Opinião

Os meus “Termos de Referência” para o próximo Presidente da República

Vamos imaginar que São Tomé e Príncipe é uma Empresas e que queremos encontrar um Presidente não executivo para dirigir essa Empresa durante os próximos 5 anos.

Na organização de uma Empresa não existe a figura de Presidente não executivo, mas sim, Administrador não executivo. Mas por analogia, neste artigo, vou dar esta designação, para diferenciar do chefe do Órgão executivo que é o Primeiro-ministro.

Alguns vão achar esta comparação disparatada. Digam o que disserem, mas apeteceu-me fazer esse exercício. Talvez a linguagem possa ser acessível a algumas pessoas que teimam a não entender que o Pais precisa de ser bem gerido tal como uma Empresa lucrativa. E não pensem que estou a exagerar porque há muitos Países no mundo com empresas com muito mais de 200.000 trabalhadores. Apenas um exemplo: A Empresa WALMART, com origem nos EUA, tem 2.200.000 empregados.

Estando nas vésperas das eleições Presidenciais, quero deixar o meu pensamento sobre o perfil que deve ter o nosso futuro Presidenta ou Presidente da Republica.

Vamos então preparar os «Termos de Referencia» para o Posto, que vou passar a chamar “Presidente não executivo”, de acordo com o Estatuto Social, Regulamentos e outras normas constitutivas da Empresa, equiparados a [Constituição da República e outras Leis].

Uma das lacunas dos «Termos de referência» existentes é que não se exige aos candidatos Curriculum Vitae, nem se impõe certas condições de participação, a meu ver, muito importantes. A única condição para ser Presidente não executivo na Empresa é ser são-tomense de origem e ter 35 anos de idade, condições que acho manifestamente insuficientes.

Nem quero referir na formação académica dos candidatos, que embora seja um item importante, acho que não é decisivo para um cargo eminentemente “político”. Mas tem que ser necessariamente alguém com experiencia de vida, experiencia política, provas de boas qualidades humanas, capacidade de liderança, proporcionador de consensos, enfim, que seja um árbitro justo e que tenha como objetivo único a defesa dos interesses supremos da Empresa e dos seus mais de 200.000 empregados.

Espero igualmente que o futuro Presidente não executivo seja uma pessoa idónea, conhecedor dos procedimentos administrativos, que tenha boa reputação, que não tenha sido condenado por corrupção, ou que tenha um processos pendentes de corrupção por resolver nos Tribunais.

Não deve ser alguém que defenda interesses que não tem nada a ver com a Empresa, nem de individualidades cujo objetivo é aproveitar o nome da Empresa para os seus interesses particulares. Para isso, o futuro Presidente não executivo tem que cumprir e fazer cumprir o Estatuto Social, Regulamentos e outras normas da Empresa.

Como se trata de uma Empresas com grandes problemas económicos, financeiros, sociais, organizacionais e estruturais, daí a necessidade de se encontrar um Presidente não executivo com qualidades acima requeridas para tirar a Empresas do fosso em que se encontra.

Como o Presidente não executivo não pode decidir sozinho, porque não domina todas as áreas, deve ter assessores competentes e experientes, com conhecimento profundo das áreas pelas quais foram contratados.

O Presidente não executivo não deve ter assessores que não tenham utilidade prática, só para preencher vagas ou obter tachos para subcarregar o erário da Empresa já em si debilitada.

Acho que se deve rever a equipa de assessoria do Presidente não executivo que me afigura excessiva para uma Empresas quase em falência.

Diga-se de passagem que o excesso de assessores, diretores e outros colaboradores da Empresa, não se verifica apenas na Presidência não executiva, mas também nos órgãos executivos e toda a administração da Empresa.

Como já não vamos a tempo para fazer uma profunda reforma administrativa da Empresa, que tem sido o meu cavalo-de-batalha e não me canso de insistir nela, e porque nem sei se haverá vontade politica para fazer tal reforma, peço ao novo Presidente não executivo para recrutar apenas quadros necessários de modo a poupar a Empresas de sobrecargas de despesas.

É uma questão de pensar na realidade calamitosa em que vive a Empresa, e que agravou-se mais nesta fase pandémica do Covid 19.

A maneira como vejo os gestores da Empresa a lidarem com as finanças da mesma, eu pergunto: será que as pessoas têm a consciência de que estão a gerir uma Empresa quase falida? Não se aperceberam ainda que a Empresa vive de empréstimos e de subsídios, e que devem desenvolver uma política de contenção das despesas e fazer uma boa gestão de modo a tornar-lha viável num futuro proximo? É preciso não perder de vista que quando se constitui uma Empresas não é para produzir prejuízo mas sim, para dar lucros e a tornar próspera para o bem do seu crescimento e da melhoria da vida dos seus empregados.

O futuro Presidente não executivo, deve ser diferente aos anteriores. Não deve importar mais viaturas de luxo e bens inúteis. Deve usar a sua magistratura de influência junto do Executivo e todos Órgãos dirigentes da Empresa para proibir a importação destas viaturas e outros bens de luxo que tem pouca utilidade para os serviços e só satisfaz o luxo dos seus utilizadores. Não me venham dizer que é para dar dignidade as entidades que as utilizam. Há viaturas ligeiras de baixo custo que tem a mesma dignidade que um jipe Pagero cujo valor a Empresa não suporta.

Se for necessário adquirir viaturas para funções e expedientes, que sejam ligeiras, de baixo custo, compatíveis com a realidade económica da Empresa. A Empresa não deve viver acima das suas possibilidades. Os dirigentes e os empregados da Empresa devem ter essa consciência.

Invistam mais em equipamentos e infraestruturas com o objetivo de favorecer o crescimento da Empresa, de modo a proporcionar o bem-estar dos trabalhadores.

Há algumas práticas usadas até agora pelos Presidentes não executivos, que acho desnecessário e sem alguma utilidade pratica, que a meu ver deviam ser banidas porque servem apenas para onerar mais despesas para Empresas.

Confesso que não gosto nada de ver Guarda-costas (militar fardado) posicionado de forma ostensiva atras dos Presidentes não executivos. É uma prática ainda utilizada em alguns Países mas que está a cair em desuso, sobretudo em Países Ocidentais democráticos. É a conservação de um simbolismo de uma prática conservadora herdada do período medieval e que não tem nada a ver com a nossa cultura. Acabem com isso por favor!

Não me refiro ao Corpo de Segurança dos Governantes que são fundamentais para a sua proteção. Mas mesmo estes, devem posicionar-se de forma discreta, pois, hoje, a técnica evoluiu muito neste sentido.

Como disse anteriormente, os assessores do Presidente não executivo devem ser personalidades com larga experiencia profissional e com profundo conhecimento da área onde vão assessorar. A competência deve ser o requisito fundamental para ocupar o cargo, antes de amizades, relações familiares, sensibilidade política e religiosa e outros interesses alheios ao trabalho.

O Presidente não executivo deve considerar sempre os pareceres dos assessores, sendo que, como é óbvio, a ultima decisão deve ser dele.

Mesmo quando tenha dúvidas deve discuti-las com os assessores antes de decidir. Os pareceres devem ser sempre baseados nos estatutos sociais e nas normas que regem a Empresas. A Empresas não precisa de um Presidente não executivo que “assina só”, nem que dificulta o trabalho dos Órgãos executivos. Deve sempre ponderar as decisões que toma.

Toda a direção da Empresas deve trabalhar em colaboração dentro das suas competências, com base num diálogo franco e aberto, para o bem da Empresa.

Apraz-me constatar que já se perfilam muitos potenciais interessados ao Posto. É bom porque, quanto mais candidatos houver, melhor será a escolha.

Estamos ansiosos para conhecer os seus Manifestos Eleitorais, para cada um decidir de acordo com a sua consciência, sem recurso aos fenómenos “banho”, “boca de urna” e outros meios fraudulentos.

São Tomé, 4 de Fevereiro de 2021

Fernando Simão

9 Comments

9 Comments

  1. Terra Boa

    5 de Fevereiro de 2021 at 16:35

    ” Espero igualmente que o futuro Presidente não executivo seja uma pessoa idónea, conhecedor dos procedimentos administrativos, que tenha boa reputação, que não tenha sido condenado por corrupção, ou que tenha um processos pendentes de corrupção por resolver nos Tribunais “. Delfim Neves, tome a nota…

  2. Epifanio Costa

    6 de Fevereiro de 2021 at 7:01

    Excelente abordagem!
    Recomendo a adopção desta metodologia no recrutamento dos demais postos de direção da Empresa STP.
    Os Termos de Referência, ainda que de forma implícita, são indispensáveis para a correta definição do perfil de qualquer candidato a um posto de direção.
    Concordo igualmente com a necessidade do candidato fazer a apresentação pública do seu CV e de um documento a explicar as suas ideias para o exercício da função.

  3. matabala

    6 de Fevereiro de 2021 at 8:35

    ora bem…concordo com quase tudo menos : “Apraz-me constatar que já se perfilam muitos potenciais interessados ao Posto. É bom porque, quanto mais candidatos houver, melhor será a escolha.”…explico o desacordo: em primeiro, para quê tantos candidatos se nenhum dos que se apresentam reunem os requisitos de credibilidade, honestidade e idoneadade que o meu caro falou e falou bem como sendo essenciais para um futuro PR? Nenhum deles tem ficha limpa…já os conhecemos há mais de 40 anos-logo não será melhor a escolha, pois estamos a escolher entre o mau, o pessimo e o pior! Em segundo o facto de serem muitos a querer o poleiro só me deixa intrigado pois certamente esta coisa de politica tem muito mel para tanta abelha interessada em lamber o pote! E abelha gasta, cansada e já bem conhecida que nada de novo irá trazer e sim mais do mesmo há 45 anos: pobreza generalizada, mendicidade, nepotismo, corrupção e mérito á mediocridade!!! O meu caro contenta-se com pouco. Temos de ser mais ambiciosos e exigir muito mais! Se o meu caro quer ver figura que preencha todos os items que falou lhe garanto que não vai encontrar NEM UM que sirva no meio dessa lista de candidatos que já se manifestaram ! Caras novas, sangue novo e sem antecedentes de bandidagem…se queremos escrever uma nova história não podemos insistir em actores antigos!

    • Fernando Simão

      7 de Fevereiro de 2021 at 19:58

      Meu caro, estamos perante um dilema.
      Os presumíveis bons candidatos não dão a cara, não se candidatam, ou pelo menos não apareceram até agora. O problema é que temos que eleger um Presidente da República. Quid Juris?

    • matabala

      10 de Fevereiro de 2021 at 9:58

      Votamos em branco ou elevamos a abstenção de tal maneira que as eleições perdem legitimidade. será a melhor resposta a dar a todos esses candidato sem vergonha que ainda julgam que este país é composto por gente do tipo relógio sem cabeça.não podemos impedi-los de se candidatar, mas também não temos de ser reféns da meia duzia que se chegam na frente por razões de ganancia e sede de poder.

  4. hilario costa

    7 de Fevereiro de 2021 at 17:28

    Mais um.
    Este falou tanto mais falou nada. Só palhas.
    É melhor não dar opiniões.

  5. Toni

    7 de Fevereiro de 2021 at 19:52

    Excelente análise!!

    Mas iria mais longe, I.é., devia se entregar a governação de Stp a uma equipe de gestão através de concurso de gestores profissionais e internacionais. Não seria difícil para eles efectuarem o trabalho para um universo de 200 mil habitantes, extensão territorial de 1000 km2 e com riqueza natural. Enfim seria um projecto a 10 anos e o país sim desenvolveria.

    Começava por privatizar Emae, Enaport, Enasa, é que os privados querem é obter dividendos, assim se calhar não haveria falta de energia, porque sem energia não facturavam, iriam desenvolver as energias renováveis para acabar com custos diabólicos de diesel. O Porto iria trabalhar no sentido de ser lucrativo e eficiente assim como o aeroporto seja para passageiros ou muito importante para carga, isto essencial para a economia de Stp.

    Só com isto acaba a mísera corrupção e os tachos para a família.

    Enquanto não puseram a competência acima de tudo nada vai acontecer.

    Quer se goste ou não, Stp é do tamanho de alguns concelhos de Portugal, e com muito menos habitantes. Não é que seja uma boa comparação mas é a realidade. E com os dinheiros que já entraram em Stp desde a Independência só poderia set um país estável e verdadeiramente independente. Hoje não é!!!!

    Stp da maneira como é gerido, não tem condições para ser independente. O povo vive muito mal.

  6. Toni

    7 de Fevereiro de 2021 at 20:01

    Desculpem não terminei.

    10 anos para o resultado ver se numa geração, e depois entregar a uma nova geração de governantes devidamente formada e bem extruturada, penso que seria o melhor caminho.
    Obrigado

  7. Manuel Queirós dos Anjos

    8 de Fevereiro de 2021 at 13:41

    Muito bem. Acho sensato.
    A titulo de exemplo:
    O MLSTP, tem 5 candidatos, mas quase todos eles ou todos restam muito a dize.
    Maria das Neves( acho não ser pessoa certa)Não ela lá muito inteligente e capaz. Faz-se de..Para além de ser desonesta e malandra.

    Posser da Costa- Homem experto e competente. Mas, muito trafulha. Ele deve primeiro, desfazer-se do espaço público dos citadinos de Agua Grande, e depois dar cara;
    Jorge Amado- Acho que está a perder tempo. Não tem tarimba para tal.
    Victor Monteiro- Bom rapaz, quer estar de bem com todos, mas não tem competência nem sabedoria-Está a faltar povo com respeito. Já basta Evaristo que nos puseram;
    Elsa Pinto-Competente, mulher de garra, mas tem um lado mau, é um pouco maluca e gosta de dar Colotes. Se calhar devia ser o mau habito do seu falecido esposo que lhe inspirava.

    Outros que se pronunciaram:
    Elsa Garrido- Mulher de garra, parece ter alguma esperteza, mas não tem provas dadas com trabalho. Inexperiente e não sabe o que é familia. Quando assim for, o povo é que sofre;
    Carlos Pires Tiny- Competente, visionario e bom rapaz. Mas muito arrogante .
    Fui

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