Suplemento

Silêncio – O terror de George aos pesadelos de Wiston

Se me fosse dado a perícia de ministrar uma aula nem que extra-curricular e aproveitando dos minutos de concentração da consciência, não castigaria a audiência apenas com o rastreio científico da atualidade, as desastrosas consequências económicas e ilações a retirar na reorganização do estado insular.

Com maior acidez atravessaria à temática da incursão histórica do racismo, dos povos (pequenos) e da caricatura étnica para que a turma desabafasse sem perplexidade a sua doutrina e até aonde o tema deveria ser desencarcerado.

O Giovani, um italiano, o Wiston e o George sem as margens para a troca de língua, dois ingleses. Um pouco fora do contexto anexaria ao desfile humanitário um português, o José, de quem abordaremos lá para o final. Porque não um francês?  Adama.

No batuque, nas lágrimas e no luto das almas precocemente encomendadas ao além, o que haverá de comum nos cinco defuntos? A “Melanina”, a incógnita feminina que assombra a raça humana. Tão simples. À exceção de José, todos um só destino, uns seres humanos vitimados pelo ódio, pela fúria e brutalidade racial.

Mobilização – O Adama Traoré, a abordagem lá detrás, tratou-se de um jovem negro, de 24 anos de idade, asfixiado mortalmente, segundo os familiares, no dia 19 de Julho de 2016, há sensivelmente quatro anos durante uma interpelação policial francesa. A conclusão judicial em desfavor da vítima fez desabar em distúrbios com mais de 20 mil manifestantes nas ruas parisienses e noutras cidades gaulesas precisamente, no dia 2 de Junho, a data da devolução da tão gulosa liberdade após ao confinamento de mais de dois meses franceses pela culpa da pneumonia viral.

Os parisienses deixaram cair as máscaras e viram juntar-lhes as cidades francesas coloridas com os milhares de manifestantes na reivindicação “vérité et justice pour Adama” e também o fim da violência racial e policial. A justiça fez meia-culpa e vai ouvir mais testemunhas.

Mobilização – O Giovani Rodrigues, um jovem cabo-verdiano, estudante, de 21 anos, foi encontrado inanimado na rua, no final de 2019, numa noite juvenil de Bragança-Portugal. Não resistiu à brutalidade da pancada e aos ferimentos que lhe deixaram em coma profundo ao longo de mais de uma semana hospitalar com a precoce morte ocorrida dez dias depois, 31 de Dezembro, devolvendo às ilhas de “morabeza”, Cabo Verde, os restos mortais do seu jovem filho.

Os governantes e dirigentes políticos cabo-verdianos, um exemplo de cooperação com a Europa, condenaram o assassinato racial, pediram explicação à Lisboa e viram a sua comunidade espalhada pelo mundo convergir-se em manifestações de revolta e pedido de justiça pelas ruas de EUA, Holanda, Luxemburgo, França, Portugal, Cabo Verde e confins que sensibilizou um bispo português a orar e elevar a contestação cabo-verdiana.

A imprensa fez debates, a polícia portuguesa correu aos microfones a dar explicação oficial e o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, apresentou em nome do governo as sentidas condolências aos cabo-verdianos e prometeu celeridade na justiça. A Google permite num clicar a qualquer utilizador da plataforma digital a pretender refrescar a “cachimónia” de chegar às manchetes.

Na última segunda-feira a imprensa portuguesa deu conta da detenção e acusação de mais três indivíduos juntando aos cinco inicialmente às contas com a justiça e detidos preventivamente.

Mobilização à cólera mundial – O George Floyd, um afro-americano, de 46 anos de idade, pai e desempregado de Covid 19, foi pública e silenciosamente asfixiado até a morte durante os longos oito minutos e quarenta e seis segundos na segunda-feira de África, dia 25 de Maio. O homem algemado foi mais uma vítima mortal diária da brutalidade da polícia exibindo o ódio racial, na cidade de Minneapolis, o estado americano do Minnesota, que não lhe perdoou nos últimos gritos de sufoco pressionado ao chão negro.

A comunidade americana, negros, brancos e hispânicos revoltosos, debandou-se desde o dia 26 de Maio pelas ruas democráticas dos estados americanos com incêndios, pilhagens, distúrbios e anarquia total em desobediência ao recolher obrigatório, deixando em cada noite mais destruição até às portas da Casa Branca, ao ponto do presidente Trump refugiar-se num “bunker”. Um cenário cuja realidade retrocede-nos ao dia 11 de Setembro de 2001 com a fuga ao abrigo do presidente Bush-filho aquando da maior derrota dos americanos no seu solo.

Deu jeito às televisões do mundo inteiro congratularem-se com a prova de fogo e bala em quatrocentas cidades americanas contra a institucionalização racial. A civilização humana colocou o joelho no chão como símbolo de condenação à violência racial e policial. Há mais da corrente solidária.

A Internet entrou no luto a reclamar a justiça como que em fôlego ao Reverendo Martin Luther King, assassinado em 1968 pela bala racial, voltássemos às reivindicações dos direitos civis nas ruas americanas. Barack Obama, o antigo presidente americano deu cara às contestações contra a violência racial nos EUA e pediu a sã convivência. A chanceler alemã, Angela Merkel, condenou o assassinato e pediu o fim da violência racial nos EUA. O Papa Francisco pregou alto contra a violência racial americana.

A própria polícia americana viu alguns dos seus agentes brancos juntarem-se aos manifestantes, colocando os joelhos no chão, o mesmo solo que em cada três infetados de Covid 19, um é  negro, estatisticamente, o terceiro grupo populacional, uns 12% de americanos.

Muitos vídeos da brutalidade da polícia americana contra os negros vêm, por estes dias, devastando a consciência humana e denunciando a outra América de discriminação e humilhação vinda desde a escravatura. O irmão do malogrado veio pedir aos manifestantes a calma, a cortesia e o fim do vandalismo.

Também assistimos um policial branco americano emocionado, de joelho no chão e abraçado à uma criança negra, não mais de três anos de idade, sensibilizando a inocente criatura a manifestar e gritar alto ao fim da violência racial e policial. O presidente Trump, da ameaça de despejar o exército nas ruas contra o seu próprio povo, já veio estender as mãos aos negros “É um ótimo dia para George Floyd.”

A justiça procedeu a meia volta. De um agente policial indiciado de crime por homicídio involuntário, em uma semana, agravou a acusação e requalificou os quatro agentes implicado-lhes na morte de George Floyd e com as prisões decretadas.

Os maiores centros financeiros do mundo, EUA, países da Europa, Japão, Austrália, Brasil e tantas outras cidades, incluindo as portuguesas, a Humanidade decretou o cessar de fogo na guerra de Covid 19 e aos milhares, os manifestantes apelaram de grito efusivo “As vidas negras contam” em revolta contra a morte racial de George Floyd. Obrigado América.

Desmobilização – Não haveria nada mais de trocar as linhas com o cansaço da turma. Um dia antes da brutalidade policial americana contra o seu negro, o mundo assistiu e a partir das redes sociais, no domingo, dia 24 de Maio, em Seixal-Portugal, ao assassinato mortal por tiro público de Wiston Rodrigues, de 35 anos de idade.

O jovem estilista são-tomense e o pai António Rodrigues, de 56 anos foram baleados, este brutalmente espancado após o tiro certeiro e um primo, o Joel, de 30 anos de idade também gravemente ferido durante o hediondo massacre.

Haviam corrido em resposta ao pedido de socorro da namorada do defunto, esta   sequestrada por um homem de família cigana, sob a sede de violação sexual. A imprensa informou de que as vítimas foram apanhadas no fogo de tráfico de drogas e no ajuste das contas do negócio escuro.

Na tarde de sábado, o primeiro a seguir ao ato macabro, dia 30 de Maio, umas poucas dezenas de são-tomenses – desprovidas de fato e gravata do mundo intelectual, académico, jornalístico, musical, artístico, desportivo, nem cartaz associativo com o manifesto de queixa ao ministério público – patrulhadas pela polícia portuguesa, juntaram-se na corrente solidária aos familiares enlutados e numa marcha pacífica na zona do assassinato na margem sul do Tejo para clamar justiça contra os assassinos, famílias ciganas, algures fugitivos. A imprensa portuguesa não compareceu para noticiar o grito de revolta do leve-leve dos são-tomenses.

Nenhum pretexto pela ausência massiva tem enquadramento. A CGTP saiu a rua no 1o de Maio. Os comunistas portugueses prometem festejar por três dias e noites a festa do Avante. O racismo existe e é real, mas a mentalidade submissa e escrava africana também existe e, infelizmente, ainda é vergonhosa.

O estilista e pai de filhos menores, uns em São Tomé, ajudou ao governo português na contenção da pandemia viral. Pelas mãos de solidariedade e usando da experiência de alfaiate, o jovem havia posto o voluntarismo de mais um combatente e herói discreto na guerra de Covid 19. Ofereceu e grátis variadíssimas máscaras construídas pelos dedos habilidosos e de tecido africano aos seus vizinhos, batendo de porta a porta, sem ver a cor racial de brancos ou pretos.

Solidariedade luso-africana – Um desvio para BJR. As três letras nada reportam, não fossem as iniciais históricas de Beatriz, Joacine e Romualda, respetivamente, as três deputadas que nas últimas legislativas brilharam ao novo parlamento português e em representação do Bloco de Esquerda, do Livre (“linchada”) e do Partido Socialista. Nenhuma das três vozes signatárias de mudança da mentalidade social e política ousou disponibilizar um minuto aos são-tomenses massacrados em Seixal pela etnia cigana. Obrigado Mamadou Ba do SOS Racismo.

Nenhum líder português da comunidade cigana veio ao público pedir desculpas e solidarizar-se com a família enlutada. As autoridades policiais mantém-se em silêncio para não “acomodar” à investigação criminal. Não houve nota oficial, debates e nem sequer uma linha de conversa. O brutal crime de Seixal com o assassinato mortal de uma vida para lá da montagem jornalística de rixa e assassinato por tráfico de drogas, não teve eco.

Não foi o condenável e lamentável apedrejamento, em Seixal, a terra do menino Gedson Fernandes, oriundo de São Tomé e Príncipe, ao autocarro desportivo. As balas mortíferas passaram ao lado da sociedade portuguesa ou simplesmente silenciadas porque não foram certeiras a dois touros numa arena. No mundo civilizado as associações de defesa animal e bem, estariam nas ruas a condenar a violência e clamar ao fim das touradas de sangue.

Luto luso-angolano – Na última terça-feira do mês de África e que trouxe de volta os assassinatos e as fustigantes manchetes da guerra racial pelo mundo, todavia, pela sã coabitação humana houve uma mancha nebulosa, mas de um outro cariz instintivo.

No dia 26 de Maio para fechar às três e sucessivas nuvens de velório e sentença, um jovem negro, de 25 anos de idade, foi triste notícia de morte na imprensa. Num assalto? Na fúria racial? Não!

Foi afogado pelo Atlântico do Algarve ao tentar salvar um homem branco, de 65 anos, que estava em apuros. O jovem angolano e o velho português morreram engolidos pela força e correnteza do mar.

O deputado do PSD, Paulo Neves, escreveu e juntou na página do Facebook as homenagens ao herói angolano José Moniz. Habituaram-nos às “makas do musseque” económico angolano a dar “quizomba” ao fado da política e justiça portuguesa.

Boicote africano – A população negra da Grande Lisboa e muito em especial, a comunidade são-tomense, uma das maiores consumidoras e em enchente religiosa, desloca-se todos os domingos às feiras do Relógio e das Galinheiras para colocar em dia a dispensa, os vestuários, o mata-bicho, as bifanas, os copos e também as conversas e novas do meio do mundo. Os mesmos artigos de uso adulto e até infantil, a exceção dos frescos, são comprados nas bancas dos portugueses, da etnia cigana, os autores do assassinato de Wiston Rodrigues, um simples alfaiate.

O tempo ofertado na construção de Portugal e noutros afazeres de ganha-pão, de segunda ao sábado, retira aos emigrantes as horas de laser, ao ponto de passarem a margem das famosas marcas que chegam a ter as promoções de artigos em qualidade, garantia e preços muito mais aliciantes que as bancas dos ciganos. Manos africanos! Façamos do mês de Junho, o início do boicote às bancas e aos artigos dos ciganos!

Não me peçam, por favor, vir aqui de ramos de flores a pedir desculpas pela brutalidade assassina, pelo silenciamento do crime, nem vergar-me ao canal Record TV e jornal português Correio da Manhã que acusaram as famílias são-tomenses de tráfico de droga, o cerne, segundo essa imprensa, das rixas com o assassinato público e mortal do jovem.

Remate – A dona Isabel Rodrigues anestesiada na dor maternal bem longe do marido hospitalizado (este em sinais tumultuosos do vai-vem), ainda encontra-se em São Tomé sem que possa fechar o luto físico do seu primogénito. Os familiares, ex-mulher, filhos e irmãos que se apressaram a assistir ao funeral, previsível para sábado, dia 30 de Maio, viu parte regressar na segunda-feira, 1o de Junho, à Inglaterra, sem jogar as três pás de barro de despedida eterna no peito do ente querido.

Ainda assim, São Tomé e Príncipe cabisbaixo e perplexo de cuspir no prato, confinado nas Ave-Marias de 1001 km2 e desatinado no “sakóde poeira” de Covid 19, uns pés aqui, umas “bundas” acolá, a colherada governamental, os copos da presidência, o apupo da oposição e as baças da sociedade civil, divergiu-se na onda de solidariedade, no grito de revolta e pedido de justiça pelo fuzilamento mortal de um jovem filho da sua diáspora.

A desmobilização caseira na guerra de Covid 19 e internacional no assassinato racial contra a família são-tomense, constituem pistas oportunas, excecionais e estimulantes aos estudiosos, antropólogos, sociólogos e historiadores para detetarem a profundeza do distúrbio sócio-mental ao despiste genético do atual homem são-tomense. O civismo do silêncio já é digno de uma longa-metragem “Seixal, o terror de George ao pesadelo de Wiston”.

Os meninos da era digital apanhados na ventania americana de joelhos no chão mundial, mal puseram as mãos na cabeça em corrente simbólica de gritos do “kidalê” para que a Humanidade sensibilizasse contra a assassina dor e o injustiçado silenciamento contra a África ao meio do mundo.

Ontem, 10 de Junho, Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas, Wiston Rodrigues festejaria mais uma “gravana”, 36 anos de idade. A vida de um simples alfaiate não valerá um vintém!?

O corpo inerte de um cidadão comum dos humanos vitimado por bala mortífera, semanas depois, envolvido – queira Deus – em imbróglio judicial, continua no silêncio ensurdecedor da câmara frigorífica portuguesa sem que as linhas divinas do padre possa dizer a missa à alma do defunto da minha terra para que o “pobre assassinado não morra sem vela”.

11.06.2020

José Maria Cardoso

5 Comments

5 Comments

  1. Professor

    12 de Junho de 2020 at 22:47

    Tentei ler este texto, mas acabei por desistir devido aos erros de ortografia de língua Portuguesa.

    Chamo a atenção do autor para esses erros de ortografia, bem sei que os jovens têm muitas deficiências neste aspecto particular, mas não se pode escrever um texto tão extenso com centenas de erros de ortografia, que começam no título do texto e se repetem em cada parágrafo do mesmo.

  2. Dádiva

    12 de Junho de 2020 at 23:21

    Se lhe fosse dado a perícia de ministrar uma aula nem que extra-curricular seria melhor ser um professor a administrar uma aula que economize o tempo e incentiva o leitor, a ideia é boa e bonita mas deve ser breve e preciso. Não dá para as pessoas cujo a paciência é limitada.

  3. Zagaia

    13 de Junho de 2020 at 6:16

    A injustiça de Seixal é tabu, porque as comunidades têm medo de falar sibre o assunto e se não se falam não se resolve o asssunto.
    Não se sabe de verdade o que se oassou no SEIXAL, as poucas noticias que chegaram ao público é pura especulação- droga ou violação feminina?

  4. Lucas

    13 de Junho de 2020 at 14:32

    Lerias

  5. Tony

    13 de Junho de 2020 at 19:28

    Desculpem, nos últimos anos perdeu-se o respeito da ordem pública, aceito vão me chamar fascista!!!!

    Alguns dos exemplos explanados, tirando o estudante de Bragança, deviam de facto ser cidadoes exemplares, por isso é que as polícias intervieram, logicamente estavam a praticar ações de elevado valor!!!!
    Quero deixar claro que não tolero as ações brutas ( caso Floid), nem outras parecidas, e aí a justiça tem que actuar e está a actuar, pelo menos fora de Stp acontece.

    Agora, tudo é racismo, só não é racismo se um Preto matar um Preto, ou um cigano matar um cigano. E quando um Preto ou Cigano mata um Branco é o quê????? E quando pretos, ciganos, brancos esfaqueiam um motorista de autocarro, é o quê???? Como deve agir as forças de autoridade, para esta gente devem pedir desculpa para por ordem pública, a qual é paga pelos impostos dos cidadãos, coisa que não existe em Stp.

    Fui

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