Política

Entrevista com o Secretário Geral do MDFM-PL

raul-cravid-1.jpgNum momento de grande tensão política no país, em que o governo tripartido se desestrutura, o Ministro da Justiça, Administração Pública, Reforma do Estado e dos Assuntos Parlamentares e a Ministra dos Recursos Naturais, Energia e Ambiente, membros do partido MDFM-PL, manifestaram ao Primeiro Ministro a disponibilidade para continuar no Governo. Na qualidade de Secretário Geral do MDFM, Raul Cravid, respondeu a estes frémitos.

Téla Nón (TN) – Como reage o MDFM relativamente a recusa de Justino Veiga e Cristina Dias em deixar o Governo de Rafael Branco?

Raul Cravid (RC) – Ainda não houve uma recusa oficial. O MDFM espera que tenham a coragem, o carácter de virem cá ao povo dizer que como elementos do MDFM, da comissão política do MDFM, membros do Conselho Nacional e falando concretamente do Justino Veiga, membro do conselho de ética e disciplina, que não acata uma decisão do partido, ter um comportamento dessa natureza. Lamentamos e esperamos que cada um faça a leitura correcta daquilo que é a posição de uns e outros.

TN – Tendo em conta as referências que fez, dessas duas figuras, que são membros da direcção do partido, de não acatar a decisão do MDFM em sair do Governo, e fizeram-no publicamente, pois o próprio Primeiro Ministro assim o anunciou. Estamos diante de uma traição?

RC – Primeiro, temos que clarificar uma coisa: membros do MDFM indigitados pelo MDFM têm que sair do Governo. Esperamos que o senhor Presidente da República não caia no erro e nem aceite qualquer tipo de iscas do senhor Primeiro Ministro. Foram indigitados pelo MDFM enquanto membros do MDFM para fazer parte do Governo e enquanto proposta do então Primeiro Ministro. Assim sendo, têm que obrigatoriamente acatar as ordens do partido e aceitar aquilo que nós chamamos de princípios partidários, se não acatarem que saiam. Mas até lá há que cumprir regras, há que ter algum carácter e esperamos que as pessoas tenham carácter. Se o senhor Primeiro Ministro quiser misturar tudo, vamos misturar tudo, se ele quiser separar as coisas, vamos separar as coisas.

TN – O que quer dizer com o “separar tudo”?

RC – Que ele não complique as coisas.

TN – Seguindo o que diz a Constituição os ministros que desacatam a decisão do partido, terão que apresentar a sua demissão ao Primeiro Ministro para que de forma legal saiam do Governo?

RC – Para nós, não há desacato nenhum. Eles ainda não apresentaram qualquer nota de desistência do partido. Assim sendo, continuam a ser membros do partido. A senhora Cristina Dias, como secretária geral da organização das mulheres, tem responsabilidade acrescida. Continuam a ser elementos do partido porque não apresentaram até esta data qualquer carta de afastamento do partido. Em relação a isto não se discute. Só continuo a dizer que esperamos que as pessoas tenham carácter. E acima de tudo disciplina partidária. Eu sou daqueles que diz que não cuspo no prato que como, e espero que os outros façam o mesmo.

TN – O facto de membros do partido MDFM abandonarem agora o governo causa inevitavelmente instabilidade política quando faltam poucos meses para as eleições legislativas. O que tem a dizer sobre isto?

RC – O MDFM nunca foi e nunca será motivo de instabilidade. Quem foi sabe. Aliás, quem o é sabe que sempre foi motivo de instabilidade neste país. E quem é sabe para quem eu estou a falar.

TN – Está a falar para o MLSTP?

RC – Quem é sabe. E quando chegar o momento falarei tudo quando for preciso.

TN – Recentemente teceu alguns comentários na Assembleia Nacional que mostram alguns sectores da Administração Interna que lhe eram destinados, ficaram com o Primeiro Ministro. Esta é uma das razões que o deixa desiludido com o Chefe do Governo?

RC – Não. Apenas lamento a postura. Eu costumo dizer que quando se trai a equipa, está-se sem equipa. Uma equipa que tenha alguns elementos que puxam a brasa para a sua sardinha em detrimento de outros colegas deixa de ser uma equipa. E foi isso que eu constatei. Volto a repetir que eu enquanto Ministro da Administração Interna não conheci durante muito tempo os relatórios dos serviços de informação. Que eu saiba o senhor Presidente da República também não conheceu. Apenas duas pessoas tinham conhecimento: o senhor Primeiro Ministro e a senhora Ministra da Defesa. Isto é um acto grave. Quem tem a responsabilidade da manutenção da segurança e ordem interna pública é o ministro da Administração Interna, que felizmente tem os serviços que lhe dão todas as informações. Os serviços de informação alimentam-se  nos serviços da Administração Interna. Se verificarmos que tipo de relatório faz o serviço de informação, deparamo-nos sempre com: “dizem que, supõe-se que, ouve-se que, há rumores que”. De concreto, nada. Por isso, o senhor Primeiro Ministro mantém o serviço de informação a sua disposição. É bom que mantenha e espero bem que consiga.

TN – Quais são realmente os motivos que levaram o MDFM a tomar a decisão de abandonar o Governo?

RC – Nós temos vindo a constatar alguns actos do Primeiro Ministro, o senhor Rafael Branco, que em nada condizem com as suas promessas perante o Presidente da República.

TN – Que actos?

RC – Actos de inaugurações, actos panfletários, actos meramente políticos e não de governação. Nós esperávamos do senhor Primeiro Ministro actos de governação e não actos de campanha. Nós acreditávamos que ele não andaria por aí a inaugurar lavandarias, chafarizes, cantinas, etc. Esperávamos dele uma governação transparente, clara, limpa e em benefício do povo são-tomense. E não é isso que ele tem feito. Há tempos atrás, o senhor Joaquim Rafael Branco dizia que não queria ser membro do governo e hoje ele nem quer marcar eleições. Ele nem quer que se realize as eleições autárquicas, o que é ainda mais grave. Porque se ele fosse coerente, se fosse justo, se fosse claro, honesto. Aliás, de honesto ele tem pouco. Eu espero que os são-tomenses, que têm um pouco de amor à esta terra tenham o cuidado de olhar bem para as palavras de Rafael Branco bem como para os seus actos e gestos.

TN – Prevê-se as eleições legislativas para o primeiro semestre deste ano. No entanto, verificamos que ainda não estão reunidas as condições para tal, uma vez que nem o recenseamento eleitoral foi feito. Como Ministro da Administração Interna também tem responsabilidade na organização dessas eleições. Ao dizer agora que o primeiro Ministro não quer mesmo que as eleições, sobretudo as autárquicas, se realizem está responsabilizá-lo por este atraso?

RC – Se nós olharmos para o Orçamento Geral do Estado, se nós olharmos para as verbas que não foram utilizadas, podíamos perfeitamente ter cumprido metas e não perder tempo com coisas inúteis. E aí a única responsabilidade é do Primeiro Ministro porque ele é o Chefe do Governo.

TN  – Tendo em conta esta situação que poderá ser perigosa para a democracia são-tomense, isto é, o facto de o mandato do Governo terminar em Abril e pelas declarações feitas pelo próprio Primeiro Ministro, nada indica que as eleições se realizem em Abril. Que parecer tem o MDFM do período morto que certamente o país vai atravessar depois de Março, em que os mandatos da Assembleia Nacional e do Governo terão expirado, mas estes continuarão no poder?

RC – Nós, o país todo, provavelmente iremos conviver uma vez mais com aquilo que chamamos da escola politica do MLSTP/PSD. Aqueles que estão habituados a benefícios próprios em detrimento de uma nação completa. Esperamos que desta vez, tenham consciência e que façam exactamente o inverso porque quer queiram quer não, as eleições vão ter que ser realizadas, se não for em Março, terá que ser em Abril ou Maio. O senhor Primeiro Ministro teve o cuidado de dizer que tem que ser no primeiro semestre deste ano. Esperamos que assim seja. Vai ter que ser. Pois quem tem que determinar a governação futura é o povo e não o Primeiro Ministro. Portanto, vamos ver como é que isto vai ser.

FIM

To Top