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UMA LEITURA POSSÍVEL

João Bonfim, antigo Ministro dos Assuntos Sociais no Governo do PCD em 1991, toma palavra. Antigo treinador de futebol João Bonfim analisa o jogo politico no pais a luz das eleições de 1 de Agosto.

As recentes eleições legislativas que tiveram lugar no nosso país têm permitido várias análises, umas mais racionais outras mais emotivas mas todas elas apontando para uma evidência qual seja a inquestionável vitória do ADI. Uma vitória surpreendente por ser a primeira, depois de em 1991 o PCD ter obtido uma maioria absoluta, a sair do espectro político fora do quadrante do MLSTP. Como é evidente foram vários os factores que concorreram para este resultado com especial ênfase para a necessidade que sentiram os eleitores de demonstrarem a sua insatisfação perante a acção governativa. Este comportamento do eleitorado, aparentemente genuíno, não espanta quando confrontados com a aceleração das assimetrias entre os “instalados”, que não são exclusivamente os governantes, e os outros que são a esmagadora maioria da população.

Contudo, o dado mais importante que resulta destas eleições é o facto de, querendo embora penalizar um estilo de poder, eventualmente marcado pela ineficácia das políticas implementadas, eventualmente marcado por decisões controversas ou por escândalos financeiros (reais ou artificiais), o eleitorado revelou não depositar suficiente confiança numa força política alternativa para dirigir as acções governativas. Apesar dos fracos resultados e do consequente descontentamento pelo facto de não satisfazer as suas expectativas o eleitorado mostrou, no momento do veredicto, alguma hesitação quanto à capacidade política de um qualquer poder alternativo, e isto levanta alguns problemas.

Fica, pois, a ideia de que pretende o eleitorado, antes de tudo, conferir ao novo poder uma oportunidade de demonstração de mérito como que querendo dizer mostrem-nos do que são capazes e logo veremos. Pode deduzir-se que depois de algumas “falsas partidas” entendeu o eleitorado que o novo poder deva passar por um período probatório. A questão que se coloca aí é a de se saber que tempo é este que é concedido ao novo poder, ou seja, qual é o tempo de duração desta prova.

Concordando-se ou não o que não é susceptível de levantar dúvidas é que é ao governo que competirá desvanecer as dúvidas, acalmar o eleitorado e proporcionar a aproximação de confiança necessária para o cabal sucesso das suas políticas. Não podendo questionar-se sobre a justeza desta posição do eleitorado resta ao poder tranquilizá-lo desenvolvendo políticas competentes na perspectiva da resolução dos problemas das pessoas e do país, evitando a instalação de dúvidas sobre a conduta dos governantes e enfrentando de forma enérgica as más práticas instaladas na administração pública. Portanto é ao poder que compete ir de encontro às aspirações do eleitorado, explicando bem as suas propostas e criando focos de esperança no conjunto das imensas urgências que se perfilam num país de grandes e graves carências.

Na situação que se conhece é sempre difícil esperar-se do eleitorado uma elevada dose de paciência, o que poderá exigir do poder uma actuação rápida, activa e, na maioria das vezes, acertada. Quem governa comete sempre erros. Importará nas circunstâncias emendar a mão com celeridade e com franqueza construindo um clima de confiança que possa ser entendido, no global, como aceitável.

Ao mesmo tempo foi atribuído à oposição parlamentar uma função delicada e especial. Quer, contudo, o eleitorado que a oposição parlamentar a quem foi retirada toda a confiança governativa capitalize toda a sua experiência no exercício de um papel fiscalizador activo, mas sério, competente e responsável do novo poder. Pode-se até especular que pelo conjunto de votos atribuídos o eleitorado pretende mesmo conferir à oposição parlamentar uma função quase reguladora da acção governativa, mas claro sem a extensão prevista pelas moções de censura construtivas.

Embora pareça insensato referi-lo mas a verdade é que a leitura global dos resultados indicam que com a sua hesitação o eleitorado quis demonstrar que não se deixou impressionar pela questão da estabilidade muito recomendada numa situação de crise social como aquela com que o país vem lidando há anos. A configuração gerada pelo eleitorado que indica inequivocamente uma rejeição da prática governativa anterior mas manifestando simultaneamente algumas dúvidas em relação à alternância investida de poder é um sinal de alerta e revela a um tempo que está de algum modo cauteloso mas que também já não dispõe de margens para continuar a ser docemente tolerante. Por isso a responsabilidade de manter o país em estabilidade é em primeiro lugar dos vencedores.

De um modo geral o processo democrático no nosso país assemelha-se às guerras antigas em que os vencedores procuram submeter os derrotados. É comum verificar-se também que os vencedores consideram que se podem apropriar do país o que é de todo errado. Mas a oposição política é também responsável pela criação de um ambiente político estável. Contudo, o que sucede com frequência é que os perdedores vivem na ânsia da recuperação da sua relevância social, o que no nosso país significa uma busca imediata do poder como se a função política se esgotasse no exercício da governação.

É bom que se perceba que o eleitorado quis deixar claro que não deseja transferir para nenhuma instituição do estado a responsabilidade soberana e final de avaliar o desempenho do país e exercer o seu papel de condutor da vida pública. Quanto ao resto, só com o tempo e mais claramente depois das eleições presidenciais de 2011 se poderá perceber todo o alcance das intenções do eleitorado agora expressas nestas legislativas.

Ao finalizar, permitam-me uma palavra de conforto e de solidariedade com o PCD pelo momento difícil que está a atravessar. Pelo papel relevante que tem o PCD no sistema político santomense faço votos ardentes que o partido se recomponha rapidamente e que venha a prestar ao país o contributo que dele sempre se espera. 

João Bonfim

16 Comments

16 Comments

  1. Adriano Málé Bobo

    31 de Agosto de 2010 at 17:12

    O que este senhor esta a fazer no estrangeiro e que não vem dar a sua cota parte no pais, falando tanta besteira e que não interessa ninguem neste

    • Zidane

      1 de Setembro de 2010 at 11:45

      Meus caros
      Sejemos tolerantes com a opinião dos outros.
      Eu pessoalmente considero que o artigo do Dr.Bonfim tem aspectos que merecem analisarmos com muita atenção.
      Parabéns Dr.João Bonfim. Contribuições desse tipo é sempre bem vindo para formar opinião dos eleitores, em vez de andarmos a insultar uns aos outros.

    • Jacaré

      1 de Setembro de 2010 at 22:50

      Tem toda a razão! Porquê que as pessoas não podem escrever e dar a sua opinião sobre assuntos do seu país? Só políticos falhados e frustrados têm essa tendência para impedir os outros de dar a sua opinião. Devem limitar a comentar ou contrariar os argumentos dos outros com outros comentários ou com outros argumentos e não limitar a criticar a atitude legítima das pessoas darem a sua opinião…
      Jacaré

    • Amorim Kuá Sé Matchí

      1 de Setembro de 2010 at 13:20

      Quem é vivo sempre aparece. Quem verbalizaria/aguardava que este antigo dirigente do Partido de Convergência Democrata teria ponto de vista da situação politica do país depois de ter “ausentado da ilha” após a queda do governo que fazia parte. (…) Em mone de santomense que sou e com mt orgulho de ser, comunico aos meus coterâneos para não ficarmos só na deaspora a dar as nosas opiniões, mais sim deslocar ao apís que lhe viu nascer de modo à inteirar-se na realidade e dar a nossa cota parte para o desemvolvimento do mesmo. Não obstante das deficulidade para uns e facilidade para outros. Só assim desfrutaremos de um país que almejamos ter.

  2. E.Santos

    31 de Agosto de 2010 at 17:16

    Belas palavras….só não se esqueça de que foi o PCD que conduziu o país a anarquia em que se transformou.

    Apesar de o Sr. ter sabido perceber a hora da retirada, os seus colegas de partido, continuaram firmes e hirtos rumo ao desmebramento do país.

    O Desejo ardente é que o PCD mude o que foi desde o dia quem que tomaram posse no seu primeiro governo até hoje. Tal como o MLSTP, está a precisar de rejuvenescer….

    • Emilio Pontes

      31 de Agosto de 2010 at 21:40

      Concordo. O homem quer regressar meu caro E.Santos. Vais vêr.

  3. António Veiga Costa

    31 de Agosto de 2010 at 19:42

    Sr. João Bonfim,

    permita-me perguntar-lhe: conhecemos os escandalos reais, mas quais seriam os escandalos artificiais aos quais o Senhor faz referencia? Não consegui lembrar-me de nenhum.

    Também, a meu ver, como povo que sou, ainda não temos confiança na oposição parlamentar a ponto de dar-lhes o papel de “regulador da acção governativa”.
    Foram meninos baderneiros e, por ora, estão de castigo! Esperamos deles sim que trabalhem, trabalhem, trabalhem e mostrem ao povo santomense que estão redimidos, com disposição de cooperarem para o desenvolvimento, através de promulgação de leis que colaborem para tirar o país do atraso a que foi relegado por eles mesmos nos períodos de má-governação.

    Quanto ao “período probatório” respondo eu pelo povo: nós povo acordamos, saímos do marasmo mental e psicológico em que estávamos mergulhados, acordamos para a verdadeira democracia e estabelecemos que esse período probatório terá a mesma duração de anos que a lei estipula para a governação do partido eleito. Estaremos atentos e cobrando constantemente. Não aceitaremos articulações e moções capiciosas da oposição.
    No final do mandato que ora se inicia – aí sim – já teremos o diagnóstico da governação e, nas próximas eleições decidiremos, NOVAMENTE, quem governa!
    POVO PÕE, POVO TIRA!!!!
    O PODER DO POVO EMANA. DO POVO PARA O POVO!!!
    VIVA UMA NOVA SÃO TOMÉ!!!

  4. Assuncao

    31 de Agosto de 2010 at 21:46

    Pois, nada de novo,tenho dito! Mas muito bem Joao Bonfim, quem ‘e vivo aparece e bonito o momento dedicado aos seus comparsas do PCD.Lembra-se k quando foi poder dizia-nos quando questionado sobre as bolsas do estudo e respondeu-nos k a solucao nao estava l’a(estrangeiro) mas k estava ca,(no pa’is)! qual ‘e o seu paradeiro, e distante dos seus patriotas de luta k apesar de tudo foi 1 fracasso! Menos mal, va, vai aparecendo e dar seu ar de gracas e nao gosto deste seu jeito disfarcado de continuar assim como todos da sua geracao a apelidar-nos de criancas “trebecub’es” e vir agora chamar-nos de “instalados”, o pa’is ‘e de todos e chegou a nossa “era”, era de competencia sem arrogancias e com rigor, vamos demonstra ‘a todos e com este famoso slogan ” sim podemos”.
    Com cumprimentos.

  5. celebridade

    31 de Agosto de 2010 at 23:27

    o senhor tem toda a razão. no entanto os seus amigos do PCd reclamam o seu regresso.

  6. sydnei

    1 de Setembro de 2010 at 8:20

    n esquese que ja esteve la e n fez nada para o pais, e o PCD foi um dos que levaram o pais a estado que esta e foi tambem o PCD que começou com corrupção em STP..
    DEVERIA pensar melhor antes de fazer esses comentario..tam parvo…

  7. fernando

    1 de Setembro de 2010 at 9:57

    De onde caíu este pássaro armado e, analista politico. Devería tê-lo feito da sua péssima administração, enquanto governante. Soube sim, desorganizar sectores dele dependente como a Saúde e Desporto. Manteve uma arrogância que até parecia ser doutro planeta, mas inábil e incompetente na administração. Pode ser que que com tanta ausência, tenha aproveitado para aprender umas coisinhas que lhe faltavam.
    Bom regresso aos são-tomenses…

  8. manuel fernandes da trindade

    1 de Setembro de 2010 at 9:59

    O sr. João Bonfim deve querer regressar por duas razões: 1. a coisa n está fácil na europa – o que ele sabe fazer? treinr futebol onde? 2. como consequência da primeira e porque o seu partido está de rastos, com risco de ir pelo mesmo caminho do mdfm/pl ele tenta encontrar mais uma vez um tacho no partido dos sabichões que mais arruinou stp.

  9. Lima

    1 de Setembro de 2010 at 10:16

    A ausência deste Sr. sem qualquer explicação, move uma patacoada no seu artigo. Só depois de 9 anos, pronuncia sobre estado de coisa neste país. Não será que quer abdicar-se do seu partido. Os momentos são outros, e certamente deve estar preocupado com alguma coisa, Looolllll………..

  10. Madalena

    1 de Setembro de 2010 at 15:03

    Sábias palavras do Dr João Bonfim.
    Todos temos direito de viver onde nos dá mais jeito em conformidade aos nossos projectos. No passado sair de STP era apenas para gente de muita posse, hoje qualquer um pode escolher onde quer ficar. No Passado era preciso o comité de zona ter o conhecimento e só depois com a sua autorização, é que a segurança do estado autorizava a saida. Quem vive na diaspora tbém é Sao tomense e pode contribuir para o desenvolvimento do país. é falsa a idéia de que só quem vive em Sao Tome e Principe é mais patriota e amigo da terra. Ora vejamos, Cabo Verde tem a maior parte da sua população a viver fora do país. Só em remessas que enviam aos familiares via Banco, só visto.
    Este senhor Doutor Bonfim, sempre deu o seu contributo, no desporto(foi meu treinador em Andorinhas), Foi formador dos professores do Ensino basico, (89/90), e por conseguinte meu Ministro.
    Ainda lembro de uampergunta feita por ele aos recém formados: O que é cultura?Sempre foi exemplar e dedicado.
    Recebe um abraço do seu amigo.
    Abraço de de um

  11. dp

    1 de Setembro de 2010 at 18:00

    Este sindrome de desconfiança permanente,onde julgamos tudo e todos , não nos leva a lado nenhum. Em democracia , todas as opinioes , mesmo aquelas das quais não concordamos , são bem vindas.A pequenez de muitos , nota-se neste espaço aberto concedido para debater ideias , criar concensos e não para lavar a roupa suja, lavar recalcamentos , invejas ,etc.
    Não me refiro a este artigo em concreto ,mas para quem vive fora e quase todos os dias tenta saber noticias on line , desmotiva , com certos comentarios , modos de pensar , etc.
    Numa unica frase , a miseria economica, é ultrapassavel , mas a espiritual , demora gerações.

  12. Madalena

    2 de Setembro de 2010 at 17:16

    Ao nivel do partido, há uma restia de fumo que me diz o seguinte:
    Liderança do PCD pode ser uma saida.
    Havemos de nos encontrar no congresso.
    Candidata, logo veremos. As direcções dos partidos devem renovar sob pena do partido perder tudo, inclusivel o seu ideal. centro direita

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