Opinião

O Charroco e o Cherne

Um dos meus passatempos preferidos, durante a infância, na ilha do Príncipe, em alguns afluentes do rio Papagaio, era pescar Charrocos. Sim, Charrocos! Estes seres vivos, aparentemente inofensivos, que invadiam os rios da minha terra, cuja proveniência específica relacionada com as etapas do seu ciclo de vida, era motivo de muitas especulações.

Como tal, perdurou, durante muitas gerações, a interrogação sobre a origem dos Charrocos naqueles afluentes do rio Papagaio.

Alguns insinuavam que eram peixes, tipicamente dos rios, sem qualquer ciclo reprodutivo e migratório condicionador de mudanças de habitat. Outros, como o velho e sábio Capiango, especulavam que aqueles seres vivos eram provenientes do mar, filhos de Chernes, cuja passagem pelos rios, em forma de “pixinhos”, encerrava uma etapa do ciclo de vida dos mesmos, a partir do qual o desafio maior era regressarem ao mar e transformarem-se em Chernes; ou, pelo contrário, permanecerem nos rios, sem serem apanhados, e transformarem-se em Charrocos. Portanto, um “pixinho” era qualquer coisa que poderia acabar, na panela, em forma de vários pratos típicos da variada culinária local ou, sobrevivendo, dava origem a um Charroco ou um Cherne, de acordo com o instinto de sobrevivência e capacidade de luta individual de cada um deles, que lhes permitiria chegar, ou não, ao mar.

Esta ideia lendária, sobre os Charrocos, prevaleceu durante várias gerações transformando-os, localmente, em símbolo de perdedores e incompetentes, incapazes de ultrapassarem o desafio de vencer a barreira de uma fase do seu ciclo de vida que comportava a passagem pelo rio, quando pequeninos, e chegada ao mar, para se transformarem, mais tarde, no grande e valente Cherne.

Por isso o seu habitat era restrito e, invariavelmente, resumia-se aos esconderijos debaixo de pedras de onde só saiam, envergonhadamente, para abrir a grande boca e acabarem no anzol, de um pescador amador e/ou infantil, sem qualquer esforço ou engodo. Desta forma, os Charrocos eram, provavelmente, os peixes mas fáceis de pescar, no mundo, ao contrário do grande Cherne, expostos aos inconvenientes e vulnerabilidades de qualquer predador, por mais infantil e impreparado que fosse.

A sua boca, anormalmente grande, o seu corpo embora fusiforme, exageradamente circular e comprido, e portador de hábitos lucífugos que o transformam num animal que se esconde invariavelmente da luz, debaixo de rochas ou outros objetos, deram ao Charroco o epiteto de preguiçoso, incompetente, desajeitado, pouco ambicioso, feio, comodista e, imaginem, até, de “projeto de Cherne falhado”. Pudera! Quem deveria ser Cherne e percorrer as profundezas do Oceano, em liberdade, não pode acabar transformado num Charroco. Por isso, na minha terra, era um insulto chamar-se alguém de Charroco.

A história da nossa terra, S.Tomé e Príncipe, durante os últimos trinta e sete anos, não é muito diferente da lenda do ciclo de vida do Charroco.

Tendo todas as condições para aventurarmos nas profundezas do grande oceano, com método, organização, autonomia gradual e responsabilidade, após a independência nacional, tal qual o atrevido Cherne, preferimos acantonar, irresponsavelmente, em esconderijos desajeitados e sem luz, vivendo de restos que os outros atiravam para alimentar todos os vícios de alguém que nunca quis crescer e evoluir.

Acumulámos dívidas, vergonha intergeracional e predisposição invulgar para a autoflagelação como nenhum outro povo no mundo. Tal qual um Charroco que se esconde por baixo de pedras e só de lá sai para se alimentar, erguemos a bandeira da indiferença e alheamento, como símbolo do nosso relacionamento comunitário, em contraste com um percurso duro e exigente que nos poderia conduzir ao grande oceano.

Todos os predadores, mais ou menos experientes, descobriram rapidamente a nossa vocação para a moleza e desastre relacional em sociedade e, para tal, interiorizaram a ideia que basta nos provocarem com isca mais insignificante que seja para sairmos dos nossos esconderijos dispostos a pecar. Por isso acumulámos, nestes últimos trinta e sete anos de independência, uma quantidade de escândalos relacionados com negócios públicos.

A nossa evolução morfológica, desde a independência, dotou-nos, individualmente, de uma boca, tal qual a do Charroco, muito superior ao nosso sentido de organização coletiva. Por isso a nossa rotina é comer e esconder, voltar a comer e esconder, convencidos que esta receita é a melhor contra o nosso futuro incerto. A mudança, planeada e consistente da realidade existente, suportada por um projeto coletivo e mobilizador, só pode ser coisa de outros peixes. Interessa-nos a pequenez e calmaria do rio e dos seus afluentes. Temos medo dos oceanos, da luz, de nos relacionarmos de forma saudável, uns com os outros, em proveito de todos.

Os Charrocos, em momentos de dificuldades, decorrentes da manifestação de uma catástrofe natural vulgar, como as cheias, entram em pânico; nós, passámos a vida a demonstrar ao mundo, ciclicamente, todas as nossas fragilidades, por défice organizacional e metodológico, sempre que a ganância individual se sobrepõe às condições para a aposta no investimento produtivo e consequente criação de riqueza no país.

Os Charrocos pelo facto de terem falhado na missão maior da sua existência, serem Chernes, nunca andam em cardumes e, provavelmente, desenvolveram traumas em relação à proximidade ao mar. Esqueceram-se, todavia, que todos os afluentes e rios acabam sempre no mar.

Nós, como os Charrocos, herdamos esta bandeira do individualismo levado ao extremo e temos imensas dificuldades em transformar a vontade coletiva em projeto realizável. Em dois momentos distintos da nossa vida coletiva, após a independência e democratização do país, conseguimos, como nenhum outro povo, transformar uma quantidade enorme de energia e força numa quantidade equivalente de ausência de projeto. Ou seja, preferimos ser Charroco em detrimento de Cherne.

Como não estabelecemos, ainda, uma distância razoável em relação ao período e vivência traumática, relacionada com a missão e valores que suportaram a nossa ideia coletiva de independência e democratização do país, temos horror aos ideais ou medidas, venham elas donde vierem, que tenham como finalidade a promoção de consciência de direitos cívicos, igualdade de oportunidades e a afirmação da capacidade para os reivindicar. Por isso, fingimos que temos um Estado e que sejam os outros a financiar este nosso propósito coletivo.

Daí surgirem programas sociais no país, com nomes pomposos, aparentemente bem estruturados, financiados parcial ou totalmente por entidades governamentais e não-governamentais estrangeiras, com controlo e gestão destas mesmas entidades, como “Saúde para Todos” e “Educação para Todos” cujo objetivo é, em substituição da missão e valores do próprio Estado, garantir o mínimo de qualidade nestes domínios sociais para todos São-tomenses. No entanto, o país está também a arder lentamente, nos domínios da Justiça; Defesa, Segurança e Ordem Interna e com uma ideia centralista, arrogante, improdutiva e patética de projetar e edificar as Infraestruturas, em toda a sua extensão, que garanta investimento produtivo, criação de valor e riqueza.

Teremos, por isso, muito provavelmente, num futuro não muito longínquo, programas tutoriais, sob gestão e controlo estrangeiro, com nomes pomposos, como, “Justiça para Todos”; “Defesa para Todos”; “Segurança para Todos”; “Infraestrutura para Todos”; “Finanças para Todos”; “Diplomacia para Todos” e outros programas relacionados com demais domínios de governação. Ou seja, como os Charrocos, não libertamos do trauma de não termos chegado ao Cherne, por nossa própria incapacidade de conceber e realizar um projeto para o país, e queremos, envergonhadamente, que sejam os outros a realizá-lo por nós.

Como os Charrocos, não é só para comer que temos uma boca tão grande. É também para falar. Relacionámos e comunicámos mal uns com os outros, por razões traumáticas relacionadas com o nosso reiterado falhanço coletivo, mas, temos uma tendência suicidária, para bazófia ou vaidade inócua, como os Charrocos diante de outras espécies de peixes, que, invariavelmente, nos deixa suspensos em anzóis alheios. Ou seja, como os Charrocos, acabámos, quase sempre, por morrer pela boca, sem resistência nem glória. É este o destino fatal de todos os falhados.

Só temos, momentaneamente, duas alternativas. Em primeiro lugar, temos que definir um conjunto de regras, que nos permita sobreviver, como entidade comunitária, impeditiva de novas entradas na situação traumática decorrente dos fracassos anteriores. Só assim podemos superar os traumas relacionados com os nossos fracassos anteriores. A celebração destes trinta e sete anos de independência deveria contemplar, simbolicamente, o arranque desta caminhada.

O sequestro das agendas e atribuições partidárias por interesses políticos individuais, económicos e de outra natureza deveria fazer parte deste propósito reformador. Em segundo lugar, temos de substituir a rotina, o avulso e o desenrascanço, que impedem a materialização da nossa vocação de potencial Chernes, em projeto metódico e organizado. Para tal temos que saber identificar, primeiro do que os outros, as novas oportunidades que vão aparecendo, sermos exigentes e criarmos parcerias e alianças, num mundo cada vez mais global e interdependente. Quem nasceu para ser Cherne, não pode estar condenado, a ser Charroco, eternamente!

Adelino Cardoso Cassandra

12 de Julho de 2012

42 Comments

42 Comments

  1. F.M

    17 de Julho de 2012 at 19:04

    Grande fôlego reflexivo. Sim senhor. Parabéns, meu caro. Que Deus nos ajude a chegar ao Cherne contra a vontade dos nossos políticos.
    F.M

    • Inês

      17 de Julho de 2012 at 19:12

      Isto é para ler com calma, minha gente. Lêem isto, por favor. Senhor Adelino Cardoso Cassandra, agradeço-lhe a metáfora utilizada para descrever, de forma soberba a nossa realidade política, social e económica. Não sei se o senhor vive cá ou está fora do país mas fez um texto, digno de alguém que conhece bem a nossa realidade e eu aconselharia as pessoas a reflectirem sobre ele tendo em conta a sua pertinência.
      Meus parabéns.
      Um bem haja a todos que querem contribuir com reflexões e e sugestões para que o país progrida.
      Inês

  2. João

    17 de Julho de 2012 at 19:28

    Meu caro amigo e companheiro de escola. Não sei se lembras de mim.
    Deste-me uma grande alegria ao ler o teu texto, para além de proporcionares-me muitos risos. Eu gostei desta de “Defesa para Todos”; “Infraestutura para Todos”, “Finanças Para Todos”.
    Grande constatação, meu caro. Estamos, definitivamente, a caminhar para esta dependência extrema. Tenho muita pena de reconhecer isto, mas é verdade.
    Muitos parabéns pelo teu fantástico texto. Continua a nos brindar com estas maravilhas. Deus te proteja.
    Um grande abraço
    João

  3. Trindadense

    17 de Julho de 2012 at 19:41

    Simplesmente fabuloso. Perfeito! Parabéns!

  4. Rui Muito Triste com esta Realidade

    17 de Julho de 2012 at 19:59

    Meu caro Adelino Cardoso Cassandra. Infelizmente,é para isto que temos um governo. Não sei o quê que esta gente anda lá a fazer. Eu que já tenho 59 anos, acabados de fazer, e tinha tantos sonhos após a independência do nosso país, tenho de reconhecer o falhanço total de muitas gerações deste nosso S.Tomé. Tenho a plena consciência que as gerações actuais estão completamente perdidas sem norte e esperança. Só temos é que criar condições para que as gerações futuras, daqui por cinquenta ou sessenta anos, possam ser mais inteligentes, mais responsáveis, mais unidas e colaborantes umas com outras, mais disciplinadas, para que possam ter um futuro diferente do meu e da minha geração.
    Lendo este teu texto fez-me transportar para a minha infância e adolescência em Madre Deus e depois em Pantufo. Bastava um pequeno fio, com uma isca qualquer para se apanhar uma quantidade de charrocos ou levantar uma pedra para apanhar camarões e ter uma pequena refeição para matar a fome entre grupos de amigos. Velhos tempos.
    Agradeço-te este gesto que me transportou para uma realidade que raramente tenho tempo para recordar tendo em conta esta lufa-lufa para sobrevivência neste nosso país. Até charroco que outrora aparecia em massa nos rios agora tornou-se uma raridade. Enfim.

  5. beto

    17 de Julho de 2012 at 20:07

    deu-me preguica de ler. nao o lerei no seu todo. está extenso por demais, e por favor Adelino Cassandra, escreves muito bem, mas comece a tratar de ser inssidente, directo e mais objetivo e frontal.

    obrigado!!!

    • Riboquiano

      17 de Julho de 2012 at 20:38

      escolas para todos, saúde para todos e na mesma estamos tramados com jovnes sem educação e com saude na miseria. onde vamos parar Cristo? deixem o pinto governar por favor. é melhor entregar este país para tawiam governar ele.

    • Isa

      17 de Julho de 2012 at 21:20

      Caro

      Adorei muito o teu texto. Este pedaço que faço questão de transcrever é de uma admirável pertinência:

      “Em dois momentos distintos da nossa vida coletiva, após a independência e democratização do país, conseguimos, como nenhum outro povo, transformar uma quantidade enorme de energia e força numa quantidade equivalente de ausência de projeto. Ou seja, preferimos ser Charroco em detrimento de Cherne.”

      Obrigado por nos brindares com úm texto tão bem conseguido.

      Um forte abraço extensivo aos teus familiares. Ainda estás pelo Algarve?

      Isa

    • Quase la

      17 de Julho de 2012 at 22:14

      ahahahah. Sr. Beto, realmente o artigo é longo sim assim como é vasto o mar para o Charroco. Você pode somente ficar no título ou alguns parágrafos e desistir como o Charroco! Não faz mal.
      O mais importante é o que você sentiu ao ler esse artigo?
      A sua contribuição para o país tem sido de um Cherne ou Charroco?
      Seja la qual for a resposta, já pensou em que poderá melhorar em prol da terra e do seu povo?
      E você que está ler este comentário agora. Pode fazer algo melhor do que tem feito até então?

      Obrigado pelo artigo, me fez refletir em aglumas coisas. Senti que foi escrito para mim.

      Bem-haja a todos.

    • Z

      18 de Julho de 2012 at 1:36

      Voce parece Charroco

    • beto

      18 de Julho de 2012 at 6:50

      Depois, sentei-me e li sim o seu artigo, está brilhantemente bom!!! parábens!

    • Z

      18 de Julho de 2012 at 7:31

      Ok. Agora sim.

    • Quase lá

      19 de Julho de 2012 at 9:47

      Parabéns beto. A persistência no bem é uma grande virtude.

  6. De Longe

    17 de Julho de 2012 at 20:43

    Cassandra
    Cá de longe vou estando afectivamente perto o que torna impossível deixar de sentir e concordar em pleno com o seu raciocínio embora sinta também que o peso da realidade acabe por ser amargo para qualquer são-tomense que não queira deixar de amar a pátria.
    O que fazer quando a instituições que teriam como função convergir e implementar códigos de boa conduta, são as mesmas que se transformaram nos monopólios dos que fogem à justiça?
    Os malfeitores buscam os seus proveitos próprios em detrimento do bem comum escondendo-se nos sectores de justiça na Assembleia da República e noutras altas instâncias do Estado onde alcançam a impunidade. O que fazer se esses sectores não funcionam?
    Alguém falou da constituição do Poder Popular. Esta proposta fica como os engenhos do Leonard da Vinci: será uma revolução quando se descobrir comno aplicar. O certo é que STP necessita urgentemente dessa aplicação.
    Fica uma pequena sugestão:
    – Que os são-tomenses se esqueçam da vaidade dos charrocos, pratiquem princípios de boa convivência com os indivíduos culturalmente mais pobres para usarem,com humildade, o que aprenderam de modo a elevar o nível da população para que essa seja activa, colaborante e exigente no sentido da mudança da mentalidade e de propósitos tão desejados para o desenvolvimento do país.

    • Adelino Cassandra

      18 de Julho de 2012 at 21:13

      Olá,

      Subscrevo a sua sugestão ou receita, não esqucendo o papel da educação, formal ou informal, no referido processo.
      Um abraço
      Adelino Cassandra

  7. Truki Sun Dêçú

    17 de Julho de 2012 at 21:14

    Um artigo de opinião muito interessante, dos melhores que li, sobre a situação actual do País, das suas vicissitudes, oscilações e incertezas no pós Inedependência. Já lá vão 37 anos. Como nas fábulas de “La Fontaine”, quem pode, deve e quer ser ‘cherne’, não deve nem pode ser eternamente ‘charroco’.

  8. manuel araujo

    17 de Julho de 2012 at 21:18

    Gostei. Muito bem escrito!

  9. Joscon

    17 de Julho de 2012 at 21:29

    Ao analisar de forma clara e inequívoca o artigo publicado pelo colunista e leitor, Adelino Cassandra, fiquei deveras sensibilizado, pela ironia e pela forma com que o articulista retrata a situação difícil e constrangedora da situação de São-tomé e Príncipe, fazendo alusão ao peixe “Charroco e Cherne”. O retrato é deveras aterrador e, corresponde na íntegra a uma realidade nua e crua da situação. Sinceramente passados os 37 anos sobre a independência do país, o retrato sobre a situação actual é vivo e lúcido e, obriga-nos a pensar e a reflectir sobre a situação e, como devemos sair desta teia que nos envolve e que nos deixa num estado total inanição.

    Do meu ponto de vista, meu caro Adelino Cassandra, estou em completa sintonia contigo, no que cerne aos argumentos esgrimidos e, posso assegurar-lhe que a nossa democracia não está afiançada, isto é, corre sérios riscos e está em perigo. Os fundamentos que me levam a tal afirmação prendem-se com a inobservância de regras que permitam auferir que os três poderes (executivo legislativo e judicial) basilares de um estado representativo de direito não funcionam.

    Constata-se que o governo está a par da podridão que reina na justiça e quer fazer reformas sem causar danos irreparáveis aos senhores magistrados. Mas percebe-se que estes senhores não querem colaborar e, verifica-se o estado de entropia e caos que reina na justiça e podemos constatar no decorrer do quotidiano a situação carnavalesca e até bizarra que paira sobre os nossos magistrados. Assistimos ultimamente sem o mínimo de pudor, estados de guerrilha permanente entre as diversas facções que se digladiam sem dó e sem piedade nos tribunais São-tomenses, pois torna-se imperioso banir estas guerrilhas antes que seja tarde.

    Se olharmos de forma atenta o funcionamento do parlamento (poder legislativo) em São-tomé e Príncipe, verificamos que a cultura política da maioria dos deputados é sofrível, há falta de soluções, de projectos e de ideias. Alguns dos candidatos são figuras meramente decorativas ou mesmos analfabetos, não me refiro a analfabetos em termos de saber ler ou escrever, isto é primário ou básico. Há várias formas de analfabetismo, mas o mais gritante de todos, prende-se com o facto de alguns dos deputados não saberem interpretar os sinais do tempo e têm como elementos aglutinadores, a ignorância e a mediocracia.

    Hoje, passados os 37 anos pós-independência, o slogan predominante na sociedade São-tomense, resume-se ao conceito de 3V (vivenda, viagem e vida faustosa) ou no conceito de 3C (casa, carro, corrupção), a sociedade fechou-se em si mesma e, não se vislumbra um horizonte, pois o homem que não pensa é como um cadeado sem a chave.

    • Adelino Cassandra

      18 de Julho de 2012 at 21:08

      Olá, Joscon

      Gostei desta: “O homem que não pensa é como um cadeado sem chave”.
      Neste caso não seria razoável sabermos a razão pela qual ele não pensa? Não pensa porquê? Não pensa por causa de factores endógenos de natureza pessoal, fruto de um percurso de vida que lhe reduziu as possibilidades de saber pensar, saber fazer, etc.? Não pensa por constrangimentos de natureza socioeconómica, política e/ou de outra natureza, que lhe transformou num cadeado sem chave (para utilizar a sua expressão)?
      Provavelmente é a soma destes factores todos.
      Em relação ao primeiro factor, podemos encontrar mecanismos de organização interna, de “natureza institucional”, favorecedores da mudança, designadamente no contexto educativo e implementação de medidas políticas, tendo em conta a especificidade territorial dos problemas, que permitam a existência de locais de acolhimento, de informação, de apresentação de propostas, ou seja, espaços públicos, de natureza institucional, que permitam aos cidadãos participarem na tomada de decisões sobre os problemas existentes na nossa terra. Neste caso, independentemente do percurso pessoal de cada um, como cidadão, a sua participação deve contar.
      Em relação ao segundo factor o problema parece-me mais complexo porque encerra, inevitavelmente, uma solução extra-institucional. Neste caso, ao mesmo tempo que o desejável seria a revitalização das instituições, proporcionando a abertura do cadeado, para a existência de espaços que permitissem a participação das pessoas, decorrente da reflexão crítica individual, este processo de revitalização institucional só pode ser feito de “baixo para cima” e não comportar ou incluir só votos nos momentos eleitorais.
      Os partidos políticos não podem nem devem ter o monopólio de protagonismo político na nossa terra. Está na hora de abrir o debate sobre formas de intervenção democrática que permitem maior participação popular, nos contextos locais, regional e mesmo nacional. E há várias formas de fazê-lo.
      Relativamente ao poder Judicial, não tenho acompanhado muito de perto e com a atenção desejável o referido problema. Todavia, parece-me, que, neste caso, é o próprio sistema judicial, num gesto de auto-flagelação inesperado, que se colocou nesta situação. Como é possível que esta gente não seja capaz de limpar a casa e encontrar mecanismos de organização que diminua os riscos de ocorrência destas situações anómalas?

      Um grande abraço

      Adelino Cassandra

  10. mavinga diz

    17 de Julho de 2012 at 22:01

    obrigado, muito bem….

  11. duvidas

    17 de Julho de 2012 at 22:38

    Charroco é pai de Cherne, Cherne é mãe de Charoco ou serão ambos netos de qualquer outro animal aquatico?

  12. Augerio dos Santos Amado Vaz

    17 de Julho de 2012 at 22:50

    Sempre tive uma admiração enorme pela forma como o Senhor escreve. Nem mais, caíu como uma luva!

  13. pulga de cão

    18 de Julho de 2012 at 8:39

    Bom trabalho. Os meus parabéns, meu caro.

  14. TVSA-Televisão Santomense Aberta

    18 de Julho de 2012 at 11:04

    No nosso ver: P’ra nós, o Senhor é “CUCUMBA”!
    Os nossos mais velhos dizem que “Cucumba” também tem descendência de “CHARROCO”… E também tem muita história…Sabem quando é que Cucumba sai de Burraco? E porquê que fogem logo esconder no Burraco? Podem perguntar “EXCLU” ou Adelino Cassandra,meu colega de Quinta de Santo António e por sinal conterrâneo lá da Ilha.E viviámos mesmo na marginal do rio papagaio.E bastava só atirar a “ISCA”

  15. Ramos Neto

    18 de Julho de 2012 at 11:20

    Parabéns! Uma excelente reflexão… contribuição como esta e outras é que precisamos.

    • André

      18 de Julho de 2012 at 12:51

      Concordo e subscrevo. Grande reflexão. Para além do conteúdo tratado que foi muito bem pensado, tenho de dizer que gostei muito da forma como a texto flui a partir do tema tratado, conseguindo agarrar o leitor independentemente do mesmo ser longo. Sendo um texto longo, ao se ler, não se dá por isso tendo em conta como o conteúdo é tratado do ponto de vista da forma.
      Os meus muitos parabéns. Continua neste caminho. Só espero, ainda ter tempo de ver o meu rico país transformado num bom cherne que faça inveja a muitos estrangeiros. Espero sinceramente que isto um dia venha a acontecer. Para tal esta juventude tem de ser menos apática, mais empreendedora, mais criativa, mais trabalhadora, e sair desta dependência de partidos políticos que tanto malo têm feito ao povo.
      Os partidos políticos são importantes em qualquer democracia mas temos de encontrar soluções na actualidade que permitam que os partidos que existem no nosso país sejam reformados e reestruturados nos seus programas e nos dirigentes que têm.
      A juventude tem um papel importante a fazer neste capítulo.
      Um bem haja a todos
      Meus parabêns ao jovem (não sei se é ou não jovem) que escreveu esta linda coisa.

      André Santos

    • Filipe Mata Mosca

      18 de Julho de 2012 at 13:01

      Li e reli com muita atenção e tenho de reconhecer que está muito bem escrito e merecia ser lido por todos neste aniversário da nossa independência para a mudança de hábitos e atitudes individuais e colectivas.
      Parabéns senhor Adelino Cassandra

  16. Horácio Will

    18 de Julho de 2012 at 14:31

    Fica cada vez mais claro que temos muita formação técnica e muitas estratégias anunciadas que nos levariam ao desenvolvimento, acabando por ser o sentido ético o maior entrave para o nosso progresso.
    Alguns artigos têm sido elaborados com intuito de suscitar a necessidade da desejada mudança de mentalidades. A base desses mesmos artigos é o atingimento dos nossos erros culturais dos quais às vezes até nos envaidecemos.
    Neste artigo, Cassandra, foi magistral a forma límpida, leve, segura e arrojada como mostraste algumas das fontes do nosso insucesso. PARABÉNS!
    Temo que depois da leitura apoiemos todos a mensagem e a seguir embarquemos facilmente em qualquer proposta que nos seja vantajosa em prejuízo do país.
    Muitos criticamos tudo como forma de sermos ouvidos para chegarmos “lá”. Depois seremos mais um grande charroco de boca maior que os ouros.
    Por outro lado, Cassandra, tenho muito medo que a militância dedicada à escrita destes artigos não seja compensada com a desejada mudança por falta de meios para ampla divulgação no país ou por impasses gerados pelos oportunistas.
    Forte abraço para ti, ESCRITOR.

    • Adelino Cassandra

      18 de Julho de 2012 at 20:06

      Olá, Horácio!
      Aproveito a ocasião para te agradecer pelas palavras. Mas, ESCRITOR parece-me exagerado para a “quantidade de areia que a minha camioneta pode suportar”.
      Compartilho as tuas preocupações afloradas nesta e noutras mensagens. Se é verdade que no contexto contemporâneo, por efeito de mudanças provocadas pela difusão e utilização, cada vez maior, das novas tecnologias, existem condições para a emergência de “dúvidas” e “interrogações” relativamente àquilo que entre nós (genericamente, falando como povo) era quase do domínio consensual, nos domínios, social, económico, político ou mesmo cultural, persistem, todavia, neste mesmo momento, uma “grande bolsa de pessoas”, provavelmente a maioria, sujeitas aos caprichos, desmandos, desinformação ou mesmo domínio de uma minoria que lhes impõe regras de conduta, cívica e política restrita, para a expressão das suas cidadanias.
      É para estes que estes que a nossa preocupação, como cidadãos, deve ser direcionada no sentido de melhoria dos níveis de organização e participação da nossa sociedade civil no desenvolvimento do país. Reconheço que não seja fácil fazê-lo com a quantidade de constrangimentos existentes, localmente, bem aproveitado pelos políticos, ou melhor, por alguns políticos.
      A ausência destas pessoas, que representam a maioria, no debate, discussões e diversidade de opiniões, sobre os problemas da nossa terra, é redutor para a própria democracia, porque, para além de estarem amputadas, nalguns casos, de competências que lhes permitam ouvir, questionar e decidir de forma crítica, por défice do nosso sistema educativo, que já dura há muito tempo, estão, por outro lado, completamente vulneráveis, pela situação social e económica do país, e expostas aos ataques de políticos desonestos. O “Banho” é filho desta experiência.
      Por outro lado, o envolvimento de pessoas e a sua permanente exposição à diversidade de pontos de vista, neste e noutros fóruns, que representam uma minoria, pode criar condições de saturação social que levam à quebra de “certezas”, favorecendo à emergência de “dúvidas”, “interrogações” e de atitudes de desconstruções permanentes. O país pode beneficiar deste propósito. Alguns jovens começam a dar sinal, no interior do país, que é possível fazer isto.
      É um pouco por isso que eu defendo a existência destes espaços e, ultimamente, tenho pensado bastante sobre a forma de potenciar a sua expressão no “país profundo e real”. Sei que não é fácil fazê-lo tendo em conta os constrangimentos mencionados anteriormente e outros de natureza pessoal e/ou familiar. Mais creio que isto poderia contribuir para o enriquecimento da nossa democracia.
      Um grande abraço para ti
      Adelino Cardoso Cassandra

    • Horácio Will

      18 de Julho de 2012 at 22:52

      “Alguns jovens começam a dar sinal, no interior do país, que é possível fazer isto.”
      Não sei deixar de sonhar com um STP que dê gosto mostrar a amigos de outras nacionalidades. Mas, a frase transcrita conduz-me a mais que um sonho: a retoma de algum ânimo.
      Detém-me a vontade de fazer duas perguntas ao Téla Nón:
      1- O que se passa com o projeto ” a corrupção não mora aqui”?
      2- Quais são as informações que têm sobre a chegada da banda larga ao país?
      A todos os pais com formação académica e/ou cultural de relevo e a todos os são-tomenses em geral, apelo-vos que preparemos já os nossos jovens para um uso da banda larga no sentido de utilidade benéfica aos próprios e ao país evitando o uso excessivo de pesquisas pouco formadoras.
      Vamos fazer um STP novo libertando os genes de Cherne que há em cada um de nós.
      Apesar de Charrocos, não esquecemos que temos qualidades que ainda não decidimos usar.
      Porque não começamos agora?

    • Horácio Will

      19 de Julho de 2012 at 9:28

      “…não esquecemos” devia ser: “não esqueçamos”

  17. Pires dos Santos

    18 de Julho de 2012 at 15:17

    Meu caro, Adelino Cardoso Cassandra, gostei imenso do teu artigo. De uma forma simples e objetivo fizeste um apanhando de S.T.P, neste 37 anos da Independência. Aproveito a oportunidade de te pedir teu Hotmail, gostaria, gostaria tanto entrar em contato com você.

    • Adelino Cassandra

      18 de Julho de 2012 at 20:11

      Olá, Pires dos Santos

      Aproveito a ocasião para agradecer as suas palavras ciente do contributo individual de cada um de nós, como cidadãos, independentemente do lugar onde se encontra, neste momento, para o desenvolvimento do nosso S.Tomé e Príncipe.
      O meu correio electrónico é: adelinocassandra@sapo.pt

      Um grande abraço para ti

      Adelino Cardoso Cassandra

  18. Eusébio Pinto

    19 de Julho de 2012 at 10:47

    Caro Sr. Adelino Cassandra,

    Pessoalmente não o conheço, mas deixa-me dizer que sou um grande admirador dos seus escritos. Temas como “Banho de Conóbia e a Miopia Americana, passando por tantos outros como “A Ilusão do Poder de Sãm Ponhã e Súm Muclucú”, “A Receita do Curandeiro”, “A Morte do Chico Paleio”, “A Púita e o Maruvo”, “Irmãos Gémeos Verdadeiros”, etc., etc., constituem razões mais do que suficientes para que o senhor seja visto como uma referência na arte de escrever no seio dos filhos de São Tomé e Príncipe. Compreendo a sua humildade em descartar-se do título de ESCRITOR que lhe foi atribuido num dos comentários acima pelo Sr. Horácio Will (outro desconhecido meu, mas também por mim bastante admirado pelos seus escritos), mas vejo-me incondicionalmente obrigado a olhar para si como um GRANDE ESCRITOR, porque os seus dotes nesta área falam por si. Desafio-lhe a pensar seriamente na compilação dos seus temas já publicados e de outros que vier a publicar, para a publicação de um livro no futuro, pois estou certo de que seria um elevado contributo para a bibliografia de São Tomé e Príncipe!

    Os meus melhores cumprimentos,
    Eusébio Pinto

    • josé castelo branco

      19 de Julho de 2012 at 13:19

      Muito boa sugestao do Sr. Eusébio Leal. eu com os meus agora 31 anos, sou caloiro e fan dos 3 mencionados na anterior mensagem, do Éusebio, do Horácio e do Adelino Cassandra.

      Pelo que considero sim, mais do que pertinente a sugestao do Sr. Éusebio LEal.

      Seria sem sombra de dúvidas engrandecer mais a nossa cultura literária, porque, sem querer ofender, há muitos que vivem ali á sombra de serem escritores, quando estes de facto é que sao os caloirissimos nessa vertente, tal é o caso do senhor Albertino Braganca, que embora tendo uma ou outra coisita escrita, nao vejo porque se o ve subjectivamente como o pai da escrita santomense e tem título de escritor, quando nao o merece no seu todo.

      há muita pobreza literária no país e os mais conceituados nao merecem os louros que se lhes atribui.

      Tenho dito!

    • Eusébio Pinto

      19 de Julho de 2012 at 13:33

      Caro Sr. José Castelo Branco,

      Meu nome é Eusébio Pinto e não Eusébio Leal.

      Cumprimentos,
      Eusébio Pinto

    • Adelino Cassandra

      19 de Julho de 2012 at 15:16

      Caros Eusébio Pinto e José Castelo Branco

      Agradeço-vos pelas palavras relacionadas com o texto em causa. Aproveito para reiterar que, num contexto como o que vivemos actualmente, provavelmente, a nossa única sina é debater, sugerir, discutir, de forma racional e democrática, em contraposição ao acantonamento, imposto ou voluntário, proporcionado pelas estruturas de representação social e política na nossa terra. Só assim estaremos a contribuir para “ter e fazer” opinião,no contexto comunitário e/ou individual, sobre os nossos grandes problemas.
      Um grande abraço para vocês
      Adelino Cassandra

  19. Simão Tebús

    19 de Julho de 2012 at 13:39

    Texto com cabeça, tronco e membros! resta aos gananciosos do nosso País reflectirem sobre o mesmo. Parabéns Adelino, um grande abraço

    • Adelino Cassandra

      19 de Julho de 2012 at 15:17

      Simão!
      Obrigado pelas palavras e um grande abraço para ti.
      Adelino Cassandra

  20. Kebla

    20 de Julho de 2012 at 8:41

    Oh Cassandra! Resta-me apenas felicita-lo. Excelenete artigo.

    Grande sentido de responsabilidade critica, artigo bem elucidativo sobre o Homem santomense. Seu comportamento e sua relação em sociedade. Gostei imenso Cherne e charroco.

  21. seualuno

    30 de Outubro de 2012 at 15:09

    bem
    preto

  22. asd

    28 de Janeiro de 2013 at 15:12

    bem meu puto

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