Opinião

 Pragmatismo do Bolso

Por: Eugénio Tiny

 

Como liberal que sou, e até ao julgar pelas diversas actividades da criação pessoal que tenho desenvolvido há vários anos para a minha própria sobrevivência, libertam-me ao ultrapassar rapidamente dalgumas taras que são injustamente fixadas a minha pessoa, tal como eram muitas vezes, igualmente atribuídas de modo pouco sério e perverso, à gente de outro quadrante doutrinário ou ideológico, (só porque carregava como bagagem, o pensamento livre).

No entretanto, estas taras eram vistas e colhidas perene e satisfatoriamente, no âmbito da praxis da época, já muito distante da actual; felizmente que esta prática infâmia, porém, caiu em desuso pela impiedosa sentença do julgamento que fez o juiz tempo, de um passado mono e tíbio, que, nem o seu próprio defunto (aquele que teve a feliz sorte de beneficiar de uma boa homilia sacerdócia, «missa de defunto») se quer mais ouvir falar.

Porém, infelizmente, aqui, ali e acolá, ainda há outro que não passou pela espia do purgatório, e, entre os vivos, insiste em profetizar e perpetuar (para seu próprio sofrimento) termos tais como: oportunista, traidor, engraxador, lambe bota etc., não se lembrando pela falência do seu espaço vital que o tempo furtou e extingui, (talvez, definitivamente), que esses adjectivos (considerando a intenção, no uso de um ou outro termo) estão completamente ultrapassados pelo decurso competitivo da vida moderna em democracia multipartidária. Hoje em dia, o que fala mais alto é competitividade; e só por esta via se pode alcançar qualquer coisa mais duradoura.

Todo o resto é apenas tapar o sol com rede. Sempre gostei de ser eu próprio, e tudo tenho procurado fazer com defeitos naturalmente, para manter esta postura de maior equilíbrio e sensatez possível… (só um inexperiente que não sou, não sabe que o mundo político é constituído de um «poço» sem fim, aonde pode caber, viver e valer «tudo») …

O que fazer então, perante algumas insinuações? Desistir de me exprimir livremente? Não, àquele, já defunto, deambulando ao contra gosto, continua para a sua própria infelicidade, desprovido de uma tal sorte missal, e se mantém com o mesmo rosto e símbolo resguardados, não se cansando, nem cessando na sua virtual parada, de procurar para encontrar o seu homólogo. Como bem dizia o meu mais velho, PC – eu não sou esse fulano que dizem, sou outra pessoa, talvez, com o mesmo nome…

Desde criança que ouvira pessoas mais velhas, muitas, sem grandes habilitações académicas dizerem, que só um ladrão conhece outro ladrão, e que os feiticeiros se conhecem porque ambos demandam às noites, noutros termos, andam juntos.

O meu propósito não é nada disso; é simples: até porque – «engraxar sapatos limpos» – já dá trabalho. Imagine-se porventura, os mesmos, (sejam de quem fosse), enlameados com o tipo de lama a que me habituei quando era criança, por detrás da minha casa em Monta (Mezóchi), misturada com dejectos de porcos e de humanos que de um modo imprudente pisava descalços, descendo a ladeira íngreme em busca da água que nem era sequer potável: que repugnância me causava tais factos, quando me desse conta de que tinha entre os dedos dos pés uma tal composta lama! Até atirara ao chão a lata do funileiro usada na época para cartar água. Àquela época… Já imaginou o que é engraxar «sapatos» assim?

Mas eu era menino, era criança; hoje não, sou muito adulto; muito adulto, para me contentar ao limpar «os meu próprios sapatos pouco importando a sua lama». Pois é nobre, cada um corrigir os seus próprios erros e defeitos, mantendo-se de cabeça bem erguida e dono dos seus próprios pés, para caminhar em direcção que muito bem entender quando necessitar. Porém, «isto não se passa sem muita dor» em nenhuma parte. Por esta razão, até muito boa gente o faz, (engraxa) o que não sendo moralista, não condeno em absoluto. É assim que a natureza concebeu o homem para ser livre. A clausura seja do que tipo for, não é concerteza um fenómeno natural mas sim, uma posição em que o homem se coloca devido normalmente, à ganância, à procura de prazer, à ambição desmedida e à ignorância.

O objectivo que prossigo é ao que me parece nobre numa democracia plena, em que há liberdade de expressão; é ele, o de apenas falar sobre actos e factos incontestáveis, de modo que, quer, em S. Tomé e Príncipe, quer na diáspora, os são-tomenses – compatriotas – possam acompanhar na medida do possível, outras facetas da sua República, que, normalmente, não se ousam falar, exactamente, devido a estas conexões pejorativas.

Não, não tenho nenhum pejo nem receio, de fazer referências a qualquer personalidade são-tomense que tenha mérito e seja merecedor delas, nem, de qualquer Governo que tenha igualmente feitos positivos que merecem ser destacados, como por exemplo, a resolução pragmática da problemática da água em San N´guembú.

Independentemente, do partido político a que ele pertença, e ou, do vínculo político ou não, daquela pessoa, ou personalidade, pois que não existem méritos nem feitos memoráveis, sem antes muito trabalho; e, geralmente, todo o esforço positivo é inevitavelmente compensado; é muitas vezes uma questão do tempo que deve ser dado a cada coisa. Por isso, nada me preocupa, se as minhas opiniões livres vêm em benefício ou prejuízo de quem quer que seja, pois que não sendo esse o meu objectivo, acredito antes de tudo que, com o abnegado esforço, dedicação e persistência, cada um pode e deve construir a sua própria «cidade» sem ter de se render ou de se vender ao outro.

Todo ser humano, possui no seu interior, a sua própria cidade; é uma questão de fazê-la brotar e luzir, para que seja vista. Até porque, por mais que se quer, não se consegue “Ocultar uma «Cidade que esteja Construída por Cima de uma Colina», Aristóteles”; o que deduzo pela minha própria interpretação que ela será vista de todas as maneiras, de todos os lados, e muitas vezes, para o nosso próprio desconforto; é assim, e nada mais…

Voltando depois desta introdutória ao título.

Vejo que o poder sendo solúvel “ Carlos Encarnação “, deve-se por um lado, no seu uso, compatibilizar a lealdade partidária e pessoal com a procura de pontes, de consensos, de aberturas, quer relativamente à sociedade civil, quer quanto a outros quadrantes doutrinários ou ideológicos (pese embora eu tenha dúvida que esta última exista efectivamente, de modo estruturado; «não é pelo menos o que se pode ver»).

Deve-se também, por outro lado, fazer com que no seu uso se possa deixar referências positivas, de preferência inesquecíveis e emblemáticas para que seja considerado realmente poder. O saudoso Dr. António Agostinho Neto dizia em Angola – que o que faz falta – é resolver o problema do povo.

Há muita gente que devia pelo seu trabalho e empenho pessoal, pelo seu mérito, ser referida no país e não é… e porquê? Vejo por exemplo, que a campanha contra o abuso sexual de menores, tem sido seguida de depoimentos apelativos por parte de algumas figuras políticas e não só, ao nível da televisão nacional; tudo bem. Porém, a pergunta que se pode fazer é esta: Será que este flagelo só aterrou nos ombros destas figuras, quando nos últimos tempos, nem os templos mais sagrados se têm livrado dele? Papa Bento XVI e Francisco também abordaram o assunto. O que quer dizer que, a campanha devia descer da poltrona, para chegar aos mochos dos quintais dos mais velhos e jovens como uma «causa nacional».

Vejo também que a recém criada Associação Empresarial São-tomense, (curiosamente, nome que vem já sendo usado há tempos por outra associação), já teve o direito de participar no novo Programa televisivo S. T P Real; nada de mal nisto, até porque deve haver concorrência. Não é no entanto possível haver concorrência leal, quando o fiel da balança pende apenas para um lado. Então, se está perante uma concorrência desleal a este nível e não é bom para o sistema.

Mas quantas hão existentes há mais tempo no país? São pobres (…) e isto basta? Veja-se no entanto, o que diz o número dois do artigo trinta da Constituição da RDSTP. O Estado garante um serviço público de imprensa independente dos interesses dos grupos económicos e políticos. Então, está tudo dito… Ora, de quem é a culpa? Seria razoável dizer que é do Governo? Não, até prova em contrário, a culpa é dos jornalistas que elaboram, preparam e fazem os programas.

Porquê que as diversas personalidades são-tomenses e não só, não são convidadas para falarem na Televisão e na Rádio Públicas, sobre os mais diversos assuntos do país e do estrangeiro, de modo a enriquecerem o debate de ideias no país? Porque assim serão vistos e identificados pelo povo e isto não interessa; facto que é infelizmente recorrente e vem de longe.

Há no entretanto que mudar, porque só uma democracia plena pode provocar um desenvolvimento pleno. Porém, é muitas vezes assim, que surge indivíduo, político ou não, conhecido ou não, membro ou não de um partido político «qualquer», que preenchendo determinados requisitos é identificado e proposto para alto cargo público.

Quem pode falar melhor de S. Tomé e Príncipe, dos seus problemas sociais e económicos, que o próprio são-tomense? Já se viu quão baixo fica isso ser feito de forma arrogante, por um não nacional? O são-tomense pode fazer o mesmo noutras paragens? Talvez, para não ser pessimista… No meu ponto de vista, está errado. Pode-se inclusive, incorrer no risco de se estar a enaltecer, o que no outro meio, por via de uma imprensa mais hábil e apurada se esteja a subalternizar.

Tudo deve ser feito para despertar e aumentar o interesse das pessoas pelo o que é nacional, a partir das acções da Comunicação Social no seu conjunto. É este quinto poder, importantíssimo para o equilíbrio do sistema político vigente que se não deve perder de vista, e exigir constantemente que cumpra o seu sacrossanto papel de forma isenta e exemplar na sociedade são-tomense.

Uma boa comunicação social, favorece a todos e mais um, sem que se dê conta às vezes, do seu plano inclinado; mas é assim mesmo em democracias mais apuradas. O tempo reservado na comunicação social português aos partidos CDS, CDU, BLOCO ESQUERDA, OS VERDES etc., não é o mesmo que, do que é dado, ao PSD e ao PS, por exemplo. Às vezes, indivíduos políticos ou não conforme o interesse têm mais tempo que estes partidos. Tal é a liberdade de que gozam as estações e os agentes da comunicação social naquele país. Neste particular, verdade seja dita, também em S. Tomé e Príncipe, às vezes acontece. Quero é ver mais vezes.

Talvez muitos não deitem contas agora a tudo quanto seria S. Tomé e Príncipe se a imprensa ao longo desse período fosse efectivamente livre; este país seria completamente diferente do que é hoje.

Mesmo com as dificuldades em meios humanos e técnicos existentes, sem por de parte como é óbvio, todas as contribuições que visem à melhoria constante da qualidade dos programas existentes e ou, ao produzir. O que é nacional tem de ser bom.

Muita gente pensa por exemplo, que dar a palavra a oposição política ou, a opinião livre do cidadão, pode comprometer o poder político.

Isto é politicamente errado; tem o efeito contrário em democracia multipartidária, se não for devidamente utilizada. Lembre-se da força das palavras; ou seja, fálá cú xê sún de bócá sá pingádá ê na cá bilá lentláfá. Já falei sobre isso, recordando Dr. Ângelo Correia em Portugal, quando se referiu sobre os discursos que não se podem ter, quando a prática pode desmentir as palavras.

Adivinho as muitas diligências «desesperadas» que teriam de ser realizadas para que os seus discursos (da oposição) pudessem cultivar alguma importância em contraposição aos do poder efectivamente instalado. Pode por outro lado, contribuir para esgotar completamente o cabaz de argumentação da oposição, se esta não for muito hábil, e lestro ao construir novos «lastros» de suporte dos seus discursos, que, não sendo permanentemente renovados e inovados, pode lhe conduzir ao ridículo, por repetitivos, ou a meter água por defeito do ajustamento destes «lastros». (Alguns partidos da esquerda europeu têm esse problema).

Por outro lado, uma recusa ou constante recusa por parte da oposição ao fazer uso dessa possibilidade competitiva de participação democrática, pode significar insuficiência de argumentação, o que se traduz numa concordância total com o governo ou poder. E, um poder político que não dorme, usa-o ao bem usar em seu favor merecidamente.

Também, não dando palavra ao cidadão, o poder, não consegue construir um espaço de advocacia livre de germens políticos, nem consegue identificar outro valor fora da acção política, absolutamente necessários para a sua própria eficácia, mormente nos momentos de maior crispação política ou não, que sempre acontecem. Ainda assim, todos os partidos políticos e os cidadãos sabem que podem ser juridicamente responsabilizados pelos seus actos e desvarios, e que a ignorância das leis, não os ilibam das devidas penalizações se forem passíveis destas.

O país tem necessidade de um poder político forte, mas tem igualmente necessidade de uma oposição também forte; e por paradoxo que pareça, «mesmo sem vontade, minha mera especulação», compete ao poder (governo) ajudar através da instituição permanente de determinados comportamentos nesse sentido; não existe outro caminho, pelo menos do que até agora li sobre o assunto, conhecido. É possível que exista uma outra via. Quero conhecê-la… Tudo passa sempre, pelo poder político que governa que pode ser «forte ou fraco».

Entender tudo isto é poder; é verdadeiro poder. A comunicação social é poder; é o maior poder para a democracia participativa; faça isso para o bem de todos!

Espero que os candidatos às Eleições Presidenciais de 2016 se apresentem à comunicação social, para que possam ser antecipadamente conhecidos e escrutinados pelo cidadão comum que também assumo inequivocamente ser.

3 Comments

3 Comments

  1. TONGA PLIGUITO

    28 de Maio de 2015 at 14:41

    Caro Eugênio, Li e com muita atenção a sua obra.Acho que o tema nos remete para uma reflexação sobre os lideres de nossa oposição, neste caso o líder do MLSTP,que fez um discurso fraco, esse discurso foi feito durante o debate de terça feira passada, em que acusava o governo que islamizar a sociedade entre outras acusações. Certo é que, foi uma tristeza ver isso, aconselho o Lideres dos partidos irem estudar a FILOSOFIA POLITICA, de forma a aprenderem ter argumentos interessantes ao olho do cidadão que quer ver debates que enriqueçam a nossa democracia.

    Bem haja, São tomé.

    Santa Rosa

  2. Eduardo da Costa Carvalho

    29 de Maio de 2015 at 20:52

    Sujestao,opinião mais curto simples e preciso seria melhor.

  3. TONGA PLIGUITO

    30 de Maio de 2015 at 8:31

    Caro Eduardo da Cosa Carvalho.

    Quero agradecer-lhe pela sugestão. Pois é assim que construiremos um São Tomé melhor,onde todos podemos dar as nossas opiniões construtivas.

    Bem haja. São tomé

Leave a Reply

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

To Top