Opinião

Racismo Italiano ataca Cecile Kyenge, a ministra negra

A formação do novo Governo italiano, antecedido de momentos exaltantes e até violentos, que marcou rotura com a sociedade de “mamma mia” a ter na sua composição uma ministra negra, oriunda de um país não colonizado pela antiga potência de expansão europeia na Líbia, Somália e Eritreia, trouxe, uma vez mais a ribalta, o racismo acampado da civilização europeia.

De seu nome Cecile Kyenge, a emigrante do Congo Democrático que chegou a Itália, aos dezoito anos de idade, é casada com um italiano e mãe de duas filhas, beneficiando-se de nacionalidade italiana.

Chegada em 1983 a Itália, Kyenge que tem 49 anos, é médica oftalmologista e foi eleita deputada do Partido Democrata nas eleições de Fevereiro último. Discriminada de “macaca congolesa” ou “zulua” na sua longa luta pela concessão de cidadania aos nascidos em Itália, independentemente da origem dos pais, tornou-se na primeira negra no Parlamento italiano.

Depois de dois meses de eleições gerais de Fevereiro que mergulharam a Itália num impasse político, Enrico Letta, de 46 anos e Chefe do Governo, conseguiu a aprovação dos 17 nomes para os ministérios com Cecile Kyenge, a ser sancionada no final de Abril findo para o Governo pelo presidente da Itália, Giorgio Napolitano, que declarou “esperar que esse governo possa trabalhar rapidamente no espírito de cooperação fervorosa sem qualquer preconceito ou conflito,” antevendo reacções contra a Ministra negra.

Reagindo a sua nomeação, a Ministra de Integração declarou que “é uma decisão que mostra um passo decisivo para mudar a Itália e o modo de ver a integração que já é presente no país. Para mim, é uma grande satisfação.”

A Ministra Kyenge que começou a arrumar a casa com a protecção dos emigrantes que de acordo com o Partido Democrata, “é necessário dar uma resposta jurídica aos quase um milhão de menores, filhos de pais estrangeiros que vivem no limbo burocrático porque esperam obter a cidadania italiana, já que nasceram e cresceram na península” mediterrânica, não teve peito para parar aos insultos racistas de militantes de extrema-direita italiana manifestando-se contra a concessão de nacionalidade aos menores estrangeiros nascidos na Itália.

Kyenge, vá para o Congo”. Lia-se num cartaz colocado na sede do Partido Democrata.

Não podemos presentear com a cidadania italiana pessoas estranhas à nossa cultura. Também não acreditamos num modelo de sociedade multirracial como a dos bairros periféricos de Paris“, afirmou num comunicado o grupo de extrema-direita Forza Nuova comparando a vizinha França.

A Ministra de Integração que reagiu “com estes insultos não conseguirão, me deter,” explicou à imprensa que deseja abrir um debate sobre o direito à cidadania italiana e obter um amplo consenso com todas as forças políticas sobre uma nova legislação para a temática dos nascidos na Itália.

A “mamma mia” que na expansão europeia fez colónia em África e viu milhões de italianos emigrarem-se no século XX, em especial para a América Latina, escapando-se da pobreza e da fome, vê agora parte da sua sociedade política e civil a negar cidadania aos imigrantes que chegam em busca de trabalho e que até há pouco, apenas concedia trabalho as mulheres estrangeiras e, para serviço de domésticas.

Recordemos que a par de França que saltou para o registo do futebol mundial no final do século XX (1998) com a magia da sua selecção “negra”, a Itália tem actualmente na sua estampa futebolística o super Mário Balotelli, o negro de origem ganesa, que no Europeu 2012 mandou de forma convincente a poderosa selecção germânica para fora da competição continental. Educado por uma família de adopção italiana pela decisão judicial devido a problemas de saúde à nascença e de debilidades financeiras dos pais naturais, Mário Balotelli, teve de esperar até completar os 18 anos para requerer a cidadania italiana. No dia 13 de Agosto de 2008, o negro italiano, numa cerimónia oficial recebeu do prefeito de Concesio a sua carteira de identidade italiana passando a representar a sua selecção.

Um olho em Portugal, país colonizador e de brandos costumes. O alarido não é a discriminação contra governantes negros, mas sim, a crise da economia a minar a política. Com uma das mais avançadas leis de acolhimento, passados quase quatro décadas da descolonização africana e ultrapassados, “todos os imbróglios” e ódios da escravatura e da repressão, sem qualquer reparação aos danos seculares, ao contrário de outras potências coloniais, só para são-tomense ver, Portugal ainda não avançou para a africanização da coisa pública e política, apesar da quota-parte dos portugueses negros no relançamento económico do país e dos investimentos africanos na economia portuguesa.

Daí, a nomeação da italiana negra Cecile Kyenge no Governo de Itália e as pistas de desenvolvimento económico a direccionar para África, podem levar o Governo de Passos Coelho, um africanista de casamento, a ponderar num próximo Ministro de Finanças vindo da elite portuguesa negra para salvar o país da crise, gerindo deste modo, ao mais recente pedido vindo do interior do partido na voz de Carlos Abreu Amorim, vice-presidente da bancada parlamentar do PSD que se distanciou da agenda do governante das finanças “eu julgo que o país precisa de uma nova etapa, neste combate tremendo à crise económica, financeira e social em que estamos e que o tempo político de Vítor Gaspar terminou” apesar de ter reconhecido que o ministro tecnocrata “restabeleceu a confiança dos mercados e teve sucessos nas suas políticas de voltar a inserir Portugal nos mercados financeiros.”

O “vice” da bancada do partido coligado no governo do PSD/CDS-PP foi claro nos recados dos portugueses aflitos com a crise troikaniana garantindo que “as pessoas que confiaram e continuam a confiar em Pedro Passos Coelho e Paulo Portas exigem, neste momento, que esses dois lideres políticos tratem dos problemas do país como problemas políticos e não exclusivamente como problemas orçamentais e financeiros.” Ainda assim, é coisa para Santo Tomé ver e crer num negro português de reconhecida competência no Parlamento português, ou no Governo, decisor de políticas executivas do país, pior é esperar que o primeiro negro governante português venha a surgir de um país africano não colonizado por Portugal, embora pese a presença portuguesa na sua História expansionista colonial em toda a África, de Cairo ao Cabo.

José Maria Cardoso

16.05.2013

15 Comments

15 Comments

  1. luisó

    16 de Maio de 2013 at 18:15

    Sr. José Maria Cardoso:
    Eu não sei onde vai buscar as informações para estes artigos que escreve e que eu costumo ler mas devo informá-lo de que para que na próxima não cometa o mesmo erro, que o parlamento português tem um deputado de origem africana, AMARAL,e por sinal de um partido de direita e que apoia o governa do PSD, que por sinal é vice-presidente da bancada desse partido e membro efectivo da comissão de economia e finanças do parlamento e portanto passível, se os seus pares de partido assim o entendam, de ser membro de governo.
    Recordo-lhe ainda que existe uma senhora de origem africana (angola)de nome VAN DÚNEM que se não me engano ou é vice-presidente do supremo tribunal de justiça ou do constitucional.
    Até hoje não ouvi e li nenhum alarido sobre estas pessoas por serem africanos e são reconhecidos por todos.
    Agora outro assunto:
    Porquê a ligação do caso italiano para portugal?
    Algum sentimento estranho?
    Algum trauma?
    Sabe que há em portugal 500 mil estrangeiros residentes de mais de 30 países diferentes e que desses 30 mil são santomenses?
    Acha que há comparação com outros países da europa na maneira como os estrangeiros ou neste caso os africanos são tratados ou como estão inseridos?
    Meu amigo basta passar uma tarde num Colombo ou Dolce Vita e ver as dezenas de casais de portugueses e africanas e vice-verso que se passeiam sem problemas e na maior das despreocupações.
    Basta ver as centenas de jovens de origem africana que passeiam, vão ao cinema, ao futebol, sem problemas algum.
    Quem está ou vem por bem sente-se bem em qualquer lado e por isso é bem recebido. o contrário tem as suas consequências mas isso é em todo o lado. Se eu for a sua casa e faltar-lhe ao respeito ou ás suas regras o senhor rapidamente põe-me a andar ou não será? Mas se eu cumprir e for educado então estaremos bem um com o outro.
    O mundo é pequeno demais.
    Se conhece Lisboa visite quinta do mocho, quinta da princesa, ameixoeira, etc, onde o governo português construiu milhares de apartamentos onde moram muitos dos africanos e que moravam em bairros degradados sem condições para terem uma vida melhor. E se eles não tivessem saído dos seus países acha que os seus governos tinham lhes dado casa? Acha que um tuga em angola ou em STP por morar numa barraca vai receber casa do Estado a pagar 30 euros por mês?
    (…Com uma das mais avançadas leis de acolhimento, passados quase quatro décadas da descolonização africana e ultrapassados, “todos os imbróglios” e ódios da escravatura e da repressão, sem qualquer reparação aos danos seculares, ao contrário de outras potências coloniais…)
    Caro amigo o senhor dá uma no cavalo e outra na ferradura.
    Já agora quais as potencias coloniais que repararam os danos seculares?
    Obrigado pela atenção.

    • Cidadão Nacinal

      19 de Maio de 2013 at 0:44

      Foi preciso muito tempo para que alguém tivesse coragem de narra este facto, e concordo plenamente com a sua crónica Sr.º José Cardoso, Portugal só teria a ganhar muito quando tomar uma decisão semelhante, e se não o fizer terá uma relação muito difícil para o futuro com os países Africanos.

      Alguns países da Europa estão a ter uma visão negativa do comportamento da atitude de alguns políticos portugueses, como chegou-se a conclusão de que o politico Durão Barroso impediu algumas implementação de normas europeias que permitisse Portugal receber mais Capital para o investimento, quero dizer que com isto de que existem crivarem de ódio entre próprio portugueses da Raça Branca e por isso há que haver um trabalho forte na abertura dos negros na politica portuguesa para que este país sai do buraco que está metido.

      Querer ter os negros com boas formações e a pagar miséria de salário e o bloqueio na função pública , isto não leva portugal ao lado nenhum. Mas eu conto com o Sr.º Dr.º Passos Coelho e o Dr.º António José Seguro
      que são políticos com certos pensamentos para esta mudança , com o tempo mudará este cenário nas eleições Autárquicas.

      São Tomé e Príncipe é o parceiro de Portugal e por isso espero que a sociedade portuguesa pondere a sua atitude e dê oportunidade ao Cidadão Santomense à politica , porque já tivemos oportunidade de o Sr.º Fradeque de Menezes do Viseu ser Presidente de São Tomé e Príncipe,por isso espero da Boa Fé dos portugueses que tudo vai mudar.

      É oportunidade única para que portugal demonstra o seu interesse de dar uma oportunidade aos africanos.

    • Flácon Liguí Pinta

      19 de Maio de 2013 at 5:14

      Caro Luisó.
      Acho bem o Sr José Maria Cardoso levantar este assunto interessante. Se o Sr Luisó não gostou do tema, o problema é seu. O Sr demonstra ser infeliz e com dores de cotovelo. Não consegue esconder que tem preconceitos, como muitos dos seu pares, manifestando ao contrario do que diz mentalidade, igual ao dos dirigentes do CDS-PP e do PSD.
      o Sr se refere a África, como se trata-se de um país, demonstração de ignorância.
      Já percebi que o sr Luisó faz parte de um grupinho de portugueses pobres e invejoso e frustrado. Mas é vida. Se não está bem em Portugal, pode mudar-se para São Tomé e Príncipe que nós teremos o maior gosto em dar-lhe asilo económico.
      Os atrasos de portugal deve-se a gente tacanha como o sr.
      Ao sr José Maria Cardoso, só tenho que dar os meus parabéns pelos bons artigos que nos oferece nesse jornal e que provoca debate inflamado.
      Saudações a todos.

    • David

      19 de Maio de 2013 at 21:38

      Nós todos precisamos perceber, que só há uma raça de pessoas no mundo que a de Jesus Cristo.

  2. Barão de Água Izé

    16 de Maio de 2013 at 21:54

    O Sr. J. Maria Cardoso tem complexos com a História e preconceitos rácicos. Ainda não percebeu que se tem um País o deve à colonização, tenha ela feito bem e mal.
    A amizade entre STP e Portugal é um activo que deve ser defendido.

    • Flácon Liguí Pinta

      20 de Maio de 2013 at 5:16

      O Sr Barão de Água Izé, também é outro infeliz. Ainda bem que o Sr Luisó,o Barão de Água Izé Eu e muitos outros intervenientes neste espaço de opinião somos uns grandes cobardes. Não damos a cara com nomes verdadeiro ao contrario do que faz o Sr José Maria Cardoso, escondemo-nos debaixo da capa de um pseudonimo para não dar a cara.
      Este espaço é de opinião aberta e nao vejo o motivo de estarmos a fugir de quê e de quem.

  3. daniel

    17 de Maio de 2013 at 9:16

    Se o preto maltrata o preto…
    Olha só pra o que esta acontecer em S.Tomé como alguns ladrões de gravata fazem ao povo.

  4. Stlijon

    17 de Maio de 2013 at 13:06

    o extremismo existe em todos os paise. Importante é ver qual é o peso deste extremismo.
    A estrema direita na Italia representa por volta do 5% dos eleitores, sendo assim uma minoria que não pode representar a posição deste Pais em termos de politicas de integração. Pelo contrario acho que a escolha do partido maioritario de introduzir pela primeira vez no Governo uma ministra negra, foi um claro sinal da posição da maioria dos italianos relativamente às problematicas de imigração e de integração.

  5. Tayty

    17 de Maio de 2013 at 15:58

    Sr. luisó
    o sr. é branco ou negro?!

    • Pléto Lúlúlú

      17 de Maio de 2013 at 18:09

      Sr. Tayty ….. Interessa saber se o srº. Luisó é Branco ou Negro ?? O que interessa saber é se o que ele diz é mentira ou verdade. Pelo que li, nada do que ele diz é mentira. E por aqui me fico.

    • Teresa

      20 de Maio de 2013 at 21:09

      a verdade e a mentira não são questões preto no branco!!

    • luisó

      17 de Maio de 2013 at 21:18

      Sou uma pessoa sem preconceitos e do mundo!!!!

  6. minus

    18 de Maio de 2013 at 13:39

    é uma pena que alguns fulaninhos, desperdiçam tempo precioso debatendo-se com problemas cuja solução vai além da compreensão humana, porém, como lhes resta lata e um pouco de dinâmica de espirito lá saem disparatando e bufando pelos quatro ventos arranhando-se, acotovelando-se sem que apresentem algo plausível de se digerir… porque não se calar ao invés de tanto blá, blá, blá! STP precisa de levantar-se das masmorras tudo o que se pode ver agora é um espectro do que algum dia foi e poderia ter sido se dessem mais suor, sangue, vida, amor e não essa enxurrada de disparates sobre o que se passa no outro lado do mundo, o que alguns fulaninhos daqui tem estado a fazer se o preto e o branco geram conflitos ou devem unir-se eternamente nas leis do matrimonio, estou mesmo farto dessa gente adulta ao mesmo tempo tao vazia e tenebrosa como o seol… mudem o rumo da coisa diminuam o granel de palavras aumentem a panela de bons feitos pra com essa maravilhosa terra e seu povo!

  7. elton

    18 de Maio de 2013 at 22:04

    no mundo existe 2 tipos de pessoas. pessoas boas e pessoas mas. pessoa honesta e desonestas. pessoas de mau caracter e pessoas de bom caracter. pessoas justa e injustas.pessoas que trabalham e pessoas que roubam. e essas pessoas sao encontrada em todos paises do mundo.entao as pessoa devem ser julgadas pelo caracter e nao pela cor, raca e aparencia fisica.

  8. Neves

    14 de Junho de 2013 at 18:10

    Seculo 21,Biotecnologia,neurociencias,viagens espaciais,presidente de pele morena nos Estados Unidos,era da informatica. e nos ainda perdendo tempo com tanta babaquice,´´jugando as pessoas pelo nivel de melanina´´ e olha que apreendemos nas escola que melanina não causa danos ao cérebro,neuronios,carater..não é atoa que essa senhora é médica oftalmologista. RACISMO É BURRICE

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