Sociedade

Mercia Radicchi Presidente do Escritório Comercial e Industrial Brasil –São Tomé e Príncipe apresenta mais um capítulo da novela de importação de produtos brasileiros, deixando no ar o cheiro intenso da corrupção

mercia.jpgA STP-Trading disse que os 5 milhões de dólares cedidos pelo Brasil para importação de bens alimentares foram aplicados na compra dos produtos, sendo mais de 3 milhões e 800 mil dólares na aquisição das mercadorias e o resto no pagamento do transporte. Mercia Radicchi(na foto) jura que só foram gastos 2 milhões e 400 mil euros na compra dos produtos alimentares. A STP-Trading diz que recomendou leite em pó integral e magro, mas Mercia Radicchi garante que os códigos utilizados não eram correctos por isso é que o país recebeu um composto químico ainda desconhecido, no lugar de leite. A novela aquece porque a cidadã brasileira, denuncia o facto de um antigo ministro são-tomense ter influenciado a contratação de um escritório de advogados no Brasil para realizar a actividade comercial em parceria com a STP-Trading. Advogados não dominam comércio, e acabaram por contratar a SAX Logística uma empresa que tem rendimento anual inferior a 500 dólares, e que segundo Mercia Radicchi terá aproveitado a oportunidade dada pela Trading são-tomense, para fazer vida.

Segundo Mercia Raddichi, desde o ano passado que ela tem trabalhado com o governo são-tomense e a câmara do comércio nacional, no sentido de organizar a importação dos produtos brasileiros. A cidadã brasileira anunciou que foi convocada pelo Primeiro-ministro Rafael Branco, para orientar o sector privado nacional, na utilização da linha de crédito de 5 milhões de dólares cedida pelo governo de Lula da Silva.

Mas no meio do percurso, quando a Presidente do escritório Comercial e Industrial Brasil – São Tomé e Príncipe, já tinha todo trabalho feito, incluindo as cotações dos produtos e a concertação com os fornecedores que prometeram produtos com prazo de validade superior a 1 ano, tudo mudou.

Segundo ela Osvaldo Santana, actual director comercial da STP-Trading entrou no jogo, com a criação da STP-Trading. Um consórcio de 14 firmas comerciais são-tomenses. A empresa nacional mudou a regra do jogo, diz Mercia Radicchi, tendo passado uma procuração a favor de um escritório de advogados do Brasil, designado A.W. Galvão e Filhos, para fazer a gestão do processo, ou seja, desde a compra dos produtos até o transporte para São Tomé e Príncipe. «O escritório A.W. Galvão entrou no processo por vias indirectas através de interferências de um ex-ministro que estava a prestar consultoria informal a esse escritório no processo de contratação de transportes públicos. O objectivo era aproveitar o navio que possivelmente seria contratado para trazer os autocarros para trazer junto os produtos alimentares. É daí que começou a gerar a interferência do escritório Galvão. O ex- ministro é são-tomense», confirmou Mercia Radicchi.

marcia-2.jpgA novela fica mais quente quando a cidadã brasileira, diz não entender como é que um escritório de advogados, é contratado para realizar operações comerciais. «É um escritório de advogacia sem cultura de comércio exterior. Isso foi criticado pelas nossas autoridades que estiveram em contacto com Galvão. E diziam que ele era totalmente ignorante nas questões do comércio exterior. Eu tenho aqui também emails dele enviado a mim solicitando esclarecimentos burros», declarou Mercia Radicchi.

Como se não bastasse, o escritório de advogados, talvez reconhecendo a sua incompetência na matéria, explica Mércia, contratou a SAX Logística Internacional, para fazer a compra dos produtos e o transporte para São Tomé e Príncipe.  «Vários fornecedores brasileiros reclamaram porque foram fazer o levantamento do cadastro da SAX  e perceberam que a SAX, não tinha cadastro nenhum. É uma empresa que faz logística de equipamentos para show. Nunca fez logística de alimentos. Um cadastro (curriculum) fraquíssimo. Entre 2007 e 2008 o registo da SAX no domínio de transacções comerciais era de 500 dólares», confessou a cidadã brasileira, tendo mostrado algumas provas documentais.

Novela escaldante, que leva Mercia Radicchi a ilucidar o público são-tomense, sobre as razões de o país ter consumido produtos em estado de deterioração, como a manteiga já comprovada pelo CIAT e o alegado leite cuja composição química ainda está a ser investigada. «A SAX comprou os primeiros produtos no final do mês de Novembro de 2008, e foram óleo de soja caldo de galinha e biscoitos. O resto dos produtos foi comprado em Abril de 2009. Portanto o armazém ficou alugado todo esse tempo. Os produtos só saíram do Brasil na segunda quinzena de Abril. Foram 6 meses de pagamento de armazenagem. A SAX subfacturou muito, para tirar maiores ganhos. Essas informações são facilmente comprovadas através das nossas autoridades no Brasil», frisou.

SAX tira lucros, uma vez que os 5 milhões de dólares beneficiam directamente os fornecedores brasileiros. Mas Mercia Raddichi considera que a culpa não pode morrer solteira. Isto porque segundo ela, a STP-Trading também participou directamente na compra dos produtos. «Determinado elemento da STP-Trading efectuou cerca de 4 viagens ao Brasil no período de Dezembro de 2008 a Abril de 2009 tendo sido essa pessoa compradora de grande parte dos produtos. Ela realizava as compras e solicitava a entrega nos armazéns indicados pela SAX. A SAX comprou parte dos produtos, mas a maior parte foi comprada por essa pessoa de São Tomé logicamente em parceria com a SAX», afirmou.

O Téla Nón perguntou quem é essa pessoa? Mercia confirmou. «O senhor Nino Monteiro».

A mulher que a par das actividades do escritório comercial e industrial entre os dois países, estava a projectar várias acções de cooperação bilateral entre od dois estados, fez questão de dizer que o Primeiro-ministro Rafael Branco sempre foi informado da situação, sobretudo na fase em que ela estava a preparar o processo para importação dos produtos. Aliás recebeu luz verde de Rafael Branco para conduzir o processo.

A STP-Trading numa entrevista a imprensa, anunciou que os produtos que chegaram a São Tomé e Príncipe no final de Abril, foram comprados com os 5 milhões de dólares do governo brasileiro. Osvaldo Santana Director Comercial da empresa, explicou na altura que a aquisição dos produtos custou mais de 3,8 milhões de dólares e que o valor restante suportou os custos com o transporte e outras despesas normais.

A partir de contactos feitos no Brasil, Mercia Radicchi diz que não é verdade. «A informação que tive é que as compras chegaram no máximo a 2 milhões e 400 mil dólares. O resto ficou diluído em fretes e armazenamento dos produtos», precisou.

Mercia Radicchi exige agora que o estado são-tomense, pague os seus serviços. Mais de 94 mil dólares estão em causa.

Caldo entornado, negócio estragado. A novela prossegue porque a justiça já foi chamada para os próximos episódios, e porque há actores políticos envolvidos na STP-Trading, cenas políticas também vão reforçar o guião desta novela brasilero – são-tomense.

Abel Veiga

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