Opinião

A Nação e a Identidade Santomense

Filhos e filhas de São Tomé e Príncipe

Bon djá ôh, Clistú palá semplé mantxã de tempu êh

Ainda no âmbito das comemorações de mais um ano da independência nacional, permitam-me caros compatriotas, trazer-vos esta mensagem.

Pois bem

O processo de luta contra a colonização, foi todo ele baseado na oposição racial, sendo considerada uma unidade a partir de tudo aquilo que não era branco. Forjou-se um sentimento identitário, pertencentea algo, camuflando uma série de diferenças sociais em nome de uma semelhança. Eram revoltas de grupos contra um inimigo comum, não a batalha de uma identidade comum contra um inimigo comum.  Em 12 de julho de 1975, quando São Tomé e Príncipe tornou-se independente de Portugal, podia-se falar em Estado São-tomense, entretanto, a nação são-tomense continuava inexistente.(1)

Mesmo vivendo debaixo do mesmo território, tendo um passado colonial comum, não foi possível o surgimento de um sentimento nacional são-tomense responsável pela independência.

Após quarenta e um anos de independência nacional, nós debatemos com inúmeros problemas, que vêm retirando aos Santomenses a possibilidade de uma vida à altura das suas aspirações aquando à 12 de Julho de 1975 proclamou-se a independência nacional.

É verdade que, a falta de recursos humanos que nos afecta é inquestionavel. Todavia, não seria a única justificativado insucesso que tivemos e temos vindo a ter, tendo um país com um clima invejável, e rico em recursos. É preciso  falar da falta de um sentimento nacionalista dos Santomenses.

Façam a vocês mesmos a seguinte questão: quem sou eu ? (2)

A resposta passa também por citar o país de origem. Sou Santomense. Filho ou filha de São Tomé e Príncipe. Fundamendando mais a resposta, poderiamos também dizer que somos oriundos de um país que serviu como entreposto de escravos, vindo gentes de um pouco por todo lado, desde a África (Costa Ocidental Africana), América (América do Sul), passando pela Europa. Fazendo STP um país rico culturalmente.

Algumas escrituras afirmam que as ilhas de São Tomé e Príncipe estavam desabitadas quando os navegadores portugueses João de Santarem e Pedro Escobar as descobriram em 1470/71, sendo o primeiro povoamentoiniciado em 1485 por João de Paiva. Porém, outras escrituras dão conta que já existiria uma população nativa, os angolares. Contudo, é preciso dizer que STP é constituído por povos das mais diversas proveniências e origens e, por isso marcada, desde as suas origens, pela diversidade, que por sua vez traduziu-se infelizmente na conflitualidade, tornando desde sempre o arquipélago um verdadeiro caldeirão de instabilidade política e social.(3)

O país sofreu e tem sofrido bastante com as sucessivas guerrilhas entre os partidos políticos, entre figuras políticas, que começou desde muito cedo, aquando ainda lutava-se pela independência do país. Conflitos entre o CLSTP, a Associação Cívica e a Frente Popular Livre criaram uma onda de mau-estar nos Santomenses, dividindo-os cada vez mais. Desde sempre houve a corridafulminante ao poder, com os interesses pessoais  sobrepondo-se aos interesses público.

Conflitos políticos e dificuldades econômicasdurante o regime de partido único instalado no país logo após a independência acabaram por provocar o fim deste regime e,no final da década de 80, o país viu-se forçado a abrir sua economia e fazer uma transição para a economia de mercado,  para a democracia e o multipartidarismo em 1990. Porém,projectos e mais projectos foram caindo por terracom as quedas sucessivas de Governo, agravando de tal modo a instabilidade política e social, e por conseguinte a tremenda dependência da ajuda externa.

O país hoje enfrenta  inúmeros problemas, o que explica fortemente a falta de orgulho dos seus filhos. Dizia um amigo que : quem não conhece os pais não se pode considerar como um membro da família. Torna difícil sentir orgulho sem antes conhecer. Como sentir orgulho se basicamente só ensinavam ou ensinam na escola as guerras mundiais e a dita história de Portugal. E a nossa história continuamos sabendo muito pouco/quase nada.

Faz reflectir, quando vejo os Santomenses vibrando mais com um golo do Benfica, do Barcelona, do Real de Madrid …. do que com um golo da Selecção Nacional. Aderem as ondas “ Força Portugal, Halla Madrid e tantos outros que circulam no facebook” e são incapazes de colocar uma foto que represente o seu país, mesmo em datas histórias. Se cria-se qualquer movimento pró a santomensidade, os Santomenses simplesmente ignoram.

Pesa partilhar fotos, músicas da terra, dando a conhecer e a promover a divulgação do país. Custa partilhar e dirigir palavras de incentivo à um trabalho feito por um compatriota, mas o fazem geralmente quando é do estrangeiro.

Não quero com isto dizer que, a nossa santomensidade será medida atraves destes actos, porém não deixará de demonstrar o sentimento que temos para com o país que nos viu nascer ou por qualquer outro motivo estamos ligados.

Nós consumimos tudo o que é estrangeiro, e acabamos por ignorar o que é nosso. É preciso que se diga. Nós andamos perdidos. Não temos ou não encontramos o que nos é próprio. Adimira-me bastante por exemplo, facilmente nos “tornamos” angolanos ou caboverdianos em convivência com eles.

É comum ouvir as expressões “ Caboverdianos, Angolanos, Portugueses .. nascidos em STP”, porem quando se refere a Santomenses, fala-se de “ Angolanos, Caboverdianos, Portugueses filhos de Santomenses, ou seja, a expressão muda, já não são Santomenses, são simplesmente filhos de Santomenses, isto por terem nascidos no estrangeiro.

As nossas línguas nacionais são ignoradas, colocando em risco de extinção, idiomas com antecedentes históricos que constituem marcas específicas da nossa identidade crioula. Estamos perdendo o que seguramente nos identificaria uns com os outros e nos diferenciaria dos outros, estamos a perder as nossas línguas, os nossos crioulos estão a morrer.

Alimentamos do que não produzimos, trocando a banana pelo arroz, a matabala pelo esparguete,  o azeite de palma pelo óleo, etc .

É urgente uma maior aposta na educação. Precisamos conhecer mais e melhor a nossa história. O ensino dos crioulos faz-se igualmente necessário.

É indubitável. Esta luta é de todos nós. Luta pelo nacionalismo e patriotismo. Luta pelo salvaguardar das nossas raízes históricas e culturais.

Mais do que pensar numa reviravolta, é preciso uma mudança, é preciso construir um STP melhor. É preciso construir a nação santomense.

Não podemos continuar adiando, é hoje e agora a mudança de paradigma, por todos nós, filhos e filhas de STP. É hora de unirmos todos por uma só causa, deixando os atritos pessoais de lado, por um STP melhor, que seja motivo de orgulho para os seus filhos.

Um bem haja a todos
Saudações

Gilmar Costa
Tanger, 27 de Julho de 2016
Bibliografia

1- Renato Pignatari Pereira, A construção do nacionalismo em São Tomé e Príncipe, disponível no site : http://www.klepsidra.net/klepsidra13/saotome.htm
2- Albertino Bragança, Identidade cultural e santomensidade, disponivel no jornal téla nón, no site: http://www.telanon.info/cultura/2012/01/20/9557/%E2%80%9Cidentidade-cultural-e-santomensidade%E2%80%9D/

3- Albertino Bragança, ibidem

10 Comments

10 Comments

  1. MandelaX

    29 de Julho de 2016 at 11:30

    Muita sorte e bom caminho para vc!

  2. MIGBAI

    29 de Julho de 2016 at 12:03

    Muito rapidamente lhe digo meu caro jovem. A sua tese é de ir ás lágrimas de tanto rir.
    Tenta o meu jovem criar de início uma leitura que até me estava a agradar, mas porque será que não conseguio manter esse fio orientador na sua humilde tese da Nação?
    Eu sei porque não o conseguio, e o motivo é o seguinte:
    Deixou-se absorver por teses nacionalistas que muito interessaram aos politicos da altura da independência, bem como encontra-se formatado intelectualmente para olhar para a cor da pele das pessoas, e julgar-se superior por ser preto.
    Meu jovem, a diferença entre um analfabeto e um letrado, não é se sabe escrever ou não, mas sim na utilização que se dá às palavras no seu elevado contexto da comunicação.
    Aprenda a escrever por favor!!!!! e comunique com sabedoria.

    • Tou de fora

      1 de Agosto de 2016 at 12:13

      Agradeço ter-me tirado o trabalho de responder ao autor do artigo para lhe dizer essas e algumas outras verdades.

  3. Fabio Soares

    29 de Julho de 2016 at 12:11

    Gostei , muito Bem costa e continue em frente.

  4. RAN Expert Engineer

    29 de Julho de 2016 at 12:32

    Excelente Artigo!
    Ainda há muito que se diga sobre o tema, mas como referi, na minha opinião, está Excelente.
    Por isso, humildemente passo a comentar: Gostaria que ao debater este tema, adiciona-se a vertente fundamental que é como isso se relaciona com o desenvolvimento, isto é, explicar as pessoas o porquê da importância de conhecer as nossas origens e ter orgulho de sermos nós Africanos (deixa disso de achar-se superior aos outros, é uma ilusão que nos afunda ainda mais) e como é que isso está relacionado com o sucesso de cada um e da nação e também é responsável pelo estado em que a África em geral se encontra. É um tema complexo de se perceber e a solução ainda mais complexa, mas possível.
    Fiquem bem!

  5. Aure

    29 de Julho de 2016 at 14:22

    estas de parabéns Costa. que venha mais artigos

  6. Agostinho

    2 de Agosto de 2016 at 23:04

    Onde é que este tipo aprendeu a escrever Português ?????????

  7. Vic

    9 de Agosto de 2016 at 8:06

    Tenho lido inúmeros comentarios do Mr. MIGBAI, talvez tenha alguma noção de “Literature Review”, porém, será capaz de escrever um artigo lógico? Estar-se do outro lado é bem mais facil.

    Cheers from Muenchen!

    • MIGBAI

      9 de Agosto de 2016 at 16:39

      Não tenha duvidas meu caro “Vic”.
      Se ainda não o fiz,é porque a minha mulher e os meus filhos estão contra a ideia de me expôr publicamente. Com os ventos democráticos africanos que se aproximam e que vão afetar gravemente estas ilhas, como se de um tufão ou ciclone em cabana pegasse, não sei se eles não terão razão em me manter por enquanto no anonimato.
      Mas acredite ” Vic “, a vontade é mais que muita para gritar um dia pelo despertar deste sono em que o povo foi e continua a ser vítima de uma independêcia forçada pela elite e interesses individuais de alguns em deterimento de um interesse coletivo.
      Bem haja Vic.

  8. Vic

    11 de Agosto de 2016 at 19:32

    Caro MIGBAI, pode faze-lo sem ter que revelar a Sua identidade.

    Geral
    A qualidade de um artigo, nada tem a ver com o uso de vocabulários incomuns, caros e desatualizados, mas sim, pela credibilidade, clareza e a fluidez da informação.

    Exemplo de uma péssima prática (Fonte – FB):

    “VENHO MUITO LISONJEIRAMENTE,VOS PEDIR SE DIGNEM COLOCAR A VOSSA DOUTA SAPIÊNCIA AO SERVIÇO DA MINHA ACANHADA IGNORÂNCIA, FACE A NOVA TERMINOLOGIA CORRENTE EM STP, QUE SE DENOMINA, PASSO A CITAR, “PROSTITUTO POLÍTICO”, POIS ASSAZ-ME SABER, QUANDO É QUE UM POLÍTICO É PROSTITUTAMENTE POLÍTICO?
    SEM MAIS ASSUNTO, AGUARDO O VOSSO ENSINAMENTO.”

    -? Escritor – Leitor bíblico do dicionário, mau utilizador da gramática.
    Resultado: ” Poor writing practice “.

    Contudo, confesso que prefiro “As Equações de Maxwell” à literatura.

    Cheers

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