Eleições presidenciais

O fenómeno “Banho” como instrumento alternativo de acesso aos votos dos eleitores (as): Caso S.Tomé e Príncipe

Podemos definir o fenómeno “Banho”, como formas de relações sociais de clientelismo, que em S.Tomé e Príncipe, ganha forma dramática no contexto das campanhas eleitorais. É através desta prática que, os recursos como dinheiro, alimentação, mobílias, vestuários, emprego, habitação, automóveis, bolsas de estudos, são garantidos, sobretudo, para os apoiantes dos partidos ou candidatos (as), em troca de votos nas urnas.

Este fenómeno não brotou da terra como se fosse cogumelo ou batata-doce. Pois, é o produto histórico e acumulativo, por um lado, da degradação vertiginosa das condições de vida das populações, por outro lado, do défice da educação para a cidadania.

1- Degradação vertiginosa das condições vida das populações:

Apesar de não haver uma correlação sistemática entre fenómeno “Banho” e às vitórias eleitorais em São Tomé e Príncipe, eu continuo a defender à tese, segundo a qual, o “Banho” sempre condicionará e influenciará às escolhas e às decisões de uma grande maioria dos eleitores (as), sobretudo, das regiões que sofrem com o fenómeno da pobreza extrema e da exclusão social, isto é, enquanto houver fascimo social, o “Banho” sempre será um instrumento alternativo à disposição dos agentes político-partidários para acederem facilmente aos votos ou para manipularem à reflexividade das populações. Portanto, enquanto o Estado bem como outras instituições não garantirem e promoverem de forma estrutural e sistemática o bem-estar económico e social das populações, emergirá sempre e de forma natural o sentimento coletivo de desconfiança nos políticos e nos seus vagos projetos de sociedade. É ilusório e demagógico, exigir de uma população que sofre diariamente com o fenómeno do desemprego, com a fome, deficiente assistência médica e medicamentosa, degradação habitacional, que não se exponha à “ Banho” ou que não comercialize à sua consciência.  

Portanto, o Estado antes de exigir ou dar lições intelectualmente desonestas, deve em primeiro lugar, promover políticas públicas de inclusão social e, por esta via, reduzir a pobreza extrema de mais de 53% da população são-tomense que sobrevive com cerca de cinquenta cêntimos por dia (PNUD).

2 – Défice da educação para a cidadania:

Um outro fator, é o défice de educação para a cidadania, portanto,  este conceito  pode ser definido neste contexto analítico, como à promoção de valores democráticos, tanto no discurso político como no discurso educativo. É o estímulo de competências participativas e interventivas, numa dada realidade social, abrangendo assim, a educação cívica, a formação social e pessoal e a educação para os valores.

Ora, em S.Tomé e Príncipe, fatores históricos, como por exemplo, os 15 anos do partido único socialista, que foram marcados por um regime autocrático e pela violação dos direitos humanos (Seibert, 2002), não permitiram criar e desenvolver uma cultura educacional favorável ao exercício da cidadania. O voto secreto e sufrágio universal foram introduzidos em julho de 1975, aquando da eleição da Assembleia Constituinte, mas durante o regime do partido único, o voto secreto seria abolido e substituído pela votação de braço no ar (Seibert, 2002).

E o próprio regime democrático não institucionalizou a educação para a democracia, a cidadania, educação cívica, a educação para a autonomia e participação social, seja a nível do sistema escolar, seja a nível do sistema não escolar. Daí que seja muito vulgar os cidadãos (as) utilizarem expressões como: eu não sou político, eu não percebo nada de política, etc. Em boa mediada por se remeterem, por um lado, para uma experiência cultural e educativa pobre e deficitária em termos cívicos ou políticos, típica do regime autoritário, por outro lado, para as loucuras praticadas pelos partidos de mudança, como falsas promessas, a corrupção,  exclusão etc.

Portanto, não basta o Estado fazer gastos avultados nas campanhas episódicas de sensibilização, com vista a redução da prática de “ Banho”, deve também introduzir nos currículos escolares a disciplina de educação para a cidadania. Pois, os (as) cidadãos (as), desde a sua tenra idade, devem ter conhecimentos profundos dos órgãos políticos, as suas funções, como são investidos, a limitação dos seus poderes, como se pode intervir na sua ação ou competências necessárias para agir civicamente, como por exemplo, a destituição dos órgãos de soberania através de votos etc.

 A escola deve estar técnica e cientificamente preparada para contribuir para a promoção de uma sociedade democrática. Negligenciar as vertentes cívicas mais elementares da educação, é matar o Estado de direito democrático, é algemar a liberdade de opção ideológica, é confiscar a participação e intervenção ativa dos cidadãos (as) na vida pública.

 3 – Conclusão:

Só se conseguirá disciplinar gradualmente a prática de “ Banho”, sobretudo, nas campanhas eleitorais, quando por um lado, emergirem instituições que possam garantir e promover de forma estrutural e sistemática o bem-estar económico e social das populações e, por esta via, reduzir a pobreza extrema, por outro lado, quando a educação para a cidadania fizer parte integrante dos currículos escolares . 

Hector Costa: Doutorando em “Sociologia do Território, Risco e Políticas Públicas”, pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. brotero26@gmail.com, 963164512 

Texto convertido pelo conversor da Porto Editora, respeitando o Acordo Ortográfico de 1990.

17 Comments

17 Comments

  1. Sempre a subir

    19 de Setembro de 2011 at 9:12

    Concordo contigo quando diz que o fenómeno “banho” exerce alguma influencia, mas discordo quando usa o termo reforçado condicionará. Um estudo de Associação Benevolência, em S. Tomé afirma que o banho influencia mas que não determina os resultados. Isso pode parecer confuso mas é verdade. Esse estudo também indica que essa tendência só poderá sofrer alguma alteração num período de mais ou menos 4 anos, o que leva a crer que as eleições presidenciais foram livres justas e transparentes. Isso de dizer que os mais pobres são os que mais vendem a consciência, cuidado para não ferires injustamente as sensibilidades é leviano, não existe nenhum estudo conclusivo nesse sentido. Você por exemplo tem cara de pobre (apesar da gravata), mas nem por isso acho que venderia o seu voto (é uma mera opinião). Parece também que você não está no país. Mas gostei da tua intervenção pois ela revela uma certa inteligência e capacidade de reflexão. Mas vou te contar um segredo, o povo São Tomense é um povo estranhamente imprevisível.
    Dou meu voto para disciplina de educação para a cidadania é uma ideia fantástica.
    Outro segredo, os políticos mais fortes financeiramente aqui, introduziram este fenómeno no terreno e têm vindo a regar carinhosamente durante todas as eleições. É um grande engano pensar que eles querem acabar com esse fenómeno. Antes pelo contrário, se esse fenómeno singrar eles terão monopólio do poder aí nem com mil doutoramentos você conseguirá um emprego ou coisa que valha na tua própria terra sem juntares-te a eles. Mas o teu povo, que te vê e te compreende, sabe que eles estão confusos. E é de propósito que estão, pois o que eles querem não é honesto, querem manipular o eleitorado. O estudo da Associação Benevolência concluiu que essa tentativa não tem sido eficaz. Bem haja.

  2. Quem é a verdade?

    19 de Setembro de 2011 at 20:59

    Que estado quer acabar com o fenómeno “banho”?

    Quem são as pessoas que pratica este fenómeno?

    Não são os mesmos que dirigem o país?

    Quererão eles acabar com algo que tanto desejam?

    Se o querer por fim, porque os mesmo continuam praticando sistematicamente e sem qualquer vestígio de vergonha?

  3. Filipe Samba

    20 de Setembro de 2011 at 5:51

    No ranking global de competitividade do Fórum Económico Mundial das nações, São tome e Príncipe não fez parte da lista
    Por falta de uma economia estável.
    Recomendações:
    É urgente que elaboremos e implementemos , um projecto coerente para o desenvolvimento do país e que a diáspora desenhe , um plano de acção

  4. Maribel Santos

    20 de Setembro de 2011 at 14:47

    Olá colega Hector Costa,
    Tens toda razão na tua reflexão, fizeste um retrato social e político do nosso país. Tens k voltar o país precisa muito de ti.Tens uma formação sociológica muito…muito sólida e exigente.
    Viva Coimbra!

  5. Sr. Verdade

    21 de Setembro de 2011 at 19:49

    Mais uma vez, Hector sr. doutorzinho só escreve o que ja foi alguma vez publicado, lenbro-me ter visto parte deste artigo, penso eu ter assinatura de teixeira carlos.
    sr. verdade
    cumprimentos- viva luxemburgo

    • Ludmilo Bragança Neto

      22 de Setembro de 2011 at 12:39

      Este tal do “senhor Verdade” é um cobarde, ignorante, doente mental, invejoso,racionalmente indolente.

      Fogo!! Sempre quando o Hector dá o seu modesto contributo a este jornal,o “senhor verdade” aparece com ataque de inveja. Pk que o senhor não escreve e dá também o seu contributo?
      Deixa de fazer ataque pessoal ao Hector, se tem alguma coisa a dizer fala o pessoalmente. Credo!!!

    • Teixeira Carlos

      22 de Setembro de 2011 at 12:53

      “Senhor Verdade” , não se exponha à ridículo. Pois, se aquilo que tem para dizer não for melhor que seu silêncio, opte pelo silêncio. O senhor está a baixar o nível, se é que tem mesmo nível!

  6. Fruta Fruta

    21 de Setembro de 2011 at 23:49

    Este artigo veio pôr-me de novo um problema com que me debato no meu eu, há algum tempo. Infelizmente não tenho a varinha de condão para solucionar o problema de injustiça que encontramos no actual modelo democrático republicano das votações em partidos / barra forças políticas que apoiam alguém ou grupos. O Objectivo último de todo esse processo será ocupar do Governo de um Estado de modo a garantir o Bem-estar do Povo / comunidade que lhe confiou o poder através da votação. Na essência quando é instaurado um governo tem subjacente uma ideologia que justifique as acções e decisões do poder. Os governos terão de servir o homem / povo de acordo com as suas características, suas tradições, sua história e cultura.
    Agora pergunto!. Não deveria haver uma Instituição Isenta e Idónea, sufragada pelo povo para julgar no fim os actos da Governação?
    Parece-me que o actual Modelo Democrático Partidário enferma da falta ideológica, a criação do seguidismo e formatação dos inscritos, sem evolução teórica dos modelos para aplicação na melhor maneira de governar os povos.
    Existe de uma maneira generalizada ao afastamento do cidadão comum das coisas públicas pensando mais no seu bairro e no seu Bem-estar.
    Este modelo deveria ter como pressuposto uma sociedade com FORMAÇÃO CÍVICA, conhecimentos de história, sobre economia e política. Por isso a base deverá começar na escola com a formação de professores idóneos e isentos de modo a criar uma vacina na sociedade vindoura contra o fenómeno Banho.
    Quero acreditar que a juventude não se vende ideologicamente.

    • Hector Costa

      22 de Setembro de 2011 at 13:58

      Caro(a)amigo(a)Fruta Fruta.
      Tem toda a razão, a nossa estrutura de poder ,sobretudo, polítco, governa alicerçada numa ideologia do vácuo.
      Urge que repensemos o modelo político que queremos seguir para nos levar à “terra firme”.
      abraços

  7. JOSE TORRES

    22 de Setembro de 2011 at 7:25

    Voce porque nao vem para o Pis e contribuir?
    Sabes que o que se tem para te pagar nao chega. e ou nao e verdade?
    Falar distante e bonito mas a mim ninguem engana. ok?

  8. Hiost Vaz

    22 de Setembro de 2011 at 13:50

    No comment

  9. Albertino Sousa

    22 de Setembro de 2011 at 14:55

    O fenômeno banho por essência é, tão simplesmente, o sustento duma festa de “miseráveis”(a eleição em democratica é afinal uma grande festa!). Não há que acabar-se com banho nem considerá-lo um problema. Embora possa influnciar em alguma medida o sentido do voto, ele nunca foi nem será determinante. E êis alguns exemplos: o Uê Kedaje fez uma campanha fenomenal, mas perdeu espectacularmente, porque o eleitorado assim quiz!; Pinto da Costa sempre perdeu eleições porque o povo não quiz o regresso do ditador; o proprio Patrice tinha atraido em tempos apoio de todos partidos da oposição, mas perdeu. E só ganhou quando o povo decidiu conscientemente, sob o pressuposto de que o Rafael Branco(MLSTP)não lhe tinham deixado governar na legislatura anterior…
    – Em todos países do mundo existe directa ou indirectamente o fenômeno banho.(Ex: o Alberto João Jardim já soma cerca de 20 inaugurações com a aproximação das eleições em Madeira…).
    Em STP as pessoas têm tido referências prévias dos candidatos em quem haverão de votar. Portanto dar “banho” é perder tempo. Aliás, o “banho” é benvindo para sustento da festa…Ninguém ganha em STP por influência do banho. Ninguém!!!
    A democracia é producente em meios lúcidos…e o índice de alfabetismo em STP é um dos mais altos da África. E de norte a sul fala-se português…

  10. Barão de Água Izé

    22 de Setembro de 2011 at 17:32

    A solução para o Banho é muito simples: O Partido que promovesse / praticasse, a compra de consciência dos eleitores seria de imediato excluido das eleições. O Parlamento deveria, por lei, especificar que materiais seriam permitidos nas campanhas eleitorais.

  11. Helves Santola

    22 de Setembro de 2011 at 21:06

    …realmente, em STP, o banho assume a sua face mais devastadora….!

  12. Barão de Água Ize

    17 de Dezembro de 2012 at 13:18

    O chamado “banho” não é mais que a corrupção dos eleitores, tanto ou mais grave do que a corrupçao do “colarinho branco”. É uma ação gravissima ao tentar ou comprar a consciência dos eleitores. Uma coisa, é material de propaganda politica, outra é oferecer dinheiro ou bens materias para “comprar” o sentido de voto. O Código Penal, sendo revisto, pode inclui o “banho” como crime, responsabilizando o Presidente do(s) Partido(s) paraticante(s) e devendo excluir esse(s) partido(s) das eleições.

  13. Nanana

    24 de Agosto de 2016 at 23:58

    Dr. Hector Costa,
    Bem haja pela sua excelente explanação

    Concordo com a maioria da sua opinião técnica sobre a “Formação pela cidadania e aposta no fundo pelo desenvolvimento humano do país”

    Mas oh sr Dr. Hector, eu faço parte de uma geração mais velha dos Santomenses, e garanto-lhe que em condições sociais mais adversas, o Santomense tinha educação, tinha carácter, tinha sentido patriótico e tinha o que se chamava na altura “educação cívica”

    E éramos muito menos alfabetizados,tinhamos muito menos crossowers nas ruas esburacadas, andávamos mais a pé, não tínhamos tv

    Dizíamos bom dia uns aos outros, respeitávamos o bem e propriedade alheia, pediamos desculpa se ficassemos uns aos outros sem querer, tínhamos o sentido de defesa comum, sobretudo se um ladrão fosse apanhado em flagrante delito.
    Foi nessas condições que sempre nos opusemos ao colonialismo e fizemos a revolta de fevereiro de 1953.

    Tudo isso para lhe dizer que havia ordem, princípios, éramos educados por avós analfabetos e não tínhamos cadeiras nas escolas de sentido de cidadania

    Era muito bom que os sociólogos fizessem um estudo da nossa sociedade e diagnosticadas o que se perdeu.
    Há qualquer coisa de muito errado na nossa sociedade

    A minha opinião é que a maior escola sobre a cidadania está em casa, no núcleo familiar, com os pais, avós, tios e vizinhos

    Se calhar temos que voltar às “sóias” a volta da fogueira nos bairros, contadas pelos mais velhos

    Bem haja aos verdadeiros filhos de STP
    Como diria um colega meu:
    UNIDADE, DISCIPLINA E TRABALHO
    Esquecemo-nos deste slogan

  14. Nanana

    25 de Agosto de 2016 at 0:06

    Dr. Hector Costa,
    Bem haja pela sua excelente explanação

    Concordo com a maioria da sua opinião técnica sobre a “Formação pela cidadania e aposta no fundo, pelo desenvolvimento humano do país”

    Mas oh sr Dr. Hector, eu faço parte de uma geração mais velha dos Santomenses, e garanto-lhe que em condições sociais mais adversas, o Santomense tinha educação, tinha carácter, tinha sentido patriótico e tinha o que se chamava na altura “educação cívica”

    E éramos muito menos alfabetizados,tinhamos muito menos crossowers nas ruas esburacadas, andávamos mais a pé, não tínhamos tv

    Dizíamos bom dia uns aos outros, respeitávamos o bem e propriedade alheia, pediamos desculpa se pisassemos uns aos outros sem querer, tínhamos o sentido de defesa comum, sobretudo se um ladrão fosse apanhado em flagrante delito.
    Foi nessas condições que sempre nos opusemos ao colonialismo e fizemos a revolta de fevereiro de 1953.

    Tudo isso para lhe dizer que havia ordem, princípios, éramos educados por avós analfabetos e não tínhamos cadeiras/disciplinas nas escolas de sentido de cidadania

    Era muito bom que os sociólogos fizessem um estudo da nossa sociedade e diagnosticassem o que se perdeu.
    Há qualquer coisa de muito errado na nossa sociedade

    A minha opinião é que a maior escola sobre a cidadania está em casa, no núcleo familiar, com os pais, avós, tios e vizinhos

    Se calhar temos que voltar às “sóias” a volta da fogueira nos bairros, contadas pelos mais velhos

    Bem haja aos verdadeiros filhos de STP
    Como diria um colega meu:
    UNIDADE, DISCIPLINA E TRABALHO
    Esquecemo-nos deste slogan

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