Sociedade

Roubo de energia eléctrica já matou três pessoas e continua a ameaçar mais pessoas com destaque para agricultores

A empresa de água emae.jpge electricidade (EMAE- na foto), está enrolada num dilema. Cidadãos imbuídos de boa fé contactam a empresa no sentido de serem inscritos como clientes, mas a EMAE diz que nesta altura não está a aceitar mais clientes, porque a produção de electricidade é fraca. No entanto o número de casas que beneficia de energia sem qualquer contrato com a EMAE não para de aumentar. É o roubo da corrente eléctrica que nos últimos dias já matou 3 pessoas e não para de dar susto a muita gente, principalmente agricultores que na sua actividade laboral tomam choque eléctrico por causa dos fios que transportam energia eléctrica para algumas comunidades.

Um jovem de 15 anos da localidade da localidade de Obô Izaquente, foi a mais recente vítima do roubo de energia eléctrica. Membro de uma família pobre, o jovem foi orientado pela avó a ligar o fio que conduz electricidade para iluminar a casa. O mau contacto dos fios matou o jovem tendo enlutado a família.

Cerca de duas semanas antes, uma criança morreu electrocutada no bairro do Riboque nos arredores da capital são-tomense. A criança terá pisado acidentalmente o fio condutor da energia roubada.

Por causa da electricidade cara produzida pela EMAE a conta gotas, cada vez o maior número de são-tomenses está a optar pelo consumo ilegal de electricidade.

Pelo preço praticado que é insustentável para a maioria da população, mas talvez também pelo facto da empresa de electricidade não estar a aceitar a inscrição de novos clientes. Mesmo o cidadão que quer ser honesto com a EMAE, pagando as suas tarifas, não tem chance de ter electricidade na sua nova residência. Entre viver no escuro e conseguir luz gratuitamente, a tentação é grande e pende para a segunda hipótese.

Talvez por essas e outras razões o roubo de electricidade já se alastrou a todo o país. O Téla Nón tem registo de roças, ou melhor, empresas agrícolas que nunca tiveram energia eléctrica e que nos últimos tempos, algumas residências ficam iluminadas 24/24 horas com energia gratuita. O fenómeno de roubo de energia também conhecido como “GATO” atravessa o interior do país e já dominou as cidades.

As consequências são graves. Para além das duas mortes relatadas pelo Téla Nón, ambos os casos em Janeiro último, no final do ano passado outro jovem no distrito de Mé-Zochi, perdeu a vida quando acidentalmente pisou um dos fios condutores de energia roubada.

Vidas jovens que tombam de forma impune. Na maior parte dos casos ninguém é responsabilizado. Para além de mortes, o novo Director da EMAE o tenente-coronel Óscar Sousa, que decidiu tomar medidas em parceria com as autoridades policiais para dar início ao combate sem tréguas contra o roubo de electricidade, reconheceu que o furto do produto da EMAE, provoca também curtos circuitos que poderão estar na base de alguns incêndios que já ocorreram no país.

Mortes e incêndios a parte, o fenómeno está a dar susto à muita gente no país. Principalmente os trabalhadores honestos da agricultura. O Téla Nón registou vários casos. Numa parcela de terra um grupo de jovens que ainda gosta de pegar no machim e no gancho, estava a fazer a colheita do cacau.

De repente quando um dos jovens estica o gancho para tirar umas cápsulas de cacau, ele é atirado para o chão como se tivesse apanhado uma convulsão. Era o choque provocado pelo contacto do instrumento de trabalho que tem na ponta um gancho de ferro, com o fio bastante estreito quase invisível, e que atravessa todo o lote de terra conduzindo energia de um poste na estrada pública para uma determinada comunidade agrícola. É o tal gato. O jovem trabalhador teve sorte porque não estava a chover, explicou para o Téla Nón um membro da família.

Alguns dias depois o Téla Nón registou outro caso, em que uma camponesa decidiu capinar o seu lote de terra e quando menos esperava caiu quase inanimada, porque o seu machim bateu num dos fios que conduz energia roubada para uma determinada comunidade. Risco de morte, que amedronta os poucos homens e mulheres que ainda gostam de trabalhar a terra.

O Téla Nón acompanhou a denúncia do caso junto as entidades competentes da EMAE, no sentido de desactivarem os fios do GATO, permitindo assim que cada um possa trabalhar em paz. Mas não houve qualquer acção ou reacção prática. Isto aconteceu algumas semanas antes do acidente mortal que aconteceu no Riboque.

Como é tradicional o povo são-tomense cansado com as coisas da EMAE, diz “São problemas que a EMAE procura evitar, mas não consegue”.

Abel Veiga

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