Opinião

Até Quando?

Todos os partidos políticos legalmente constituídos aspiram a conquista do poder ou a sua manutenção legítima, de modo a garantir o normal funcionamento da democracia. Importa referir que os partidos políticos são constituídos por grupo de pessoas com o mesmo pensamento político, económico, cultural, e social, ou seja, pessoas com a mesma ideologia.

Por isso é que, numa sociedade democrática existem 2 ou mais partidos políticos devido a perceção que cada um tem de que o seu programa baseado nos seus ideais é melhor e mais eficaz para servir o Pais.

Na minha avaliação vejo que em São Tomé e Príncipe não existe diferenças ideológicas entre os partidos políticos, mas sim, interesses de grupos com objetivos pessoais. Talvez seja esse o nosso grande problema de desenvolvimento.

Se observarmos os diferentes programas dos partidos da nossa praça, constataremos que não há diferença entre os mesmos e as suas atuações são idênticas. Numa altura em que o Pais precisa de reformas profundas em todos os sectores da vida nacional torna-se necessário uma atuação diferente.

Ainda é muito cedo para se avaliar o desempenho do ADI, mas as primeiras medidas deixam muito a desejar porque já se começa a constatar o cometimento dos mesmos erros do passado.  Não se vislumbra nada de novo. Apenas dois exemplos para confirmar o que acabo de dizer: Primeiro; refere-se ao festival de exonerações e nomeações que se tem vindo a assistir nesses últimos dias. Até parece que as reuniões de Conselhos de Ministros são só para esse efeito. Neste sentido questiono; tem havido algum critério para estas exonerações e nomeações? A avaliação de competência no sentido lato, dos que saem e entram é tido em conta ou é apenas por razões de militância partidária como é habitual?

Sempre defendi através dos meus escritos nas redes sociais de que não se deve politizar a Administração Pública, porque ela é o garante do funcionamento do Estado, independentemente do partido que estiver a governar. Não é por acaso que em países evoluídos quando há uma crise política e o Pais fica por muito tempo sem governo, a administração funciona normalmente. Isto porque existe uma Administração Publica estável e bem formada. No meu entender, nomeações de confiança política devem cingir-se apenas aos Ministros, Secretários de Estados, Diretores-Gerais ou equivalentes.  Todo o resto deve ser por concurso publico, ou através de critérios baseados numa carreira profissional eficaz e bem organizada.

Os responsáveis de recursos humanos dos diferentes ministérios já deviam refletir por que razão a nossa Administração Publica se encontra nessa situação tão calamitosa? A conclusão que chego é que essas exonerações e nomeações sem quaisquer critérios, contribui grandemente para essa desorganização.

O segundo exemplo é o da medida de proibição da circulação das viaturas do Estado fora das horas normais de expediente. O Pais já não se compadece com medidas paliativas e repetitivas que não resultam em nada. Acho muita piada cada vez que entra um Governo a primeira medida que toma é proibir a circulação de viaturas do Estado para meses depois tudo voltar como dantes. Isto não passa de medidas populistas porque ao invés disso devia-se pensar em fazer um estudo para a resolução definitiva desse problema crónico. Como tudo o que é mal feito não resulta, já começamos a ver algumas viaturas a circular normalmente. Por isso é que sugiro a este Governo para fazer a diferença e criar uma comissão para apresentar uma proposta/solução com vista a resolver definitivamente desse problema e acabar com essa pouca vergonha duma vez por todas.

Não posso deixar de me referir aos tristes acontecimentos de 25 de Novembro do ano transato que deixou os são-tomenses estarrecidos. Embora já se tivesse falado muito sobre o assunto devido a sua dimensão e gravidade e porque a situação continua ainda muito confusa, deve-se manter o debate publico até o seu cabal esclarecimento, para que se apure os verdadeiros culpados dessa chacina, e que sejam responsabilizados de acordo com a Lei.

O Governo deve evitar toda a tentativa e manobras que se tem vindo a assistir com vista a silenciar esse massacre inédito na nossa República. A justificação de que o problema já esta entregue a justiça   não pode servir de argumento para que não se continue a debater publicamente o assunto. É estranho e antidemocrático o ADI impedir esse debate ao nível do Parlamento com a presença do Primeiros Ministro e Chefe do Governo, o protagonista principal desses tristes acontecimentos.

Enquanto o Primeiro Ministro foge ao debate no Parlamento, a casa da democracia, o mesmo tem vindo a desdobrar-se em entrevistas aos órgãos de comunicação social estrangeiros, num claro desprezo as nossas instituições.

Se ainda temos na nossa memória o massacre de 1953, não vejo por que razão haveríamos de esquecer o 25 de Novembro de 2022?

O ADI venceu as últimas eleições com uma clara maioria. Alguma contestação que houve foi resolvida pacificamente e no quadro próprio. O Presidente do Partido MLSTP/PSD, Partido derrotado, felicitou publicamente o seu adversário pela vitória. Por isso é que não consigo entender ou encontrar razões e motivos de alguém ou algum Partido pretender dar um Golpe de Estado, sabendo a partida que não teria pernas para andar, até porque uma ação dessa natureza não seria tolerada pela Comunidade Internacional e também se tivermos em conta que São Tomé e Príncipe vive praticamente de ajuda internacional.

Perante as declarações contraditórias entre as entidades governamentais e as chefias militares, cada um tentando explicar a situação a sua maneira, mas   que até agora em vez de clarificar está a tornar tudo mais confuso e inexplicável, o que tem levado muita gente a pensar que se tratou efetivamente de uma INVENTONA para silenciar os adversários políticos mais incómodos.

Portanto, acho que o ADI devia evitar essas situações musculadas e concentrar os esforços com vista a garantir um ambiente de concórdia entre os são-tomenses independentemente a sua opinião política. É necessário também o respeito pelas minorias de acordo com o previsto na Lei. Numa sociedade democrática tanto o Poder como a Oposição desempenham o seu papel com vista ao desenvolvimento do Pais.

Todo esse esforço de pacificação, se for concretizado, contribuirá certamente para solucionar os graves problemas que o Pais enfrenta e que precisa a contribuição de todos. Fico com a impressão de que é o próprio ADI que está a criar problemas para não governar. 

A justificação de que desconheciam a gravidade da situação económica do Pais é vergonhoso e não faz sentido, porque tendo sido Oposição na última legislatura, devia acompanhar e questionar a governação, porque tinha todas as condições para o fazer ao nível do Parlamento.

Alias, a situação económica difícil do Pais não é novidades para ninguém e não é de hoje, pois, já vem de longa data e que teve também a contribuição das diferentes governações do ADI. Então, só pode ser mais um pretexto para desculpar-se pela falta de solução, contrariamente ao que nos prometeu, mas que não está a ser capaz de as concretizar.

De Tudo o que foi dito, uma pergunta se impõe: ATÉ QUANDO?

São Tomé, 14 de Janeiro de 2023

Fernando Simão

5 Comments

5 Comments

  1. Mezedo

    17 de Janeiro de 2023 at 10:36

    Deve parabenizar pela mensagem que passou aos Santomenses.

    Mas infelizmente ainda muitos estão cegos e ignorantes.
    Ta tudo claro que o país esta totalmente politizado com ditadura e escravatura declarada.

    O povo quis assim e sabia bem o viria a acontecer com ADI no poder.

    Que Deus valha São Tomé e os santomenses.

  2. Tiberio

    17 de Janeiro de 2023 at 12:05

    Este senhor nunca foi isento nos artigos que escreve. O pior cego é aquele que não quer ver. O senhor sempre defendeu o MLSTP independentemente dos factos ocorridos. Ora vejamos, porque que não escreveu um artigo semelhante quando o governo da geringonça começou a exonerar pessoas e colocar pessoas da sua confiança?

  3. Andorinha

    17 de Janeiro de 2023 at 12:18

    Pensei que o senhor Fernando viesse explicar ao povo sobre a privatização atabalhoada e duvidosa do porto de anachaves ou esplica-se a falta de divisas situação deixada pelo MLSTP ou esplica-se sobre desaparecimento de contentores de medicamentos e caminhões de combustível.
    Não o Fernando veio nos brindar com mas do mesmo falar do ADI e apontar dedo ao ADI como sempre.

    Aconselho o Fernando a olhar para dentro do seu MLSTP que esta em decadência e precisa de restruturação e novo líder, o MLSTP não ganha umas eleições a décadas.

    Deixa ADI governar em paz preocupa com seu partido.

  4. Zuntamon

    17 de Janeiro de 2023 at 15:38

    O que existe aqui em STP é uma guerra para ficar com os tachos. Nada de ideologia política, nada de interesse em resolver o problema do povo. A situação ficou agora mais grave , porque nesta guerra agora vale tudo.

    STP precisa urgente encontrar um líder pacificador, alguém que consiga unir os santomenses e não entre neste jogo de dividir para reinar.

    Por este andar, não vai ser o ADI nem o MLSTP que vão conseguir levar este pais para a frente.

    As coisas vão de mal a pior. Vejam o exemplo do que esta agora a acontecer com esta história de privatização dos portos….mais um caso ROSEMA e motivo para afastar do pais qualquer investidor sério.

    Quem ama STP não apoia nenhum dos partidos que já governou STP nestes últimos anos e o ADI está a ultrapassar todos os limites.

  5. WXYZ

    17 de Janeiro de 2023 at 20:17

    Tivessem os senhores da economia robusta realmente criado uma economia robusta o PT com ADI jamais ascenderia ao poder em STP

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