Política

“O resultado do trabalho da minha esposa foi roubado por um funcionário público que tinha a obrigação de defender-me, de proteger-me”

rafael-branco.jpgReclamação do Primeiro-ministro e Chefe do Governo Rafael Branco(na foto), quando interpelado pela imprensa sobre o assalto a sua residência perpetrado por um dos seus guarda-costas. O Chefe do Governo, deixou entender que o jornal que divulgou o roubo na sua residência, está desesperado. Mais ainda, Rafael Branco, insinuou que o jornal em causa estará em busca de dinheiro, e prometeu ajudar financeiramente o tal jornal, quando o rendimento da sua família atingir o montante de 500 mil dólares. O jornal em causa é o Téla Nón.

 

No regresso na última semana da Europa, o Primeiro-ministro pretendeu colocar o caso de assalto a sua residência por um dos seus guarda-costas, no mesmo plano dos assaltos que têm ocorrido em todo o país, sobretudo nas plantações agrícolas. «Muitos são-tomenses são assaltados sobretudo os pequenos agricultores que passam o seu tempo a trabalhar e o resultado do seu trabalho é roubado por pessoas que não trabalham. No meu caso infelizmente também», afirmou o Chefe do Governo.

Para o Téla Nón a tradicional onda de roubos de banana e gado dos pequenos agricultores, pode ser considerada como algo rotineiro no país e consequentemente não constituir notícia. O mesmo não se pode dizer em relação a um assalto a residência do Primeiro Ministro e Chefe do Governo, e mais importante ainda, quando o acto foi praticado pelo guarda costas do Primeiro Ministro. Um agente treinado com fundos do estado e pago também pelo estado são-tomense para defender e proteger o primeiro-ministro. Para o Téla Nón isso é notícia.

Ainda mais quando o próprio Primeiro-ministro reconhece que «o resultado do trabalho da minha esposa foi roubado por um funcionário público que tinha a obrigação de defender-me de proteger-me», declarou Rafael Branco, para depois anunciar que «parte desse roubo já foi recuperado».

O Primeiro-ministro deixa entender que não concorda com o facto do jornal digital ter publicado o assunto do roubo na sua residência, com ênfase para os rumores intensos no país, segundo os quais o valor do dinheiro roubado, é de 500 mil dólares. «Tem um certo jornalismo, que se apoia em panfletos para divulgar notícias, isso é que seria bom evitar-se», reclamou o Primeiro-ministro.

O Téla Nón não recorreu a panfletos para divulgar a notícia, e nem se quer viu um panfleto com esta matéria. O Téla Nón soube sim, que num dos voos internacionais de há 8 dias atrás, uma cidadã são-tomense foi detida pela polícia no aeroporto internacional, por alegadamente ser mãe de um dos seguranças do Primeiro-ministro.  

O Téla Nón contactou entidades oficiais do sector de segurança, nomeadamente a UPDE(Unidade de Protecção dos Dirigentes do Estado), para conhecer a história, com destaque para a detenção da senhora. O Jornal foi informado pela entidade que pediu anonimato, que a senhora não foi detida, mas sim interpelada pela polícia para ajudar no esclarecimento do roubo na residência do Primeiro Ministro. Isto é um facto provado e reconhecido pela polícia.

A entidade deu mais detalhes ao jornal digital. Fez saber que o valor roubado era indeterminado, e que não era só dinheiro, mas também jóias. Explicou mais, que o guarda-costas foi detido mas pôs-se em fuga, estando ainda a monte. Sendo uma entidade digna de crédito, o Téla Nón achou que tinha reunido ingredientes fiáveis para dar a notícia. Deu a notícia, que veio a ser confirmada pelo próprio gabinete do Primeiro Ministro, de que o roubo efectivamente aconteceu incluindo dinheiro e jóias.

Na praça pública são-tomense, o que se dizia e ainda se diz, verdade seja dita, é que o assalto envolveu 500 mil dólares. O Téla Nón considera que o silêncio que se tentou impor sobre o caso, tendo a imprensa nacional seja estatal ou privada ficado amordaçada, ajudou a fomentar a especulação. E o jornal digital Téla Nón no seu artigo sobre o assalto, deu conta disso tendo noticiado que «rumores postos a circular no país indicam que o assaltante terá roubado 500 mil dólares».

O Jornal considera que não poderia ignorar este caso. Não podia posicionar-se como talvez muito bem o fizeram, outros órgãos de comunicação social do país, fazendo de contas que nada aconteceu na residência do Primeiro Ministro e Chefe do Governo.

Com uma guarda pretoriana para protege-lo e defende-lo, o Primeiro-ministro foi assaltado. É notícia. E mais do que isso, o Téla Nón achou que ao divulga-la, estava a lançar bases para uma reflexão ou chamar a atenção para a realidade da segurança dos dirigentes do país, analisando a fundo a situação de vida dos agentes de segurança do estado, para se apurar se estão efectivamente moralizados para dar a vida em defesa dos dirigentes. Porque se um elemento de segurança cai na tentação de roubar o Chefe do Governo, quem sabe se a sua realidade financeira e económica, não o venha a deixar sensível demais para assédios e tentações piores?

E a convicção do Téla Nón na publicação da notícia ficou reforçada, porque teve naquela semana em que a mãe do segurança foi interpelada pela polícia, mais elementos fornecidos por fonte policial, dando conta que também um ministro do governo de Rafael Branco, tinha perdido alguns milhões de dobras, e que o principal suspeito era o segurança do tal ministro.

Então estamos perante um problema ou não? Estamos diante de notícia ou não? Estamos diante de um assunto de interesse público ou não? É algo que exige reflexão ou não?

No entanto em declarações a imprensa, o Primeiro-ministro disse que «Eu estou tranquilo. No dia em que nossos rendimentos (da sua família) permitirem falar deste montante (500 mil dólares) que falaram, podem estar convencidos que eu resolverei o problema dessas pessoas que têm esses jornais, vou lhes dar uma assistência. Mas ainda não ganhei dinheiro para ajuda-los assim. Se calhar eles têm que continuar a vender jornais com notícias falsas, sem princípio, sem ética, mas é o São Tomé e Príncipe que nós temos hoje, eu compreendo o desespero dessas pessoas», concluiu.

Tendo sido o jornal que divulgou a notícia do assalto, o Téla Nón, esclarece que a sua existência nunca foi marcada pelo dinheiro. Existe apenas pelo prazer da sua direcção e dos seus colaboradores, em informar o país e o mundo sobre os acontecimentos da nossa terra.

Aliás como a sua página on line propriamente confirma, nem publicidades tem. Não é o dinheiro que anima o Téla Nón, apenas o gosto pela profissão e pelo compromisso que tem com os seus leitores. Não há dinheiro que compra a dignidade e sobretudo a consciência do Téla Nón.

Único patrocinador do Téla Nón é a CST. A mesma empresa que numa declaração pública ainda este ano, o Primeiro-ministro Rafael Branco disse ser também a empresa que desde a primeira hora, garantiu apoio financeiro ao seu jornal, o Correio da Semana.

Abel Veiga  

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