Opinião

A proliferação e a mutação dos genes dos virus “engraxa” na sociedade sãotomense

Em São Tomé e Príncipe, no período pós independência, o monopartidarismo, era a “graxa” que dava “lustro” aos mais poderosos/políticos. Enquanto o regime ia se endurecendo, surgiram os “lambe-botas”; e nos tempos modernos, tempos dos “lambe-cus”. A espécie não é obviamente um exclusivo do “habitat” de um pequeno grupo da nossa população que desinvestiu em formação profissional, na capacidade decisor, competência profissional, pois ser “lambe botas” compensa, compensa sim.

A ideia que temos é que em São Tomé e Príncipe, a Administração pública vem promovendo a proliferação desta peste, incluindo os “X9”. Estes últimos são os mais perigosos, pois vendem a própria alma.

Com a instauração da democracia pensou-se, mas (pensou-se errado), que os “lambe botas” reformassem ou exilassem. De repente ressurgiram tão vigorosamente, brotaram da terra, floresceram e hoje multiplicam-se a olhos vistos, e ao par estes, crescem os ditos X9.

Hoje em São Tomé e Príncipe, ressurge a ideia de todos desconfiarem da própria sombra.

Os anuais “lambe cus” são descendentes dos “lambe-botas e estes últimos dos “graxas”. À medida que o regime democrático se foi acomodando às suas rotinas burocráticas e, posteriormente, começou a ser corroído por dentro.

Digamos que a corrosão da democracia está em correspondência direta com o aumento dos “lambe-cus”.

Porque será que o São Tomé e Príncipe, é “viveiro” tão fértil para esta espécie humana?

A medida que esta peste se propaga mais frágil será nossa administração pública. O exemplo mais escandaloso nos anos 70-80 a nomeação do Sr. Rafael Cabinda, ao cargo do Diretor da Empresa Agropecuária Uba Budo.

Ainda hoje, exemplos é o que não faltem!

Enquanto os nossos dirigentes continuarem a promoverem a incompetência, a ignorância, o analfabetismo, obscurantismo, a troco de capacidade de mobilização durante as campanhas eleitorais estaremos a caminhar vertiginosamente para o abismo.

Na era colonial, resignação era intencionalmente fabricada para uso caseiro de soberanos e poderosos. O escravo servia com zelo e dedicação no interior de palácios, fazendas e casas senhoriais, em ambiente mais ou menos despóticos.

O aparelho de Estado e a doutrina oficial impunham a obediência geral, pelo que o “lambebotismo” era intrínseco aos bastidores do poder.

Com a entrada na era da tecnocracia (anos oitenta, por aí…), o novo-riquismo apoderou-se das estruturas dirigentes, donde resultou o vazio da política e, em vez dela, cresceu a burocratização e os cargos de decisão reverteram-se nos principais locus de incubação dos novos lambe-cus. Do ponto de vista genético o lambe-cus é despojado de coluna vertebral, ao contrário dos seus antecedentes (os lambe-botas) que ainda tinham algum resquício de coluna, embora torcida e vergada aos seus amos.

Na sua versão mais pura, o lambe-cus possui qualidades que lhe permitem detetar à distância onde se encontra o cú mais proeminente e atrativo para ser lambido. Alguns desenvolveram até uma língua bífida, especialmente elástica e hipertrofiada, o que lhes permite lamber vários cús ao mesmo tempo sem que os respetivos donos se apercebam da concorrência. Já quanto ao “caráter” é um atributo que, pelo contrário, se encontra atrofiado ou não existe sequer. O “ego” do verdadeiro lambe-cus só se faz notar quando algum cu poderoso dá sinais de querer ser lambido.

É verdade que alguns lambe-cus entram por vezes em desgraça, sobretudo quando, dominados por uma pulsão exibicionista denunciam em público os cus que andaram a lamber. Em todo o lado onde a cultura burocrática cresceu, os séquitos de lambe-cus proliferam e fazem fila. Muitos tiram benefício material e pessoal da sua atividade, podendo até enriquecer. Mas a sua verdadeira recompensa está no próprio ato de lamber.

Adaptado, in jornal Público 26/10/2016 Elísio Estanque.

 

10 Comments

10 Comments

  1. Martelo da Justiça

    21 de Maio de 2017 at 10:03

    Resumindo, são mecanismos utilizados pelos Governos corruptos na promoção da incompetência em detrimento da meritocracia. Infelizmente, essas modalidades têm encontrado a sua expressão máxima na atuação do atual Governo de Patrice Trovoada, pois, nunca se colocou tanto lixo na Administração Publica e nas Empresas Públicas São-tomenses. E o resultado está a vista aos olhos de qualquer observador menos atentos.

  2. Realidade

    22 de Maio de 2017 at 6:50

    Estamos caminhando acereladamente para o abismo…. e com sinais de tentativa do controlo absoluto… ditadura desfarçada em democracia… sera q teremos q matar e morrer pra libertar-mos o nosso paìs da escravidao intelectualizada? O pior è q lutaremos contra nos proprios..
    Antes era contra colonos e agora?
    Quem paga para permanecer num cargo è de longe O pior politico.
    Quando a POLITICA vira QUADRILHA meus senhores .. adeus a naçao….
    Exemplo: Brazil
    Nao ha um politico limpo

    • seabra

      28 de Maio de 2017 at 12:40

      Bem vista…há-de se passarinfelizmente,por um destes processos para obter a definitiva LIBERDADE e DEMOCRACIA.

  3. Original

    22 de Maio de 2017 at 8:33

    Este termo está bem adaptado à situação actual e alguns dos visados devem estar furiosos e outros nem estão aí.

  4. EX

    22 de Maio de 2017 at 9:51

    lembremos que da ultima vez que se Demitiu o Governo do PT ele veio a publico e disse que iria colocar STP em um caos, alguns ficaram em duvida e outros revoltados pela expressão.

    Mas agora o que esta havendo na Administração Publica e na sociedade em geral não é um caos?

    A moralidade se foi, o desempenho deixo de existir a Competência esta na Gaveta, a Incompetência na fila da frente,
    Se resume a um pais parado, sem ideias sem criatividades, sem ordem, cidadãos e oprimidos, a imprensa manipulada, isso ainda não é um caos?

    Cãos não é somente a guerra as pragas as fomes e as doenças.

    Essa opressão sufocante essa forma manipuladora de viver, a discórdia instalada na sociedade o desrespeito, as frustrações dos Jovens, baixo nível escolar, o comportamento desviante dos jovens o aumento de insegurança, furtos, assaltos a mão armada, tudo isso é por si só um CAOS.

  5. Vexado

    22 de Maio de 2017 at 10:40

    Tocou na “chaga” do patrice trovoada. Ele está indo no caminho certo segundo abnilde oliveira, Levy Nazare e outros.
    Andam a acusar a oposição de sede de poder, mas são os proprios (adi) que estão a fazer todas as demarches para ganhar na secretaria.

    Levy que andou dizendo por aí, ser heroi do povo…é isso que queres submeter ao povo? Impingir ao povo alguém que anda a defraudar o país?

    Pior, amanhã, mesmo tu, podes ser preso pelo patrice…porque ele é desconfiado demais e desconfia de todos…

  6. paulo

    22 de Maio de 2017 at 11:13

    caro Leopoldo,apesar do artigo ser adptado “Adaptado, in jornal Público 26/10/2016 Elísio Estanque.”,tinhas que assunir e assina-lo…

    Entendo o teu sentido critico,mais confesso que a linguagem não é bem adequada,como foi adaptado deveriasutilizar outra metáfora,outra figura de estilo..espero que entendes isso como uma mera opinião construtiva..abraço

    • seabra

      28 de Maio de 2017 at 12:43

      …”mais”errado,é “mas”…espero que não me leve de mal.

  7. João Rosário

    23 de Maio de 2017 at 5:58

    Caro Leopoldo,a adaptação,a comparação, não podem ser considerados métodos errados,quando se recorre aos mesmos para localizar problemas comuns e observações/alertas em mais diversos estudos.
    Neste contexto, trata-se de uma repugnante prática, que se torna emblemática em algumas sociedades geridas pelos poderes corruptos.
    O cu é bom! Quem não gosta do cú? Pensar em cu, logo associa-se nádegas, o ânus, mas nada de monstruoso. O cú é importante. Parte do nosso corpo que proporciona prazer,quando nos acomodamos na sanita para que o cu faça seu serviço. Engraçado, hoje o cu é chamado para paródia social e política e poderá enraizar-se e ganhar notabilidade. Talvez conquiste a simpatia de muitos honestos que não gostam de lamber certas coisas.
    Nesta de lamber não é para todos, pois só lambe quem quer. Só é corrupto quem quer. E só o é devido a impunidade.
    Essa não é a maneira mais digna de estar, de ser, de crescer…
    É lambe cú, porque a sociedade/ o povo assim o permite. A maioria é lesada, os que têm competências profissionais são lesados…
    De tão deselegante, hediondo, prejudicial… as vítimas que se cuidem.
    A propagação dos parasitas só empobrece a sociedade.
    A honestidade eclipsou-se Agora a sociedade é de “cala tua boca”, Zé me só…mas essa não deve prevalecer. O medo, o conformismo não inverte práticas hediondas como as dos lambe-cus.
    Está prática de lamber vai permitir com que se acentue o elitismo político, maior comodidade aos corruptos.
    Esse tipo de seres que lambem, são subservientes, lacaios, imorais… Não conseguem conquistar determinadas funções por mérito próprio.
    Esta forma de estar na vida, na sociedade, na política é contraproducente​ e considerado crime hediondo. Não​ estando a justiça doentia, por efeito de contágio, uma moldura penal jeitosa a aplicar aos envolvidos nesse tipo de prática, seria aplaudida.
    Com as sátiras, humor também​ se exprime os sentimentos, as revoltas. Este artigo/adaptação não foge a verdade.
    O novo genes é mutante, por isso vai lambendo e vai camuflando-se, enquanto o povo se acomoda e a oposição continua dopada, sonolenta e submissa. A oposição hibernou-se, talvez pensando na continuidade da prática com contornos mais subtis.
    Bom, gostei.Curioso que nesse contexto, para alguns o “lambe-cu” ao destronar o “lambe botas”, a expressão não é vista de ânimo leve. Consideram-na grosseira, um palavrão.
    Que conquiste adeptos.
    Cuidado, os “lambe” são perigosos, tão perigosos como os que lhos dão a lamber. Dão-lhes tachos e a comida, que tiram aos outros.
    Bem haja.

    • Martelo da Justiça

      23 de Maio de 2017 at 10:21

      Caro João Rosário, apreciei a sua analise ao artigo, baseado numa linguagem metafórica. É bom que brinquemos com as palavras ao mesmo tempo que dizemos coisas sérias. Talvez assim consigamos despertar nas pessoas o seu direito a indignação.

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