Análise

Morreu o Presidente e Humanista Nelson Mandela

O mundo perdeu ontem, o mais célebre e inspirador dos filhos africanos. Após a prolongada doença com uma mãozinha má dos 27 anos de cárcere do apartheid, morreu aos 95 anos o antigo lutador e combatente da dignidade do Homem Africano.

Rolihlahla Madiba Mandela, nome de nascimento, de etnia Xhosa, nasceu na região de Transkei, no Cabo Leste, no dia 18 de Julho do ano de 1918 numa família de nobreza tribal. Aos sete anos, tornou-se no primeiro membro da sua família a frequentar a escola em 1925 e daí ser atribuído pela professora o nome inglês “Nelson”. O pai morreu logo depois e Mandela seguiu para uma escola próxima ao palácio do Regente.

Nelson Mandela dá um passo importante nos seus conhecimentos juvenis ao estudar a cultura ocidental no Instituto Clarkebury. Em 1934, mudou-se para Fort Beaufort e iniciou o curso em direito na Universidade de Fort Hare, onde conheceu Oliver Tambo, amigo para a longa e dura caminhada.

No final do primeiro ano, Mandela é expulso da universidade em linha de colisão com as políticas universitárias e foi parar a Joanesburgo onde por correspondência concluiu a graduação na Universidade da África do Sul (UNISA). Continuou os seus estudos de direito na Universidade de Witwatersrand.

Integra ao Congresso Nacional Africano em 1942, o ano que concluiu o direito e mais tarde com Walter Sisulu e Oliver Tambo, entre muitos jovens fundaram a Liga Jovem do CNA, formalizando assim a oposição ao regime do apartheid que negava direitos políticos, sociais e económicos a maioria negra, mestiços e indianos. Nessa altura com os colegas de direito criaram também o primeiro gabinete de advogados negros.

A eleição de 1948 deu vitória aos afrikaners que apoiavam a política de segregação racial, por outro lado, animaram o activismo do ANC que em 1955 faz parte do Congresso do Povo que publica a Carta da Liberdade, documento de causas contra o regime de apartheid, numa luta de não a violência mas que, após ao massacre de Sharpeville, em Março de 1960, quando a polícia sul-africana atirou a matar contra manifestantes negros, matando 69 pessoas, maioria com balas nas costas e ferindo quase outras duas centenas, o ANC elegeu a luta armada.

Em 1962 Nelson Mandela foi preso, sendo sentenciado a cinco anos de prisão. Dois anos depois, em 1964, Mandela foi condenado a prisão perpétua por sabotagem – o que admitiu – e por conspirar para ajudar a invasão a África do Sul – negado. Enviado para a prisão da Ilha Robben, lá ocupa a cela com número 466/64, que tem as dimensões reduzidas de 2,5 por 2,1 metros, e uma pequena janela de 30 cm.

Começa assim a longa clausura de Nelson Mandela que o manteve 27 anos atrás das celas do apartheid sul-africano e simultaneamente o mundo une a sua voz a volta da sua libertação. Com a intensa campanha do ANC, da pressão internacional e por administração do Presidente Frederik de Klerk da África do Sul racial após uma diplomacia secreta, Nelson Mandela é libertado no dia 11 de Fevereiro de 1990, aos 72 anos de idade.

Num comício para a História após o seu reencontro com a liberdade perante a multidão de negros e brancos em explosão de alegria impressionante e indiscritível, Nelson Mandela, humanista e reconciliador, une a Nação sul-africana a surpreender a todos com o perdão ao regime que o carcerou durante 27 anos com o eterno número do prisioneiro 46664. Em 1993 Nelson Mandela e Frederik de Klerk dividiram o Prémio Nobel da Paz, galardão que Madiba oferece ao seu povo que conseguiu mudar um país sem banho de sangue de vingança que o mundo temia.

Em 1994 Nelson Mandela, é eleito o primeiro presidente negro da nova África do Sul, cargo que inteligentemente e ímpar em África, não se recandidata em 1999, retirando para muitas causas sociais em que se viu distinguido pelo mundo como a do grupo de sábios africanos.

Ontem, o actual presidente sul-africano Jacob Zuma, anunciou ao mundo a partida em paz do presidente e pensador africano Nelson Mandela que deixou viúva a única mulher casada com dois presidentes em função, a moçambicana Graça Machel.

Na hora de luto e de consternação de apagar a estrela inspiradora de um mundo inteiro que deve chamar a reflexão, muito em especial, a nós, os africanos, assumimos a nossa parte de Madiba, fechando com o pensamento de Nelson Mandela:

«Se você falar com um homem numa linguagem que ele compreende, isso entra na cabeça dele. Se você falar com ele em sua própria linguagem, você atinge seu coração

«Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar

«A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo

José Maria Cardoso

06.12.2013

4 Comments

4 Comments

  1. Edmar Varela

    6 de Dezembro de 2013 at 15:58

    Foi e sempre será um grande rei

    • sofia cardoso

      7 de Dezembro de 2013 at 16:57

      nisso tens razão edmar ele nao sairá do nosso coração, continua a ser o nosso rei africano

  2. seabra

    10 de Dezembro de 2013 at 15:30

    …sejemos mais profundos nos nossos comentàrios, na expressao dos nossos sentimentos!!! Nelson Mandela, merece bem mais que esses comentàrios muito terra à terra.
    Vejàmos, basta dizer , simplesmente, sem muitos comentàrios” foi um homem livre, combateu com convicçao e coragem, para uma causa justa, liberdade para o seu povo e para além …para o homem oprimido. Grande perda, mas seguiremos exemplo dele,para que o cambate dele nao tenha sido em vao”.
    Suponho que todos compreendem. Ele era humilde, mas nao SIMPLISTA !

  3. Barão de Água Izé

    10 de Dezembro de 2013 at 21:15

    Para entender bem Mandela temos que ter em conta um mínimo de conhecimento de sociologia e ciência politica.
    Mandela defendeu a liberdade politica e religiosa, a multiracialidade (ou africanitude), a democracia.
    A ANC não era , penso que ainda não é, na sua maioria, defensora de tudo o que Mandela defendeu.
    Mandela não quis defender a negritude racista e uma ditadura marxista. Seria a destruição da Africa do Sul. O Zimbawe e Mugabe são um exemplo.
    Vamos ver o futuro.
    Todos os defensores da liberdade devem tudo fazer para que o exemplo da Mandela prevaleça.
    Paz a Mandela! Viva Mandela!

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