Entrevista

“Temos que assumir as nossas responsabilidades e reconhecer com humildade e com honestidade os erros que nós temos vindo a cometer”

 Declaração de Miguel Trovoada. Foi primeiro ministro nos primeiros 4 anos após a independência nacional, e Presidente da República de 1991 a 2001. Um dos responáveis do movimento de libertação nacional, Trovoada, considera que o futuro está nas nossas mãos.

Téla Nón – Foi um dos actores da lupa pela independência nacional e subscritor do acordo que permitiu exactamente a proclamação da Independência Nacional. Está certamente a recordar deste momento em Argel.

Miguel Trovoada – Naturalmente é um momento inesquecível para mim e para o nosso Povo porque representou um passo fundamental no processo pela luta pela emancipação, foi a partir da assinatura de acordo de Argel em que pela primeira vez os representantes legítimos do povo São-Tomense estiveram comas Autoridades Colónias Portuguesas a discutir o futuro do nosso País. Portanto foi um momento histórico que primeira grandeza e eu tive o privilégio de ser um dos protagonistas deste momento com outros camaradas de luta do CLSTP naquela altura, já transformado em Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe. Portanto a partir do Acordo de Argel, à 26 de Novembro de 1974, nós iniciamos imediatamente o processo que conduzia directamente para proclamação da Independência a 12 de Julho de 1975. Aliás a data foi acordada neste momento durante as discussões de Argel. Por isso acho que como disse é um processo que envolveu realmente todo o Povo São – Tomense, foi o culminar de uma etapa fundamental que se arrastou durante séculos. Diria mesmo que a resistência nacional, foi concomitante com a ocupação colonial, porque o nosso Povo sempre deu mostra de uma forma passiva e muitas vezes activa da sua repulsa pelo regime que o colonizava, que o dominava, e essa luta pela conquista da sua dignidade, da independência, da liberdade e da faculdade  que podia dispor livremente do seu futuro foi realmente um processo que envolveu todo o povo São-Tomense.

TN – Este na praça da Independência no dia 12 de Julho?

MT – Naturalmente não poderia estar ausente numa data dessas, como disse foi um passo fundamental. Eu diria que era uma condição indispensável, mas não suficiente, porque sem a independência não poderíamos assumir o destino do nosso Povo e após a independência então começaram realmente as acções conducentes a transformar e reconstruir o País, e refazer aquela pátria com que nossos antepassados e nós mesmos ambos sonhamos.

TN – Após a independência foi Primeiro-ministro, mas rapidamente as relações no seio do movimento de libertação começaram a azedar. Senhor Teve mesmo que exilar.

MT – Sim como sabe é um processo histórico, é complexo, nada é linear e o processo político é ainda muito mais complexo. Tratando-se de um período em que nós recebíamos a independência, vindo de uma experiência praticamente nula de gestão da coisa publica com carácter de total soberania. Nós éramos de um movimento de libertação e por conseguinte assumimos a responsabilidade de nosso futuro. Foi um período que naturalmente houve algumas complicações, divergências, porque não dizê-lo em que as diferenças foram acentuando, agudizando e por vezes assumindo clivagens que não tinham necessariamente de ser. Hoje nós talvez, se pudéssemos voltar a trás , talvez pudéssemos agir de maneira diferente , mas não se pode estar a ler o passado com os olhos de presente.

TN – A partir de 1991 desempenhou as funções de Presidente da República em dois mandatos, num total de 10 anos. Tem assim responsabilidades nesses 35 anos de independência.

MT – Bom eu devo dizer, que por vezes há algum pessimismo, radical. Porque dizem olha não se fez, olha o País como está. Não. Fui Primeiro-ministro nos primeiros anos da independência, cerca de quatro anos e depois assumi a chefia do Estado em 1991 até 2001. Obviamente que se nós olharmos para o passado, houve a consolidação do Estado de STP. Somos um País independente que se debate com imensos problemas. Alguns de natureza Estrutural, e que não resultam necessariamente de qualquer governação incapaz dos são-tomenses. Porque é uma conjuntura que não depende de nós. São factores exógenos, pelos quais não temos nenhuma intervenção.

No entanto sou daqueles que após três décadas e meia de independência, penso que não devemos continuar a diabolizar, e a culpabilizar a colonização. Ela teve o seu papel histórico, ela marcou de uma forma indelével o evoluir do nosso País, mas nós também já somos adultos como um País independente, portanto temos que assumir as nossas responsabilidades e reconhecer com humildade e com honestidade os erros que nós temos vindo a cometer. Podemos dizer que após estes anos todos, estamos ainda longe de atingir aqueles patamares de desenvolvimento, de progresso e bem-estar do Povo em que nós sonhamos, quando assinamos o acordo de independência. Eu diria mesmo mais, quando resolvemos iniciar a luta pela libertação. Porque era esse o objectivo que nos move e que mobilizou as nossas forças, nossos esforços e a nossa boa vontade e pronto as capacidade que tínhamos naquela altura.     

TN – Como é que vê o percurso histórico do movimento de libertação, o MLSTP e outras organizações que participaram no processo?

MT – Ouça eu devo dizer que a historia de STP , esta por contar. Acho que ela deve ser contada. Todos aqueles que viveram nos momentos da luta de libertação, devem constituir depoimentos, acerca do individual ou colectivo para que se possa enriquecer a reflexão sobre esse passado histórico. Creio que, quando muitos actores estão ainda vivos é sempre difícil. Há uma tendência quase que natural, a subestimar nosso próprio desempenho e a subestimar os desempenhos dos outros. Por isso, creio que todos aqueles que têm algo a dizer e sobretudo que possam provar o que dizem, deviam constituir depoimento e que os historiadores, pudessem procurar fazer um apanhado de todo esse conjunto e desse acervo de contribuições e tentar interpretá-lo, numa perspectiva histórica, mas com objectividade e com recuo. Porque se for outros autores muitos estão vivos ainda a descrever a história, ela será muito destorcida e haverá muitas contradições e isto seria lamentável para esclarecer as gerações presentes e futuras.

FIM

9 Comments

9 Comments

  1. BLAGA PENA

    13 de Julho de 2010 at 10:44

    Ok, Sr Trovoada, esquecamos o passando, vivemos o presente e vamos perspectivar o futuro. Qual acha ser a sua contribuicao neste preciso momento para tirar STP do marasmo que vive. Nao acha que se unirmo-nos todos para um bem comum teremos um STP maior e melhor?

  2. Flavio Moniz

    14 de Julho de 2010 at 9:59

    Eu, depois de varias analizes, constatei que o problema de sao Tomé e principe reside na falta de espirito de patriotismo… O os dirigentes nao amam a sua patria, preferem desviar fundos, e ter uma pais como temos, ao invez de sacrificar para construir a patria…

  3. Octavio da Mata

    27 de Julho de 2010 at 11:23

    Eu, acho que o espirito que nortiou um grupo de santomense em constituir um partido politico e partir para luta em conquista da independência nacional, não é o mesmo que vigorou apóis 12/07/75, o que certo é que já não existe o patriotismo. O pais transformou numa roça de meia duzia de senhores que vão roubando desavergonhadamente o que é de todos.
    Agora pergunto:
    Ainda não esta na hora para estes senhores pararem com isto?
    Acredito que os 3 santomenses que oucuparam o cargo mais alto da nação, deviam serem protagonistas de um encontro com objectivo de se encontrar uma saida de forma consensual para este pais que é de todos nós e que se chama S.Timé e Principe

  4. Faustão

    1 de Agosto de 2010 at 9:13

    Estou bem de acordo com o Octavio da Mata. O espírito da luta contra o colonialismo forjava o ser santomense. Hoje STP foi assaaltado pelos estrangeiros, esses senhores politicos que estão no poder o que fazem. Na verdade o sr. Miguel Trovoada talvez tem muita coisa que não vai transmitir-nos devido ao “segredo do Estado”. O porquê de divergências com o Pinto da Costa, porquê de eliminar os da CÍVICA. Foram cometidos erros graves , itencionais. O Sr. Miguel Trovoada, depois de assumir a chefia do Estado, passado algum tempo, foi derrubando governos, fez atrazar muito o Paìs, diz porquê. O que passou, alguém roubou, porquê que não levou o processo ao Tribunal? Então o que passou realmente? Criou O ADI e desde então devidiu o eleitorado da mudança e o que temos hoje são governos instáveis. O Fradique veio e fez a mesma coisa, dividiu ainda mais esse eleitorado. O proximo tambem vai criar o seu partido, só se o Pinto voltar de novo. Sabemos que esses senhores têm sim vindo a prestar bons serviços ao MLSTP. Enfim o problema desses 35 anos, é simples. Os Políticos ficam impunes mesmo que cometam os crimes mais absurdos, concientes e graves. Então quem é o real responsável pelo desastre desse País? Não estou de acordo que fizemos coisas boas, pois cometeu-se muiitos crimes contra STP. Alguem deveria assumir,mesmo os partidos, para que os novos governantes não voltem a cometer mais crimes.
    Em STP foram presas pessoas, não se pode livremente abordar temas, discutir, senão serás penalizado de uma maneira ou outra. Então estamos livres? Essa taxa de pobreza?
    Enfim talvez os antigos e altos responsáveis do País, se fossem verdadeiramente santomenses e se quizessem que o Pais fosse adiante, teriam a coragem de abordar livremente os problemas, fazer debates, como em Paises livres se deve fazer. Ao contrario escondem-se atraz de imunidades, não fazem debates. Já se realizou debates abertos para todos com esses altos e antigos responsáveis? Nunca e ñ vão fazê-lo.
    Viva STP

  5. Moisés Lima

    24 de Agosto de 2010 at 21:04

    É lamentável que durante esses 35 anos ainda não temos jornalista capazes de investigar estes ditos senhores e trazer-nos a verdade de forma a estármos esclarecidos para nos permitir a dar melhor o nosso contributo.Isto porque há muita coisa para ser esclarecido, como exemplo a verdadeira razão para exilar no estrangeiro o sr Trovoada e outras histórias mais.

    Até já.

  6. loribel

    30 de Agosto de 2010 at 14:22

    Sou jovem e pouco sei do passado do meu Pais. Acredito, que o passado de São Tomé e Príncipe tem muito a ver com o futuro, o tempo passa e continuamos preso no passado, são 35 anos e vemos o futuro de nosso Pais nas mãos daqueles que realmente não dão valor.
    Pergunto como vamos viver assim mas 35 anos das nossas vidas?
    Acredito que a muita pouca vontade, para tantas promessas.
    Eu como muitos amamos a terra que nascemos e fomos criados.
    Não critico este ou aquele, pois não falo daquilo que não vi. Mas é triste ver o pouco que vejo hoje, e saber que 35 anos se passaram e a quem diga que nada mudou.

  7. rui medeiros

    6 de Setembro de 2010 at 14:18

    Tenho pouco a comentar desses senhores pilantras , a unica coisa que me conforta e me da uma certa tranquilidade é que sei que um dia terei ou teremos a oportunidade de menciona los como MALOGRADO…..AQUI JAZ…O FALECIDO viva STP

  8. ze cabra

    12 de Setembro de 2010 at 19:21

    o senhor ja pertence ao passado agora o seu filho é que esta a frente desta linda naçao nao lhe meta coisas facistas na cabeça para nao voltarmos ao passado

  9. zecabra

    14 de Setembro de 2010 at 12:53

    os politicos do passado e alguns do presente nao gostao do povo mas sim das ditas dobras para encherem de grandes fortuna vejam se alguns desses ditos libertadores ou seus familiares directos estao mergulhados na miséria

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