Destaques

Trindade anestesiada no adeus único as suas três filhas

A televisão pelo mundo fora, enfim, para a devastação psicológica e espiritual habituou-nos a lidar com imagens de morte em série num assassinar da vida, longe de tocar aos nossos corações senão ao sentimento natural da moral humana. A jornalista, tradicionalmente, a jornalista trajada de dor maternal que dá a conhecer dessas tragédias introduz um calmante especial para só depois bombardear ao público, mais ou menos nestes moldes.
As imagens que se seguem de homicídio com três vítimas mortais, ocorrido na última noite numa residência na cidade da Trindade são de extrema violência que podem ferir a sensibilidade dos telespectadores. Pedimos a compreensão dos mais sensíveis e se possível não permitir que os mais novos estejam expostos a reportagem manchada de sangue com um único testemunho dado a conhecer pelo comando policial segundo o alerta, ao amanhecer, do marido da vítima e padrasto das duas adolescentes também ensanguentadas e estendidas sem vida no leito da morte.

É verdade demais para ser mentira. Uma sexta-feira de Maio dos Três Pastorinhos de Fátima na semelhança de outras e tantas quantas em que os planos da terra são de fim-de-semana. Festa e só festa. Não! Non foi assim, não!

foto IreneO choque vinha da manhã de terça-feira, dia 12 de Maio, com a hedionda madrugadora que abalou um pais inteiro e voou o eco tristonho, doloroso e diabólico a espalhar notícia criminosa nos quatro cantos do mundo.

O gemido num misto de assombração e revolta foi cruzando as pessoas ao longo dos três confusos dias de luto e tirando sono aos adolescentes e aos mais sensíveis na questão de toda uma mente sadia a um tresloucado porquê e quem, mesmo que cada um tivesse a resposta no seu inconsciente justiceiro.

Ainda assim, porquê e quem pode numa só golpada manchar Trindade de sangue com três vítimas mortais?

Conversas com epicentro no Bairro dos Casados pela comunhão de Deus que podiam dar a um outro destino mesmo nas mais longínquas paragens dos trindadenses, davam salto ao soluço dolorido e nas redes sociais as imagens de sangue e mensagens de morte tripla, de violência e de condolências a mistura, não se fizeram esperar para qualquer declaração de condenação.

Os telefonemas tremidos e trocados de fora para dentro e vice-versa a querer dar corpo a notícia no encontro das identidades com todos os pormenores parentescos e avassaladores numa terra de primos, os olhos não se sentiam poderosos na maior das resistências àquela lágrima no seu canto.

O dia da despedida para a eternidade na longa espera das autópsias, ainda cedo, os santos pecadores foram-se no aglomerar inundando Trindade para dizer da infalível presença na última homenagem a mãe e as duas filhas impiedosamente assassinadas.

Houve quem ainda não refizesse do abalo e pedisse mais coragem e energia para ter pernas de acompanhar o doloroso adeus. Quem continuasse a fugir do fantasma a solta e em qualquer esquina para mais um golpe fatal. Quem ficasse escondida dentro de casa para não ver com os olhos ensopados de quidalé e dor, maiores dos seus testemunhos.

Os arquivos da memória correram lá ao longe para recuperar imagens de uma enchente de lágrimas quidaléplicas na invasão de dimensão semelhante, só o enterro do pioneiro Horácio em Março de 1981, falecido prematuramente, aos 14 anos de idade, vítima de doença misteriosa parou Trindade desse jeito.

As palavras da Santíssima Maria sem lugar para a multidão lá fora, oferecidas pelo padre Domingos e abafadas com o gemido lagrimoso em suspense, ávido no suspiro milagroso, foram a acalmar aos corações sentidos a devolver os corpos ao pó da terra e a alma da mulher-mãe no castelo da juventude carregada pelos braços protegidos dos seus dois corações de anjos para a entrada eterna no Reino Celestial.

Rumou o desfile fúnebre para a casa de mãos-cruzadas ao peito, a última morada, como que ainda tivessem que obedecer a fila indiana ou nas horas em que a terra teve de dar os seus partos ao mundo dos pecadores, a mãe de 34 anos de idade, a sua primeira filha de 14 anos e só depois a segunda filha de 10 anos.

Quidalé de todas as espécies e idades, crianças e adultos, jovens na sua força abalada, professores e colegas, vendedores e compradores, motoqueiros e taxistas, conhecidos e desconhecidos, avôs, pais, demais familiares e amigos, às quatro da tarde a aproximar cinco da última sexta-feira, os corpos envoltos de sangue arrepiaram, gemeram e pararam Trindade.

Um caixão de cada vez, filha mais velha, mãe pelo meio e depois filha mais nova a entrar no palácio de pés-juntos. Os coveiros foram de vez em vez, descendo a terra nas réplicas dos gritos e desmaios sem conta como que um relampejar de Abril passado, angustiante e revoltoso quisesse que tudo fosse mentira e acontecesse num estalido de dedos o milagre de devolver as três vidas ao sorriso da Trindade e ao colo dos familiares atingidos com a mesma catana e a mesma faca do crime no ventre da alma.

Não podia ser assim porque a gravana está vizinha e o Maio a maiar, chove que non chove, chuva di mulher para regar as raízes na profundez do útero e deixar comida para os três meses sem fartura da água do céu.

Chuva choveu tanto que não faltou quem voltasse a não resistir as lágrimas que tão cedo não vão secar porque na manhã de sábado a seguir ao funeral da tarde anterior, Trindade em desespero, torrencialmente chorou quidalé ô as suas três princesas que nem a mãe que perde os seus filhos.

Devia ser uma página de amor, de ciúmes, de traição, de dinheiro, de ódio, de vingança, de assalto, de macumba, de divórcio e de sexo para o suspense, mas com um final feliz bem vincado, a salvaguarda da vida humana, tal e qual sobreviveu a inocente criatura de dois anos aos olhos das ondas de sangue cadavérico das suas protectoras inofensivas e sem ouvidos jamais para o seu choro.

Os destinos estavam traçados para ser assim? Nada mais a fazer?

Trindade rendida ao vendaval enterrou os seus mortos e abanou que nem a amoreira despida de suas folhas, pouco a pouco e em passos doloridos, volta a erguer com fé e forças para sair do pêsame, do luto, da assombração e trilhar novos horizontes para acreditar que tudo foi verdade.

Tão verdade que a vida humana é um bem doado por Deus e por nada desse mundo merece ser assassinada com uma catana, uma faca ou qualquer que seja a arma predadora e mortífera.

Eterno descanso as almas de Irene e suas duas filhas Niurka e Yara!

José Maria Cardoso

18.05.2015

 

4 Comments

4 Comments

  1. DESCAMIZADO

    19 de Maio de 2015 at 15:32

    ASSASSINADOR CONFESSO

    A lei dos direitos humanos no nosso País deverá ser revista.Esta é uma das causas que se tem imperada uma tomada de decisão mais rígida com relação das pessoas que cometam crimes de assassinato em S. Tomé e Príncipe. Se não pormos na prática no nosso País, quem com ferro mata será punido com a mesna moeda, esse vício terá tendência de aumentar. Há dias na Roça Montes Hermínios um reincidente de Roubo de cacau foi baliado pelo guarda do lote que temia da sua segurança, tendo falecido mais tarde. E porquê que isto acontece? O mesmo ladrão foi solto pelo Tribunal no dia seguinte. Saíu e foi cometer o mesmo assalto no mesmo local.
    No ano passado um agente da Pic à caça de um ladrão na localidade de Oquê Del-Rei, balhou o ladrão quando tentava fugir, o agente foi julgado e condenado com pena suspensa.
    Ainda no ano passado um cidadão na luta com um ladrão corta-lhe o braço e é condenado a pagar-lhe o braço . Que Justiça é esta no nosso País? É porque os magistrados não têm carros de marca?Agora já os têm. Vamos ver se não se trata apenas de pretexto dos magistrados. Haver vamos.
    Por isso temo pela liberdade do senhor que assassinou as três pessoas na localidade de Bairro dos casados em Trindade.Ainda por cima na Rádio B,B. “O senhor é detentor de Grandes valores. O dinheiro fala mais alto.
    O descamizado informa aos meritíssimos Juizes que esta atitude de matar pessoas deverá servir de exemplo penal jamais vista em S. Tomé e Príncipe e recorda-se, uma vez que o nosso Tribunal não funciona para os pequenos que o agente da polícia que matou à tiro a sangue frio o Comandante Distrital da polícia de Cantagalo veio a falecer, tendo atirado gasolina no seu próprio corpo, morrendo de segundo carbonizado.
    Esse assassinador afiou catana (machim) premeditou um crime e num disfarce culpabilizou de princípio que foi a própria mãe.Isto não cabe na cabeça de ninguém. A não ser um drogado. Chamo atenção do governo no sentido de criar uma lei punível para com as pessoas produtoras e consumidoras de cocaínas, enviando os polícias para quintais e roças das pessoas suspeitas, no sentido de se verificar se são contribuintes desta planta.

  2. MÉ SOLO

    19 de Maio de 2015 at 15:37

    Como Mezochiano que sou não posso deixar de me solidarizar com o Zé Maria pela forma que exteriorizou o seu sentimento. De facto a cidade da Trindade ficou anestesiado com a tão grande barbaridade do dia 12 de Maio. Não será tão já que os Mezochianos sairão dessa anestesia e a vontade de fazer justiça. Pude me aperceber dessa vontade no decorrer de um funeral de um outro Mezochiano, humilde, respeitado que por razões diferentes foi se a enterrar do domingo, quando um cidadão numa motorizada quis furar o cortejo fúnebre desrespeitando tudo e todos. Em menos de um minuto o tal cidadão apanhou uma reprimenda e não se não fosse porque somos todos primos e nos conhecemos todos, seria uma outra desgraça, enfim, os Mezochiano estão furiosos e quiçá que nada semelhante volte a acontecer porque aí sim se conhecerá os seus estados de espíritos.

  3. Ma Fala

    19 de Maio de 2015 at 17:30

    A milhoes de quilometros de distancia, tive que aguentar um gemido no peito, deixe-me comover pela barabarie e cobardice, que a terra os seje leve , e que o martelo de justica estronde no ouvido da besta.
    Descansem em Paz!

  4. Seabra

    19 de Maio de 2015 at 21:37

    Compadeco profundamente a dor da familia enlutada…mas faltam-me palavras para exprimir plenamente!
    A cólera, invadiu o meu raciocínio…desejo-te ,que haja uma justiça à altura do crime bárbaro. Quem mata 1,2,3 pessoas, pode matar um exército, se a ocasião lhe permitir. O lugar do criminoso é definitivamente na cadeia ou então no manicômio.
    Que Deus acolha as 3 alminhas…repouso eterno na paz ,na luz,junto da glória do Senhor.
    Toda a minha amizade à familia. As minhas sinceras condolências.

Leave a Reply

Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

To Top