O Presidente da Assembleia Nacional, Francisco Silva, apresentou o seu livro “Estórias ao Acaso da Vida e da Terra” a comunidade são-tomense em Portugal, numa cerimónia que contou com a presença do Presidente da Assembleia da República portuguesa Jaime Gama e demais individualidades. A biblioteca do parlamento português foi o palco do lançamento do livro em Portugal. Francisco Silva, que se encontra ausente do país em tratamento médico, manifesta-se tranquilo diante do desafio pela vida. “Tenho consciência real da situação em que estou, mas creiam que encaro esta minha luta de forma francamente positiva. Sinto-me bem, estou em paz comigo mesmo”.
Sr. Presidente da Assembleia da República, Sr.ª Embaixadora da República Democrática de S. Tomé e Príncipe, Srs. Deputados, Sr.ª Professora Doutora Inocência Mata, Caros Amigos, Minhas Senhoras e Meus Senhores:
Depois de tantas emoções, espero estar em condições de vos dirigir algumas palavras.
As minhas primeiras palavras são, necessariamente, para si, Presidente e amigo Jaime Gama, pela amizade da sua presença, por me acolher nesta Augusta Casa, neste lugar de tão nobre tradição, neste espaço de verdade, de democracia e de cidadania. À generosidade da recepção, ao calor das boas-vindas, ao apoio, à solidariedade só posso dizer obrigado.
Em si, Sr. Presidente, vejo e saúdo o estadista lúcido e o notável humanista cuja trajectória incorpora uma verdadeira lição de cooperação e de fraternidade entre povos e culturas.
A qualidade do seu acolhimento e as palavras com que me distinguiu, a mim e ao meu livro, levam-me, em primeiro lugar, a registar um tributo à excelência do relacionamento entre a Assembleia da República de Portugal e a Assembleia Nacional de S. Tomé e Príncipe, aos laços históricos de fraternidade, de amizade e de cooperação entre os povos de Portugal e de S. Tomé e Príncipe, laços que se renovam e se aperfeiçoam todos os dias numa dimensão múltipla e concreta.
Recordo, por outro lado, o grande apreço e a constante amizade com que V. Ex.ª tem honrado o meu país.
Registo, por fim, uma estima pessoal, que não posso deixar de agradecer com sinceridade. Acredite, Sr. Presidente, que lhe retribuímos com igual apreço, com igual amizade e com uma grande admiração.
Sr.ª Embaixadora de S. Tomé e Príncipe em Portugal, Dr.ª Alda Melo, agradeço penhoradamente a sua presença amiga, a gentileza das suas palavras e o conjunto de atenções que me tem dispensado. Peço-lhe que este reconhecimento seja extensivo à sua incansável equipa.
A Professora Doutora Inocência Mata é uma muito distinta filha das nossas ilhas, que tem contribuído decisivamente para a promoção, a divulgação e a dignificação das nossas letras, da nossa cultura, do nosso país. Lamento o trabalho que lhe dei, mas calaram-me fundo as suas palavras, pelo que peço que aceite a minha gratidão.
É uma grande honra para mim a presença dos Srs. Deputados portugueses.
Caros amigos, no ano passado, nesta bela cidade de Lisboa, escrevi um livro, um livro singelo em que procurei juntar fragmentos da minha história pessoal memórias, lembranças, afectos e, também, desenvolver algumas reflexões sobre o trajecto recente do nosso país. Onde estamos, para onde vamos, que destino colectivo pretendemos construir, são perguntas subjacentes às reflexões a que fiz referência.
É uma homenagem a pessoas que conheci ao longo da minha vida, pessoas que me marcaram, pessoas que amei e amo. É uma homenagem ao meu povo e ao meu país.
Peço-vos que leiam as inquietações, as referências ou as observações menos abonatórias e até mesmo alguma frustração, em certas passagens, não como um sinal de descrença ou de desânimo mas como fruto do amor à terra onde nasci, a grande vontade e determinação em contribuir para a transformação do presente e uma grande fé na capacidade de os meus conterrâneos, dos são-tomenses, para construir um futuro mais próspero e mais digno para todos nós.
Eu sou um inconformado porque acho que hoje deve ser melhor do que ontem e amanhã deve ser melhor do que hoje.
Eu sou um inconformado porque acredito no presente e no futuro de S. Tomé e Príncipe.
Eu sou um inconformado porque optimista.
E sou, ainda, um inconformado porque acredito em milagres. Não acredito, contudo, no milagre dos subsolos. Acredito, sim, na capacidade inovadora, empreendedora, na capacidade de trabalho de homens e mulheres, capazes de superarem as suas próprias fraquezas, de vencerem as vicissitudes do presente e de construírem um futuro melhor.
São estas as razões do meu inconformismo.
Sobre o livro já falaram, amavelmente, os que me antecederam. Vou, de uma forma muito breve, referir-me às circunstâncias em que foi escrito.
Em Janeiro de 2007, foi-me detectado um cancro e tem sido aqui, em Lisboa, desde então, que tenho encontrado respostas competentes de uma equipa de médicos, enfermeiras e técnicos do Hospital de Santa Maria, de insuperável profissionalismo e dedicação.
Alegra-me imenso partilhar com eles este momento, depois de com eles ter dividido a ansiedade de tantas perguntas. Nós sabemos eles e eu que as perguntas vão continuar neste desafio, porventura, o mais difícil da minha vida, que, todavia, me proponho vencer com a sua ajuda.
Tenho consciência real da situação em que estou, mas creiam que encaro esta minha luta de forma francamente positiva. Sinto-me bem, estou em paz comigo mesmo.
A sua hospitalidade, Sr. Presidente, e a vossa presença, caríssimos amigos, conferem-me um maior conforto.
E acreditem se vos digo que este é um momento de festa.
Uma festa de amigos, porque estou rodeado de amigos, mas também uma festa da língua portuguesa. Amílcar Cabral, um filho clarividente de África e cidadão do mundo, definiu a língua portuguesa como o maior legado que Portugal deixou no seu país.
Em S. Tomé e Príncipe, elegemos o português como língua de libertação e construção, como instrumento de luta pelo desenvolvimento, pela modernização, pela inclusão, pela afirmação. Por isso vos disse que esta é, também, uma festa da língua portuguesa, sob o pretexto de um livro no qual celebro expressões crioulas, algumas particularidades do português falado em S. Tomé e Príncipe, meu país crioulo, insular e africano.
Mas há uma outra razão para considerar este acto e este livro mais um momento de festa: a possibilidade que tive de, finalmente, o apresentar à comunidade são-tomense radicada em Portugal, testemunhando o meu profundo respeito, consideração e estima.
Reconheço e saúdo o esforço que fazem para a vossa integração plena no país de acolhimento. Reconheço, também, o esforço que fazem para manter e actualizar os laços com S. Tomé e Príncipe, transformando a distância que vos separa do nosso país em mais-valia.
Portanto, são três grandes motivos para que considere este dia como um dia de festa.
Gostaria de agradecer, sinceramente, a presença de todos vós, mas peço-vos que me perdoem mencionar algumas pessoas que vieram expressamente de outros países, ou que retardaram a sua estada em Lisboa para estarem hoje aqui. São os casos do meu amigo e Secretário-Geral da Assembleia Nacional de S. Tomé e Príncipe, Dr. Romão Pereira de Couto, dos meus amigos Conceição Deus Lima, Caló Costa Alegre, Arzemiro dos Prazeres, e do meu filho Elton, que chegou directamente do aeroporto para esta sala.
Em relação a Conceição Lima, gostava de agradecer não só a presença amiga como o facto de ter acreditado e acarinhado este livro desde o primeiro minuto.
Gostava ainda de distinguir a Dr.ª Alda Neves, que por razões de saúde não se encontra presente nesta sala, cidadã portuguesa que, enquanto trabalhou no Centro Cultural Português, impulsionou a edição de um conjunto de obras de autores são-tomenses e que agora, a partir de Évora, continua a apoiar, a promover escritores são-tomenses.
Quero pedir a permissão do Sr. Presidente Jaime Gama para cumprimentar e agradecer a amizade da Sr.ª Secretária-Geral da Assembleia da República de Portugal, Dr.ª Adelina Sá Carvalho, minha antiga colega, minha querida amiga, pedindo que este cumprimento e este reconhecimento sejam extensivos a todos os seus colaboradores.
Comoveu-me ver aqui a Dr.ª Isabel Corte-Real, também antiga colega.
Gostava de vos nomear a todos, um por um. Tenho razões particulares para o fazer, mas compreenderão que não é possível e não vos quero cansar.
Permitam-me, contudo, duas palavras para aquelas pessoas que dão o mais profundo sentido à minha vida e à minha luta: a Tina, minha companheira e amiga de longos anos, os meus filhos, que me fazem sentir o pai mais querido do mundo, e as minhas irmãs.
Aplausos.
A todas as pessoas que amo. Elas sabem o que sinto e sabem da minha gratidão.
Para terminar, quero agradecer, mais uma vez, ao Sr. Presidente Jaime Gama. Agradecer o privilégio de me ter concedido a palavra em último lugar nesta Cerimónia e pedir-lhe para declarar encerrada a Sessão, como tantas vezes fazemos nas nossas reuniões plenárias. Obrigado do coração.
Muito obrigado pela vossa atenção.
Aplausos.