Análise

Eu sou deputado do povo

Bate as palmas. Nunca usou de palavra. Nem é necessário com tantos doutores no Parlamento a roubar-lhe o saber das palavras. Nas reuniões do partido, ele dá a voz aos problemas dos seus luchans e a descrença nos políticos com as promessas falidas.

Chegou a hora de fazer barulho. As ordens, obedecendo a lei de gravidade, caíram-lhe em cima. Fizeram-lhe confusão na cabeça, mas tinham de ser cumpridas.

Havia mais um gatuno na sala com fato e gravata de imunidade parlamentar. Gatuno não! Gatunos são assaltantes das quinas e de vizinhança. Quando usam fatos e gravatas são corruptos e inocentes até as provas jamais encontradas. Corrigiu-lhe o colega. Non interessa! Então é gatuno do povo! Disse soberbamente.

O deputado do povo fez barulho. Tocou batuque como se via nos parlamentos de outros países. Dançou puíta. Não boxeou. Separou o ring.

Foi a correr ao chefe para receber da sua boca o próximo passo depois de deixar Parlamento aos gatunos. Não! Corrigiu. Aos corruptos.

Tinham de pôr o povo na rua. Qué isso de pôr povo na rua? No gabinete só lá estavam os representantes do povo. É medir forças com os corruptos da Assembleia Nacional desviando os disparos ao palácio presidencial.

As instruções foram caindo e deu para perceber. Não levava pasta diplomática nem mala de estudante para o Parlamento. Lá ia a sua maneira. Ao jeito do povo. Não precisava de registar nada. A conversa era sempre a mesma e quando lhe calhasse a vez, batia palmas às leis e contra leis. No peito do casaco nunca lhe faltou uma esferográfica para pontuar o desenvolvimento do país democrático.

O Governo só caia se houvesse as eleições agora e já para trazer mais deputados a assembleia do partido. Afinou a língua.

Subiu pá roça. Pagou umas rodadas nos bares e andou pelas freguesias simulando uns pratos e copos a anunciar ao povo que tinha de descer a cidade para pôr o país em caos caso fosse validada a lei da maioria na Assembleia Nacional. Houve quem entendesse de que devia por o país em paus.

Também davam-lhe jeito as eleições. Deviam ser todos os anos e a Comunidade Internacional dava dinheiro. Nasceram-lhe saudades das últimas. Tinha corrido mundo com o dinheiro de mercado, passeio, doca pesca, empréstimo do Brasil, doações, indemnizações do Estado aos olhos da justiça corrompida na boca e nos ouvidos do povo. Uma mão lava a outra! Construiu um casarão na zona que mete inveja as vistas grossas dos adversários políticos.

Num dos quartos albergou o seu pai que foi boss numa empresa no tempo de quinze anos e que não trabalhou com a cabeça. O mais velho intimidou-se com a balança de consciência que lhe podia destronar por má gestão. Não teve medo é das miúdas e das mulheres dos trabalhadores que comeu a conta do Estado. Quando mata saudades daqueles tempos de director e de cacau que paria bué, vêm-lhe memórias bem fixes. Comi mais de cem raparigas. Tirei cabaço a umas vinte garotas. Gaba-se e, por vezes, até perde-se nas contas.

No dia do povo comparecer na cidade, o deputado do povo esteve a espreita até que a multidão se fizesse anunciar. Ninguém trouxe paus. Afinal, são todos primos. Não sou nenhum bôbo! O que andei a fazer na escola!? Louvou a Deus.

Na hora H juntou-se ao subchefe, organizou e deu coro a manifestação. Alguém trouxe um cartaz onde lia-se: Trovoada venta, Pinto quenta.

Ele pegou numa das hastes e lá, a marcha, os gritos e a sentença deram início ao apoio do Governo. Apercebeu-se de que tinha segurado no braço contrário. Fez a troca e passou para o lado do fim da ventania, onde as câmaras e todo o mundo podiam apanhar-lhe em cheio.

Encostou a boca às orelhas do doutor e questionou-lhe se as palavras não estavam a ser descontextualizadas e rústicas, demonstrando baixeza e até alguma falta de respeito numa sociedade já de si frágil de boas maneiras. Temos de defender a nossa democracia, o nosso partido e o nosso líder. O inimigo do antigamente tem de ser abatido. Artilharia pesada. Fogo! Ordenou.

A multidão foi mostrar presença no palácio do Governo e o chefe apresentou-se, agradeceu de joelhos e felicitou ao deputado do povo pelas palavras tão corajosas e promotoras.

O deputado do povo logo que o chefe se escondeu da varanda, largou a cruz e o calvário a um qualquer manifestante e, correu ao segurança e a secretária até as contas com o líder. Apresentou-lhe a lista interminável do povo que trouxe a cidade e de dívidas por pagar as palaiês, aos taxistas, aos motoqueiros e até nos quiosques.

Deu para remediar a sua saca com o pensamento em virá-la ao contrário para dar outra palavra como no tempo de jogos de criança. Casa. Ia ser apetrechada como palacete.

O Governo caiu. Nasceu um outro Governo para aguentar o país por dezoito meses.

Com o passar das semanas, a disciplina partidária em não aceitar a lei da maioria entrou em confronto consigo no dever da defesa dos eleitores no Parlamento. O deputado do povo pensou e repensou. Só podia dar seis faltas consecutivas. Já estava no amarelo quase a cair no vermelho do Regimento da Assembleia Nacional.

Escapuliu-se da guerrilha, do líder e dos doutores na crença de que os outros lhe iriam seguir os passos de democracia. Tribunal chumbou o nosso excídio à República. Concluiu que não devia continuar a faltar com o povo que lhe confiou a tão espinhosa missão. Regressou sozinho ao Parlamento.

Eu sou deputado do povo! Agora sou independente! Exibiu o seu cartão de imunidade em que não constava qualquer assalto as contas públicas.

O deputado do povo sabia que até as eleições não lhe faltarão assédios dos oportunistas do MLSTP, PCD e MDFM. Tá na democracia mudar-se de fato. Pelo meu povo, tudo eu farei. Ano novo, pensamento novo! Estava disposto a reconciliar-se com o chefe que jamais lhe abandonaria enquanto deputado do povo pequeno.

Eu é que lutei para pôr na Assembleia estes senhores doutores que me mandaram tocar batuque. Quando chega eleição, eles é que ficam elegíveis na lista. Resmungou o deputado do povo ocupando o seu lugar na bancada de independentes pronto a oferecer os seus préstimos a Nação de Amador, Salustino Graça, Alda do Espírito Santo e Francisco Silva.

José Maria Cardoso

07.01.2013

18 Comments

18 Comments

  1. Flogá

    7 de Janeiro de 2013 at 8:17

    Qualquer similitude com a ficção, é pura realidade.

  2. Flogá

    7 de Janeiro de 2013 at 8:18

    Divino! Qualquer similitude com a ficção, é pura realidade.

  3. Sensa Comissário

    7 de Janeiro de 2013 at 8:53

    Lí… relí… e até quase lagrimei!!!
    Senhor Deputado do Povo… Poxaaaaaa Vida…
    Ainda existem pessoas assim, dos mais velhos!!! Separando as coisas, e vivendo pelo País… e pelo bem do Povo!!!
    Quando alguns dizem que este País tem oportunidades de mudar… só com essas atitudes, é que ainda me faz convencer nas coisas… como se diz em São Tomé e Príncipe… vê para crer.
    Uma salva de palmas a estas palavras, e que sejam assim na prática.
    Vive pelo objetivo que te pós ali… o bem desse nosso País… e não por mero orgulho de alguns.
    Bem-haja esta Nação

    Sensa Comissário

  4. Lider

    7 de Janeiro de 2013 at 9:16

    Acho que existe artigos que não deviam ser publicados pelo Telanon… Vocês andam a dividir o País em duas etenias (Pinto/Trovoada). Vocês são o presente e eu sou o futuro (jovem). Parem de dividir o País porque não é isto que queremos para a nossa terra. Não nos metam no vosso barrulho…

    • E agora.?!...Falo eu

      8 de Janeiro de 2013 at 10:43

      Este artigo é excelente…leiam e se não perceberem, releiam e vejam que o mesmo não vem retratar desta “bipolaridade” Pinto Vs Trovoada.

      “…O deputado do povo sabia que até as eleições não lhe faltarão assédios dos oportunistas do MLSTP, PCD e MDFM…”

    • joao pereira

      8 de Janeiro de 2013 at 15:03

      Por mais trato que dou a minha memória não
      consigo descortinar quem é o tal deputado do povo! O Tela Nom pode me dizer quem é o tal deputado?

    • joao pereira

      10 de Janeiro de 2013 at 13:14

      Que raio de interlucotores são vocês!!? Mesmo escudados atrás de um clic não são capazes de serem objectivos. Isso só revela a falta de firmeza,honestidade e seriedade da vossa parte.

  5. Assuncao

    7 de Janeiro de 2013 at 10:44

    Ta giro!!Gostei.
    Mas alguem responda-me sff, nesta trapalhada toda antes e ate o momento,houve algum registo da aparicao do Miguel Trovoada?
    Nao me digam k anda a preparar p as proximas?ai filhos de Sao Tome, Pai Santo nos ajude!!!
    Com cumprimentos.

  6. Levy Frustrado

    7 de Janeiro de 2013 at 10:48

    Eu reconheço:
    Assumo:
    SOU SANZALEIRO e ponto final.
    E mais : EU SOU COMO A GABRIELA:
    EU NASCI ASSIM E ASSIM MORREREI.

  7. nora

    7 de Janeiro de 2013 at 12:08

    BELO EFEITO.

    DE TODAS E DE TODOS O POVO DE SÃO TOMÉ E PRINCIPE VAI SABER QUEM É PATRICE TROVOADA.

    O FINANCIADOR E ARMADOR DO GOLPE DE ESTADO DE 2003 FOI ELE, PARA SE ERGUER AO PODER. PORQUE SEUS IRMÃOS (GABONÊS, LÍBIO E OUTROS) ANDAVAM A LHE DAR INGUIÇOS.
    POR ISSO TINHA QUE FINANCIAR O GOLPE PARA DAR CABO DA MARIA DAS NEVES A ” MARIA DE ESPERANÇA RENOVADA”

  8. Féde ká Dóxi

    7 de Janeiro de 2013 at 14:39

    Senhor Assunção,
    O Miguel Trovoada não aparece, porque o filho está em acção. O Filho de Peixe sai peixe. Só que esse peixe está a desafiar o pai e o pai não qujer isto.
    Agora pergunto: Quem vai pagar estes deputados que vão ao Parlamento marcar presença apenas sem trabalhar? Será que na Função Pública um funcionário pode entrar nos seus serviços marcar presença e sair e receber o salário no fim do mês?
    Espero que os Deputados presentes (29) ajam de conformidade. Como o Deputado VABÚ disse: cito: Aos Deputados que não estão a prestar serviço, deve-se lhes retirar todas as mordomias. Só que tenho pena da minha apaixoda ISABEL DOMINGOS, vai dar aulas, aliás já deveria estar. Papa Patrice basou.
    Já não tem como lavar o seu dinheiro da máfia.
    Bem haja

    • Assuncao

      8 de Janeiro de 2013 at 10:07

      ahh pois,bem me parecia k o individuo nao fosse dar a cara,mas devia!!!os nossos deputados alguns deles nem a lei fundamental conhecem, nao se preparam e quantas vezes estao a sonecar no banco!!santa paciencia, ha de tudo, deixe la, espero que o nosso povo ou alguem os faca despertar destes acontecimentos para estarem em consciencia nos proximos atos eleitorais. Quanto ao Patrice, este ja deu.
      Com cumprimentos.

  9. Horácio Will

    7 de Janeiro de 2013 at 15:33

    Obrigado, Zé Maria
    Apresentar exemplos de pessoas que façam lances certos, poderá contribuir para criação de uma nova moda. É mais que um sonho, é um pequeno passo – do deputado e teu. Reconheço o ntributo.

  10. Bobuwabo

    7 de Janeiro de 2013 at 17:36

    Meus caros Amigo, alguns desses deputado de ADI vam a Igreja tds os domingos sera q eles não lêm a biblia sagrada e não olharam o fime de Jesus na TVS, qd Jesus disse q nenhum sego pede guiar outro cego e ambos cairam é bom q os deputados de MLSTP,PCD e MDFM levacem a biblia a parlamento.

  11. sorriso stp

    8 de Janeiro de 2013 at 9:35

    ESSA FOI BOA…
    RSRSRSRSRSRRSRSRSRSRSRSRSRSRRSRSRSRSRS.
    EU NA OPINIÃO MUITO PARTICULAR, PENSO QUE TODOS ESTAMOS FRUSTRADOS COM A PORRA DO PAIS E DO GOVERNO QUE TIVEMOS E QUE TEMOS, LOGO ISSO DIFICULTA UM BOM RACIOCÍNIO, O QUE LEVA-NOS A DETURPAR MENSAGENS E A NÃO ENCHERGAR BEM OS FACTOS. PORTANTO SEJAMOS COERENTES, E LUTEMOS PARA O BEM DA NAÇÃO, EU TENHO A ESPERANÇA DE QUE UM DIA S.TOMÉ ESTARÁ MELHOR…
    BEM HAJA
    SORRISO STP

  12. kwatela

    8 de Janeiro de 2013 at 19:14

    bem vindo camarada!
    bien venuee !!!!!

  13. " NÓS TEMOS O POVO""-

    9 de Janeiro de 2013 at 15:36

    MEUS SENHORES COMENTADORES! VOCÊS SÃO DIMAIS….ISTO É COISA QUE SE ESCREVE!!
    MAS, BEM FEITO…PATRIÇO E COMPAINHA LIMITADAS ASSIM OS MEREÇEM….

    “”Senhor Assunção,
    O Miguel Trovoada não aparece, porque o filho está em acção. O Filho de Peixe sai peixe. Só que esse peixe está a desafiar o pai e o pai não qujer isto.
    Agora pergunto: Quem vai pagar estes deputados que vão ao Parlamento marcar presença apenas sem trabalhar? Será que na Função Pública um funcionário pode entrar nos seus serviços marcar presença e sair e receber o salário no fim do mês?
    Espero que os Deputados presentes (29) ajam de conformidade. Como o Deputado VABÚ disse: cito: Aos Deputados que não estão a prestar serviço, deve-se lhes retirar todas as mordomias. Só que tenho pena da minha apaixoda ISABEL DOMINGOS, vai dar aulas, aliás já deveria estar. Papa Patrice basou.
    Já não tem como lavar o seu dinheiro da máfia.””

  14. seabra

    10 de Dezembro de 2013 at 16:11

    Ah…os safados dos TROVOADA! Que familia OPORTUNISTA…..jà que o povo de STP lhe quer ver a mandar, a eles de aceitarem o sofrimento e castigo, a miséria , enquanto os TROVOADA enchem os bolsos!!!

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