Opinião

Tribunal Constitucional vs Retirada de doentes da ilha do Príncipe

A partir do momento em que vi São Tomé e Príncipe a ter três orçamentos de Estado num só ano, presumi imediatamente que a torneira iria fechar para o lado mais fraco (ilha do Príncipe). Tenho dito veementemente que o sector da saúde continua a ser um dos mais carenciados em São Tomé e Príncipe, e na região autônoma do Príncipe, esta carência assume particular significado.

A retirada de doentes tanto a nível interno, como a nível externo, constitui um grande fardo para o Estado são-tomense e, é um dos fatores que mais sufoca o nosso sistema de saúde. Independentemente do meu índice elevado de regionalismo, considero a retirada de doentes da ilha do Príncipe para São Tomé como um bem necessário, tendo em conta o apanágio do serviço regional de saúde. O corte de verbas para o financiamento dos voos de saúde coloca em causa o Artigo 50.º da Constituição da República (Direito à Proteção da Saúde). Os cidadãos da ilha do Príncipe que não disponham de recursos para irem a São Tomé por conta própria continuarão a ser defraudados na assistência em saúde.

É por essas razões que discordo do governo regional quando considerada a construção de um posto de saúde como um ganho para região autônoma do Príncipe. Melhoria é muito diferente de ganho. Um exemplo de ganho, para mim, será quando a ilha do Príncipe tiver meios para ultrapassar com sucesso um caso complicado de parto. Por isso, sempre fui apologista da instalação de alguns serviços especializados que se adequem mais às necessidades da população local. É menos dispendioso do que a retirada.

Construir postos de saúde é apostar seriamente nos cuidados de saúde primários, é levar a saúde mais próximo dos locais onde as pessoas vivem e trabalham e obviamente deve ser uma aposta continuada. Mas, olhando para o Príncipe de hoje, uma ilha que está mais aberta ao mundo, uma ilha que cresceu até em termos populacionais, verifica-se que as necessidades de saúde da população também cresceram e deixaram de ser somente primárias.

As obras de ampliação e reabilitação do hospital Dr. Manuel Quaresma Dias da Graça são um “tabu”, no entanto, apareceu do nada, verbas mesmo em tempo de crise, para instalação de um Tribunal Constitucional, que não deixa de ser legítimo. Escrevo esse artigo de opinião, partindo do princípio que o direito que me confere a liberdade de escrita, é o mesmo que o Governo Central detém para traçar as suas linhas de prioridade. Os doentes da ilha do Príncipe ficaram numa situação de vulnerabilidade, mesmo assim, há que respeitar a decisão do executivo. Não é por acaso que Príncipe quer mais autonomia administrativa e financeira para poder solucionar os problemas que ciclicamente levam lágrimas e sofrimento à população. Não é por acaso que o ADI e os seus candidatos têm dificuldade em obter bons resultados eleitorais na ilha do Príncipe.

Aliás, houve em 2011 – quando o Patrice Trovoada foi primeiro-ministro no XIV Governo Constitucional e prometeu mundos e fundos – panfletos criados na ilha do Príncipe com frases rebeldes como: “Patrice Trovoada é desonesto”; “Governo do ADI contra o desenvolvimento do Príncipe” e “Príncipe não é colónia de São Tomé”. O pior é que, nesses panfletos, foi manifestado também por autores desconhecidos o desejo de uma “independência total para ilha do Príncipe”.

Só hoje dei conta que a saúde da população do Príncipe estava nas mãos dos juízes. “Maldita hora” quando José Bandeira não foi reeleito, “maldita hora” quando Silva Gomes Cravid mandou aquela farpa ao Governo na cerimónia de tomada de posse. Hoje com certeza que a separação dos tribunais era impensável, uma parte substancial dos cerca de 120 mil euros destinados à instalação do Tribunal Constitucional seria canalizada para retirada dos doentes da ilha do Príncipe.

Como dizia o grande filósofo alemão do século XIX Arthur Schopenhauer: o maior erro que um homem pode cometer é sacrificar a sua saúde a qualquer outra vantagem.

Deus abençoe São Tomé e Príncipe.

Silton Monforte

4 Comments

4 Comments

  1. Banco má língua

    6 de Agosto de 2017 at 9:36

    Queremos a nossa independência total, Príncipe não é colonia de São Tomé, Patrice Trovoada é contra desenvolvimento do Príncipe, Patrice Trovoada é desonesto, Patrice Trovoada preferiu gastar dinheiro com tribunal constitucional para ajudar na fraude eleitoral do que auxiliar os doentes da ilha do Príncipe. Patrice Trovoada homem manda com tempo Deus manda para sempre.

  2. Pixe dalá

    7 de Agosto de 2017 at 11:37

    Esse primeiro-ministro não está preocupado com o bem do País, Patrice Trovoada é bandido.

  3. sotavento

    8 de Agosto de 2017 at 8:25

    Em relacao a assistencia medica em STP creo que todos os governos desde o governo do MLSTP em tempos de partido unico em tempos da ditadura todos teem culpa desta triste situacao.Tanto dinheiro recebido das ajudas internacionais ja deveriamos ter dois hospitais de referencia um em S.Tomé e outro no Principe.Temos quadros medicos nacionais bons, que acabam por ficar no estrangeiro porque nao teem meios para trabalhar.A responsabilidade é de todos os governos.

  4. Gerardo Costa

    8 de Agosto de 2017 at 12:33

    Kidaleooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo, Americo salario^não sai, hoje é dia 08 de agosto de 2017 ???????????????????????????????????? se você e teu governo não têm dinheiro para pagar salario, onde irão arranjar dinheiro para dar emprestimos aos trabalhadores do estado e fazer tribunal constitucional para safarem nas proximas eleições

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