A atração, de 9 de outubro, sexta-feira, da sessão do Cine Brasil, promovido pelo Centro Cultural Brasil-São Tomé e Príncipe, será o filme “A Marvada Carne”, filme de André Klotzel com Fernanda Torres.
O filme conta a história de Nhô Quim que perambula com seu cachorro pelo interior paulista, sonhando com duas coisas: encontrar uma noiva e comer carne de vaca.
O filme ganhou vários prêmios no Festival de Gramado.
O filme faz parte do acervo da Programadora Brasil, projeto do Ministério da Cultura destinado à difusão do cinema brasileiro. Todas as cópias são em DVD, editados a partir de matrizes restauradas pertencentes ao acervo da Cinemateca Brasileira.
Entrada Livre!
:: A MARVADA CARNE
De André Klotzel
Duração: 77 min
Ano: 1985
Classificação Indicativa: Livre
Sinopse:
Nhô Quim vive lá nos cafundós em companhia do cachorro e da cabra de estimação. Aquela vidinha besta no meio do mato não dá pé e ele resolve cair no mundo e procurar a solução para duas questões que o incomodam: arranjar uma boa moça para o casório e comer a tal carne de boi, um desejo que fica ruminando sem parar dentro dele. Nas suas andanças, Nhô Quim vai dar na casa de Nhô Totó, cuja filha está em conflito com Santo Antônio, que não anda colaborando para ela arranjar um bom marido. E logo Nhô Quim descobre que o pai da moça tem um boi reservado para a ocasião do casamento da filha. Será este o momento para Nhô Quim realizar seus dois maiores desejos?
:: ALMOÇO EXECUTIVO
De Jorge Espírito-Santo e Marina Person
(SP, 1996, ficção, cor, 14 minutos)
[curta] Cinco amigos se encontram para almoçar. Nada poderia ser mais corriqueiro. Mas por alguma razão, ninguém ficou para a sobremesa.
CRÍTICA
A COMIDA NO ESPAÇO URBANO E NO ESPAÇO RURAL
Por Marcelo Miranda
Dois espaços opostos, dois universos distintos. A princípio, e ao se olhar unicamente as sinopses, nada parece aproximar o longa “A marvada carne” (1985) do curta “Almoço executivo” (1996). Porém, assistir a um acompanhado do outro funciona não apenas na percepção de suas diferenças, mas muito mais nas semelhanças – sendo a maior delas a forma como cada realizador capta o ambiente escolhido a partir de um elemento comum: a comida.
A alimentação é o que faz o homem caminhar, e é dela que os personagens dos dois filmes saem à cata. No caso de A marvada carne, comida é mola-mestre da ação: o caipira Nhô Quim sonha em comer carne de boi e sai pela mata à procura do bicho. De quebra, ainda quer uma mulher com quem possa se casar. É através do contato de Quim e de sua futura esposa, Carula, que o diretor André Klotzel vai explorar o universo ao redor deles.
Mais que isso: Quim e Carula, e todos os demais personagens que os cercam, são partes intrínsecas desse universo. Para reafirmar a idéia presente ao longo de todo o filme, Klotzel filma os atores sempre em contato direto com o ambiente, e o ambiente a todo instante em conflito com os atores. Seja por meio de crendices populares (o curupira, o rio sem peixe, o nariz colado ao contrário, a negociação com o diabo) ou da simples captação de um cotidiano comum (a construção do casebre que será palco de festas, os almoços na beira da terra, os animais que rodeiam a fazenda), “A marvada carne” é composto por toda uma gama de símbolos nos quais Quim, Carula, Nhô Totó e Nhá Tomasa são integrantes indissociáveis.
É interessante também inserir A marvada carne dentro de um subgênero tipicamente brasileiro: os filmes “sertanejos”, cuja imagem mais forte é a de Amacio Mazzaropi. Esse tipo de produção tem o humor firmado no jeito, ora ingênuo e ora matuto, do jeca roceiro – e sua interação com o outro, o estranho da cidade grande que eventualmente vai ludibriá-lo.
Tais filmes costumam ter grande apelo popular por retratarem uma fatia da população relegada quase a último plano em todas as instâncias e totalmente ausente das salas de cinema. Trabalhos como os recentes “Tapete vermelho” (2006) e “Dois filhos de Francisco” (2005), além de “A marvada carne”, servem como resgate de um olhar carinhoso e cúmplice àqueles que, de certa forma, guardam alguma virgindade no jeito de enxergar a realidade.
Por sua vez, “Almoço executivo” coloca o olho da câmera na cidade grande. Do encontro entre um grupo de amigos num restaurante, pipocam diversos incidentes que, na pouca duração do curta, servem de ilustração a um microcosmo do caos urbano. Estão lá os mais característicos comportamentos da selva metropolitana: trânsito congestionado, corre-corre, impaciência, abuso de poder.
A dupla Marina Person e Jorge Espírito-Santo, responsável pelo filme, busca fazer um pequeno painel sócio-cultural dentro de um acontecimento cuja banalidade apenas torna mais grave suas conseqüências. Assim como A Marvada Carne em relação ao rural, Almoço executivo utiliza-se de signos do próprio espaço cênico para refletir o comportamento de quem está dentro desse espaço.