Por imponderáveis vários venho, em meu nome próprio e como cidadão são-tomense sem qualquer filiação ou simpatia partidária, trazer à consideração de V. Exia. o absurdo que constituiu para mim a despropositada alusão feita à minha pessoa quando, na vossa conferência de imprensa de 24 de Fevereiro de 2009, para esclarecimentos de assuntos de alta segurança de Estado e da vossa vida pessoal, decidiu citar a Universidade Lusíada de São Tomé e Príncipe (ULSTP).
RESPOSTA AO PRESIDENTE
DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
Exmo. Senhor
Fradique Melo de Menezes
M.I. Presidente da República Democrática de São Tomé e Príncipe
Excelência,
Por imponderáveis vários venho, em meu nome próprio e como cidadão são-tomense sem qualquer filiação ou simpatia partidária, trazer à consideração de V. Exia. o absurdo que constituiu para mim a despropositada alusão feita à minha pessoa quando, na vossa conferência de imprensa de 24 de Fevereiro de 2009, para esclarecimentos de assuntos de alta segurança de Estado e da vossa vida pessoal, decidiu citar a Universidade Lusíada de São Tomé e Príncipe (ULSTP).
Porque a despropositada citação da minha pessoa ficou a dever-se aos contactos por mim estabelecidos com o Estado são-tomense para a real implementação da Universidade Lusíada de São Tomé e Príncipe quero aproveitar esta oportunidade para, uma vez mais informar, clarificar os são-tomenses sobre o seguinte:
A Universidade Lusíada de São Tomé e Príncipe, instituição a que muito me orgulho pertencer, é uma instituição que sustenta a sua criação na promoção e no engrandecimento de São Tomé e Príncipe, potenciando o ensino superior como factor de desenvolvimento, aberto e solidário com todos os são-tomenses que, de uma forma ou de outra, queiram prestar a sua melhor colaboração elevando a sua vertente de Educação, formação e serviço público sem fins lucrativos.
Neste sentido, considerei, como são-tomense interessado no desenvolvimento e engrandecimento do País, que, para a consolidação do referido projecto, era imprescindível que todos, de mãos dadas, e cada um a seu nível – o Estado, a Sociedade e a Universidade – desempenhassem o seu papel. Esta é a razão pela qual, desde a primeira hora, me disponibilizei e dirigi, sem tabus ou preconceitos de mesquinhez, a todos os são-tomenses, sem excepção, independentemente do credo político, da cor, da raça, do passado ou da posição que ocupam na sociedade solicitando o seu melhor e desinteressado apoio em nome das raparigas e rapazes ávidos de um futuro de sonhos realizáveis.
É neste contexto que me dirigi à Presidência da República, aos vários Governos, desde o Governo presidido pela Exma. Senhora Dr.ª Maria das Neves ao actual Governo cujo o Primeiro Ministro é o Dr. Rafael Branco, a instituições públicas e privadas sem esquecer o indefectível apoio de pessoas singulares que gentilmente têm prestado todo o seu apoio em prol de uma Universidade credível e de rigor em todas as suas vertentes: cultura, ensino e investigação.
Senhor Presidente da República Democrática de São Tomé e Príncipe,
Ao ouvir no dia 24 de Fevereiro, na vossa conferência de imprensa, afirmar que
“Os estudantes que tenho aqui na Lusíada, que possivelmente agora vou os convidar a mudar para a outra instituição de ensino porque não posso aceitar a declaração de alguém que veio cá pedir tanto apoio para a Universidade Lusíada.”
– fui obrigado, como cidadão e como um dos responsáveis da Universidade Lusíada de São Tomé e Príncipe, a questionar-vos sobre a verdadeira razão do apoio que tem dado aos nove alunos são-tomenses que, estudando na ULSTP, almejam em igualdade de circunstâncias com outros cidadãos do mundo, são-tomense ou não, alcançar o sonho de um curso superior credível e válido no mundo global a que pertencemos.
Faço-o, Senhor Presidente, porque depreendi das suas palavras que a condição única de todo e qualquer apoio eventualmente dado aos alunos desta instituição ou a qualquer outro são-tomense dentro ou fora do país dependeria exclusivamente da obediência cega dos mesmos à ideologia ou à corrente política que V. Exia professa e à subserviência a uma “escola de pensamento”, a que eventualmente defende. A minha estupefacção e a minha indignação foram tamanhas que quero aqui expressá-las dizendo publicamente que como são-tomense e defensor da liberdade de expressão discordo deste princípio que veementemente repudio pois, quanto a mim, ele mancha a instituição Presidente da República e não enobrece a Nação são-tomense!
Vivendo eu num país democrático e fazendo parte duma instituição onde se prima por cultivar a pluralidade, a diversidade intelectual, o respeito pelas opiniões dos outros e a cultura democrática, entenda, Senhor Presidente, a minha estranheza a esse sinal grosseiramente negativo vindo precisamente do seu mais alto Magistrado da Nação, o Presidente da República Democrática de São Tomé e Príncipe.
Outrossim, repudio igualmente as ausentes e, até, situacionistas posições dos partidos políticos com e sem assento parlamentar e da grande maioria imprensa nacional, que tendo responsabilidades nas mais elementares transformações de desenvolvimento e de cultura democrática do País, não se terem indignado ou promovido debates públicos para melhor esclarecimento das eventuais afirmações feitas na vossa conferência de imprensa. É uma questão de valores!
Julgo e entendo, Senhor Presidente da República, que não deve ser exemplo para os são-tomenses, nem tão pouco em particular para os alunos da ULSTP ou de uma outra qualquer instituição de ensino são-tomense ou estrangeira, julgarem que o compromisso do cidadão Fradique de Menezes, Presidente da República Democrática de São Tomé e Príncipe em particular, ou do Estado são-tomense em geral, com os mesmos na atribuição de uma bolsa de estudos ou eventualmente de outro qualquer tipo de apoio e prestação de serviços seja a de obediência e de subserviência em relação aos mesmos.
Assim, afirmando aqui a minha firme decisão de continuar a solicitar e procurar apoios vários para acções que julgo serem de relevo para o País, deixo ao vosso melhor critério a ponderação da vossa citação na conferência de imprensa, reafirmando aqui, Senhor Presidente, a minha convicção na defesa de direitos e garantias e a salvaguarda de uma cultura plural e democrática para São Tomé e Príncipe onde qualquer princípio ditatorial deve ser condenado, tenha ele a proveniência que tiver.
Quero acreditar que a política em São Tomé e Príncipe ainda é presidida pela ética democrática, pelo ingrediente da crítica como um dos mais elementares antídotos à autocracia e à ditadura e por valores culturais.
Certos de que com a contribuição de V. Exia e de todos os são-tomenses iremos continuar a contribuir para a concretização dos sonhos dos jovens de São Tomé e Príncipe, tanto na vertente académica como na Educação em geral, pela construção e consolidação de uma cultura de responsabilidade, de democracia plena e respeito pela opinião dos outros, subscrevo-me com elevada consideração.
São Tomé, 04 Março de 2009
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Liberato Moniz
(Arquitecto)