da nossa independência. O dia 12 de Julho de 1975 é uma data vista em caixa alta e com elevado grau de respeito e nobreza, mas a cidade de Argel associada a data de 26 de Novembro de 1974 parece tecer uma excelência superior, pois foi ali naquele local do mundo que as autoridades portuguesas e do Movimento de Libertação de S. Tomé e Principe, assinaram um Acordo de Autodeterminação e Independência que passou a ser conhecido como Acordo de Argel. O Acordo de Argel é o primeiro e tipicamente único documento diplomático na história das Relações Internacionais Santomenses.

Quando se fala de Argel pode-se ainda falar de Addis-Abeba para África como sede da então Organização da Unidade Africana (OUA) que transformou posteriormente em União Africana (UA) na cidade de Sirtre na Líbiaem Setembro de 1999. Ainda pode-se indicar a cidade de Nova York como a sede da Comunidade Internacional, onde se encontra a Organização das Nações Unidas, instituição que pugna pelo desenvolvimento social na partilha de culturas e do saber, na Paz e na Concórdia.

Por outro lado ainda a cidade de Alexandria no norte do Egipto foi durante séculos, ponto de referência da intelectualidade, assim como muitas outras cidades africanas, indianas, europeias ou anericanas constituem marcos de referências para as gerações urbanas e rurais. As cidades como Lagos, Niamey, Sirtre, Cairo, em África, Nova Dheli, Beijim, Tókio na Ásia e muitas outras tantas na Europa e nas Américas constituem pontos de referência em que toda a Humanidade se verga perante elas. Por exemplo a Cimeira do Dia da Terra realizada na cidade de Brasília no ano 2000, constitui um marco importante para o mundo e para as cidades do mundo inteiro, na preocupação da conservação deste cada vez mais exíguo espaço onde todos nós vivemos.

Neste sentido, no que se refere a Cidade, independentemente de outros príncípios culturais que possam distinguir uma cidade da outra, os padrões de concenso que os estudiosos apontam para a existência de uma Cidade, são os seguintes: a) um qualitativo profissional formado por indivíduos socialmente heterogéneos, b) uma localização permanente, c) uma considerável extensão espacial, d) um certo padrão de especialidade e de organização de propriedade, e) ocorrência de um certo padrão de convivência, f) a presença de ocupações não agrícolas, g)densidade populacional cuja redefinição é prescrita em cada época histórica, h) ter centro de mercado de compra e venda, i) uma abertura ao mundo exterior.

3- A CIDADE DE S. TOMÉ

Se formos a passar em revista todos esses nove indicadores eleitos para definir o perfil de uma Cidade como o da Cidade de S. Tomé, conseguiremos chegar ao destino como quem parte a procura de um lugar e encontra-o depois de passar por várias localidades. Essas localidades conotam as etapas por que passou a Cidade de S. Tomé enquanto uma entidade urbana nascida nos longínquos anos de 22 de Abril de 1535 através de uma Carta Régia do então El-Rei D. João III, o Piedoso, que pelo seu punho determinou que a povoação do recinto onde se encontra parte da actual cidade subisse do nível povoação “poçom” para esta categoria urbana, tendo em conta o preenchimento de entre outros requisitos, a existência de uma Diocese reconhecida pelo Papa, um porto, uma população que na altura era reduzida pela linguagem técnica de número de fogos, ou seja casas.

A localização geográfica da Cidade de S. Tomé foi o objecto de um aturado princípio de escolha de melhor sítio para a criação de uma entidade nascida legalmente naquela data e que perdura até aos nossos dias, alargando em termos de números de infraestruturas, de residentes, assim como de utentes. Após a descoberta ocorrida em supostamente no dia 21 de Dezembro em 1470 onde o marco do primeiro local de pisada dos descobridores portugueses é a famosa zona da foz do Rio Anambó na parte nordeste da ilha, a tendencia foi sempre subir mais ao norte ou descer mais ao sul na perspectiva desta escolha notável. A escolha foi descer e descer atingindo a zona de Maria Simoa Godinho (Magodinho que hoje se chama Micóló), de seguida decidiu-se atingir a zona da Praia Lagarto e finalmente a área pantanosa da foz do Rio Água Grande adstrita a baía de Ana Chaves, onde se construíu um porto com o seu cais que durante séculos serviu de abrigo e socorro a várias navios.

Neste sentido a Cidade de S. Tomé passou doravamente a pertencer a um conjunto de cidades insulares atlânticas segundo  um valioso documento de autoria de Teresa Madeira, sobre o Estudo Morfológico da Cidade de S. Tomé no Contexto Urbanístico, texto dum colóquio internacional apresentado em Coimbra em 1999, onde agarrando no estudo e na apreciação da evolução da cidade até ao presente momento que este artigo é publicado no Correio da Semana, depreende-se as seguintes etapas de evolução ou de mudança, tendo sempre como base o desenvolvimento económico como sendo: 1) escolha do local conforme foi descrito, ocorrido nos finais do século XV e princípio de século XVI, 2) criação legal da cidade associado também desenvolvimento económico marcado pela indústria açucareira, ocorrido entre finais do século XV e todo o século XVI, 3) declíneo da industria açucareira e ligeiro abandono da ilha ao ponto da cidade como capital ser transferida para a ilha do Príncipe (1753-1852), situação que se passou quase dois séculos XVII e XIX, 4) de seguida rompe o novo crescimento da cidade marcado pela produção extraordinária do cacau assinalado nos finais do século XIX e meados do século XX, após um surgimento curto de produção de café, onde a presença de dois Governadores portugueses ficou bem marcante.

Um deles é Carlos Sousa Gorgulho (1945-1953) que praticamente deu a cidade o rosto que tem hoje através de um trabalho escravocrata de altura. Há quem diga que se o Porto de Fernão Dias que ceifou muitas vidas em 1953 se tornasse uma realidade, a estrutura viaária e urbanística da cidade seria outra, onde é hoje a capela de S. Francisco de Assis de Micóló seria o topo de um viaduto do Cristo Rei santomense. Mas vamos esperar para ver o que vai acontecer a esse porto agora neste século que ele ganha o nome de Porto em Águas Profundas.

Outro Governador em referência, trata-se de António Jorge Silva Sebatião (1963-1972) que ao invés de Gorgulho numa investida de melhoramentos públicos desencadeou um processo de construção de diversos empreendiementos nas zonas rurais, como escolas, mercados, estradas e pontes, assim como edifícios importantes.

Nesse período do século XX até Silva Sebastião, foi marcado antes e depois por movimentos abolicionistas, negritudistas e consequente movimentos de luta pela libertação nacional, espaço previlegiado para o nascimento do Movimento de Libertação de S. Tomé e Píncipe,  que a Cidade viu em 12 de Julho de 1975 impor a decisão política afectiva da independência nacional.

Assim, a independência nacional que não pode ocorrer em nenhum lugar a não ser na cidade, ela herdou um espaço urbano de feições coloniais, feudais, agrícola, e, se quisermos feições Gorgulhanas, onde o desafio da sua tranformação em cidade moderna confronta-se com as modificações rápidas ocorridas política e sociologicamentre no mundo e no país que tem o rosto da cidade ou vice-versa. Assim como houve novo reordenamento do mundo, aconteceu também um novo reordenamento territorial santomense e quem sabe, se dentro de pouco tempo não acontecerá outro?.

É assim que podemos falar da divisão administrativa do país inicialmente em oito e posteriormente em sete distritos, onde um deles, o Distrito de Água Grande tornou-se o emblemático, não só pelo famoso e exclusivo Rio Água Grande que antes ajudava a encharcar os pântanos hoje já extintos, mas por ele ser o Distrito da Cidade de S. Tomé, da Cidade de Ana Chaves. A nova história da Cidade de S. Tomé ou do Distrito de Água Grande começou a ser escrita numa perspectiva de todos por todos, rumo à uma unidade nacional, quebrando todas as sequelas segregacionastas do período colonial, onde as portas de entrada das Roças e Luchans foram quebradas possibilitando tudo e todos a viverem na Cidade ou no Distrito de Água Grande.

Desta forma todo santomense no vai-vem entre a cidade e o campo, entre a cidade e a roça, tornou-se judiciosamente um Forro como pessoa, independentemente de poder ser angolar, ser cabo-verdiano, ser minuyé, ser mestiço, ser mesmo branco ou de outra origem, traçada pela nova emigração proveniente da costa africana. As autoridades camarárias confrontam-se com grande desafio de, como proteger o campo e livrar a cidade do mato? Como despir as vestes coloniais da cidade e construir uma cidade africana e moderna atendendo aos imperativos socio-históricos?!

Como valorizar e preservar o que o passado nos foi dado e como construir e alargar a Cidade?! Como preservar o valioso património colonial para posteridade e construir uma nova cidade?! Como manter unido o povo com aquele sentimento afectivo de 12 de Julho de 1975, embora estejamos conscientes da alta estratificação social? Como encarar o conflito de transição geracional?!

O geogáfo Xavier Munõz num artigo sobre a Cidade de S. Tomé tornado público no Semanário Correio da Semana de 10 de Outubro de 2010 tece considerações a esse repeito como que lançando pistas para a construção de uma nova cidade, onde o civismo e a tecnologia, o rosto feminino da cidade e o reforço a homogeneidade, são necessários para que se tenha em conta a modernização da Cidade.

4- A POPULAÇÃO DA CIDADE DE S. TOMÉ

Por esse motivo a Cidade de S. Tomé não tem vida nocturna tendo em conta que ela se encontra numa fase de transição de um espaço urbano antigo colonial para o um outro moderno, onde os utentes vão adquirindo novos estilos de vida e novos habitos, associado ao surgimento de novos problemas de cidades modernas, como meninos de rua e indícios de prostituição(?!).

A população que mora na Cidade de S. Tomé e nos seus arredores e que se fica sem saber se esses arredores são partes da cidade ou não, assim como o conjunto de utentes que a povoa durante o dia e como se pode depreender após essa narração, é toda ela heterogénea, amarrada aos fundamentos Forrecos que judiciosamente relegam uma unidade necessária e construtiva, conforme também apontou o Muñoz.

Asssim, essa população da Cidade que representa a matrix de toda a heterojoneidade do país, é Forra, ou seja assenta-se implicitamente nos ditâmes da Carta Foral dos longinquos anos de 1522 em que o Governador Gregório José Ribeiro deu liberdade aos escravos que em parte estão na base da formulação socio-cultural do povo. Todo cidadão neste sentido, independentemente da sua origem, angolar, cabo-verdiana, lunguyé, mestiça, branca, da recente emigração africana, ou mesmo forra, é judiciosamente Forra. A razão para se defender isso radica no facto de todos e cada um implicitamente viver a sabor de uma cultura crioula de domínio Forra, deluída na música local, na culinária, nos cuidados maternais e infantis, na prestação de culto aos deuses.

As divisões estanques da população (como angolar, forro, moncó, gabão, caboverdiano…) muito marcante na era colonial perdeu a sua validade, tendo em conta o contexto afectivo dos primeiros anos da independência de atribuir a igualdade a tudo e a todos, fazendo com que todos tenham acesso a cidade, todos tenham acesso a empregos de gabinete, todos tenham acesso a política e ao parlamento. De lá até hoje (2011), torna-se necessário fazer-se um grande apelo ao TRABALHO e valorizar todo tipo de trabalho e trabalho de todos e de cada um, para numa perspectiva positiva de retorno as raízes, para que as zonas rurais voltem a acolher os seus originários ou descendentes destes para desanuviamento da Cidade e para a construção de outros poderes locais fortes que sustentem os luchans e as vilas numa perspectiva de maior aproximação do poder central e local e diminuição das assemetrias entre entidades urbanas e rurais.

Nos últimos anos a Cidade de S. Tomé para além de ser atingida por uma emigração interna ocorrida entre 1975 e 1990, desta data em diante a Cidade tem sido fustigada por outra emigração proveniente da costa africana assinalada grande parte por homens de negócios (Nigerianos, Libaneses, Gaboneses, Senegaleses, Congoleses, Camaroneses) que de certo modo ao aproveitarem da vulnerabilidade social se vão instalando e sediando no país, acasalando com as mulheres nacionais, prometendo contribuir na futura desconfiguração sociológica da Cidade e consequentemente do país como matrix.

Esta Cidade que se espera seja de todas as esperanças e de todas as gerações que tiveram a sua origem no tempo da malograda Ana Chaves até aos nossos dias de enchentes enormes e de rosto profundamente feminino.

5- CONCLUSÃO

As Mundanças Sociais e/ou Políticas são inevitáveis e imprescindíveis, mas só que muitas vezes elas parecem não ser consentâneas e, mesmo quando visivelmente são, não estamos dispostos em aceitá-las como quem toma um comprimido de multivitamina para manter o organismo. A aceitação dessa mudança requere um espírito inovador e contrutivo considerando os imperativos históricos que  nos leva a argumentar que as cidades são fruto de mudanças. A Cidade de S. Tomé que poderia ser conhecida como a cidade de Ana Chaves.

Ela é nada mais nada menos que a cidade de Todas as Esperanças, a cidade Todas as Gerações, porque são as gerações que criam as expectativas que ao não morrerem, mantêm viva a Cidade que todos que nela vivem e todos que a usam diariamente, entre o respeito e o civismo, entre a lei e a ordem, entre o saber e a inovação, entre a socialização e a construção nacional.

Outra razão ainda de a Cidade de S. Tomé ser considerada a Cidade de Ana Chaves, a Cidade de Alda Graça Espírito Santo, ou ainda a Cidade de Água Grande, é porque ela é a cidade mais feminina que conheci, basta despirmos os nossos sobretudos de finura e de elegância e percorrermos as suas hostes centrais para reconhecermos através do êxodo rural, a percentagem das gentes que a enche diariamente vendendo e concichando: são na sua maioria mulheres. Bem Haja a nossa Cidade de Todas as Esperanças!

BIBLIOGRAFIA

Croce, B., History as the Story of Liberty, London, 1941

Dias, Edimundo, Boletim Geral das Colónias, S. Tomé e Príncipe (Portugal), Agência Geral das Colónias,n 43, Volume V, 1929

Freud, S., Civilization and Its Discontents, New york, 1930

Patrick, Gardiner, Teorias da Historia, Fundação Calouste Gulbenkian, Avenida de Berna, Lisboa 1995

Russel, B., Freedom and Organization, London, 1896

Walsh, W. H., An Introduction to the Philosophy of History, London, 1911

Ware, C. F., The Cultural Approach to History, New  York, 1940

15 Comments

15 Comments

  1. Matazele

    21 de Abril de 2011 at 10:59

    A minha Cidade precisa de um “Conselho de Cidade”, com gente que saiba valorizar o patrimonio, mas sem politica partidaria.
    Uma verdadeira politica de cidade para São Tome.

  2. ovumabissu

    21 de Abril de 2011 at 12:56

    O que parecia ser um artigo interessante sobre a cidade redundou num emaranhado de babuseiras pseudo-históricas e com muita nacionalice pelo meio.

    Não há paciência.

    • observador

      21 de Abril de 2011 at 14:28

      é uque nos faz falta NACIONALICE. PRIMEIRO NOS OS SAOTOMENSES.depois os outros .

    • Vugu-vugu

      21 de Abril de 2011 at 15:19

      Nacionalismo, acredito que sim.

      Nacionalice, não. É versão rasca de nacionalismo. é parolice. Disso a gente tem até dizer chega.

    • MT

      16 de Setembro de 2011 at 15:15

      Pense no que disse.. Babuseiras?

  3. J. Maria Cardoso

    21 de Abril de 2011 at 15:16

    Nessa transformação sócio-política-económica por varidíssimas vezes questionei, se a nossa Cidade de São Tomé, k não é a minha, sou muito orgulhoso da minha roça “luchan”, tão feminina quanto ela é, não merecesse um outro nome, agora identificado neste trabalhoso pensamento, Cidade de Ana Chaves, Cidade de Água Grande, Cidade das Esperanças ou outra cidade qualquer, menos aquela k combine com o do país. Ou será o país é que deve encontrar um outro nome? É compreensível a pergunta.
    Se este texto deve ser um ponto de partida, tb análises opostas surgirão a conservar o tradicional ou o histórico e até o religioso.
    Há muito mais com k preocupar, mas em consonância com o capital humano, é verdade k há pouca preocupação do k muito mais.
    Parabéns!

  4. Pen Drive

    21 de Abril de 2011 at 16:36

    Reflictam comigo. Cidade de um país? Viva Montalvão!

  5. Bodji Vé

    22 de Abril de 2011 at 10:51

    Na minha modesta opinião, deviamos criar o conceito de “cidade nova” e “cidade velha”.
    Na “cidade velha” tudo deveria ser feito no sentido da preservação do patrimonio herdado, não descurando a tão necessaria obra de manutenção e, se possivel, não esquecer o património das roças.
    Num país que tem pretenções turisticas, esses “pequenos” valores constituem uma preciosidade para turistas.
    Apesar da extensão(elucidativa),excelente trabalho, Sr. Francisco Costa Alegre.
    Bem haja.

  6. rapaz de riboque

    23 de Abril de 2011 at 18:19

    esperança de que da pobreza miséria e curupçao ja a 35 anos que falam na esperança

  7. Digno de Respeito

    24 de Abril de 2011 at 4:09

    Caro Francisco Costa Alegre, muito recentemente parte do assunto que aborda, foi tema duma recente Conferência realizada no audotórioa da UAL – Univesidade Autónoma de Lisboa. Tratou apresentação dum estudo arquitectónico comparativo entre duas antigas cidades (ex-colónias)de São Tomé e de Cabo Verde.

    Trata-se dum trabalho de base ciêntifica e que merece atenção e a refleção dos nossos dirigentes.

    É o motivo para continuar a questionar para quando teremos realmente uma Cidade no conceito #cidade#?

    Já ouvi falar de estudos urbanisticos que teve a colaboração de técnicos nacionais e que me parece ter a assinatura do Arquitecto Liberato Moniz. Que é feito desse estudo? E talvez haja muito mais levantamentos e outros datados da época colonial sobre toda zona extensiva à Ana Chaves que no meu entender deviar ser posto em prática (com algumas adaptações da actualidade).

    Porque não juntar técnicos nacionais e internacionais especializados em Arquitectura, Urbanismo, Paisagistas, Tecnologias de Edifícios, Engenharias e Pontes para traçar um Plano Director sobre a Cidade Futuro em STP? E a ideia de se criar o Conselho da Cidade não seria mau de tudo. Mas antes sugiro que o Estado santomense deveria criar uma plataforma Nacional sobre a construção ou alargamento das Cidades, através duma consulta participativa(CP) onde todos santomenses possam ter direito a palavra e votarem naquilo que é prioritário e relevante para dignificar a nossa Cidade de ANA CHAVES.

    Contudo, já é tempo dos arquitectos e enginheiros de Cosntrução Civil santomenses pensarem num projecto comum e submeterem ao parlamento e o governo por sua vez procurar financiamento junto dos parceiros. Alias, o projecto apresentado por Pina até agora não foi executado. Porque será?!

  8. Digno de Respeito

    24 de Abril de 2011 at 4:10

    Digo: “engenheiro”

  9. Leonel Ppinto

    24 de Abril de 2011 at 17:33

    nao deixa de ser uma ideia impertinente, mas é fazermos um juizo mas moderado, pork o país ou seja a nossa cidade precisa de uma obra gigantesca para manter o patriomónio e dar um aval de crescimento tendo em conta que o país é um país vocacionado para turismo de fturo e nao só…
    um bem haja a todos

  10. BARÃO DE ÁGUA IZÉ

    25 de Abril de 2011 at 20:38

    Parabéns a Francisco Costa Alegre!
    A cidade de São Tomé muito contribuiria para a defesa da sua identidade e valor para o Turismo se toda a arquitectura colonial fosse recuperada e no seu centro histórico novas construçõea deveriam respeitar o traço colonial. O Hotel Libio projectado é uma nódoa na cidade e a sua construção com a arquitectura apresentada deveria ser cancelada.

  11. Páscoa de Carvalho Lima

    26 de Março de 2012 at 15:20

    como é tão bonita a cidade de S.Tomé, vamos ajudada-la a ficar mais bonita

  12. Luciano Gonçalves sabino

    31 de Março de 2017 at 13:05

    Pais belo e eu sem o culheçer kem me dera a mim puder velo

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