Opinião

Covid-19: 4 casos positivos em São Tomé e Príncipe & agora?

O que é o coronavírus e como surgiu?

A 31 de Dezembro de 2019, a China reportou à Organização Mundial da Saúde (OMS) um “cluster” de pneumonia de etiologia desconhecida em trabalhadores e frequentadores de um mercado de peixe, mariscos vivos e aves na cidade de Wuhan, província de Hubei, na China.

A 9 de Janeiro de 2020, as autoridades chinesas identificaram um novo vírus da família dos coronavírus (2019-nCoV), como agente causador da doença. A sequenciação genómica do novo vírus foi feita em tempo recorde e partilhada a nível internacional (Graças, Freitas & Manchado, Rita Sá 2020, p. 2).

Mais adiante as mesmas autoras realçam de que a transmissão pessoa-pessoa, através de gotículas está confirmada (…), o impacto potencial de epidemia por SARS-CoV-2 é elevado, sendo expectável a propagação global do vírus. Por isso mesmo, a 30 de Janeiro de 2020, o Director-geral da OMS declarou a doença por novo coronavírus como uma Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional (Ibid, 2020, p.2).

A Organização Pan Americana da Saúde (OPAS) & OMS (2020), acrescentam que essas gotículas do nariz ou da boca espalham quando uma pessoa com Covid-19 tosse ou espirra. A maioria dessas gotículas cai em superfícies e objetos próximos – como mesas ou telefones. Considerando que vírus começou a 31 de Dezembro de 2019, e a 14 de Abril de 2020, isto é, em mais de 3 meses, já matou cerca de 119.766 mil pessoas e infectou 1.924.878 no mundo (Center for Systems Science and Engineering, CSSE, 2020). Pergunto: Qual o quadro da Covid-19 em São Tomé e Príncipe?

Caros concidadãos, ao longo deste primeiro artigo, vou tentar responder esta questão e aflorar tudo quanto esteja à volta dela.

O quadro da Covid-19 em São Tomé e Príncipe
Antes de mais, quero vos dizer que tenho falado com algumas pessoas, na sua maioria, têm dito que Deus vai nos proteger, muito bem, também sou cristão e tenho fé. Estou certo que Deus ajuda a todos os povos do mundo independentemente de serem países pobres ou ricos, todos, desde que estejam no campo de batalha na luta contra o inimigo comum “Covid-19”, com liderança, perseverança, estratégia e evidências científicas, como têm feito outros países.

Quero que fique bem claro para todos o seguinte: mesmo que Santo Tomé Poderoso e Santo António coloquem as mãos para nos proteger, como toda a humanidade acredita, estou ciente que as evidências científicas já demostraram que o Covid é fatal e São Tomé e Príncipe não será excepção. O dia 6 de Abril de 2020, data histórica nacional e internacional, São Tomé e Príncipe entra no mapa dos países com a pandemia Covid-19, o Primeiro-ministro anunciou ao povo santomense que os testes enviados a Franceville, terceira maior cidade do Gabão, «4 casos são considerados positivos da Covid-19».

De forma a perceber melhor o possível quadro da Covid-19, em São Tomé e Príncipe, vamos ver o que diz um estudo nos Estados Unidos sobre a transmissão, de acordo com Sobrinho, Wanderley, P. (2020), relata que (…) “ o grau de contágio do novo coronavírus é muito maior do que se imaginava: uma única pessoa infectada pode transmitir o vírus a 5, 6 pessoas e, sem quarentena, o número de casos pode dobrar entre 2,3 e 3,3 dias, (…).”

Por um lado, não quero ser pessimista, porque nunca fui e nem gostaria que mais datas como a da morte do primeiro infectado, também se estampasse ao nível nacional e internacional, mas compreenderão que a matemática nos ajudará a perceber o possível quadro de infeção pelo coronavírus em São Tomé e Príncipe. Enquanto homem da ciência, estou ciente de que mais dias entrarão na nossa história, devido a pandemia da Covid-19, porque se 1 pessoa infecta 6, 4 infectarão 24, logo poderemos já prever o cenário.
Será que a vida dos santomenses alterou a partir do dia 6 de Abril de 2020?

Claro que sim, a partir desta data tudo parece ter alterado e qualquer cidadão independentemente da sua habilitação compreendeu e viveu esta alteração, por exemplo: “Corridas as lojas para comprarem algo para comer e armazenar, uso de máscaras e luvas, assim como a necessidade de se estar informado sobre a pandemia Covid-19.”

Todas estas manifestações explicam as ansiedades e pânicos. Mas estas alterações podem ser explicadas por “psicólogos clínicos/saúde”. Neste sentido, Mcintyre, T.M., (1994,p. 19), defende que a psicologia da saúde assenta num modelo holístico, em que o indivíduo é visto como um todo, uma síntese complexa das suas múltiplas dimensões (física, afectiva, cognitiva, comportamental, interpessoal, sociocultural, etc.), que reflecte nos fenómenos de saúde e doença. Nesta ordem de ideia, todos estarão de acordo comigo de que houve uma mudança no que os especialistas das ciências sociais e humanas designam de «estilo de vida», já que para a OMS, estilo de vida é “conjunto de estruturas mediadoras que reflectem as actividades, atitudes e valores sociais (…), (WHO, 1986, p. 43 cit in Mcintyre, T.M., 1994,p. 47).

No fundo posso dizer que esta divulgação epidemiológica importantíssima e necessária é que o povo não estava preparado para ouvir, mexeu também com a sua saúde mental, sim, não me enganei. Falei mesmo a saúde mental dos habitantes do arquipélago. Se a quarentena de 15 dias mexeu com a saúde mental dos que chegaram de viagem e tinham que entrar em confinamento, quanto mais esta informação epidemiológica ou se quiser chamemos de “boletim epidemiológico a maneira santomense”, de uma pandemia com tanta morte mundial, e sem apelo pedagógico à volta do coronavírus, por exemplo solicitando a população santomense a maior adesão voluntária ao confinamento (ficar em casa), de forma a não propagar o vírus porque somos os vectores da Covid-19.

Caro leitor ainda no domínio da saúde para O ´Donnell (1986 cit in Mcintyre, T.M., 1994, p.57) a saúde abrange cinco dimensões, cada uma delas incluindo várias áreas que devem coexistir equilibradamente, a saber: “saúde emocional – que inclui a gestão do stress e os cuidados com as crises emocionais; saúde social – que compreende relações com amigos, familiares e comunidade; saúde intelectual – que abrange a educação, o desenvolvimento da carreira e a realização intelectual; a saúde espiritual – que contém aspectos como o amor, a esperança, a caridade os objectivos de vida; e a saúde física – que abarca a condição física, a alimentação, os cuidados médicos e o controlo do abuso de substâncias.”

Já WHO, (1984, cit in Mcintyre, T.M., 1994,p.56), defende que a saúde é “ estado de bem estar físico, mental e social, total e não apenas a ausência de doença”. Quando falo da saúde mental, estou a falar de uma parte da saúde, ou seja, a saúde espiritual, se quiser desta que foi alterada, por exemplo, o medo devido à possibilidade de morrer após o contágio do vírus e um agravamento dos sintomas, algo que irá ser reforçado diariamente, conforme a evolução da pandemia Covid-19. Ora vejamos, segundo Chaplin, J.P. (1981, p. 517) “a saúde mental é estado de boa adaptação, com uma sensação subjectiva de bem-estar, prazer de viver e a sensação de que o indivíduo está a exercitar os seus talentos e aptidões.”

Em suma, este primeiro artigo será um dos muitos que prometo partilhar com os leitores do “Jornal Electrónico, Téla Non”, enquanto docente universitário e investigador. Espero poder nos próximos artigos falar sobre o processo de apoio psicológico ou suporte emocional, bem como estratégias para manter a saúde mental em meio de pandemia da Covid-19.
São Tomé, 14 de Abril de 2020.

Prof. Doutor: Flávio Andrade
Psicólogo Clínico & Mestre em Psiquiatria e Saúde Mental
Doutorado em Ciências da Educação
Quadro dos Cuidados da Saúde & Docente da USTP/FCT

7 Comments

7 Comments

  1. Sem assunto

    16 de Abril de 2020 at 5:53

    Senhor Professor Doutor tentou cobrir uma matéria útil, mas não teve o cuidado de talha-lo ao ponto de ser pedagógico e didativo. Na verdade o seu artigo está meio a queima-roupa. Muitas citações que pouco dizem e elucidam sobre a nossa situação.
    Prometeu trazer mais artigos, ficamos a espera de que os vindouros sejam explanativos e aproveitaveis.

  2. Manuela. Na diaspora

    16 de Abril de 2020 at 8:19

    Que bom dr Flavio Andrade; tens muitas licenciaturas; O pais esta mesmo a precisar de pessoas letradas dotadas de conhecimentos cientificos,mas tambem o pais tera ganho se o estado criar uma governacao aberta; ausculturar opiniao buplica; voces tambem devem ser chamado no plano de estrategia de tirar stome neste abismo; como professor universitario acredito que o sr dr esta contribuir para que no futuro stome vem a ter uma geracao capacitada de conhecimento; para os desafios que o mundo globalizado apresenta; é preciso fazer um trabalho de base muito forte. Bem haja sr professor.

  3. Enfim

    16 de Abril de 2020 at 10:34

    O governo não quer apresentar o resultado dos últimos TÊXTEIS feitos na Guiné Equatorial.. E AGORA?

    • José Bastos Fonseca

      17 de Abril de 2020 at 12:06

      Têxteis?

      Enfim…
      Ainda bem que te mantens anónimo Enfim.

    • Zagaia

      17 de Abril de 2020 at 23:19

      Enfim, desculpe, quem não lhe ajuda não é seu amigo. Portanto,chamo lhe atenção para os erros ortográficos, escreveu (TÊXTEIS) correcto é (TESTES), Um bem haja.

  4. Zé de Neves

    17 de Abril de 2020 at 14:48

    Caro Excelentíssimo Senhor Professor Doutor, vénia à seu academismo!

    Tente simplificar, a ideia não é passar citações literárias para sustentar teses. Isso é na Universidade em meio académico.
    O desafio é fazer a ponte entre a Universidade e a VIDA REAL.
    Será bem mais precioso neste momento ter uma linguagem clara, simples, concisa.
    Sugiro-lhe que conceba um panfleto de tamanho A4 com informação com ilustrações, simples e de entendimento claro para distribuir pela população em coordenação com o Ministério da Saúde.
    Trata-se do momento ideal da ciência Sãotomense sair à rua e afirmar a sua utilidade, ir para o terreno despretensiosamente, despida de ego e fazer o que lhe compete.

    Faça isso que bem precisamos.
    Muito obrigado
    Zé de Neves

  5. Como será

    19 de Abril de 2020 at 16:26

    Concordo meu mano Ze; ja que o senhor professor é licenciado em psicologia Clinica com doutoramento na area de Saude publica; seria muito bom estar a organizando campanhas de palestras nos mercados ; na radio para ajudar a nossa populacao que tanto carece de informacoes; senhor dr nos leitores deste jornal ja somos sobre esta materia da covid, muitos de nos acredito eu; tambem somos Licenciados em diversas area de saber.Portanto meu caro sai do gabinete e fato e vai a rua trabalhar em palestras, ate nos confins de s.tome.

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