Sociedade

População de Monte Café corre risco de vida por causa da acção de produtos químicos que o estado são-tomense não soube utilizar

Vida de centenas de peveneno.jpgssoas, sobretudo crianças que habitam a antiga empresa agrícola Monte Café está em risco. Uma prova da desgovernação que reina em São Tomé e Príncipe. Toneladas de produtos químicos para erradicação de pragas e doenças que afectam a cultura do café, foram importadas ao longo dos anos, com dinheiro emprestado pelos doadores internacionais, mas acabaram por não ser utilizados. Os armazéns foram vandalizados, a chuva intensa que rega Monte Café está a escoar todo o veneno para o quintal e para os cursos de água da zona. A Direcção do Ambiente que esteve esta terça-feira na roça, diz que os produtos químicos têm que ser retirados urgentemente, mas ainda não tem uma data para fazer a operação.

A direcção do ambiente que se fez acompanhar pelos técnicos do Centro de Investigação Agronómica e Tecnológica, não tem dúvidas de que a vida da população de Monte Café, mais de 2000 pessoas, está em risco.

Uma série de produtos químicos importados ao longo dos anos para assegurar a produção do café, ficou abandonado nos armazéns. A roça Monte Café onde alegadamente foi investido uma boa parte do dinheiro que constitui dívida externa nacional, maiarmazem.jpgs de 20 milhões de dólares, praticamente não produz café e as plantações foram arrasadas.

No entanto nos armazéns existem stocks de produtos químicos que agora se transformaram em veneno para a população local mas não só. O Téla Nón apurou no local que pelo menos dois jovens da roça aproveitaram a cobertura de um dos armazéns para construir a sua residência. Um acto de vandalismo que deixou o stock de produtos químicos a sol e chuva.

A chuva abundante que rega Monte Café já conduziu grande parte dos produtos químicos para o quintal onde crianças brincam e animais como galinha, patos, etc buscam comida. Outros sacos de produtos químicos foram retirados do armazém e a  bandonados no meio de bananeiras.

Com veneno por todo lado, Severino Espírito Santo, responsável do Centro de Investigação Agronómica e Tecnológica, explicou que no conjunto dos produtos que estão prestes a matar muita gente, destacam-se insecticidas, óleo de verão, e outros para fumigação e para combater nematodos. «Eles matam, são produtos altamente tóxicos. A população está em perigo. Há crianças que podem mexer nisso e arrastar por aí. É muito mau porque pode contaminar o rio e depois disso todos estamos expostos a contaminação, uma vez que são essas águas que chegam a nossa capital. Pode provocar muitas mortes», reclamou o engenheiro do CIAT.

O subsolo de Monte Café representa um dos principais lençóis de água doce de São Tomé, daí que o risco é grande. Um perigo que esteve presente durante vários anos e que as autoridades governamentais nunca agiram para conter. Como alguém disse em Monte Café, talvez e como habitual estão a espera que haja uma grande mortandade na zona para depois surgirem, lamentações, e mensagens de condolências.

Nos arredhabitantes-de-monte-cafe.jpgores do armazém o Téla Nón registou vários búzios mortos, molusco muito consumido no arquipélago.  «Tudo que é vivo morre com a acção daqueles produtos. Principalmente o temique que se utiliza para matar ratos. Esses búzios, as pessoas da cidade podem comprar isso e começar a sentir problemas, pode não levar a morte repentina, mas sim de forma lenta», alertou Severino Espírito Santo.

Como prova clara do desgoverno nacional, o Téla Nón registou as declarações do engenheiro do CIAT, que deu conta de contactos feitos pela instituição do estado junto as autoridades governamentais no sentido de se aproveitar grande parte dos produtos químicos que hoje ameaça vidas em Monte Café. «Fizemos pedido ao estado para utilização desses produtos, mas pronto por vezes não nos dão resposta. Há produtos aqui que estamos a precisar, como o óleo de verão, para protecção de plantas. Na mesquita temos um pomar que está atacado com pragas e esse óleo nos ajuda bastante», referiu o responsável do Centro de Investigação Agronómica e Tecnológica.

Por sua vez a direcção do ambiente pela voz do seu Director Arlindo Carvalho, disse que é preciso ter-se muito cuidado no processo de transferência dos produtos químicos já deteriorados para um lugar seguro, que pode ser o monte carregado na zona da Praia das Conchas. «São necessários recipientes seguros, nem sacos de plástico, nem em sacos ráfia, nem em materiais de fácil corrosão. Vamos comprar aqueles bidões plásticos grandes para poder transferir esses produtos», anunciou Arlindo Carvalho.

Para já a proposta vai ser apresentada ao Governo, e a direcção do ambiente promete limpar o veneno que vazou em Monte Café o mais rápido possível. No entanto, Arlindo de Carvalho não avançou qualquer data.

Abel Veiga

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