Numa altura em que surgem da classe política são-tomense, várias lamentações e mensagens de condolências, por causa de mais um naufrágio que mata vários são-tomenses, na travessia entre as ilhas, o Téla Nón é forçado a fazer uma retrospectiva e no meio dela parece que encontra muitas lágrimas de crocodilo misturadas com as lamentações. Muitos políticos e forças políticas, que em 2007 chumbaram no parlamento um orçamento rectificativo que propunha verbas e soluções para a aquisição de um barco seguro, a favor da população são-tomense, exigem agora um inquérito ao acidente da embarcação de risco de nome Therese. No momento de luto, o Téla Nón, considera que deveria haver também uma sanção política. Muitos representantes do povo deveriam também inquirir a sua própria consciência.
Quando a verba disponibilizada por Taiwan no quadro do financiamento extraordinário, foi anunciada o conflito político tomou conta do parlamento. Os projectos inscritos eram vários, com destaque para a compra de um barco para dar segurança a ligação marítima entre as ilhas.
Estávamos no início do ano 2007. Entre a aquisição de um barco que tanta falta faz a população, facto provado com os vários naufrágios que ceifaram vidas humanas, nos últimos anos, a maioria dos representantes do povo preferiu o chumbo da proposta orçamental que apresentava soluções para o problema.
Os habitantes da ilha do Príncipe e do país em geral que estavam satisfeitos com a possibilidade de terem um barco a ligar as ilhas, ficaram espantados com a decisão dos representantes do povo. A justificação dos actores políticos para o chumbo de projectos de grande impacto social, foi que o país estava diante de uma ilegalidade.
Grande parte da população ficou então sem saber o que era legal nas ilhas verdes, pelo menos, até 16 de Setembro de 2008. Sem uma embarcação com mínimas condições de segurança para transporte de pessoas e bens, a noite do dia 16 de Setembro de 2008, trouxe a resposta da recusa parlamentar ao projecto de compra de um novo barco para os filhos de São Tomé e Príncipe.
Na luta política fratricida, em que a ânsia pelo poder chega a tirar discernimento aos profissionais da política são-tomense, o bloqueio das acções de uns e outros, é a principal arma em uso. O povo é que paga as contas, infelizmente muitas vezes com a própria vida.
O navio que já estava identificado na Grécia, e que deveria chegar a São Tomé, acabou por ser negociado para outro interessado, uma vez que a política de terra queimada em São Tomé, deixava as águas demasiado turbulentas para se negociar com segurança.
A guerra política que não atendeu os interesses da população matou dois governos num só ano. Muitas palavras e nenhum barco para o povo. O actual ministro das infra-estruturas, transportes e comunicações Benjamim Vera Cruz, confirma que o projecto de compra do barco vem do décimo primeiro governo constitucional, de Tomé Vera Cruz. O décimo segundo de Patrice Trovoada preferiu anular a decisão da compra do barco, explicou o Ministro.
O executivo número 13 liderado por um dos partidos que lutou contra a execução do orçamento rectificativo de 2007, decidiu recuperar o projecto de compra do barco. Se no início de 2007, os representantes do povo tivessem permitido a execução orçamental para compra do barco grego, quem sabe Therese não teria o castigo de transportar tanta carga e gente até mergulhar-se no fundo do mar? Tempo perdido com politiquices, vidas ceifadas, para depois gerar lamentações, condolências, e pedidos de inquérito. Não serão lágrimas de crocodilo?
Abel Veiga