Opinião

Pensando bem-2

I – Crença, Informação e Ciência

Por : Joaquim Rafael Branco 

Pensando na pandemia lembrei-me das aulas de Historia e do episódio da Peste Negra ou Peste Bucónica. A peste ocorreu durante a Idade Média, segunda metade do século XIV, considerada por muitos a Idade das Trevas pelo obscurantismo e fundamentalismo religioso que então predominava na Europa então dominada pelo Clero e a Nobreza que sujeitavam os servos a uma exploração desenfreada. A História da idade média não é tão simples assim mas o que quero ressaltar aqui foi o papel do fundamentalismo religioso, das crenças obscurantistas, a falta de higiene das cidades e vilas medievais e a perseguição contra todos aqueles que defendiam soluções baseadas na ciência.

Ainda é cedo para se fazer uma análise objectiva de todo o processo de luta contra a Pandemia COVID 19 em São Tomé e Principie. Esta análise será feita quando tivermos efectivamente controlado a pandemia e houver serenidade e distanciamento para analisar decisões, comportamentos, pronunciamentos e outras coisas mais, algumas delas bastante interessantes. Eu próprio alisto-me para esse debate.
Tendo dito isso, é pacífico comentar alguns assuntos e hoje gostaria de convidar quem queira a pensar no papel da Crença no processo decisório institucional, individual e colectivo em relação a pandemia em São Tomé e Príncipe.

Tenho a convicção que parte do poder político, alguns membros da classe médica e parte da “elite” assumiram durante muito tempo que o coronavirus não entraria em São Tomé. Esta atitude compartilhava e era suportada pela crença popular segundo a qual São Tomé Poderoso e Santo António iriam proteger-nos. Acresceu a esta crença básica outras informações: que o calor africano matava o vírus, que a estrutura jovem da população africana iria limitar a propagação do vírus, etc. etc.

Crença e informações sem nenhuma base científica. Como se verifica hoje nenhum destes factores impediu a entrada do vírus e a sua propagação. Já morreram jovens e velhos.

Ouvi declarações públicas e outras menos públicas, alimentando estas crenças. Angustiado, cheguei a desejar um caso falso positivo para que entrasse na mente das pessoas a possibilidade do vírus já estar no país. Não conseguia entender a passividade geral e a descrença assumida sem pudores. Assumi que a guerra que se avizinhava exigia a mobilização da vontade colectiva como arma essencial. Comunicar um perigo iminente é fundamental para reunir forças, organizar recursos e fazer face ao inimigo, preparando toda a logística necessária para as diferentes fases da batalha.

Eu e vários cidadãos não fomos ouvidos talvez com certa razão pois não havia testes Mas a crença que São Tomé e Príncipe seria uma excepção em África e a falta de casos motivo de “orgulho” incomodava-me. Incomodava-me porque todo o conhecimento disponível baseado numa análise inteligente do contexto, apontava no sentido de o vírus estar no país talvez desde Janeiro/Fevereiro.

Há evidências que mostram que em 36 horas, por conta das redes logísticas e de transportes mundiais, com base em aeroportos em vários países que fazem a ligação com várias capitais africanas e portanto com São Tomé também, o vírus podia estar cá. Não tínhamos teste, mas não havia explicação científica sólida para dizer que o vírus não estava cá ainda. Até porque durante os meses de Janeiro e Fevereiro vários voos provenientes de Lisboa ou via Ghana, trouxeram passageiros de França, de Itália ou da China incluindo são-tomenses.

Este tempo em que prevaleceu a crença foi um factor, creio, que complicou bastante a nossa resposta. Complicou porque não foi o único. Factores de natureza política contribuíram também, nomeadamente falta de liderança colectiva e à vários níveis, falta de inteligência contextual, fraca capacidade de gestão entre outras. Mas isso é assunto para mais tarde.

O que quero sublinhar aqui é que há um limite para as crenças porque elas podem ser limitantes. Crenças são ideias, são modelos mentais e percepções do mundo que nem sempre correspondem à realidade mas são parte de uma construção para dar sentido a nossa vida pessoal e a nossa vivência em comunidade. Muitos nacionalismos foram construídos na base de sistemas de crenças e mitos de origem, santos e mártires, lugares, cerimónias, santos etc.

Crenças religiosas sobretudo devem ser respeitadas. Elas cimentam a vivência em comunidades e baseiam-se muitas vezes numa fé que não tem explicação científica. Mas há valores que estão na própria essência de qualquer religião, dentre eles a santidade da vida humana. É esta valorização da vida humana que deve conduzir-nos a tomar decisões que podem eventualmente contrariar crenças arreigadas, sobretudo se são crenças que limitam a nossa capacidade de evoluir como humanidade.

Não deixa de ser interessante que ainda hoje depois de várias mortes se esteja a disseminar na população, criminosamente, a informação que São Tomé e Príncipe e mais dois países africanos vão ser multados por andarem a propagar que existe o vírus nos seus países.!!!
Outra ideia também muito assumida de maneira ligeira é que informação é conhecimento. Contribuindo para a formação do conhecimento, a informação é uma etapa e instrumento importante para o conhecimento. Mas a informação precisa de muitos tratamentos metodológicos para se transformar em conhecimento. Hoje na internet há informação sobre quase tudo. É prudente saber qual vamos utilizar num processo decisório que diz respeito às pessoas. À vida das pessoas.

II – De volta ao território casa: Irmãs tenham paciência connosco.

Já nos perguntamos porque razões existem tantos Chefs famosos do sexo masculino e comparativamente menos Chefs do sexo feminino? Como explicar isso se há séculos que as mulheres se ocupam da cozinha e acumulam uma experiencia inquestionável?

Por outro lado muitos homens foram afastados da cozinha pelas mulheres/mães/irmãs. Quando os homens se aventuram seriamente neste domínio nem sempre sãos bem vindos ou no mínimo são desencorajados “diplomaticamente”. Na semana passada lutava eu com um pedra para pisar malagueta numa prancha de madeira quando alguém entrou e se riu abertamente do meu jeito de fazer o trabalho. Minha companheira veio em meu socorro tentando defender-me. Recusei na altura e cinco dias depois a minha perícia melhorou bastante. Mas eu sinto que há algo mais.

As mulheres como todos os seres humanos gostam de proteger o seu território e a entrada de homens no território caseiro até há pouco tempo “exclusivo” não é pacífica sobretudo quando o homem pretende mostrar a sua “superioridade” com métodos ditos mais racionais. No fundo acho que há um certo sentimento de “vingança” quando as nossas companheiras nos corrigem sobre qualquer tarefa, quando se riem sorrateiramente ao nos verem debater com vincos que não desaparecem das calças, quando nos alertam para o poupar água ao lavar pratos, enfim quando nos mostram que afinal não somos tão competentes como pretendemos fazer crer. É que no dia-a-dia normal os homens gostam de imperar, mesmo sem qualificações para isso.

No território caseiro as lições de humildade fazem bem. Equilibram os géneros. Mas minhas irmãs, tenham paciência connosco. Ajudem-nos . Nós podemos melhorar. Precisamos de encorajamento. Vejam bem: em uma semana pisar malagueta deixou de ser uma tarefa de causar riso. Imaginem daqui à 5 anos.

10 Comments

10 Comments

  1. Pletu

    14 de Maio de 2020 at 12:03

    Muito bla bla bla meu senhor.
    Escreva um livro, organize conferencias, debates. Os senhores precisam de ser humildes e pedir desculpas ao povo santomense pelos anos de caos e dismandos e ma governacao. So assil podemos avancar e mudar o rumo das coisas no nosso pais.
    O pais perdeu indentidade e valores, infelizmente o resultado esta a vista de todos por vcs nunca saberem dar um rumo certo ao pais em termos culturais,sociais,etc…

    Os senhores tiveram todas oportunidades para organizar o pais e nada fizeram, apenas se aproveitaram para roubarem tudo.

    Infelizmente a sua geracao de politicos/governantes nada podem dar ao pais nem tem moral porque o povo ja vos conhece muito bem.

    Os senhores viciaram o sistema e a divisao entre os Santomenses.

    • Inconformado

      14 de Maio de 2020 at 12:59

      Deixa de julgar o próximo.Dr.Rafael esteve 2 anos como primeiro ministro.Apresenta provas daquilo que dizes.Bem dizia Fradique o que mata alguns santomenses é inveja.Tenho dito.
      Nota:e eu não sou adepto de ninguem mas sim um santomense que tem uma palavra de agradecimento a todos os governos que pagaram o sálario da função pública todos os meses, sem falhar, num país miserável como S.Tomé e Príncipe.

    • Pletu

      14 de Maio de 2020 at 21:19

      Como cidadao tenho direito e dever de ter a minha opiniao,da mesma forma como o senhor tem o direito a sua opiniao.
      Nao da para ter inveja desses senhores que nos governaram ate hoje.
      Eu tenho muito mais respeito e admiracao pelos nossos pescadores,palawe, vianteiros, etc que lutam todos os dias.
      Nos cidadaos temos direiro sim de criticar e exigir sempre o melhos de quem nos governou ate hoje, independentemende de A,B,C.
      Esse individo sempre esteve no corredor do poder, ministro de economia…1ministro etc… Tambem tem responsabilidade como todos desde independencia.

      O nosso Pais precisa ser repensado,com inclusao de todos. Nao da mais para continuarmos com aventureiros e adiar o nosso futuro.

  2. Sotavento

    14 de Maio de 2020 at 12:16

    Este individuo está delirando…

  3. Macalacata

    14 de Maio de 2020 at 13:08

    Vai è pastar cabra sr ladrao, gatuno ganancioso,peculato, destruidor,orgulhoso,corrupto, cara de pau.

  4. Hilario B

    14 de Maio de 2020 at 14:25

    Muito bem, palavras do melhor 1º ministro que STP já teve (de longe).

  5. estefània

    14 de Maio de 2020 at 21:52

    É uma pena, e muita vergonha da sua parte usar esse tipo de linguagem. Não quero julgar o senhor Joaquim Rafael Branco, mas nenhum dinheiro, casa, luxo entra no caixão. o senhor desempenhou papéis importantes na governação de São Tomé e Príncipe, seria prudente descrever o fez de bom para desenvolvimento deste povo e não malagueta. Porque no meu entender malagueta é o fundo da pobreza extrema, falta de oportunidades que o senhor e seus colegas dirigentes meteram o povo de São TOMÉ E Príncipe. Desde que conheci o senhor na política e nunca mais saiu de lá, é como se fosse a herança dos seus pais, nunca teve a paciência de governar pensando no futuro dos outros. Agora pede o povo que vocês desgraçaram a paciência?, já não basta a paciência que o povo tem sem revoltar contra os governantes?
    Nunca pensou em pelo menos desenvolver a saúde em São Tomé e sempre tratou no exterior e vem com este linguarejo. É muito triste. Uma vez que os homens eleitos não têm competência o povo tem que apoiar em alguma coisa que lhes dê esperança de viver tal como fé, crenças e mitos.
    gostaria que muitos que dirigiram o país ás 45 anos pensassem várias vezes e analisassem a situação em que está as suas famílias antes de se pronunciarem Deus cobra todos e pedi conta a todos de várias forma, cada um a sua vez, acredite.

  6. Púmbú

    15 de Maio de 2020 at 1:04

    Não deve estar aqui fingindo que está a pensar. Deve dizer quanto é que deve ao país. O total roubado, desviado… ao longo de todas estas décadas.

  7. Kelvin da Costa

    15 de Maio de 2020 at 7:12

    Pensando bem 1,já estou infectado, e já fugi para a minha Europa. Vocês que se danem. Pensando bem 1, ainda não deram conta que já estou bem longe daqui. Pensando bem 2. Segurem o vosso pino, que eu ja estou fora. Eu e os meus. Pensando bem. até breve ou até um dia.

  8. Alma

    15 de Maio de 2020 at 7:36

    As pessoas nem copiar sabem. A peste era conhecida por bubonica e não buconica como escreveu o autor. Todavia devo dizer que o governo em que o autor era primeiro ministro foi de longe melhor que este governo parado e sem liderança de Jorge dito Bom Jesus.

Leave a Reply

Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

To Top