Economia

“A CECAB é uma das realizações mais bem sucedidas na área agrícola”

A cooperativa de exportação do cacau biológico, completou na quinta – feira 12 anos de existência. Numa entrevista conduzida pela Jornalista São de Deus Lima, o Director Executivo da Cooperativa, mostra os caminhos que conduziram várias centenas de famílias de agricultores a mudaram positivamente a sua história de vida no trabalho agrícola.

P – Como surgiu o projecto CECAB em STP?

A.D. – A CECAB surge no quadro de uma estratégia muito bem desenhada, com vista à criação de um modelo  de cooperativa sustentável.  Para ser mais explícito, a CECAB surgiu no quadro de uma reflexão feita entre 1998 e 2000, ou seja, aquando da baixa abrupta e acentuada do preço do cacau a nível internacional, com consequências desastrosas para os pequenos agricultores, em particular, e São Tomé e Príncipe em geral. Foi assim que, no quadro de alguns projectos de desenvolvimento, mormente  o PAPAFPA e o PAPAC e em parceira com a empresa Francesa de chocolate KAOKA,  foram congregados todos os esforços para apoiar esta arrojada e brilhante iniciativa dos pequenos  agricultores de cacau.

P – De que outros apoios beneficiou e como se sustenta hoje a Cooperativa?

R – A cooperativa é fruto do trabalho árduo e abnegado de pequenos agricultores e contou também com apoios de diversas organizações não-governamentais que trabalham no mundo agrícola , com destaque para a ADAPPA, a Zatona ADIL e FENAPA. O CIAT, Centro de Investigação Agronómica e Tecnológica, também merece referência, pelo valor do seu contributo.

A cooperativa goza de autonomia desde 2012, mas continua a precisar de apoios, sobretudo no que diz respeito a investimentos no âmbito da reabilitação dos cacauzais e sistemas de irrigação. A aposta é aumentar a produção e a produtividade e estamos conscientes de que há um longo caminho a percorrer.

P – Em 12 anos, qual foi o percurso da Cooperativa?

R – A cooperativa nasceu em 2004 e só se tornou operacional em 2005. Foi em 2005 que se exportou cacau biológico, pela primeira vez. Em 2005, a cooperativa tinha 11 associações que congregavam 400 pequenos agricultores e exportou 67 toneladas de cacau biológico. Volvidos 10 anos, a cooperativa passou a congregar 36 associações, implicando  2200 famílias de agricultores do centro e norte de São Tomé e alcançou o objectivo  definido em 2005: chegar às 1000 toneladas de cacau biológico de qualidade em 2015.

P – Porquê a aposta inicial no cacau biológico?

R –  A aposta foi feita na produção de cacau biológico depois de se ter identificado um parceiro estratégico  que comunga dos nossos ideais: produção biológica, visão sustentável, trabalho abnegado , valor acrescido ao produto, protecção do ambiente, parceria assente no comércio justo, respeito pelo trabalho, o não recurso ao trabalho infantil,  solidariedade  e  não caridade, entre outros princípios.

P – Para além do trabalho estritamente agrícola, a cooperativa desenvolve outras acções?

R – Sim, prestamos muitos outros apoios sociais, nomeadamente a assistência medicamentosa,  óculos, caixões para os mais necessitados, etc. Organizamos quinzenalmente actividades sócio- recreativas nas comunidades, convidando especialistas que nos dão um grande contributo na sensibilização dos pequenos agricultores sobre diversos temas como a violência doméstica, a promoção da igualdade do género, consumo exagerado do álcool, doenças sexualmente transmissíveis, etc. Temos uma equipa técnica à disposição dos pequenos agricultores. Financiamos, igualmente, pequenas obras sociais nas comunidades.

P – Quais foram os maiores desafios que enfrentou e enfrenta a CECAB?

R – Os maiores desafios que enfrentámos foram o termos partido do zero, ou seja, ausência de espirito  cooperativista, falta de liderança, falta de amor ao trabalho, consumo exagerado de álcool,  cepticismo dos pequenos agricultores, presença de algumas pessoas que pareciam ser guiadas pela vontade de sabotar o projecto, entre outros. Hoje, com excepção do consumo exagerado de álcool por parte de 10 % a 15  % dos nossos membros, os desafios são outros.

Os desafios actuais têm a ver com os efeitos da mudança climática, necessidade de financiamento para a reabilitação dos cacauzais dos pequenos agricultores, mas não só. É preciso começar-se a pensar na diversificação da renda dos pequenos agricultores e a projectada construção de uma fábrica de chocolate vem nessa linha, embora não exclusivamente.

Um grande motivo de preocupação para nós tem a ver com as infra-estruturas de apoio à irrigação que exigem investimentos colossais. As nossas gravanas deixaram de ter três meses e passaram a ter cinco meses, o que requer uma atenção particular por parte do governo e dos parceiros que se interessam pela agricultura e pelo desenvolvimento rural, bem como pelo equilíbrio do ecossistema, em geral.

P – Ouve-se dizer, com frequência, que os são-tomenses não têm espírito cooperativista. O décimo segundo aniversário da CECAB e a sua trajectória ascendente desmentem isso? Ou há particularidades que justificam a longevidade da cooperativa?

R – Os são-tomenses são seres humanos iguais aos outros. Se há bons exemplos nas outras paragens , também podem cá existir. Tudo depende da estratégia, da visão e sobretudo da liderança. Hoje temos uma cooperativa forte, dinâmica e  estamos, efectivamente, numa trajectória ascendente. Claro que há particularidades  que justificam essa longevidade , sustentabilidade , durabilidade.  Como exemplo, a sustentabilidade das nossas acções . Abdicamos de tudo o que não for sustentável. Vender ilusões é uma via segura para o fracasso e o nosso projecto deve ser um projecto de vitórias e de conquistas paulatinas.

P – Em termos de direção e gestão, como funciona a CECAB e como estão distribuídas as responsabilidades?

R – A CECAB possui uma Assembleia Geral que  congrega as 36 associações comunitárias. Cada associação faz-se representar por dois membros. Possui um conselho de administração  e um conselho fiscal. A parte executiva  é da responsabilidade de uma direcção executiva.

P – Como se processa o relacionamento com o governo, através do Ministério da Agricultura?

R – Gostaríamos que fosse melhor e, da nossa parte, fazemos tudo para que seja um relacionamento bom, uma vez que trabalhamos para objectivos comuns: o bem-estar dos agricultores e suas famílias e a promoção do cacau biológico como uma imagem de marca nacional. Embora nos pareça, às vezes, que essa comunhão de objectivos não é compreendida por todos, fazemos tudo o que está ao nosso alcance para que as relações sejam saudáveis. Essa comunhão de interesses não é compatível com a politização de tudo, com a estigmatização de pessoas bem-intencionadas e sérias, com a tendência para a exclusão de pessoas, sem qualquer razão objectiva. Se a filosofia for de desconfiança e de exclusão, prejudicaremos uma das realizações mais bem sucedidas do país na área agrícola, com todas as implicações daí decorrentes para os pequenos agricultores e suas famílias e para a economia nacional. Quem conhece a CECAB e não a acarinha, tem uma visão perversa do que deve ser a defesa dos interesses nacionais.

O relacionamento harmonioso será sempre uma mais-valia para todos.

P – Quais são as perspectivas e projectos em vista?

R – A CECAB está empenhada em parcerias para que o investimento na reabilitação dos cacauzais dos agricultores  possa continuar, visando o incremento da produção e da produtividade . É preciso exportar mais.

A CECAB pensa acrescer valores  ao cacau , implantando, como já disse, uma fábrica de chocolate. Para isso, precisamos de financiamentos.

Pensamos melhorar o sombreamento dos cacauzais no sentido de mitigar os efeitos das mudanças climáticas . A irrigação seria a melhor solução, mas as infra-estruturas de apoio à irrigação para os cacauzais são muito onerosas e o país não dispõe de recursos financeiros para o efeito.

P – Que mensagem deixaria aos membros da cooperativa?

R – Vendo o ponto de onde partimos em 2005 e o ponto onde estamos em 2017, volvida pouco mais de uma década,  chegamos inequivocamente à conclusão de que se continuarmos com a mesma dinâmica, com a mesma determinação, com a mesma dedicação e amor ao trabalho, em 2025 estaremos num patamar muito mais elevado. “Pundá tlabá só ka dá tê “. Disso não tenho a menor dúvida.

Entrevista conduzida por : São de Deus Lima

5 Comments

5 Comments

  1. Conceicao Pereira

    24 de Dezembro de 2017 at 9:48

    Parabens pelo trabalho desenvolvido em 10 anos e com o bem estar dos agricultores.Em 10 anos fizeram melhor que os 30 anos de nacionalizacao.

    Unido e organizado com um objectivo comum sempre deu bons frutos.

    O atual governo de Portugal sao prova disso.

  2. Toussaint L'Ouverture

    24 de Dezembro de 2017 at 14:58

    Os maiores êxitos à CECAB e a todos os que contribuem para que seja um exemplo de associativismo e um exemplo ao nível geral´Que os próximos anos tragam mais e mais êxitos, para bem dos nossos agricultores, da nossa agricultura, do nosso país.

  3. Juka Valentim

    24 de Dezembro de 2017 at 15:02

    Só os cegos e os mal-intencionados não conseguem ver o que é a CECAB. Os cegos, os mal-intencionados e os políticos incompetentes e invejosos. Parabéns, António Dias e toda a sua equipa, parabéns associações e sócios, parceiros e os projectos governamentais que apoiaram e apoiam a cooperativa ao longo destes doze anos. Tlabá só ka dá tê! Força!

  4. Recrutadora do ADI

    24 de Dezembro de 2017 at 20:43

    Tu tens cara de quem come búzio do mato todos dias, tu tens cara de quem nunca teve duas refeições, tu tens cara de quem nem tem a quarta classe e tu tens cara de quem nunca viajou pela executiva madié.
    Tras o teu Bilhete de Identidade e te junta aos melhores, vais ter qualquer emprego que você quiser, esquece esse teu partido que só te chama de doutor, vou te dar uma vida que ninguém mais vai te dar. Eu vou te fazer de ministro, eu vou te fazer de ministro.
    E que no jogo da politica vale tudo, em vez de conduzir vou te dar motorista , as consultas da tua mãe vão ser no Gabão ou em Ruanda. E só você entrar no ADI tua vida vai mudar.
    Esses gajos da troika, só têm garganta, dinheiro que é bom não têm não, dinheiro que é bom não te dão

    • Jikitxi

      26 de Dezembro de 2017 at 12:41

      Grande quadro, Grande Ministro da Agricultura, grande líder associativo. O actual medíocre não aprendeu nada com ele. Isso é que vos dói. Fui!

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