O rio que irriga parte da paisagem verde da região sul de São Tomé, dá vida a uma grande variedade de peixes. Antes de desaguar na praia Malanza, sustenta várias espécies de pássaros. Alguns se alimentam do peixe abundante no rio, e outros encontram comida na extensa e diversificada flora mantida pelo Malanza. Macacos também visitam o rio Malanza, sobretudo no final da tarde, assegurou um dos remadores, que periodicamente conduz turistas a descoberta do coração do rio. Cobra Preta, uma das serpentes mais venenosas, quando é atacada, não desperdiça a oportunidade de tomar banho de sol sobre os ramos do mangrove que cobre o leito do rio. O canto ritmado dos pássaros reconforta o espírito do visitante que nas canoas a remo, penetra nas entranhas de um rio cuja riqueza ecológica é desconhecida pela grande maioria dos são-tomenses.
A nascente do rio Malanza ainda é desconhecida, para os habitantes da localidade. A água abundante que criou a floresta densa, e abriu caminho no meio das plantas para desaguar no mar, não tem origem determinada, explicou o guarda da praia Malanza, e coordenador da visita ao interior do rio.
Da foz para o interior tem cerca de 2 quilómetros de leito navegável para as canoas a remo. Várias espécies de peixes, acompanham o movimento da canoa a remo. O silêncio no seio dos visitantes é fundamental, para apreciar as piruetas dos peixes, para escutar a música ritmada do canto dos pássaros, uns verdes, outros pretos, uns amarelos, outros castanhos, uns grandes, outros pequenos, cada um a sua maneira ganha vida na floresta, ao som da sua música.
Maria João, cidadã portuguesa, médica de profissão não confessa o encanto proporcionado pela música dos pássaros do rio Malanza. «Vimos muitos pássaros, garças, peixes e depois ouviu-se os pássaros a cantar e a gritar. A paisagem é muito bonita. É uma pena a maior parte das pessoas não conhecerem», desabafou a médica portuguesa, que foi descobrir o interior do rio Malanza.
Quando a maré está alta, o caudal do rio Malanza aumenta. Na canoa a remo dá a sensação que o curso do caudal mudou. O movimento da água parece ser da foz em direcção ao interior do rio.
Ao mesmo tempo Falcões vão fazendo manobras no ar, descendo lentamente para pescar no leito do Malanza. O movimento do remo da canoa de António Jordão, remador da Vila Malanza, que sabiamente conduz a embarcação no meio da floresta densa, combina com o som dos mergulhos dos peixes, que se escondem por causa da aproximação da canoa. No ar o falcão grita, talvez reclamando pela presa que fugiu devido ao avanço da canoa.
Orlando Garcia, cidadão português, sociólogo de profissão não consegue esconder o encanto. «É fantástico, é lindíssimo. Vi patos pretos, vi peixes e outros pássaros. Uma pessoa aqui está mesmo no pulmão do mundo», declarou o visitante contagiado, pelo ar fresco e puro que faz o ambiente natural do Rio Malanza.
António Jordão, Pescador da Vila Malanza, uma comunidade piscatória localizada na foz do rio, reconheceu que o rendimento da sua família e de outros pescadores da zona, está a melhorar como consequência da actividade do transporte dos turistas para o interior do rio. «Apenas de 15 em 15 dias aparecem turistas para fazer visita. Mas está a melhorar o nosso rendimento familiar», disse o pescador que ganha extra quando rema no Malanza para os estrangeiros desfrutarem da natureza pura e virgem.
António Jordão, acrescentou que no final da tarde, por volta das 17 horas, é habitual os macacos, descerem o rio em busca de peixe e frutos silvestres para o jantar. Empoleiram-se no mangrove e esperam pela oportunidade.
Brígida Rocha, investigadora portuguesa, profissional de uma universidade portuguesa, já tinha entrado no Rio Malanza. Um passeio fantástico diz ela, por isso convidou os que não conheciam para a descoberta do mundo raro num planeta em degradação ambiental. «Podemos conversar com os remadores tradicionais, podemos observar algumas espécies. Estamos a falar de um importantíssimo pacote turístico – entre aspas – que reúne as características culturais e as tradições mais ancestrais aqui da região, com o ambiente. É magnífico e deve-se fazer, toda gente que possa deve fazer», concluiu a investigadora do ISCTE.
Mesmo no meio do seu coração, Rio Malanza, criou uma pequena ilha. Faz-se uma grande volta, agora com a floresta mais densa, o rio mais manso, o canto dos pássaros mais intenso, a força da natureza mais poderosa, e o homem sentado na canoa a remo, sente-se impotente rendimento ao poder da natureza e compreende que ele é apenas uma parte deste sistema, ou ecossistema, não o dono e senhor.
Abel Veiga