Sociedade

HOMENAGEM FÚNEBRE A FRANCISCO DA SILVA

albertino-braganca.jpgJá dias antes do fatídico desfecho, o clamor subia por todo o país, assim como na diáspora, em clara demonstração de popularidade, respeito e pesar: morreu Francisco da Silva, o popular e consagrado Presidente da Assembleia Nacional.

Na hora da morte, quando se fecha o pano desse autêntico teatro que é a vida, com as suas grandezas e misérias, no balanço que fazemos de quem parte, é habitual salientarmos o que de melhor cada um praticou em vida, abdicando quantas vezes de trazer à luz a face mais oculta da sua personalidade.

Mas de Francisco da Silva, que ora nos deixa órfãos da sua presença e convívio, é justo dizer que trilhou, de coração aberto, os caminhos da vida, semeando amizades como quem planta flores à sua passagem. E nesse percurso, em que pôs em evidência a honestidade, a competência, a seriedade e esta capacidade quase mística de forjar amizades e entendimentos, foi sempre capaz, com a subtileza própria dos superiormente eleitos, de exprimir com frontalidade as suas posições e de levar paulatinamente o interlocutor à aceitação dos seus argumentos.

MORREU FRANCISCO DA SILVA!

Por todo o país, os militantes, simpatizantes e amigos do PCD choram com desespero o desaparecimento do dirigente brilhante, do companheiro de todas as horas que, despido de ideias feitas e de falsos preconceitos, estava sempre ao seu lado, ajudando-os com a sua extraordinária lucidez a visionar outros espaços, outras soluções, apenas imagináveis pela sua reconhecida aptidão de ver mais longe, lá onde a realidade não está ao alcance da maioria dos mortais.

Vêm-nos então à lembrança os tempos do Grupo de Reflexão e da luta pela afirmação de uma voz alternativa na nova era que se forjava na história de S. Tomé e Príncipe; o papel de moderação tão notoriamente assumido nos saudosos tempos da Mudança, vividos em verdadeira apoteose por milhares de santomenses, ávidos de mudança de políticas, dos métodos, das condições de vida das pessoas. Algo que Francisco da Silva classificaria no seu livro como uma realidade psicológica, um  estado de espírito que congregou quadros, grupos e forças vivas em prol de um futuro melhor para as santomenses e os santomenses.

Mas se foi tão destacada a sua participação no PCD, de que foi sempre um dos maiores mentores, como esquecer a acção por ele protagonizada na sua querida cidade de Santana, a que esteve ligado por laços de uma afectividade e solidez indesmentíveis? Filho de Santana, apelou constantemente às suas raízes e, assente nelas, orientou toda sua vida no sentido de tudo fazer, nos planos político, cultural, desportivo e associativo, para engrandecer o chão que o viu nascer, como fica tão bem espelhado nas “Estórias ao Acaso”, livro de recordações com que nos quis brindar em momento tão dilacerante da sua existência.

MORREU FRANCISCO DA SILVA!

Reconhecendo embora que a vida e a morte compartilham infalivelmente os nossos destinos, custa muito ver partir, de forma tão prematura, o político que, apenas numa legislatura e em luta atroz contra a fatalidade, conseguiu imprimir extraordinária dinâmica ao parlamento santomense, guindando-o a um novo estatuto aos olhos das cidadãs e dos cidadãos deste país.

De facto, Francisco da Silva idealizou os aspectos essenciais da reforma da Assembleia Nacional e, tal como o experiente marinheiro que não receia as marés mais turbulentas, conduziu-a com a lucidez, a inteligência, a coragem e a convicção próprias de quem sabe por onde vai e qual o destino a atingir.

Negociador exímio, não podemos esquecer o seu preponderante papel na resolução da chamada crise dos Ninjas, em que contribuiu, com inusitada coragem e não menor determinação, para a resolução de um conflito que fomentou tensão e pôs o país em preocupante reboliço.

Hoje, dentro de momentos, vai finalmente deixar-nos um homem bom, chorado com razão por todos quantos com ele lidaram, que nunca se irão esquecer do respeito, da humildade, do sentido de solidariedade e compreensão que sempre estiveram na base da sua autoridade. Um homem que ousou lutar tenazmente contra o destino, para quem “ há momentos na vida em que não devemos driblar as situações, mas sim assumi-las de corpo inteiro. Só assim teremos forças para as enfrentar e estar ao mesmo tempo preparados para tudo. Só assim daremos verdadeiro valor às vitórias. Só assim saberemos dar valor à vida, assim como acredito que só assim seremos dignos na derrota”.

Por tudo isso vos pergunto: Quem mais nos vai falar dos bazofiadores Zunzu e Mé Txi, personagens do seu livro, das estórias que inventavam e dos títulos ostentados que só existiam no seu imaginário? Que nome dar ao vazio que agora em nós corre irresistível como um rio? Como superar a dor que nos penetra assim na alma e nos remete para semelhante desespero? Como suprir a falta que ele nos irá fazer na luta visando gerir os diálogos e os silêncios de S. Tomé e Príncipe com o Mundo?

MORREU FRANCISCO DA SILVA!

Eram simples as tuas origens, mas constituis, sem dúvida, o exemplo do jovem que conseguiu subir a vida a pulso, atingindo um dos pontos mais altos da montanha.

Com o teu desaparecimento, o país perde um dos seus melhores filhos, o humanista, o patriota e o homem de Estado cujo exemplo deveremos ser capazes de assumir e transmitir às gerações vindouras. Um dirigente, sem dúvida o melhor da sua geração, a quem estavam destinados altos voos no cenário político nacional, projecto que agora vemos ruir pelas garras impiedosas de uma morte tão tragicamente anunciada!

À tua mulher Tina, verdadeiro símbolo de companheirismo e de coragem nestes três fatídicos anos em que a doença te assolou, e a toda a tua família endereçamos as mais sentidas condolências e manifestamos a nossa mais fraterna solidariedade no momento tão sombrio em que a morte te levou consigo.

Com a mais pura convicção de que, para nós, no PCD, estarás sempre presente, a ajudar a guiar os nossos passos, rumo à construção da sociedade que um dia juntos idealizámos: a de um S. Tomé e Príncipe mais digno, mais solidário e decididamente virado para o futuro.

DESCANSA EM PAZ!

Albertino Bragança

16 de Abril de2010

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