Sociedade

Carlos Alberto Trindade descobre no corno futuro para o artesanato e para as tartarugas

artesao-e-corno.jpgO artesão que criava obras de arte com base no casco da tartaruga, encontrou alternativas para continuar a alimentar o turismo com artesanato de qualidade e ao mesmo tempo contribuir na protecção das tartarugas marinhas. Tudo para São Tomé e Príncipe continuar a ser um dos poucos lugares do mundo que alberga diversas espécies de tartarugas.

5 Variedades de Tartarugas, transformam São Tomé e Príncipe num dos seus últimos redutos no mundo. A espécie SADA por exemplo só existe na ilha do Príncipe. Face a ao perigo de extinção da espécie a nível mundial, o Programa de Conservação e Utilização dos Ecossistemas florestais da África Central, lançou uma intensa campanha de protecção da tartaruga.

A carapaça utilizada para produção de objectos de valor, foi proibida. Mas em São Tomé e Príncipe a carne da tartaruga também é muito consumida. A campanha de sensibilização das populações encontrou muita resistência. Alguns pescadores juravam que iriam continuar a caçar tartaruga porque a carne é muito saborosa, e os artesões chamados tartarugueiros também resistiam porque não tinham outra forma de ganhar sustento.

brincos.jpgÁgua Mole, bate na pedra dura até que fura. A campanha de sensibilização não esmoreceu, pelo contrário ganhou terreno. As lojas de produção e venda de objectos de tartaruga foram encerradas. Toda forma de comércio do animal foi proibida.

carlos-alberto-trindade.jpgCada um teve que desenrascar. Carlos Alberto Trindade, é um exemplo. Foi Presidente da Associação dos Tartarugueiros.  Representou o grupo nas diversas negociações com o governo ainda na década de 90 para garantir a reconversão profissional. Mas nada foi feito a favor dos chefes de família que deixaram de ter matéria-prima para ganhar sustento.

Mais de 10 anos depois da proibição do comércio da tartaruga e dos seus derivados, num dos labirintos do bairro do Riboque nos arredores da capital- São Tomé, Carlos Alberto Trindade, mostra que o homem sonha e obra nasce. A protecção das tartarugas não significou o fim da sua criatividade artística.

O homem que desde os 8 anos de idade aprendeu a construir objectos de valor através do casco de tartaruga, encontrou outra matéria-prima para continuar a fazer arte. «Fui artesão de tartaruga. Após essa situação de proibição do uso da tartaruga e seus derivados, tive que criar uma alternativa. Com base na minha ciência de trabalhar tartaruga, passar para uso de cornos, seja de boi, cabra, etc», explicou Carlos brincos-e-pulseiras.jpgAlberto Trindade.

Corno de boi é matéria-prima que continua a fazer arte e a dar sustento a família numerosa do artesão. «Estou satisfeito porque tenho tido rentabilidade. Tenho tido algo para suprir a necessidade da minha família em casa», frisou.

Num país onde a produção de gado é praticamente nula, Carlos Alberto Trindade importa cornos dos países vizinhos de São Tomé.  «Em São objectos-de-corno-1.jpgTomé só se mata boi, no natal ou na Páscoa. Portanto há muita dificuldade de cornos. Consegui uma parceria com um amigo no estrangeiro, que me fornece cornos. Vem da Nigéria, mas tenho contactos na Costa do Marfim e em Angola. Recentemente consegui mais uma linha de fornecimento de cornos a partir do Senegal», pontuou, o artesão.

O custo de produção é alto, mas a qualidade do produto final, dá segurança financeira ao artesão. «Compro uma corneta a preço de 100 a 150 mil dobras. Um par pode atingir 300 mil dobras. Se tiver sorte e encontrar turista a obra sai. Caso contrário é desgraça. Já antes com o casco da tartaruga era 30 mil vezes mais barato. Para além da força física que deve ser empregada no uso da corneta», sublinhou.

Para o artesão as tartarugas podem desovar e nadar tranquilas no mar de São Tomé e Príncipe. Os cornos de bois e cabras, não estão em vias de extinção.

objectos-de-corno.jpgOs 3 jovens que estão a trabalhar com o artesão, são novas sementes que estão a ser lançadas para o artesanato, mas também para a protecção das tartarugas. «Hoje eles são peritos. Digo que eles já são mestres também. Nós aqui criamos as obras. A criatividade está acima de tudo, e por isso juntamos a cabeça para produzir coisas com qualidade e de grande envergadura», precisou Carlos Alberto Trindade.

Corno é a matéria-prima de um artesanato, que alimenta o turismo, e permite a São Tomé e Príncipe manter-se como um dos últimos berços das tartarugas no mundo.

Abel Veiga

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