Sociedade

São Tomé e Príncipe no centro do encontro cultural dos amigos da UNESCO

O passado 30 de Maio, Amigos da UNESCO de Barcelona dedicaram um dos seus encontros culturais a São Tomé e Príncipe. O evento foi co-organizado com a Associação Caué-Amigos de São Tomé e Príncipe e a empresa Xocolates Enric Rovira SL (de Castellbell i el Vilar, Catalunha; que elabora os seus produtos com cacau de Terreiro Velho, Ilha do Príncipe).

COMUNICADO DE IMPRENSA 4/06/2012

O evento decorre

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE NOS ENCONTROS CULTURAIS DOS AMIGOS DA UNESCO EM BARCELONA

O passado 30 de Maio, Amigos da UNESCO de Barcelona dedicaram um dos seus encontros culturais a São Tomé e Príncipe. O evento foi co-organizado com a Associação Caué-Amigos de São Tomé e Príncipe e a empresa Xocolates Enric Rovira SL (de Castellbell i el Vilar, Catalunha; que elabora os seus produtos com cacau de Terreiro Velho, Ilha do Príncipe). O ato congregou um nutrido número de pessoas interessadas em conhecer a realidade das Ilhas e os contrastes de emoções que criam a sua riqueza paisagística e humana.

Para isso contaram com os testemunhos de Xavier Muñoz, geógrafo e presidente da Associação Caué; de Osvaldo Cunha, engenheiro informático santomense e cidadão barcelonês, e do chocolateiro Enric Rovira. As intervenções foram ilustradas com um pequeno filme sobre a atualidade das ilhas, uma mostra de artesanato e a projeção simultânea às intervenções de um documento powerpoint, “São Tomé e Príncipe, à descoberta”, elaborado pela Associação Caué, que inclui gráficos, cartas e imagens impactantes sobre dados geográficos do país, sobre a exuberância da natureza santomense, as gentes, as cidades e as vilas, as roças e a produção agrícola e o patrimônio arquitetônico, e a riqueza e diversidade da cultura crioula.

Xavier Muñoz falou sobre como chegou à ilha de São Tomé na gravana de 1986 e o formidável shock paisagístico e humano que experimentou especialmente ao respeito da sensação engrandecente da paisagem e dos tempos insulares, de ser alvo de uma grande hospitalidade, e de como essa experiência influenciou na sua vida até o ponto de sentir-se enfeitiçado e manter a sua ligação com a multitude de amigos que tem nas ilhas (aspetos sobre os que já tem escrito recentemente um artigo publicado na imprensa santomense). Falou da sua experiência de jovem em Uba-Budo e da diferente filosofia de vida lá na roça, e das saudades que evoca lembrar as horas intensamente vividas lá.

Osvaldo Cunha mostrou a viagem ao contrário: de como um santomense de Budo-Budo apareceu em Barcelona, a organizar a sua vida nessa grande cidade, integrando-se completamente na sociedade catalã e a criar família, desenvolvendo-se profissionalmente, e mesmo lançando-se à cruzada de reivindicar a sua santomensidade, e a protagonizar ações de promoção do conhecimento sobre a existência do microcosmo engrandecente de São Tomé e Príncipe, do último paraíso na terra, tão longe, mas tão perto das sociedades ibéricas. Também glosou os contrastes culturais entre a cotidianidade da sociedade santomense, onde todo se partilha entre os vizinhos, onde a família é extensiva (onde todos são família), onde quase não há intimidade,…  com a vida anônima da grande cidade em Europa, onde os vizinhos não se conhecem, onde a vida se circunscreve no entorno da família estrita e do trabalho, onde as relações sociais são diferentes, onde a organização é a pressa, onde se põe cada vez em entredito -especialmente agora com a crise que assola Europa- a efetividade desse ordem e essa planificação da sociedade e da economia, em contraste com o reino da improvisação, do espontâneo de São Tomé. Osvaldo falou de saudades, mas também de aprendizagem, da sua formação sobre a experiência de viver fora, de superações e de integração através, por exemplo, da participação em atividades comunitárias e muito especialmente a apreender e dominar a língua do seu novo país (Osvaldo fez a sua intervenção num catalão perfeito).

Enric Rovira falou da sua experiência profissional e no campo dos negócios relacionados com a provisão de cacau para a sua produção de chocolate. O seu primeiro contato com São Tomé e Príncipe foi numa conferência em Florência (Itália) onde coincidiu com Cláudio Corallo, o roceiro toscano de Terreiro Velho e Nova Moka. Assistiu numa aula magistral onde Cláudio explicava qual era o secreto para obter um cacau de altíssima qualidade, que a sua vez devia ser o secreto de poder fazer um chocolate de primeiríssimo nível internacional: recuperação das árvores originais do cacau forasteiro amelonado, limpeza e oxigenação dos cacauzais, tratamento com extremo cuidado para atingir a homogeneidade do produto, ter pessoal formado e informado do porquê de fazer as coisas de uma determinada maneira, de não utilizar pesticidas nem hibridações, de abundar na melhora natural das produções sem misturar espécies, etc… O interesse lhe levou a visitar as plantações de Cláudio Corallo e converter-se num dos seus melhores (e mais exigentes) clientes na Europa, para criar um chocolate considerado hoje como extraordinário na grande oferta mundial, como uma delicattessen totalmente diferenciada dos processos industriais massificados. Enric também comparou as formas de produção e os resultados com plantações em América do Sul, onde imperam os híbridos, a produção intensiva e as misturas, fatos que decerto contribuem a uns resultados quantitativamente maiores, mas de uma qualidade infinitamente menor que o extraordinário cacau de Terreiro Velho.

O ato amenizou-se ainda mais com a declamação de uma cuidada seleção de poesia santomense, executada em catalão pela rapsoda Caritat Oriol, especialista em literaturas africanas, que adicionou mais uma mostra da criatividade do país.

Após as palavras dos contertúlios se gerou uma animada e às vezes controvertida turma de perguntas e reações sobre o futuro de São Tomé e Príncipe, em especial sobre as causas do declive das culturas agrícolas tradicionais (cacau, café) e em geral sobre a evolução socioeconômica das ilhas, com especial incisão nas crescentes disparidades sociais, de como o sistema economia-mundo tem influenciado sobre a incapacidade de regeneração da agricultura de plantação e a criação de uma indústria derivada (como a que Enric Rovira e outros chocolateiros fazem em Europa com cacau de São Tomé), perguntando alguns como é possível que, tendo nas mãos essa matéria prima de tanta qualidade, outros não hajam seguido o exemplo modesto e paradigmático de Cláudio Corallo de fabricar chocolate em São Tomé, que é, sem dúvida, a melhor forma de dar mais valor à produção cacauífera.

O ato tornou-se festa com a degustação in situ dos chocolates de Enric Rovira feitos com o cacau da Ilha do Príncipe.

Dados do evento:

ENCONTRO CULTURAL NOS AMIGOS DA UNESCO DE BARCELONA:

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

30 de Maio de 2012

Das 19:00 às 21:30 h

Sede de Amics de la UNESCO de Barcelona

Carrer Mallorca 207 pral, Barcelona

Apresentação:

FLORA ROYO, coordenadora dos Encontros Culturais dos Amigos da UNESCO em Barcelona

Intervenções:

XAVIER MUÑOZ, geógrafo e presidente da Associação Caué-Amigos de São Tomé e Príncipe

OSVALDO VERA CRUZ CUNHA, engenheiro informático santomense, residente em Barcelona

ENRIC ROVIRA, chocolateiro, presidente de Xocolates Enric Rovira SL

Rapsoda:

CARITAT ORIOL, filóloga, especialista em literaturas africanas

Report em PowerPoint:

“São Tomé e Príncipe, à descoberta”, elaborada pela Associação Caué-Amigos de São Tomé e Príncipe

http://www.saotomeprincipe.eu

Cata de chocolates elaborados com cacau de Terreiro Velho:

Xocolates Enric Rovira SL, com fábrica em Castellbell i el Vilar (Bages, Catalunha)

http://www.enricrovira.com

Fotos (adjuntas): Flora Royo

3 Comments

3 Comments

  1. abaju de boa morte bairo

    6 de Junho de 2012 at 16:46

    xav voce e maximo tu vais cer condecorado em sao tume voce ama esse pais

  2. Dondô

    6 de Junho de 2012 at 17:51

    Paulo Caldeiras “Boniiito”. Não é fastidioso dizer-se que não há São-tomense que não ama a sua Pátria. Tal como o Osvaldo, existem outros com a vontade de mostrar aos seus irmãos, que às coisas pedem serem feitas, reunindo um grupo de amigos, mostrando trabalho e apresentar em simultâneo, projeto viável para a resolução de alguns problemas. A vista da cúpula governativa, este exercício poderá ser entendido como um grande problema. É extraordinário tomar conhecimento de que, pessoa estrangeira ficou a saber das potencialidades das Ilhas, quando um do seu cidadão exibia o trabalho lá longe.” Assistiu numa aula magistral onde Cláudio explicava qual era o secreto (segredo) para obter um cacau de altíssima qualidade”
    Como era de esperar, alguém tinha que perguntar, e aos mesmo tempo, mandar o recado aos não «fazem nada» deste país. Acrescento dizendo que a Caritat Oriol também clamou para que deem atenção ao que é essencial. A agricultura, não poderá ser considerada o sector de renda para os pobres

  3. abdelamy

    7 de Junho de 2012 at 2:03

    agradecimentos a equipa do jornal ké kua pelo apoio e colaboraçao por manter sempri informado a publico santomense sobre as noticias e os destaques do dia a dia obrigado e continuem assim abraços a equipa td

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