Doutor Hilário Garrido, numa profunda reflexão sobre as novas propinas do instituto Diocesano de Formação João Paulo II, único centro de ensino onde existe o décimo segundo ano.
Ninguém pode descurar a importância que o Instituto Diocesano de Formação João Paulo II tem no ensino e na educação em S.Tomé e Príncipe. Não tanto pela qualidade dos professores porque muitos são de outros estabelecimentos de ensino, nomeadamente Liceu Nacional e Instituto Superior Politécnico.
A sua importância advém de alguns factores essenciais que passo a designar: desde logo IDF orienta-se por um programa curricular que provem do sistema de ensino de Portugal, logicamente muito diferente do nosso, dispensando-se explicações. Além de condições técnicas, didácticas e pedagógicas e outras de um sistema de ensino como o português, temos um elemento importantíssimo que é o facto de os alunos estudarem com base em livros; ou seja todos os alunos estudam pelo livro que lhes são distribuídos onerosamente, é claro, e não como acontece, muito triste e prodigamente, com o nosso sistema de ensino, em que não há livros facilmente disponíveis para os nossos alunos, mesmo no Liceu Nacional e quiçá no ISP e outras escolas superiores do País. Faz-me lembrar de quando eu estudei … era só apontamentos ditados pelos professores e quase nada mais … e as coisas ainda continuam assim!
Tirando essas virtudes que são de louvar a Deus, temos que pôr o dedo na ferida e ressaltar os defeitos – afinal ninguém é perfeito (pessoa colectiva ou singular).
IDF, não sei por que carga de água ou por alma de quê, decide, por inspiração, quiçá, da anterior directora (católica!), que felizmente já não está em S.Tomé (terá sido o seu ultimo acto relevante) com beneplácito do Bispo da Diocese, entidade máxima desse Instituto, aumentar a propina de uma forma tão arrogante – como ela se mostrava ser – tão abrupta, impiedosa e desumana, que a propina saiu de Db.240.000,00 para cerca de 1.250.000,00 (faça-se os cálculos percentuais!). Sempre ouvi entre muitos pais e alunos dizer-se mal daquela senhora. Eu próprio tinha dificuldades em encará-la. Que Deus lhe dê vida e saúde por outras bandas!
Além de IDF ter habituado as pessoas com uma propina quase simbólica nos primeiros anos, os aumentos posteriores, por exemplo do ano passado foram de Db.180.000,00 para Db.240.000,00 (veja-se a percentagem!). É normal, humano, sério, honesto, razoável, concebível, católico!?
Não imagino, nem acredito que, racionalmente, religiosamente ou em Direito Canónico ( e quiçá legalmente) ou internacionalmente, para não dizer em Portugal donde se inspira IDF em tudo o que não é religioso, já tenha havido aumento tão elevado? Só em Zimbabwe onde a taxa de inflação atinge milhões. Onde é que estão os critérios da justeza, justiça, da ética e da moral que devem ser a bandeira de uma instituição de cariz católica. Eis porque isso parece-me cheirar lucro.
Não há nenhuma alma do poder que ao menos possa advogar nossa causa junto do IDF ou do Srº. Bispo da Diocese?! Estaremos a aplicar o lema da terra que é salve-se quem puder? (Os meus cumprimentos aos Srs. Ministros da Educação de STP e de Portugal, fazendo votos para que eles velem, como sempre, pelo bem comum, missão para a qual foram indigitados).
Talvez seja pertinente citar aqui algumas passagens do “IDEÁRIO” e do Regulamento do IDF: “ A criação do IDF – Instituto Diocesano de Formação João Paulo II, representa um contributo da Igreja para a valorização e promoção integral do Homem Santomense e da Sociedade Santomense”. “ No actual quadro de uma sociedade democrática e pluralista, o ensino, mais do que nunca, é tarefa fundamental da família, da sociedade civil e da Igreja. Tal como nos lembra o Concílio Vaticano II “ A educação dos jovens, e até uma certa formação continuada dos alunos, torna-se, nas circunstâncias actuais, não só mais fácil mas também mais urgente” (Decl. “A Educação Cristã” proémio)”. “O Instituto é uma instituição particular, propriedade da Diocese de S.Tomé e Príncipe, de carácter não lucrativo”. Interpreto “não lucrativo” aqui como sendo, o IDF busca rendimentos ao estritamente necessário para o seu funcionamento pleno e eficaz.
Independentemente do mérito, direito e legitimidade em proceder-se aos aumentos, como aliás tudo altera o preço dia-a-dia e que todos estamos de acordo, não vemos (ou não vejo) como se pode ser tão cruel. Porque não é concebível que se possa ousar e abusar do pacifismo dos santomenses e proceder a um aumento dessa natureza.
Sabemos que, tratando-se de uma escola privada que como qualquer outra pode cegamente buscar lucro, não é fácil haver uma intervenção das autoridades estatais, nem de Portugal, nem muito menos de STP; mas conhecendo uma injustiça e um abuso tão abominável, é possível que as autoridades dos dois países possam exercer uma influência, no contexto da política geral de educação e ensino, e fazer ver, ao menos, os decisores do IDF que essa posição é descomedida, injusta e revela um pouco – embora não se possa dizer isso em bom rigor – uma atitude correspondente às das empresas privadas que só têm óculos para ver lucro, quando estão numa posição de monopólio ou dominante e que essa injustiça deve ser corrigida ao menos em proporção com o rendimento de cada um.
Ou, por outro, se os dois Estados/Governos reconhecem, contrariamente a nós pais, que esse aumento é razoável, podem fazer um gesto de subvenção (sobretudo Portugal), pagando uma percentagem do valor global das propinas que IDF precisa para manter a Escola em plenitude de funcionamento e eficácia.
Esta injustiça e esse abuso de alguma posição dominante só continua (lembre-se que IDF é de longe a melhor escola de ensino secundário no país, como acima especifiquei) porque nós santomenses somos muito pacatos, pacíficos; acrescido do facto de a maioria dos pais ter rendimentos razoavelmente bons (eis porque a má língua diz que é uma escola de elite).
Mas, também é bom que se diga que o ingresso para o IDF é precedido de concurso em que participam centenas de alunos que terminam o ensino primário e se apuram mais ou menos vinte e cinco. O ensino é absolutamente rigoroso e sério, com um sistema de avaliação eficaz, ao ponto de eu ver o meu filho às vezes em apuros com os estudos, oportunidade que eu não tive antes da universidade.
O que mais me moveu ter lá o meu filho foi pura e simplesmente proporcionar-lhe uma educação sólida e cientificamente consistente.
E essa situação de heterogeneidade de filhos de pessoas de diferentes posses – mas a verdade se diga com igualdade de oportunidade em tudo – gera esta dificuldade de união de forças para lutar e enfrentar essa decisão arbitrária e contraria aos fundamentos e princípios do IDF. Porque as grandes decisões devem preceder de consultas aos pais e encarregados de educação. E isso não aconteceu, por astúcia da anterior directora que até ludibriou a fraca reacção dos pais quando reagiram contra essa decisão que, paradoxalmente, só foi fixada na vitrina da escola. E embora se tenha criado uma comissão dos país para negociar o valor das propinas, a verdade é que cada um está a pagar a sua propina e com uma penalização de 10 euros talvez diário para quem não pagar dentro do prazo, segundo anuncio que apenas leram nas turmas para os alunos. Auó!
Como está vigorando a lei do mais forte, da minha parte vou diminuir o meu nível de vida para manter o meu filho nessa tão rica Escola.
São sapos que se engolem vivos ou “flida glanganxi”. Seja o que Deus quiser!
“…Cela un flá”
HILÁRIO GARRIDO