Opinião

O sapo que virou Príncipe

Liguei a televisão para ver o Repórter RTP África, como faço todos os dias, e uma notícia sobre São Tomé e Príncipe, mais concretamente sobre o Príncipe chamou-me a atenção. Era uma peça que dava conta de mais um investimento na região autónoma e prendia-se com a modernização e ampliação da pista do único aeroporto local.

Isto fez-me pensar em tudo o que tem acontecido no Príncipe nos últimos anos, no que concerne à introdução da região no globo e os investimentos avultados de que esta tem sido alvo.

A ilha, que tem hoje cerca de 6 mil habitantes, nem sempre foi o “El dorado” para investimentos estrangeiros. Ao invés disso, foi sempre no cômputo geral das duas ilhas, a mais pobre, com as maiores carências a nível da saúde, educação e desenvolvimento social. Há cinco/seis anos era comum ouvir-se dizer que, o “Príncipe era o parente pobre do Estado”. E não é que esse termo caiu em desuso!

Será da responsabilidade de um tal José Cardoso Cassandra, que assumiu as rédeas do governo da região? Acredito que a resposta seria não, se fosse dada por Damião Vaz de Almeida, ou quaisquer dos outros antecessores do atual presidente da região autónoma. Mas se calhar a resposta até seria sim, porque o certo é que com Tozé Cassandra, como é mais conhecido, a ilha tem dado bons indicadores de desenvolvimento. Mas, suponho que o mérito não será apenas dele. Será também e sobretudo da Unesco, que olhou com outros olhos para a diversidade natural da ilha e a declarou manifestamente reserva mundial da biosfera.

Talvez, a Unesco tenha visto o esforço das autoridades da região, no que diz respeito ao equilíbrio entre a procura da promoção do desenvolvimento económico e social e a conservação da diversidade biológica. Mas o facto do termo “parente pobre do Estado” ter caído no esquecimento, e ainda mais importante, a transformação do “Sapo em Príncipe”, tem a ver sobretudo com as potencialidades turísticas da ilha, que levou aliás ao encantamento do “homem da lua”.

O “homem da lua”, como é mais conhecido, é o empresário multimilionário sul-africano, que tem desencadeado grandes investimentos na região potenciando assim o seu nome e colocando dessa forma a ilha no mapa.

As autoridades do governo central estarão satisfeitas? Seguro que sim. Tanto o presidente da República Manuel Pinto da Costa, bem como, o primeiro-ministro Patrice Trovoada deverão ainda estar a perguntar, como conseguiu o Príncipe se tornar numa região bem-sucedida, quando para ilha maior, há vários projetos como a modernização do porto e o aeroporto de São Tomé, a criação de um porto de águas profundas em Fernão Dias, ou projetos mais simples como os que visam colocar um fim na grave crise de energia elétrica no país, que ainda não saíram do papel.

No entanto, o sucesso do Príncipe, não esconde o facto de que a ilha precisou de ser primeiro projetada pelos estrangeiros, para que depois houvesse holofotes são-tomenses. As autoridades, que já estavam habituadas ao seu “parente mais pobre”, não conseguiram maximizar as potencialidades da ilha que há muito, eu e tu que somos são-tomenses vislumbrávamos, para que esta conhecesse melhores dias. Foi preciso que esta fosse classificada reserva mundial da biosfera e que o tal “homem da lua” se interessasse por ela.

Um investimento num turismo sustentado, aliado às estratégias tradicionais, de pesca e agricultura regadas por um pouco de tecnologia será agora um desiderato ambicioso para o governo da região, no sentido de reduzir a pobreza que até aqui,ainda é alarmante.

A ampliação e modernização da pista do aeroporto local para 1750 metros é uma grande conquista, já que a partir de agora os aviões de médio porte já poderão descartar São Tomé e aterrar no Príncipe, algo nunca visto em 40 anos de independência e cerca de 20 de autonomia.

É a verdadeira autonomia a ser exercida? Talvez, os seus precursores que tomem a palavra e o digam!

Brany Cunha Lisboa

 

 

10 Comments

10 Comments

  1. MIGBAI

    16 de Março de 2016 at 12:27

    Meu caro “Brany Cunha Lisboa”.
    Gostei do seu texto, embora não nos traga nada de novo.
    O Príncipe como região autónoma, tinha e tem condições para evoluir e é o que está a acontecer.
    Porém, isso só é possível, porque tem o seu governo regional, ou seja, tem o seu poder político estruturado, e não está sujeito às decisões de São Tomé.
    Isto é o que eu e muitos e cada vez mais, pretendemos para São Tomé e Príncipe, ou seja, ou região autónoma de Angola ou de Portugal.
    Porém Angola é o que é, com corrupção e mais corrupção, com o desrespeito pelo seus nacionais, e como tal, temos Portugal, como pais europeu e nossa porta de entrada sempre que precisamos dele.
    Assim São Tomé e Príncipe tem para seu interesse e evolução, esquecer os independentistas que se agarraram e agarram aos governos para encherem as suas proeminentes barrigas e reforçarem grandemente as contas bancárias.
    Temos que fazer um REFERENDO ao povo, para sabermos se não será mais certo e de bom caminho para todos nós, ligarmo-nos a Portugal e bem assim sermos uma região autónoma de Portugal.
    O povo terá que decidir, e não os políticos corruptos que temos tido desde a malograda independência.
    A semente da regionalização de STP está lançada, temos que a regar, para sabermos efectivamente o que o povo pretende, e não dar ouvidos ao que os políticos pretendem.
    Um bem haja para o meu povo vitima de políticos sem escrúpulos que não pretendem saber e respeitar minimamente a vontade da população de STP.
    Agora estou a receber tratamentos médicos em Portugal, mas quando voltar irei em força com os meus companheiros lutar, lutar até perder as forças, para que o povo se pronuncie em REFERENDO á regionalização de STP.

    • Admirado

      16 de Março de 2016 at 19:46

      Regiao autonoma de Portugal? O sr ficou maluco meu caro? mas o senhor acha normal o que esta falando?
      Por amor de deus, ganhe juizo!

    • MIGBAI

      17 de Março de 2016 at 10:20

      Meu caro Admirado.
      Eu é que estou maluco??
      Por favor, olhe para o nossa independência e veja se eu é que estou maluco.
      Independência do quê?
      Se um dia a comunidade internacional cortar a torneira das doações, lá se vai o seu orgulho na Independência de brincadeira que os políticos criaram bem á sua medida.
      Afinal somos independentes em quê???
      O senhor tem orgulho na sua independência de mãos estendidas á espera que os outros nos ponham dinheiro em casa.
      Independência pedinte é o que temos Sr.Admirado!
      São Tomé e Príncipe não tem viabilidade como país, já que terá que estar sempre a pedir aos estrangeiros o dinheiro deles para poder sobreviver.
      Dependemos ou seja estão constantemente a dar-nos verbas para podermos pagar ordenados, podermos ter uma amostra de hospital, uma amostra de segurança social, uma amostra de forças armadas, uma amostra de educação, uma amostra de rede viária, enfim uma amostra de país.
      Diga-me por favor, gosta de viver assim? Claro que não vai todos os dias para o mercado pedir esmola para poder manter a sua família, até é capaz de beber todos os dias a sua cervejinha, mas, e o resto da população? Será que o resto da população esquecida e ignorada pelos políticos têm a vida do senhor ou a minha?
      Eu sou pelo REFERENDO, o povo que decida o que quer, e não meia dúzia de políticos abastados.
      Será que é assim tão anormal que o povo decida o que quer para o futuro, em detrimento do que os políticos corruptos querem?

    • Ralph

      22 de Março de 2016 at 2:00

      Caro MIGBAI, tendo alguma simpatia com a sua posição em relação a um referendo assim referido, fui pesquisando na internet para exemplos de países independentes que renunciaram a sua independência para se tornar uma parte de uma outra nação. Parece que não há nenhum exemplo deste fenómeno desde o século XIX. Mesmo se STP queira tornar-se numa região autónoma de Portugal, isto requereria que Portugal aceitar a proposta, algo acerca do qual não há certeza. Isso necessitaria que os portugueses assumirem um cargo peso financeiro que atualmente não suportam. Embora tal situação vá ser melhor para STP, seria pior para o orçamento estadual de Portugal. É uma ideia que merece pensamento sério mas tem problemas com a implementação.

      Penso de vez em quando no que se passa no Papua Nova Guiné, um ex-território australiano que atualmente é independente mas, como STP, recebe continuamente doações e ajuda financeira de muitos países em volta do mundo para simplesmente sobreviver. Não há dúvida de que o PNG é um estado falhado e que o seu povo seria muito melhor se o país se tornasse uma região autónoma da Australia, mas acho muito improvável que tal arranjo pudesse decorrer. Nesta situação, o cargo financeiro de apoiar o orçamento de PNG é suportado por muitos países, incluindo a Austrália. Porém, se o PNG fosse integrar-se novamente na Austrália, ficaria então a responsabilidade única da Austrália para fornecer todo este apoio, algo que não seria muito atrativo ao governo australiano. Acho que isto é o problema e é também o que enfrenta STP porque ninguém iria querer assumir toda a responsabilidade pelo seu financiamento.

  2. Zé Facebook

    17 de Março de 2016 at 6:55

    Faz todo o sentido Portugal anexar o Príncipe. 🙂

  3. Fernando

    17 de Março de 2016 at 9:25

    De facto reconheço que o trabalho que está a ser feito pelo atual governador da ilha do Príncipe é muito meritório. Estive há 2 anos no Príncipe e estive lá há 16 anos atrás e noto significativa mudança. Da primeira vez que lá fui, há 16 ou 17 anos só via pessoas descalças nas ruas, a pedir dinheiro e com a beberem muito. Aquilo parecia sem vida nenhuma e sobretudo sem esperança. Agora notei dinamismo e forte espírito empreendedor e há roças que foram recuperadas, casas e novos investimentos. Continuem assim meus caros.
    Abraços a todos que me receberam bem na vossa terra.
    Fernando Sequeira

    • Alfredo

      17 de Março de 2016 at 17:36

      Concordo consigo. Tem-se feito muito por lá ultimamente. Que Deus lhes ajude nesta grande tarefa. Tenho muitas saudades daquilo.

  4. Zé Maria Cardoso

    18 de Março de 2016 at 5:16

    A mulher “sesperada” em casa do marido, sem mãos de trabalhar a roça, sem escola e saúde aos filhos, sem luz, sem água, sem dignidade, sem nada, entendeu recorrer ao seu antigo “patarão” e oferecê-la ela mesma a todos os serviços até o de ir a cama com o homem.
    – Sinto muito a sua dor e o físico “candrezado”. Revolta-me o teu pai recusar-me e entregar-te a um preto. Podia ter-te aqui em casa onde há de tudo, mas os meus filhos não vão gostar disso. Antes de pôr mãos no teu destino, vou convocar um referendo aos meus filhos.

  5. Assis Mata

    3 de Abril de 2016 at 8:43

    Os govermantes santomenses deveriam,seguir exemplo do sr.Cassandra.

  6. Guadalupe

    1 de Agosto de 2016 at 9:27

    Zé Maria Cardoso, Essas tuas palavras me fecharam. E penso que ao tema também. Disseste tudo: Antes dos santomenses questionarem se devem voltar a fazer parte de Portugal, têm que procurar saber também se os portugueses assim o querem?

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