Após 12 meses de penitências, centenas de pessoas encheram a Vila da Ribeira Afonso desde o último sábado para celebrar a missa onde segundo a tradição os desejos relatados ao santo a luz de velas serão atendidos ao longo do ano. Muitas vezes para o bem, e talvez outras para o mal, as velas acesas em todos os dias 10 de cada mês, voltaram a acender sábado e domingo últimos na Igreja de Santo Isidoro e na procissão que se seguiu a missa. Muitos emigrantes são tomenses tomam parte na festa que prossegue esta segunda feira. Vieram da Europa e de África para cumprir a penitência, para verem realizados os sonhos que confessaram ao santo a luz de velas. Como habitualmente o Chefe de Estado Fradique de Menezes também marcou presença.
Pratos típicos de São Tome vão ser saboreados esta segunda feira de forma gratuita. Coisa que já aconteceu no ultimo domingo. Este e um aspecto singular das festas populares do arquipélago. Panelas e mais panelas de comida confeccionada pelos juízes são distribuídas a todos os presentes na festa.
Uma verdadeira festa de natal que une toda a família são-tomense, onde todos juntos sem diferença de classe social, comem e bebam juntos durante três dias.
Esta segunda-feira mais pratos típicos vão animar a festa como o Jogó, o Izaquente de óleo de palma, o arroz doce e leitão assado. O rabo do leitão assado fará parte de um cerimonial que marca o encerramento da festa e a passagem do testemunho, para os juízes festeiros do próximo ano.
O Presidente da República que há tempos foi também juiz da festa de Santo Isidoro, sente que o ambiente festivo e cultural que se vive na Ribeira Afonso, alimenta o espírito de unidade e concórdia nacional. «Tudo isto tem uma razão de ser para que os homens não façam a guerra, se entendam, não matem uns aos outros, não roubem a propriedade dos outros. Tudo isto serve para tranquilizar. Antes que a polícia tenha surgido existia esse sentimento que se decidiu chamar de religioso», afirmou o Chefe de Estado quando saía da missa de domingo.
Fradique de Menezes que percorreu toda a vila acompanhando a procissão, acrescentou que é uma caminhada para que os filhos da terra encontrem um fio de ligação.
Isso mesmo foi reafirmado por dezenas de emigrantes são-tomenses que vieram pedir ajuda ao padroeiro da Ribeira Afonso. Confessaram que por várias vezes os desejos manifestados ao santo foram atendidos. As penitências e os sacrifícios feitos durante 12 meses acabam por resultar.
Até o dia da festa celebrada a 10 de Janeiro, cada juiz deve marcar presença na igreja local todos os dias 10 de cada mês para a penitência. As velas acesas são espalhadas em cerca de 6 pontos da Vila da Ribeira Afonso, incluindo o cemitério.
Antes, depois e durante os três dias da celebração da festa o homem ou a mulher que está em penitência não pode ter relações sexuais. Uma espécie de pureza para ser abençoado pelo padroeiro.
Abel Veiga