Opinião

O Bem-comum como espelho da cidade

Entender o Bem-comum como espelho da cidade pode parecer difícil. Todavia, ao longo do texto havemos de compreender que não é tão difícil como imaginamos. Outrora o Bem-comum era visto pelos antigos como algo fundamental para a sociedade humana, hoje este conceito caiu largamente no esquecimento, isto é, perdeu a primazia nas nossas ações quotidianas, sejam elas éticas, morais ou políticas, porque os interesses passaram a ser mais individuais do que comunitários. Esta sociedade em que vivemos está marcada por um modelo individualista em que as pessoas aproveitam-se dos cargos públicos e privados para fazerem as suas vidas.

Ora, como não há regra sem exceção, algumas entidades continuam a afirmar que, “onde houver Justiça, aí está o Bem-comum, aí está a felicidade.” Para que haja esta felicidade, Platão por meio da boca de Sócrates de Atenas diz que é necessário haver uma organização social, isto é, a organização de uma cidade, uma vez que a qualidade da cidade depende da qualidade de cada um e de todos os seus habitantes. Contudo, para que uma cidade possa funcionar bem e ser boa, precisamos de uma política que pense em cada um dos cidadãos, ou seja, que pense com uma “visão ampla e leve por diante uma reformulação integral, abrangendo num diálogo interdisciplinar aos vários aspetos da vida humana.”[1] A cidade neste sentido que estamos a trabalhar não diz apenas o conjunto de seus habitantes, mas sim a formação integral e total de cada cidadão.

Também, é pertinente salientar que a cidade justa é aquela em que todos os seus cidadãos desempenhem a função que melhor coincide com as suas capacidades, logo, só o homem do Bem pode governar, na medida em que só este é capaz de administrar a cidade sempre segundo o Bem-comum, o Bem de e para todos. Por outro lado, o homem bom é esse ser humano que buscando infinitamente o logos das coisas, sabe das relações entre elas e o seu fundamento absoluto. No entanto, o Bem-comum implica que as nossas ações tenham em vista respeitar quer o melhor bem possível para nós quer o melhor bem possível do outro. Desta forma, o bem possível e o bem real do outro fazem parte do nosso bem possível e do nosso bem real. Isto quer dizer que, cada ato que se realiza inclui necessariamente em si a possibilidade do bem do outro e, assim reciprocamente.

Por conseguinte, a plena integração harmoniosa dos atos de todos os seres humanos em benefício exclusivo de todos é o Bem-comum. Apenas o bem-comum merece o nome da cidade. Dito de outra maneira, nas palavras do professor Américo, a cidade é o lugar próprio do ser humano, é na cidade que este pode, precisamente porque não está só, não apenas sobreviver, mas viver de um modo que seja consentâneo com a sua mesma humana dignidade ontológica. Se tal for possível para todos os que assim queiram viver, estaremos precisamente no regime do bem-comum, onde impera, a justiça, o amor e a felicidade.

Portanto, o Bem-comum, antes de mais nada, contempla o Bem supremo das comunidades, o fim mais elevado para o qual tendem as ações sociais do homem, tornando-se assim o único critério de elaboração de leis justas. Dito de outra forma, nas palavras de Papa Francisco o amor à sociedade e o compromisso pelo Bem-comum são uma forma eminente de caridade, que toca não só as relações entre indivíduos, mas também as macrorrelações como relacionamentos sociais, económicos, políticos. O amor social é a chave para um desenvolvimento autêntico: para tornar a sociedade mais humana, mais digna da pessoa, é necessário revalorizar o amor na vida social- nos planos políticos, económicos, cultural-, fazendo dele a norma constante e suprema de agir.

Dito isto, fica esta pergunta para nossa reflexão: Ó cidade de São Tomé e Príncipe que tipo de bem vives: Bem-comum ou bem individualista?

Vicente Coelho

 

 

 

8 Comments

8 Comments

  1. Trindade

    15 de Novembro de 2017 at 22:22

    Belo texto senhor Vicente, olha gostei muito desta reflexão espero que este texto ajude os nossos políticos a ter consciência do que é o Bem-comum .

    • Non

      16 de Novembro de 2017 at 15:21

      Meu caro, eles já têm consciência de que o bem-comum é fundamental para desenvolvimento de qualquer tipo de sociedade.

  2. Povo

    15 de Novembro de 2017 at 22:58

    Respondendo a sua pergunta,acho que na nossa sociedade santomense vive-se um bem individualista. .É notável isso meu irmão.

  3. Povo pequeno

    15 de Novembro de 2017 at 23:22

    A certeza deste mundo: daqui não levámos absolutamente coisa alguma. Tudo quanto nos é acidental ficarão. Então, o que levámos!? A natureza do ser – a finitude humana – e a nossa realidade. Ou seja, o bem e o mal que fizermos um ao outro. Visitemos o cemitério, que as conclusões serão óbvias!

  4. Hyley Bastos

    16 de Novembro de 2017 at 16:03

    Muito bem caríssimo! Grato pelo excerto.
    Já dizia Auguste Comte que a liberdade é direito de fazer o próprio dever.
    Por isso, concordo contigo e sublinho que a liberdade é o espaço que a felicidade precisa.
    A verdadeira liberdade é um ato puramente interior, como a verdadeira solidão: devemos aprender a sentir-nos livres até num cárcere, e a estar sozinhos até mesmo meio da multidão.
    Oxalá que os nossos lideres saibam que ser líder é ser com e não servir-se de. É-se líder mais através do exemplo do que através do poder.

  5. Hyley Bastos

    16 de Novembro de 2017 at 16:08

    Já dizia, Auguste Comte que a liberdade é o que a felicidade precisa.
    Por isso, sublinho que a verdadeira liberdade é um ato puramente interior, como a verdadeira solidão: devemos aprender a sentir-nos livres até num cárcere, e a estar sozinhos até mesmo no meio da multidão.

  6. Agem

    23 de Novembro de 2017 at 12:28

    Hoje, vemos o quanto importante é defender uma política que defenda o Bem-comum de todos. É inadmissível ver e aceitar que em São Tomé e Príncipe pessoas estão a suicidar porque não tem a possibilidade de alimentar os seus filhos. Eu pergunto, onde estão os senhores ministros do famoso Dubai? Senhores ministros agem , investem na agricultura, na pecuária, na saúde, na educação do povo de STP.

  7. 23 de Novembro de 2017 at 12:48

    O sentimento de responsabilidade por uma comunidade, por um país pequeno como o nosso parece ter desaparecido nas nossas políticas de hoje.

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