Opinião

As três camisas de Força

AS TRÊS CAMISAS DE FORÇA Ao ler no TÉLA NÓN a informação: PNUD FINANCIA ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS em STP,” lembrei-me da declaração feita pelo ilustre Secretário Geral da UCCLA e também publicado no TÉLA NÓN. Na referida declaração feita no dia 25 de Maio, dia de Africa, o Senhor Secretário Geral, a dado passo da sua intervenção e em alusão ao processo democrático em curso nesse continente, afirmou, cito:

“HÁ QUE, PORÉM, FAZER NOTAR QUE AS ELEIÇÕES DEMOCRÁTICAS EM AFRICA ESTIVERAM LONGE DE CONDUZIR A ESTABILIZAÇÃO POLÍTICA DOS PAÍSES, COMO A REALIDADE VEIO A EVIDENCIAR…ISTO PORQUE NÃO SE TEVE EM ATENÇÃO QUE A REALIDADE DIFERENCIADA DOS PAÍSES NÃO DEVERIA, NEM PODERIA IMPOR A TRANSPOSIÇÃO MECANICISTA DA DEMOCRACIA, SEM CONSIDERAÇÃO PELA ESPECIFICIDADE CONCRETA DO DESTINATÁRIO” Fim da citação.

De acordo consigo Sr. Secretário-geral. O Senhor deve, no entanto, ter-se esquecido que a referida transposição mecanicista não foi feita com a preocupação de beneficiar aos destinatários. Ela não representa senão a fase de execução de uma estratégia previamente concebida, elaborada e já em vias de execução nos chamados países do terceiro mundo.

Mas a mesma só começou a ser implementada com alguma aceleração a partir dos anos noventa do século passado nos países do “terceiro mundo” e, sobretudo, nos países africanos. A sua implantação foi facilitada pelo regresso em força do mundo unipolar, resultante da desagregação da União Soviética e do consequente desmoronamento do bloco dos países socialistas da Europa.

Ao longo da História universal as potências dominantes impuseram aos territórios africanos conquistados TRÊS TIPOS DE CAMISAS DE FORÇA:ESCRAVATURA, COLONIALISMO, e, depois da independência, a DEMOCRACIA. O objectivo principal foi, e continua a ser, assegurar, por um lado, o controlo da exploração das principais fontes de matérias primas e, por outro, mercados para os produtos manufacturados, vitais para a sua s o b r e v i v ê n c i a c o m o p o t ê n c i a s d o m i n a n t e s . R e c a p i t u l a n d o : a s t r ê s c a m i s a s d e f o r ç a s ã o : E S C R A V A T U R A , C O L O N I A L I S M O , D E M O C R A C I A .

A primeira camisa de força imposta aos africanos foi a ESCRAVATURA. A abolição da escravatura resultou essencialmente, como é sabido, das mudanças históricas ocorridas nas potências dominantes, com a revolução industrial e o reforço do poderio das burguesias nacionais que, por razões económicas, não estavam interessadas na exploração do trabalho da mão-de-obra escrava.

A nova força social então dominante, a BURGUESIA estava mais interessada na compra da força de trabalho de” homens livres”, desprovidos dos meios de produção e possuindo como único meio de sobrevivência, a sua força de trabalho. Entretanto nos territórios africanos, aos escravos libertos “mudaram-lhes a camisa”e passaram a trabalhar com o estatuto de CONTRATADOS, uma forma deslavada da escravatura. Em 1917, com a revolução bolchevista na Rússia, as potências dominantes do Ocidente sofreram um primeiro abalo. E com a derrota da Alemanha nazi e o surgimento do novo bloco de países socialistas, o mundo bipolarizou-se, favorecendo assim a criação de condições objectivas e subjectivas favoráveis á intensificação da luta de libertação nos territórios então colonizados.

As independências dos territórios colonizados, sobretudo em África, aceleradas a partir dos anos 60 do século passado, num mundo então bipolarizado e mergulhado numa luta hegemónica entre os dois blocos, constituíam sérios motivos de preocupação das potências dominantes do “primeiro mundo”.E perante a rápida evolução da luta de libertação nos territórios coloniais as potências dominantes, para melhor protegerem os seus interesses, entenderam que seria estrategicamente mais acertado negociar com os movimentos de libertação nacional, até então catalogados pelos mesmos de movimentos terroristas, e negociar sobretudo, defendiam os mesmos, com os Movimentos de Libertação mais representativos, com aqueles que tinham “mais povo”.

Conquistada a independência, os novos países africanos, a maioria, com o acordo tácito das próprias potências coloniais, optaram por um regime de Partido único. O Poder colonial estava esperançado nos efeitos destabilizadores das “prendas”envenenadas que deixava como herança ao novo Poder, ás forças nacionalistas.

Com efeito, durante a colonização, as potências coloniais manipularam e fomentaram artificialmente rivalidades tribais, com o objectivo de dividir para melhor reinar. Como consequência dessa operação, até a data, na maioria dos países africanos, o sentimento de pertença tribal ainda prevalece sobre o nacional, o que vem dificultando sobremaneira, na maioria desses países independentes, o indispensável entendimento entre as forças políticas nacionais ,de modo a estarem mais bem preparadas para enfrentar com sucesso a luta contra a pobreza, pelo desenvolvimento nacional. A verdade é que, sob pressão da luta de libertação, não restava às potências coloniais, no mundo bipolarizado, outra alternativa.

Receavam que os países outrora colonizados, sob a influência do novo bloco socialistas, e ainda motivados pelas cargas do passado, pudessem por em perigo os seus interesses vitais nas antigas colónias. Havia que reagir rapidamente e de forma concertada. E foi o que aconteceu.Com efeito, a TERCEIRA CAMISA DE FORÇA “pronto-a-vestir,” imposta aos países outrora colonizados, não resultou de uma qualquer evolução interna das sociedades nesses países.

A TERCEIRA CAMISA DE FORÇA é, sem dúvidas, um instrumento de estratégia das potências dominantes que aprenderam com a prática, que os intermináveis golpes de Estado, tantas vezes incentivados e apoiados por elas, já não eram suficientes para manter no poder regimes favoráveis a manutenção dos interesses vitais da Metrópole. A implantação da TERCEIRA CAMISA DE FORÇA”pronto-a-vestir”, nos países do chamado terceiro mundo, sobretudo em Africa, tinha como principal objectivo amarrá-los ideologicamente.

Essa operação ficou facilitada com a nova relação de forças surgida com o desmoronamento do bloco dos países socialistas da Europa ,por um lado e, por outro, pelo recrudescimento da luta interna pelo poder, entre os Partidos políticos.Com a implantação da DEMOCRACIA ,sobretudo em África, estava inaugurada outra forma de luta,”mais civilizada,”entre os diferentes grupos de interesses ,em substituição da luta tribal.

O que é verdade incontestável é que a democratização é um processo universal. Resta no entanto saber se, na maioria dos países do “terceiro mundo,” estariam criadas condições objectivas e subjectivas suficientes que lhes permitam vestir, sem percalços, a terceira camisa “pronto-a-vestir. A maioria dos países africanos, outrora colonizados, ainda não está nem estruturalmente, nem economicamente, nem politicamente devidamente preparada para envergar, livre de consequências adversas, a TERCEIRA CAMISA DE FORÇA “pronto á vestir”. .

Há no entanto que assinalar que o mundo unipolar reinstalado desde o fim dos anos oitenta do século passado, com a desagregação da União Soviética e o consequente desmoronamento do bloco dos países socialistas da Europa, por um lado, assim como com a consolidação dos Estado Unidos de América como potência hegemónica, por outro, entrou em agonia, evoluindo aceleradamente para o seu fim. Paralelamente estamos perante o gradual surgimento e consolidação de uma nova ordem mundial, com o surgimento de um mundo multipolar.

A nova relação de forças daí resultante está criando condições mais apropriadas e favoráveis a implantação, sem imposições de terceiros, da DEMOCRACIA nos países africanos. Creio que, devidamente configurada e adaptada ás realidades objectivas e subjectivas prevalecentes em cada um dos países destinatários, a TERCEIRA CAMISA DE FORÇA, a DEMOCRACIA poderá vir a transformar-se num importante instrumento de mobilização nacional de toda a sociedade, garantindo desse modo, e no respeito pelas diferenças, a indispensável participação organizada de todos os cidadãos nacionais no tão desejado processo de desenvolvimento nacional. A Democracia poderá vir transformar-se num instrumento eficaz e indispensável para fazer crescer e desenvolver de forma sustentável a sociedade nos países outrora colonizados.

Talvez não seja demais relembrar, ao encerrar, que a DEMOCRACIA, na maioria esmagadora dos países europeus do Ocidente, não caiu de pára-quedas Foi o resultado de um longo processo de evolução cheio de contradições, com guerras e revoluções. O caminho foi longo e ainda hoje com alguns espinhos. É evidente que, nas actuais condições do mundo moderno, os países outrora colonizados não terão nem que declarar guerras nem fazer revoluções para chegarem á DEMOCRACIA.

A História não anda para trás! Submetidos durante séculos a várias formas de opressão, os povos dos países do “terceiro mundo” saberão escolher com segurança, sem guerras nem revoluções, o caminho da LIBERDADE. Só têm que proceder a múltiplas reformas de modo a estarem em devidas condições estruturais e políticas para poderem usufruir dos benefícios da DEMOCRACIA.

MANUEL PINTO DA COSTA

Veja o artigo em formato PDF – tres camisas de força cópia final

 

 

9 Comments

9 Comments

  1. SANTOMÉ+CU+PLIXIMPE

    3 de Janeiro de 2022 at 11:13

    Pura verdade, obrigado srº Presidente..

  2. Sem assunto

    3 de Janeiro de 2022 at 12:15

    Toda está disposição para escrita destas e outras bagatelas resumem se em :
    – Narcisismo exacerbado, ou seja o senhor acredita ser o único sábio deste país, a única pessoa capaz de mudar o rumo das coisas, todavia teve 20 anos para fazer a diferença e muito pouco ou nada de palpável se viu,
    – Ausência de preocupação no que concerne a sua subsistência como pessoa, dito de forma simples, o Estado vem custeando tudo e mais alguma coisa para o senhor desde 1975, já lá vão 47 anos, deves ser uma das individualidades a ser alimentada a custa do povo há mais tempo na história da humanidade, só perdes para a Rainha de Inglaterra,
    – Nação atrasada e retardada que ao invês de buscarem novas diretrizes de sobrivivência num mundo tão vasto, vivem adorando e bajulando figuras como o senhor, Miguel Trovoada, Fradique, Patrice Trovoada, Delfim Neves entre outros, dando vos motivos para que sempre que podem nos perturbar ora com escandalos, ora com estas bassuras de artigos como este etc.
    Sabe camarada Pinto da Costa, não sejas casmurros, poupe nos da sua esquizofrenia, é da idade entendemos, porém não podemos fazer nada a respeito!

    • Guiducha

      3 de Janeiro de 2022 at 22:56

      Sem ASSUNTO,o seu comentário é incontestávelmente EXCELENTE. Concordo absolutamente com o que descreve…aliás, trata-se de uma constatação, todos eles que você citou foram ÚNICAMENTE presidentes por AMBIÇÃO do PODER e por interesse pessoal,e nada mais…foram todos inutéis para STP e o seu povo,mas os piores serão sempre os TROVOADA que regressaram do ASILO (França),e instalaram o ÔDIO, o RANCOR e instalaram o espírito de VINGANÇA. Este conjunto de sentimento RUIM ruinou bastante o país, envenenando a atmosfera montando uns contra os outros . Contra os factos não há argumentos.
      Muito obrigada.

  3. Gregorio+Furtado+Amado

    3 de Janeiro de 2022 at 13:11

    Um raciocinio bom mas não original. O que nós queremos saber e o que aconteceu com CLSTP de Libreville. Funcionou? Porquê que Miguel recusou receber Guadalupe em Libreville impondo-lhe um regresso forçado a S.Tome?será que foi na sequência das manobras imperialistas que estão na origem de eliminação de vários líderes africanos entre eles o saudoso Amílcar Cabral?

  4. Macalacata

    3 de Janeiro de 2022 at 13:19

    Oh Pinto.
    Num momento em que as feridas da enchanted ainda se sente por todo paìs, vocè aparece para falar sobre secretario geral da UCCLA,das coisas com mais de um sèculo em vez de concentrar na caòtica situaçao que o paìs atravessa onde o senhor nào està isento de culpas???
    Seja mais inteligente ou mantem calado.

    Nao tenho nada contra se, mais desta vez a sua escrita è um conjunto de ideias vazias.

    Fui

  5. Mepoçom

    3 de Janeiro de 2022 at 19:09

    A reflexão deste senhor baseia-se na experiência vivida, tudo bem. Será que ele não prestou vassalagem aos dominadores? Quem não lhe conhece e não viveu o seu sacrifício, apoia… Senhor, por favor vive os seus últimos tempos, apesar de ter saúde de ferro como afirmara numa reportagem. Deixa de criar confusão e apontar dedos aos outros, enquanto faz o papel de fingui (ratinho pequeno), como diz na nossa linguagem crioula: “cá modê, cá soplá”, ripito, goza da sua riqueza camuflada, enquanto neste planeta Terra viver. Bom Ano. M

  6. Lima

    4 de Janeiro de 2022 at 11:13

    Pois é tudo o que foi dito foi e continua sendo uma realidade.
    Sera que esse presidente na altura poderia rer esse discurso ou essa reflecao?Hoje ele escreve isso e para quem compreende podemos estar de acordo com ele mas fazendo-lhe certas perguntas:1-Por que razoes o senhor presidente nao informou os menos informados sobre tudo isso?
    2-Sera que essa democracia nos serviu?
    3-Com que forca a Africa em geral pode combater para que na realidade ela possa ser livre e democracia,para que ela possa usurgruire das suas riquezas sem controlo de numa potencia estrageira?
    O senhor presidente tem contacto com os seus complices acerca disso?
    Como se diz nunca é tarde.Mas cale tarde do que nunca.Ingormar os jovens criar neles o espirito averti serem conhecedores dos valores mouais eticos e economico da Africa.Nao dar exemplo de pessoas so interessadas em si mais que teem interesseso pela nacao é pela Africa em geral.
    Suando o senhor esteve no poder disse que deveriamos acabar com:primeiro eu,segundo eu e resto se sobrar.Mas felizmente foi o que aconteceu e continua acontecendo.
    Pois é verdade que nao somos um pais rico ou muito rico em materias primas mas temos o suficiente para fazer viver 200000 pessoas se o igoismo asuilo que na terra diz-se”flontado” nao fosse o nosso maior inimigo.
    Pois é senhor presidente embora ja nao necessitando de grandes coisas pergunto-lhe eu sera que deixou de aceitar ou usurgruire de todas ou certas regalia que lhe confère o seu estatuto de um ex presidente da republica?
    Todos esses don que dizem receber monetariamente e que o senhor é os seus viver nos respetivos receberam o que foram feito deles?Quantos hospitais foram construidos?Quantos materias hospitalario foram comprado?Qual foi o interesse do pais com o facto do senhor ter-se deixado corrompre pelos coruptos que hoje denuncia?
    Quero pensar qu’à a sua juventude de outrora,a sua falta de experiencia venha a ser o que pode desculpar-lhe hoje.
    Nao estou contra a sua analise,espero somente que ela seje publicadas a nivel nacional como internacional.
    Nao tenha medo nem para si nem para os outros,mas é dizendo essas verdade gritandos alto é forte que talvez possamos um dia sermos livres indépendantes e numa verdadeira democracia.Nao confundir democracia com anarquia como o que se passa hoje no nosso pais.

  7. Nanana

    4 de Janeiro de 2022 at 20:04

    Obrigada Sr. Presidente pelo seu artigo de reflexão.
    Quero lhe pedir que continue a escrever e deixar-nos a sua visão, a sua experiência e sapiência. OBRIGADA!

    Pobre do povo que não bebe da sabedoria dos seus mais velhos, sejam eles bonitos, bons, maus ou feios, ricos ou pobres…
    Temos que reaprender a respeitar os nossos idosos.
    Cabe à nós mais novos, acolher, triar, filtrar e agradecer por Tudo o que Vocês têm a dizer e para nos ensinar.
    Se não ouvirmos e acolhermos o que os mais velhos têm para nos dizer, seremos analfabetos de grande parte da Nossa História e da nossa cultura.
    Não tenho duvidas sobre isso.

    Bem haja e Bom Ano à Todos

  8. SEMPRE AMIGO

    17 de Janeiro de 2023 at 18:02

    Quase todos os comentadores deste artigo do Dr.Pinto da Costa,das duas uma (espero que não sejam as duas): Ou nem sequer leram o artigo ou não estão intelectualmente apetrechados para entenderem o que “soletraram”.

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