Hoje, resolvi voltar a falar do 25 de Abril.
Facto estranho este, na medida em que, passados que são cinquenta anos sobre aquela inesquecível madrugada de esperança, parece ter-se esbatido na memória dos santomenses que a viveram – em Portugal, em S. Tomé e Príncipe e em Libreville, então cidade-sede do MLSTP – as recordações de um tempo que marcou de forma profunda a história de Portugal, mas também e, irrefutavelmente, a dos países africanos de língua oficial portuguesa.
Uma onda de indiferença marca, pois, no nosso país, o 25 de Abril. De indiferença e, de igual modo, de injustiça, porque se esta data histórica é, por um lado, consequência directa da luta empreendida pelo povo português e pelos povos das então colónias africanas pela sua libertação do jugo colonial-fascista, ela abriu, por outro, caminho ao contacto entre os que, de ambos os lados, buscavam soluções capazes de pôr cobro às crispações, à violência e à morte, fomentadas entre povos irmanados por seculares laços de história e de cultura por um regime caduco e sem alma.
Cinquenta anos depois, agora que começam a tornar-se fugidias as imagens que se albergam na memória daqueles que, como eu, viveram directamente as peripécias de uma revolução que abalou a sociedade portuguesa e mexeu irremediavelmente com os seus alicerces, é tempo de refazer emoções e dar testemunho às novas gerações sobre o misto de alegria e de estupefacção que nos invadiu, africanos em Portugal, na gloriosa madrugada dos cravos, dos sorrisos e da expectante Grândola Vila Morena.
Vivemos então na rua os acontecimentos, entre manifestações e marchas de protesto, em justa homenagem ao povo português, é certo, mas reivindicando de igual modo, com o entusiasmo próprio dos que vibram com o seu país e que com ele sempre se solidarizaram, numa profissão de fé que se mantém inalterável nos bons e nos maus momentos do seu percurso histórico.
A grande manifestação de 26 de Abril, subindo a simbólica Avenida da Liberdade; a extraordinária marcha do 1º de Maio; a manifestação de 2 de Agosto, organizada por santomenses e caboverdeanos, com o apoio de toda a esquerda portuguesa, indo do Jardim da Estrela ao hotel Ritz, reivindicando perante o então Secretário-Geral da ONU, Kurt Waldeim, sob a ameaça da polícia de choque, o direito à auto-determinação e à independência para Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe, países não incluídos na declaração de 27 de Julho; do General Spínola; as jornadas de luta pela libertação do capitão Peralta, oficial cubano capturado na Guiné-Bissau, onde apoiava o PAIGC; os agitados comícios no Rossio; a promoção de S. Tomé e Príncipe por grande parte do Portugal rural, feita através de palestras e do Grupo de Canto criado para o efeito; a mediática tomada da chamada Procuradoria dos Estudantes Ultramarinos, órgão fascista de enquadramento e controlo dos estudantes africanos, e a criação, em seu lugar, da Casa dos Estudantes das Colónias – estas são imagens inesquecíveis que nos conduzem de regresso a um passado que tanto impacto teve no nascimento, que assim começava, do S. Tomé e Príncipe livre e soberano.
E, sobretudo, porque esse foi o tempo da criação, em Junho de 1974, em Lisboa, da Associação Cívica pró-MLSTP, espaço histórico por excelência do entusiasmo, da coragem e do fervor patriótico de uma juventude incomparável e generosa, que de tudo prescindiu para, à luz dos princípios e dos valores que a animavam, dar vida ao sonho maior de um país e de todo um povo – a Independência Nacional.
Tempos de abnegação e de coragem, mas também de tensões e incompreensões entre os santomenses, motivadas por percepções e interesses díspares, cujos efeitos se repercutem ainda hoje no tecido sócio-político de um país que tarda a encontrar-se com o seu próprio destino.
Um tempo de disputas que não devem ser desenquadradas do contexto em que emergiram e se desenrolaram, a sugerirem um estudo profundo sobre as reais motivações dos seus diversos protagonistas, o que talvez ajudasse a entender melhor a razão de ser das divergências do presente e a melhor preparar o futuro.
Por tudo isso, continuo a declarar, como o fiz emocionado naquela mítica madrugada de sorrisos e lágrimas:
25 DE ABRIL – SEMPRE Albertino Bragança
25 de Abril de 2024
Sem assunto
25 de Abril de 2024 at 6:38
” Tempos de abnegação e de coragem, mas também de tensões e incompreensões entre os santomenses, motivadas por percepções e interesses díspares, cujos efeitos se repercutem ainda hoje no tecido sócio-político de um país que tarda a encontrar-se com o seu próprio destino”.
Estas palavras vindas de si, caro Albertino Bragança, não deixam margem de dúvidas de que a luta pela descolonização na verdade era a mera substituição do poder dos colonizadores para os nacionais.
Ademias hoje é visível tudo isto, basta percebermos de que a geração antes da independência, os ditos independentistas, é dona de tudo, enquanto que a geração pós independência está desamparada e errante pelo mundo feito refugiado.
Renato Cardoso
26 de Abril de 2024 at 6:01
Outro que quer-se árvorar de combatente da liberdade sem eira e nem beira!
Devia ter idade de ganhar juízo e penenteciar-se dos erros cometidos na melhoria das condições de vida dos Ilhéus enquanto armava-se em politico e escritor de meia tigela!
Justino Gonçalves de Sousa
26 de Abril de 2024 at 23:59
Renado Cardoso você disse a verdade sobre individuo que está armado em intelectual de mula russa, com os seus escritos supostos filosóficos conselhos patéticos e ridículos sobre a sociedade, ora que a situação está muito mal em STP, inclusive ele colaborou ativamente para que o país estar no estado como está. Que faz ele,para fazer mudar ( no bom sentido), STP? Que fez ele de bem e de bom para o país quando ele esteve a ocupar cargos importantes, como por exemplo ser ministro ? Várias ocasiões ele teve e nada fez.