Opinião

SERÁ QUE REALMENTE HOUVE DIMINUIÇÃO DA ABSTENÇÃO NAS ÚLTIMAS ELEIÇÕES????

O objectivo desta reflexão é porque se tem falado muito na diminuição da abstenção e, muitas vezes, conotando a vitória do ADI a esse facto, o que também pode contribuir para defraudar a manifesta vontade popular e o inconfundível peso dessa vitória.

Na realidade, tenho meditado sobre o assunto, levando-me a concluir que talvez não tenha havido assim tanta diminuição na abstenção.

Senão vejamos:

Ao que me parece, só houve dois recenseamentos eleitorais de raiz: em 1990/91 e em 2010. E nesses recenseamentos de raiz somente inscreveram os maiores de idade presentes e vivos.

Desde o primeiro ao último recenseamento de raiz decorreram cerca de 20 anos e muitos dos eleitores regularmente inscritos nos recenseamentos subsequentes se ausentaram do país e outros foram definitivamente para o mundo que não é dos vivos. Certamente que nenhum desses ausentes foram excluídos das diversas listas eleitorais outrora existentes. Os seus nomes continuaram inscritos até ao recenseamento de 2010.

Só em caso de mortes, se contabilizarmos um falecimento de adulto por dia, iríamos ter em 20 anos cerca de (365×20=) 7300 ex-eleitores, cujos nomes ainda constavam das listas eleitorais até ao recenseamento de 2010.

Este facto contribuiu também para deixar a impressão que houve uma diminuição de eleitores inscritos em 2010, mas o que deve ter acontecido é que os ausentes e mortos foram simplesmente e de forma natural expurgados das novas listas eleitorais.

Com tudo isso, será que devemos continuar a imaginar que a abstenção tenha diminuído? Ou é a incoerência das listas anteriores que nos iludiu ao longo das diversas eleições anteriores com um suposto e inexistente aumento de eleitores?

Mesmo nestas eleições, de certeza absoluta que os poucos dias que separaram-nas do recenseamento de 2010, muitos eleitores inscritos se ausentaram e outros morreram enquanto os seus nomes permanecem nestas listas eleitorais de raíz.

E de certeza absoluta que nas próximas eleições, mais eleitores morrerão ou se ausentarão do país mas os seus nomes permanecerão intactos nas futuras listas eleitorais continuando a iludir-nos com uma suposta expansão da abstenção.

Motivos para reflexão geral e, quem sabe, tomada de outras medidas para o saneamento de eleitores que nunca mais poderão votar.

A ver vamos

Juvêncio Amado d’Oliveira
juvamadol@yahoo.com.br

6 Comments

6 Comments

  1. Yusantos

    13 de Agosto de 2010 at 9:07

    Eu não concordaria com a sua reflexão em partes.No Primeiro lugar, porque a pessoa não pode viver também eternamente votando nas eleições. Nosegundo lugar, é normal uma pessoa ausentar-se do seu País por agum motivo. Agora, não vamos comparar o caso de falecimento de um indivíduo e o caso de ausencia deste mesmo indivíduo do País, uma vez que uma pessoa pode recenciar-se, ausentar-se do País e voltar antes da realização das eleições e votar, enquanto um morto que consideramos ausente eternamente já não tem como regressar desta longa viagem para votar.
    Agora, a sua reflexão deveria ser feita partindo da ideia de que, ou seja, com base nas pessoas que recenciaram-se no último recenciamento e não nas pessoas que recenciaram-se em 1990-1991. Desde 1991 até então, é verdade que houve muito caso de falecimento e muitos ausentaram-se e daí o porquê de um novo recenceamento de base para podermos conhecer a situação actual dos eleitorados que temos no país e não no exterior. A análise feita para sabermos se houve diminuição das abstenções ou não, foi com base nos númros dos inscritos no caderno eleitoral destas últimas eleições e que votaram, comparando com os números dos inscritos em cada uma das eleições realizadas em cada ano, que nste caso em 1991, em 1994, em 1998, em 2002 e em 2006. Agora, se formos comparar este resultado com dos outros anos podemos ver que reamente a percentagem das abstenções baixaram. Agora digo que este facto foi um dos determinantes da vitória do ADI nas eleições. Digo um dos porque também a perda dos militantes votantes do MDFM/PL, que tinha 12 (doze) assentos parlamentares, ou seja, Deputados, e que passou agora a ter apenas 1 (um) e, do PCD que tinha 11 assentos, e agora passou a ter apenas 7 (Sete).Agora, um outro factor que também considro importante é O LEMA DA MUDANÇA.
    No entanto são estes quatro factores que contribuíram para vitória do ADI.

  2. lioterio carvalho

    13 de Agosto de 2010 at 10:48

    Obrigado pela reflexao. Ajudou me a entender o porquê da diminuiçao do eleitor. Penso que era isso que o presidente da CEN deveria explicar. Claro e objectivo.

  3. FC

    13 de Agosto de 2010 at 13:43

    Boa análise!
    Mas existem formas de combater esta “pseudo-abstenção”.
    Por exemplo, se os serviços de identificação do estado (não apenas o registo civil), tivessem a sua disposição uma base de dados única, cruzando informações provenientes de outras fontes como as finanças, a segurança social, comissão eleitoral, etc.
    Isto seria uma forma de diminuir os erros nos cálculos da abstenção. E evitaria ao estado estar a fazer recenseamentos de tempos em tempos. E também seria uma forma de, num futuro próximo, se convergir em apenas um cartão, o cartão de contribuinte, o BI e o cartão de eleitor.
    Com isto em mente, e já que vivemos de apoios externos sempre que é necessário este tipo de trabalho como se viu com o novo cartão de contribuinte, com o recenseamento eleitoral, etc, e considerando que somos muito poucos, era preferível pensar e fazer um único projecto para o fim acima referenciado, claro está, com o apoio e exemplos de outros países.

    A todos um bem-haja.

  4. João

    13 de Agosto de 2010 at 18:14

    Caro Juvêncio,
    Faz-nos o favor de comparar o nível de abstenção de 25 de Julho com as de 1 de Agosto.
    Abraços

  5. Zidane

    13 de Agosto de 2010 at 21:11

    Caro Juvêncio,
    Concordo com a tua análise.
    Nas eleições anteriores ficava-se sempre espantado com o numero elevado de abstenção.Como não temos o habito de fazer análises de dados, nunca ninguem procurou saber qual era a causa dessa elevada abstenção.Era muito fácil dizer que o povo está descontente por isso é que não foi votar.Vimos agora que não é nada disso.A explicação que deste parece-me correcta.Em vez do Presidente da CNE fazer este tipo de análise andou a fazer análises políticas despropositadas.A mudança deverá passar também em colocar gente certa em lugar certos e acabar com tachistas duma vez para sempre.

  6. Digno de Respeito

    15 de Agosto de 2010 at 5:44

    A intensão do texto boa, mas o seu conteúdo parece carecer de elementos sustentáveis para uma análise correcta, eficaz e indo mais longe, base ciêntífica (que não se limite apenas ao censo comum). No meu entender, esse texto serve apenas de referência para que se começe a preocupar com assuntos e questões muito técnicas feitas com apoio técnico de santomenses “especialistas” nas respectivas areas. Aproveito exemplificar: Criação de Base de Dados Nacional ( aplicável em vários sectores da vida nacional); Levantamento, Estudo e Análise de Dados Estatísticos; Estudo de Mercado e de Opinião, e talvez Sondagens.

    Pela dimensão do País, pela sua densidade populacional e pelo que o País produz e considerando os recurso humanos (activos e passivos), pode-se num projecto claro e objectivo e em “timing” adequado produzir resultado favorável e numérico que satisfaça o interesse da informação pública. Na minha opinião seria bastante esclarecedor aos olhos dos mais e dos menos interessados em “números” nacionais. Certo que assim estariamos a cultivar mentalidades chamando nome ás respectivas “coisas” e paulatinamente colocando cada “pedra” no respectivo lugar” na perspectiva de melhorar o que está mais ou menos feito ou pouco melhor…. A margem de erros sempre existiu, o importante é corrigi-la.

    Entendo que o nosso conterrâneo Juvêncio trouxe á superfície uma matéria de interesse e que talvez preocupasse muita gente mas por talvez pela ausência de dados numéricos se possa claborar uma informação pública cuidada e eficiente.

    É temppo de além de sonhermos perspectivarmos com grandeza e sapiência acompanhando os sinais do tempo que já não volta á trás…..

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