Opinião

Normalização do vazio na Ação Democrática In(Dependente) à mea-culpa de Vila Nova

Desde a infância que o ensejo de coscuvilhar certos atos para passar a informação detalhada, de um acidente automóvel até à agressão física, em contexto de maior ou menor gravidade, eram desaconselhados pela educação caseira de forma a evitar, subir as escadas da justiça na qualidade de testemunhas. O réu podia ser liberto por cingir-se à realidade objetiva, assumindo a culpa e, a testemunha, engaiolada criminalmente, devido à acomodação da mentira, em boa fé de defesa das partes ou na inconsciência de ludibriar o juiz.

Embora o atestado de menoridade à inteligência dos são-tomenses, não merecesse condecoração na convivência democrática, transporta-se o expediente ao IXo. Congresso de ADI e, pior, para lá de porta partidária. Nenhum residente, intimado a declarar verdade, viu nos anos recentes, o autoritarismo, o clientilismo, a perseguição, a arbitrariedade e a mediocridade dos governos chefiados por Patrice Trovoada, especialmente, em  2010/12 e 2014/18. A estreia, 2008, em que encabeçou o governo do Presidente Fradique Menezes, não foram suficientes de exibir a habilidade continental.

Não menos alucinante, a memória curta dos são-tomenses, vergou-se aos vocábulos de luxo, sabedoria, modernidade e performance política, símbolos adjudicados ao líder do partido, pelas ausências no país, sempre que não está no poder governativo e agora, já lá vão, quase quatro anos, se é que se recorda dos seus governos, serviram para extorquir os fundos públicos com a escumalha e administrar a política executiva, sem responsabilização, a partir de avião ou estrangeiro, paga pelo Tesouro são-tomense.

Fustigados pelas más políticas públicas continuadas e, o não direcionamento do país à prosperidade pelo XVIIo. Governo que lançou pedras de mega-projetos, nenhum só iniciado a construção para inaugurações, dinamização de economia e empregos, deve-se repescar os testemunhos para refrescar a memória. Fastidioso, mas vale ao que vale, a pena!

Alguém se recorda do desembarque, após a voluntária expatriação, 2012/14, encenado na derradeira campanha eleitoral legislativa, escoltado num voo privado pela imprensa e pelos padrinhos portugueses, os deputados Mário Ruivo e João Portugal, do Partido Socialista, Nuno Serra, do Partido Social Democrata e José Ribeiro e Castro, do Centro Democrático e Social-Partido Popular, este histórico partido desaparecido do parlamento português, substituído pela vergonhosa direita extremista, nas últimas legislativas de 30 de Janeiro, ganhas por maioria absoluta pelo PS de António Costa? Não!

Tem em mente do povo oferecer a maioria absoluta ao partido no domingo e o seu presidente, subir o avião no dia imediato, adiando “sine die” a tomada de posse do XVIo. Governo, na expetativa de ser coberto primeiro de imunidade parlamentar, ausente na cerimónia, para depois regressar ao país? Não. Ninguém viu e nem recorda de nada, talvez Levy Nazaré, quem dava o peito às balas democráticas lançadas pelos adversários.

Alguém se recorda das tropas ruandesas, em São Tomé e Príncipe, para escoltar o chefe do executivo e de forma musculada fazer calar os opositores e a opinião livre? Não. Tem a vaga ideia de fugas do 1o. Ministro aos jornalistas e confrontos parlamentares? Não. Alguém tem na memória o paradeiro dos luxuosos catamarans comprados para ligar as duas ilhas, prometidos a minorar a dupla insularidade das populações do Príncipe, a biósfera da minha avó Maria Preta Lavres que, sazonalmente, morrem afogadas pelo faz-de-contas dos governos? Não. Talvez Tozé Cassandra, o antigo presidente do governo regional.

Alguém se recorda em quatro anos de maioria absoluta, nem saiu de papel a agenda de chegada ao Dubai, prometida para a luxuosa inauguração, em 2030? Não. Quem se lembra dos governos e parlamentares de ADI, relegarem as mulheres ao segundo plano? Ninguém. Talvez Celmira Sacramento e Orlando Mata, vices sem pastas e, Américo Ramos, Secretário-Geral do partido, promovidos do anterior Congresso.  

Em três dias consecutivos, sexta-feira, sábado e domingo, a RDP África, fez o que cabe ao órgão de informação, ao serviço da democracia, animando os ouvintes com a assembleia de ADI, para lá do Congresso de PAICV e a cansativa guerra Rússia-Ucrânia, que já entrou no 48o. dia com as sequelas de assassinatos hediondos de vidas humanas e destruição de infraestruturas. A guerra Ocidente-Leste, por um trim, custava sacrifício de recandidatura eleitoral ao presidente francês, Emmanuel Macron.

O liberal que os franceses vão dar a chance de mais cinco anos no comando dos destinos do país e da Europa, apenas entrou na corrida duas semanas antes do escrutínio do último domingo, dia 10 de Abril. Todavia, apesar do terreno livre deixado aos extremistas da direita e esquerda que retiraram os benefícios também do alto custo de vida, conseguiu passar a segunda volta, com 28,1% de votos, à frente de Marine Le Pen, 23,3%, com quem vai disputar o “Palais de l’Élysée”. A esquerda com Jean-Luc Mélenchon, 22,0%, ficou em terceiro e fora da corrida presidencial, calendarizada para o domingo, 24 de Abril.

O Congresso de ADI que ratificou o anterior, chumbado pelo Acórdão do Tribunal Constitucional de São Tomé e Príncipe, em 2020, devido às incongruências para com a eleição do líder por “aclamação e mãos no ar”, não previstas nos estatutos, permitiu o absolutismo eleitoral no último sábado, 9 do corrente mês que reelegeu Patrice Trovoada com 99,8% dos votos. Dos 704 votantes, maioritariamente, de força na gala e abaixo de 30 anos, desempregados e sem perspetivas produtivas, apenas um voto nulo, encomendado, impediu a nova “aclamação do chefe”, mas não evitou a cruxificação à ditadura do partido.

Apesar da surdez, oportuno repescar de Março de 2020, o aconselhamento na primeira pessoa, doutor Carlos Tiny, o brilhante jovem da ex-Cívica, o movimento académico pro-independência de São Tomé e Príncipe, antigo ministro da Saúde e das Relações Internacionais e Comunidades, candidato presidencial, em 2001, diplomata nas capitais europeias e africanas e representante da OMS, em Cabo Verde e Moçambique e, apresentar os devidos pêsames à família e aos familiares enlutados, pelo falecimento do médico, aos 72 anos de idade, ocorrido no dia anterior ao Congresso, 8 de Abril, em Portugal:

Na política e em particular na construção de uma nação, as gerações se sucedem…

É que em STP, os partidos atuais são mais parte do problema do que parte da solução… Se faz como então?

É bom que as gerações mais jovens saibam que na política não há vazio.

Não podemos cometer os erros do passado, reduzir a juventude a caixas de ressonância de práticas e erros dos mais velhos. Isso seria um erro de lesa pátria! Mas, infelizmente, é isso que vejo acontecendo hoje” com MLSTP/PSD, PCD, MDFM-PL e ADI, os partidos de lideranças governativas, alternadas, desde a instalação da democracia, 1990/91, nas ilhas.

Por mais arranjo, a mentira tem pernas curtas. Para não bater palmas ao presidente reconfigurado, a partir do vídeo do estrangeiro, os ávidos a candidatar-se à liderança partidária e corrida legislativa, preferiram engrossar os 200 ausentes da sala do Palácio de Congressos, dos publicitados, 900 delegados à assembleia partidária. Por represália ou não, ao invés de usarem a máscara pandémica, sem direito à palavra, as duas centenas de militantes, escolheram manter-se em banho-maria, com a óptica na vitória do partido nas eleições de 25 de Setembro. Basta recordar uma conterrânea, em cólera, na segunda-feira, a seguir a vitória legislativa absoluta, 2014, com o desabafo e dedo acusador ao seu diretor administrativo: “Esse gajo não deu cara, nem mexeu uma palha ao favor do partido. Hoje, o tipo aparece de nossa camisola, em substituição do rigor fato e gravata de costume!? Tás a ver, com os teus olhos, a nova forma dos oportunistas fazerem a política para o sustento do tacho?” 

Vi-me cabisbaixo na ressaca do Congresso de último sábado e confrontado com os atos eleitorais que legitimaram Robert Mugabe, antigo Presidente de Zimbabué, país ainda sob as sanções  económicas ocidentais, derivado de violência e fraude eleitoral, há mais de duas décadas atrás, a injustiça reclamada pelo atual Presidente Emmerson Mnangagwa, no discurso proferido, em 2019, aquando do debate da 74.ª Assembleia-geral da ONU, Fidel Castro, antigo e respeitável estadista de Cuba, amiga da África e outros signatários de doutrinas sociais, ao jeito deles, sempre eleitos a roçar os 100%.

Os “ADIstas”, órfãos e sem máscaras, na opção de clientilismo cego, não prestaram bom-serviço à democracia são-tomense, mas ajeitaram-se ao pé de rumba do patrão. Valeu muito mais o Congresso do mês passado, em que o MLSTP/PSD para a liderança, no carnavalesco habitual, “lavô roupa-suja” no prestigiado auditório chinês da Vila Maria, disputou três candidatos, Jorge Bom Jesus, na recandidatura, Rafael Branco, quem, década atrás, bateu mãos no peito da TVS, jamais voltaria a disputar a liderança do MLSTP, Américo Barros, o governador do Banco Central, dias depois, batido com a porta de conforto e diretriz financeira do país e, por último, renovou a direção política dos órgãos estatutários.

Para a continuidade e estabilidade da política governativa, com os olhos na agenda legislativa, distrital e regional, antecipada no final de Março pelo presidente da República, Vila Nova, para livrar-se o mais rápido possível da Nova Maioria executiva, suportada por 28 dos 55 parlamentares, paralisando o país que entrou, seis meses antes, ao invés dos habituais três meses, em campanha eleitoral, os “camaradas” reelegeram o atual 1o. Ministro, Bom Jesus, que chocado com a ingratidão dos pares, recusou peremptoriamente deixar que dessem açoite na sua “cadela”. Enganem-se os traídos pela linguagem.

No crioulo forro, a fêmea do cão, diz-se: “cacô-muala”. O presidente reeleito, enfurecido, gesticulou nada mais, nada menos, o cargueiro que assumindo o poder, em São Tomé e Príncipe, embora as dificuldades de gerir a penúria do povo e desorganização organizada, a permitir a enxurrada do final do ano, invadir a capital e isolar partes da ilha, com cortes de estradas, pontes partidas, desabamento de terras e perdas de vidas humanas, tende a expôr-se, sair barriga e soltar o queixo aos governantes e seus protegidos.

Ah! Não! Foi o Congresso de ratificação do anterior, caducado e na gaveta. Para que serviram as assembleias distritais dos últimos fins-de-semanas de Março que escrutinaram os novos militantes ao Congresso? Só mesmo o vazio da Ação Democrática In(Dependente).

Os meses de Março e Abril, vêm sendo de Congressos. O MDFM/PL elegeu o padre Miguel Gomes que abandonou o clero e viu os militantes e dirigentes de UDD, a deixar o líder, Carlos Neves, a abanar as moscas, já que lhe subtraíram a sigla partidária, na expetativa de que o Tribunal Constitucional, venha fechar os olhos no ato de validar o Congresso que reciclou o adultério do partido MDFM-União Democrática.

O partido, Movimento Social Democrático, os Verdes, de Elsa Garrido, largou a cidade e realizou o IIIo Congresso, em Lembá, o distrito mais fustigado pelas ameaças climáticas. Depois de perder as presidenciais do ano passado, os congressistas oxigenaram a líder aos novos escrutínios que não deve descuidar-se dos votos de 2018, conquistados no distrito da capital, Água Grande.

Na última mexida da lei eleitoral, 2021, que retirou o direito presidencial aos filhos, nascidos no estrangeiro, mas geneticamente de mãe, pai, avôs e bisavôs são-tomenses, alargando o direito de voto legislativo à diáspora, porque não os legisladores, não facilitaram a fiscalização constitucional, consagrando a lei: “Fica impedida a candidatura, aquando dos congressos eletivos, à liderança partidária de residentes (permanentes) no estrangeiro?”

Assim, perdia-se o tempo a especular de que os governantes são-tomenses, já viciados em críticas à liberdade de pensar da sua diáspora, também perseguem ao político Patrice Trovoada. O povo seria testemunha, sustentando de provas factuais de que, estando no país, ao menos, presente no Congresso do seu partido, o opositor, eventualmente, foi perseguido e preso pela justiça dos adversários.

Em férias prolongadas no estrangeiro, desde Outubro de 2018, pagas atempadamente com o dinheiro público são-tomense – o segurança pessoal, foi preso por assaltar, repetidas vezes, elevado valor em dólares e euros, na burra do 1o. Ministro, sem que este desse, na época, pela falta do cacau biológico – enquanto o povo pequeno, anda a mastigar os ossos da pandemia de Covid-19, sem um tostão do chefe e a sacrificar-se na encarecida vida com os estragos da guerra Ocidente-Leste. Já se aventa de que os ocidentais, com cortes nos números, prometem vingar-se dos países africanos que aprenderam a gerir os votos das Nações Unidas com o próprio tino, não condenando cegamente o Putin e os russos.

Quem leu Delfim Neves, o Presidente da casa parlamentar, derrotado de última presidencial e declarante esta semana, em Lisboa, de um amplo movimento coligado para concorrer as próximas eleições, no seu livro de 2016 “A verdade da História”– Oh! Gen non lê, não é! – sabe que desde o primeiro executivo, 2008, em que os são-tomenses desesperam pelos milhões de dólares destinados ao desenvolvimento, prometidos pelo malambarismo das falsas prosas, mas lindas de apaixonar, propaladas pelo acionista, único, de ADI.

Patrice Trovoada ensaia o regresso triunfante, na semana eleitoral, anunciando já, para 2040, ao invés do anterior 2030, elevar as ilhas ao Dubai, com o populismo barato que lhe é capital, tendo convencido o banho na praia eleitoral e os sonhos adormecidos nos “luchans”.

Oportuno parabenizar o Presidente Carlos Vila Nova, pela mea-culpa, no urgente afastamento do seu antigo conselheiro especial, o alemão, que vinha desempenhando a internacional e prestegiada função, desde o seu antecessor, o antigo Chefe do Estado, Evaristo Carvalho, ambos candidados indicados pelo presidente do seu partido.

A revista alemã Der Spiegel, segundo o Téla Nón, pôs ao nu de “que Stephan Welk foi detido em Agosto do ano 2019 por ter conseguido obter passaportes diplomáticos de países pobres que lhe concedeu imunidade diplomática”, a astúcia para “São Tomé Ver e Crer”.

O cadastrado e indiciado na prática de crimes de fraude, falsificação de documentos, tentativa de desfalque e quebra de confiança, praticados na Guiné Bissau, Libéria e  República Centro Africana, países africanos, o ex-conselheiro presidencial,  Stephan Welk, já foi condenado pelo Tribunal de Dresden, na Alemanha, por quatro anos de prisão.

Hum! Quem teria enfiado os dez dedos nos olhos, simpáticos, de Evaristo Carvalho e Carlos Vila Nova, lhes recomendado e reconduzido Stephan Welk, o especialista alemão, no cargo de conselheiro especial do mais alto magistrado da Nação são-tomense?

Ninguém sabe de nada!

José Maria Cardoso

12.04.2022

4 Comments

4 Comments

  1. Eliss

    13 de Abril de 2022 at 0:20

    Bom artigo. Muito esclarecedor.

  2. Macalacata

    13 de Abril de 2022 at 10:58

    “O pensamento sem ação seria apenas um cérebro numa jarra”

  3. santomé cu plinxipe

    13 de Abril de 2022 at 11:53

    Pois é, Esses ADI são a máfia

  4. Reirape

    13 de Abril de 2022 at 18:04

    O sr. José Maria Cardoso escreve muito bem, mas acho que deveria ser mais imparcial, fazendo melhor a radiografia dos últimos 4 anos (2018 a 2022), não fincando apenas na legislatura anterior (2014 a 2018), embora compreenda que foi na legislatura anterior que ADI foi governo. Mas, falando com sinceridade, o Patrice Trovoada tem muitos defeitos, mas a situação atual do país e do mundo, acho que o país deve ter uma pessoa com “pulso” pois a formula que estamos a ter atualmente (governo sem comandante), voltar a se repetir por 4 anos, o país tornará altamente inviável. É preciso que alguém segure este país, e neste momento parece que já não há outro político a altura, para além do Patrice Trovoada (Espero que o PT esteja agora um pouco mais humilde, pois muita arrogância é mau para congregar a nação)

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