Num comunicado a UMPP, força política que governa a ilha do Príncipe, condenou a posição da Ministra da Defesa Nacional Elsa Pinto, em relação a ameaça de detenção feita contra o Presidente do Governo da Região Autónoma José Cassandra. para além da condenação a UMPP, diz que a acção da ministra da defesa nacional é perigosa, e vai mais londe dizendo que sob a direcção de Elsa Pinto, «as forças armadas são-tomenses são vistas pela generalidade das pessoas como guardiões de um projecto político e ideológico em detrimento da defesa e segurança dos nossos interesses colectivos».
COMUNICADO DA UMPP EM RESPOSTA AO ACTO DA SENHORA MINISTRA DE DEFESA, JUSTIÇA E ASSUNTOS PARLAMENTARES
Num contexto de crispação política nacional, tendencialmente potenciado por tacticismos políticos, decorrentes da aproximação do período eleitoral que se avizinha, a UMPP aproveita esta ocasião para, em primeiro lugar, e, de acordo com os princípios do Estado de Direito Democrático, reafirmar a sua posição, de intervenção política e cívica, sempre que, em causa, estiverem os superiores interesses da Região Autónoma do Príncipe.
É neste sentido que repudiamos e condenamos, de forma clara e inequívoca, a ameaça infeliz, insensata, provocatória, com traços evidentes de arruaça e irresponsabilidade institucional, da senhora Ministra de Defesa, Justiça e Assuntos Parlamentares, dirigida ao senhor Presidente do Governo Regional do Príncipe.
É com tristeza que vemos, no topo da hierarquia de uma das instituições mais respeitadas do nosso país, actos e intenções, denunciadores de um propósito de revisitação de um período negro da nossa História colectiva, como país soberano.
Isto pode ser potencialmente perigoso e não confere prestígio nem ajuda a cristalizar, junto dos cidadãos, o sentimento de respeito e independência das nossas Forças Armadas que, hoje, são vistas, pela generalidade das pessoas, como guardiões de um projecto político e ideológico em detrimento da defesa e segurança dos nossos interesses colectivos. É pena que assim seja, porque as nossas Forças Armadas não mereciam este juízo ofensivo e antidemocrático pela simples coincidência de terem, momentaneamente, no seu topo hierárquico, um modelo de orientação política que adultera a essência da sua nobre missão e prepara, simbolicamente, com este acto da senhora ministra de Defesa, a reinauguração do autoritarismo e intimidação como doutrina castrense num contexto democrático.
A população do Príncipe não pode nem deve esquecer, que, estes mesmos tiques e comportamentos autoritários, que eram a essência do regime totalitário, após a independência nacional, justificaram mortes, perseguições políticas, torturas e prisões arbitrárias, perpetradas contra muitos naturais do Príncipe e da generalidade do nosso país.
Quem não se lembra dos dias 26 e 27 de Dezembro de 1981 em que dezenas dos nossos compatriotas foram presos e torturados porque ousaram reivindicar o miserabilismo social e económico imposto ao Príncipe e sua população? Quem não se lembra de dezenas de cidadãos do Príncipe que tiveram de abandonar a sua Terra, em canoas, numa aventura inglória, rumo aos lugares incertos da costa Africana porque se sentiam perseguidos por um regime totalitário, cruel e injusto, na repartição dos recursos naturais? Quem não se lembra da morte do senhor Lereno da Mata numa prisão nacional exemplificativa da crueldade e desumanidade deste mesmo regime?
É com tristeza e preocupação que assistimos ao ressurgimento simbólico dos fundamentos deste mesmo regime cuja maternidade a senhora ministra de Defesa, Justiça e Assuntos Parlamentares acabou de reivindicar de forma assombrosa, ameaçando com ordens de prisão o representante político da nossa região autónoma pelo facto, deste, em defesa dos interesses legítimos dos habitantes da ilha do Príncipe, ter reclamado maior cooperação e coordenação institucional em relação aos projectos que colocam em causa os interesses da população do Príncipe.
O senhor Presidente do Governo Regional do Príncipe havia de defender os interesses de quem? O Presidente do Governo Regional do Príncipe não foi legitimamente eleito para defender os interesses da sua Terra e dos seus concidadãos?
A ilha do Príncipe não é uma quinta ou coutada da senhora ministra de Defesa nem a população do Príncipe se verga aos caprichos intimidatórios, autoritários e tresloucados de qualquer reeducadora, em obediência a um regime ou interesses particulares ou de grupo.
Continuaremos a pautar a nossa conduta política, responsável e institucional, com todos aqueles que nos merecem respeito, crédito e confiança, em prol da defesa dos interesses da região autónoma do Príncipe. Aproveitamos a ocasião para reafirmar a excelência de relações, política e institucional, estabelecidas com sua Excelência o senhor primeiro-ministro, Rafael Branco, cujo desempenho e atitude, nesta onda de extravagância carnavalesca e autoritária inusitada, devem ser destacados.
A Direcção de UMPP
Ilha do Príncipe, 5 de Fevereiro de 2010