Opinião

G-20 de Cannes, as grandes economias e a riqueza da África

Decorreu nos dias 3 e 4, quinta e sexta-feira, respectivamente, na famosa cidade francesa de Cannes com vistas no Mediterrâneo (lá do outro lado, a África Mediterrânica) e debaixo de intensa chuva alpina-marítima, mais uma cimeira de G20, as maiores economias do Mundo ou seja, o alargamento de G7 e G8 às economias em expansão acelerada, sendo os países:

África – África do Sul

América – Argentina, Brasil, Canadá, E.U.A e México

Ásia – Arábia Saudita, Correia do Sul, China, Índia, Indonésia, Japão e Turquia

Europa – Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Rússia e União Europeia (Presidente do Conselho Europeu e Presidente da Comissão Europeia)

Oceânia – Austrália

A África, cinquenta anos após as primeiras independências é o que se vê quando se fala dos gigantes industrializados. Imposta ao bel-prazer dos poderosos que, facilmente lhe impõe as decisões e regras, corrompem os seus governantes e traçam os preços da matéria-prima e dos seus derivados, com 54 Estados, ao contrário da pequena Europa de metade de países, que está representada não só pelas grandes economias, mas também pela União Europeia, o mesmo que dizer, todos os Estados europeus têm assento nessa plataforma económica, a África do Sul, a voz surda africana, nada mais está ao seu alcance em defesa do continente africano, senão bater as palmas as decisões dos ditadores mundiais, dos grandes monopólios e dos bancos centrais, mesmo quando a regulação do sistema financeiro e outras sejam em detrimento continental.

O africano em média sobrevive diariamente com coisa parecida a 1 dólar. As imagens de catástrofe humanitária de Somália, Quénia e quase da totalidade dos países do corno da África, que lutam contra a fome e a seca prolongada, tornando os homens e os animais em ossadas, não podiam espelhar uma outra realidade dos números. Os conflitos armados que obrigam a deslocação das populações, em permanente insegurança alimentar, também adiam um futuro promissor ao continente negro.

Entretanto, não é conto de fada, que os dirigentes africanos insensíveis a pobreza e a miséria dos seus povos, não só têm as suas mansões e as recheadas contas bancárias no solo europeu para serem congeladas quando for apetecível aos poderosos, mas como chegam a apoiar com milhões de dólares as campanhas eleitorais dos políticos europeus.

Passou despercebido da imprensa presente na Cimeira de Cannes o champanhe francês aberto para comemorar o assassinato de Kadhafi, tudo porque teve sabor amargo. Os responsáveis ocidentais não esperavam do primeiro país árabe que foi a voto democrático, no dia 23 de Outubro último, para a formação da Assembleia Constituinte e do Governo, após a Primavera Árabe viessem os resultados ao favor de um partido islâmico, o Ennahda, duramente reprimido por antigo regime de Ben Ali, próximo do Ocidente. Da amiga Síria também não chegaram boas notícias, já que na 4ª feira, véspera da cimeira, os responsáveis da Liga Árabe num compromisso com Bashar al-Assad, que lhes prometeu retirar os militares da rua, registaram mais de 3000 mortos (34 mortes nesse dia) em 7 meses de tiroteios contra o seu povo.

A saída ou não da Grécia do Euro, a moeda única europeia, a ser referendada no próximo dia 4 de Dezembro pelos gregos, é de tudo o que transpirou para fora das paredes mais bem protegidas do Mundo nos últimos dias com Obama, Merkel e Sarkozy no centro de todas as atenções na esperança do alívio a crise económica que até receberam um recado do Papa Bento XVI na sua homilia das 4ª feiras, dirigindo-se a mais de sete mil fiéis “Espero que o encontro ajude a ultrapassar as dificuldades que, a nível mundial, impedem a promoção de um desenvolvimento autenticamente humano e integral.

Perante a crise helvética que não deixa grande margem de manobra, Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia, declarou que “A Grécia está numa das mais críticas situações económicas a que um país pode chegar. Está no limiar da bancarrota. Se eles não adoptarem respostas adequadas, não terão dinheiro para pagar as escolas, os hospitais, as funções básicas do Estado.

Não houve qualquer preocupação em relação a Líbia, porque o petróleo líbio há quarenta e dois anos fora do controlo ocidental e com o qual o Kadhafi investia na modernização da África, já é pertença ocidental, não podendo o Conselho Nacional de Transição, o Governo provisório líbio, alterar a regra do jogo, imposta ainda antes do assalto final a Trípoli.

O G20, formado por dezanove países mais a União Europeia, tem como objectivo aproximar as economias mais desenvolvidas – E.U.A., Alemanha, França, Japão e outras, das economias em desenvolvimento – Brasil, Índia, China, África do Sul e de tantos outros países emergentes. Criado em 1999 em resposta a crise asiática de 1997, o G20 vem há três anos tentando fazer fase a crise económica de 2008 que fechou as empresas no mundo desenvolvido e empurrou os trabalhadores para o desemprego.

A Cimeira de Cannes foi vista por alguns observadores e as organizações altermundialistas (circunscritas a zonas vizinhas de Cannes) de um malogro, já que todas as decisões foram adiadas para Dezembro a espera do “sim ou não” da Grécia ao Euro que tem desequilibrado as economias periféricas como a de Portugal, Espanha e Itália na resistência a crise europeia, mantendo turbulento o mundo financeiro. O estreitar das relações de cooperação entre os Estados, é vista até lá, como tampão a crise económica mundial.

Cannes, a turística cidade internacional dos actores do cinema, sob as apertadas medidas de segurança que mobilizou mais de 12 mil polícias e forças de elite e, restrita aos moradores devidamente identificados, parou na última semana para ver desfilar no seu tapete vermelho os líderes da economia mundial, destacando-se a estrela da Cimeira, o negro-americano Barack Obama.

No documento final de Cannes ficou anotado que “o FMI continue a ter recursos para desempenhar o seu papel” assim como a sede da presidência do Grupo em 2012, é o México.

Não queremos paraísos fiscais. A mensagem é clara (…) os países (Antígua e Barbuda, Barbados, Botsuana, Brunei, Panamá, Ilhas Seychelles, Trinidad e Tobago, Uruguai e Vanuatu) que continuam a ser paraísos fiscais através de ocultação financeira, serão banidos da comunidade internacional. Não estamos dispostos, a tolerar isto! O Mundo já não é igual. Existem 11 paraísos fiscais, mas existiam várias dezenas quando começamos em Londres.” Palavras do Presidente de G20 – 2011, o presidente francês Nicolas Sarkozy no final da Cimeira de Cannes enviando recado aos mercados de especulação financeira.

07.11.11

José Maria Cardoso

5 Comments

5 Comments

  1. Júlio Neto

    9 de Novembro de 2011 at 10:09

    Caro ZéCardoso, permita-me que lhe chame assim. Dou-lhe os meus parabéns por este seu trabalho: -é grande pela dimensão cognitiva, fastigioso quanto ao conteúdo, apostado ao rigor “arquitecónico” e de grande precisão informativa. Aprende-se, contigo. Bem-haja. Faça sempre ouvir… Abraços

    • Credo Credo

      16 de Novembro de 2011 at 0:11

      As maiores economias do Mundo ou seja, o alargamento de roubos na Africa e expansão acelerada de destruicao do continente Africano com militarismo, multinacionais, corporation and greed and white supremacy racismo e discriminacao total. Credo! Credo!
      Deus ira vos fazer pagar por tudo esse sofrimento em Africa! Praga convosco!

  2. Butauê

    9 de Novembro de 2011 at 11:56

    Parabéns pelo artigo josé Maria cardoso,sinto muito contente ao ver que santomenses estão também atentos aos problemas que por serem globais nos atinge a todos.
    Acredito que com essa críse Europeia e mundial o mundo está a mudar e é preciso que os países nos países africanos,países subdesenvolvidos,em vias de desenvolvimento,os emergentes,em suma todos os chamados países ‘pobres’ e de ‘geografis da fome’ se despertem para o novo paradigma mundial.A críse europeia é estrutural em que a europa não conseguirá resolver sozinha.Os dirigentes Ocidentais sabem disso.Os Africanos não podem deixar que todos os acontecimentos provocados no Egipto,Líbia etc lhes façam adormecer sobre eles próprios mas sim pelo contrário,África sendo um continente muito «rico» deve ser objecto de reflexão por todos os africanos, no ponto de vista de, como é que a essa riqueza poderá ser manipualada para o bem da economia mundial.
    Com o estado actual do mundo e da economia mundial estamos no momento certo para que os países chamados de «Terceiro Mundo» e da ‘Geografia da fome’, mas que na verdade são naturalmente «ricos» se unam para a criação de um organismo internacional que regule a justa distribuição da riqueza
    mundial.

    Obrigado Jornal Téla Nón.

    Bem-hajam

    o «Butauê»

  3. Carlos Ceita

    9 de Novembro de 2011 at 21:35

    Esta tudo louco meus amigos. Não é por acaso que o nosso articulista fala de Obama como a estrela da cimeira. E tudo banalidades. Parece um concurso de miss ou cerimonia de entrega de Óscar de Hollywood. Nestas imagem só faltava mesmo lá o nosso Papa Bento 4 elevado a dois a apelar a paz em todo o mundo com destaque para a África. Mas o que é que interessa um esfomeado na Somália Obama é a principal estrela da cimeira.
    O que na verdade estes senhores na foto estão a fazer perante a crise económica na américa e na europa é estudar como delapidar até medula o que resta de matéria-prima que ainda existe no continente africano.
    E como todas as corte tem os seus bobos vão chamando alguns para dar consistência a comédia e aquele que se diz nosso representante (África do Sul) faz muito bem esse papel. Porque já se sabe quem é que manda nesta cimeira.
    E eles não brincam em serviço. Tem a sua força militar (a NATO) muito poderoso ao dos grande interesses económico-financeiros. Tem o seu tribunal para criminosos que julga preferencialmente os africanos.
    Podem intervir militarmente em qualquer país africano e colocar lá quem eles quiserem.
    Ao menos que os africanos tenham também o seu poder económico e militar e diga de uma vez por todas meus senhores quem manda aqui somos nós. Um pouco como faz a China que tem a ousadia de dizer aos EUA que podem fazer manobras militares onde quiserem excepto no mar amarelo. É esta a realidade caros amigos quem não vê isto pode continuar a enfiar a cabeça na areia.

  4. Anca

    10 de Novembro de 2011 at 0:30

    Muito bem

    Continuemos a investigar e relacionar, conhecimento, informação.

    Quanto mais investigar-mos o conhecimento, informação, mais hipóteses, temos de ser bem sucedidos, como País(população/território), como Povo.

    Nós os Africanos, temos que saber resolver, os nossos problemas, problemas que afectam as nossas sociedades, não esperar somente que os outros ajudem a resolver os nossos, problemas.

    Como?

    Com mais unidade

    Mais disciplina

    Mais empenho no trabalho

    Mais integração social

    Mais justiça, segurança e paz social

    Para que possamos rumar a modernização da nossa África.

    Quando?

    Hoje, agora.

    Pratiquemos o bem

    Pois o bem

    Fica-nos bem

    Deus abençoe São Tomé e Príncipe

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