Sociedade

“O país tem que deixar de ser um país de impunidades. O país político não pode continuar a sobrepor-se ao país real”

antonio-quintas.jpgÉ com esta frase que António Quintas comerciante membro da STP-Trading desmontou a empresa, para permitir a intervenção da polícia criminal e de magistrados judiciais. António Quintas, integra o grupo de 7 sócios da STP-Trading que decidiu chamar polícia para esclarecer toda história. Ele foi líder de duas comissões criadas pela câmara do comércio com o aval do governo para organizar a importação dos produtos. Trabalhou com a Mércia Radicchi, considerada por António Quintas como sendo uma mulher competente. António Quintas deixou entender que Delfim Neves caiu de pára-quedas no processo, e passou a ditar as regras do jogo. Um jogo que está a acabar muito mal, e com consequências imprevisíveis.

Como líder das duas comissões criadas para tratar do processo de importação de produtos alimentares do Brasil, António Quintas, disse que esteve no Brasil onde contactou empresas de competência reconhecida no Brasil para garantir a importação dos produtos. «Fizemos contacto com diversas agências e pedimos também a W Service, DWL, porque eram empresas que estavam indicadas para certificar a saída dos produtos em termos de prazo de validade e em termos de qualidade e de preços», referiu.

Para além de instituições de controlo de qualidade e preço dos produtos, a comissão acertou negócio com fornecedores de renome no Brasil, assegurou António Quintas. Tudo acertado, o processo conheceu grande reviravolta quando ele viajou para Taiwan. 20 dias depois regressa a São Tomé, e dá conta que outras pessoas tomaram conta do processo, dentre elas Delfim Neves que segundo António Quintas, nunca antes tinha participado em qualquer reunião organizada pela comissão que estava a preparar o dossier. Também Nino Monteiro sócio de Delfim Neves na firma D & D, já fazia parte do esquema. A Firma D & D, já tinha conquistado maior número das acções da STP-Trading.

António Quintas explica ainda que numa das reuniões, em que a STP-Trading decidiu pelo envio de uma delegação ao Brasil, é que Delfim Neves começou a ditar as regras do jogo. «Foi assim que se disse que iria um elemento, e foi dito pelo senhor Delfim Neves que fosse o senhor Nino Monteiro que estava aqui na sala. Eu entendi que onde há bom senso se eu já estava em São Paulo com o director comercial da STP-Trading, a fazer este trabalho, que ao menos me propusessem uma vez que eu já estava lá e seria um continuador da matéria. A partir daí acaba a minha participação nesse processo e entra a STP Trading, que estive no Brasil e trabalhou com o jurista AW Galvão e apresentaram este relatório, com os produtos que a AW Galvão propôs que eles comprassem. Isto não tem nada a ver com o plano que eu produzi», salientou.

O escritório de advogados, acabou por entregar a empreitada a empresa SAX, que também não tem capacidade financeira e as coisas começaram a correr mal. «A SAX não tem capacidade para realizar esta operação, e é por isso que apareceu aqui no porto paletes de óleo alimentar como se tivessem sido amarradas com corda de bananeira. Perdeu-se muito óleo, que saiu a pingar.  Nós sempre defendemos que as mercadorias fossem contentorizadas. Fomos dando conta que alguns produtos que chegaram não têm nada a ver com aquilo que enquanto comissão pedimos. Veio manteiga fora de prazo. Hoje sabemos que a manteiga estava num frigorífico durante 1 mês. Tiraram do tal frigorífico mais um mês, e depois voltaram a por no frigorífico. Veio fora de prazo e está aqui a criar problema de saúde a população, isto é um crime de saúde pública. As autoridades do país têm que actuar», reclamou

António Quintas, tem dados que apontam para a existência de mais produtos deteriorados. «Soubemos também que a carne, foi comprada num armazém frigorífico que já está fechado. E a carne vem em condições que não deviam ser consumida no país», acrescentou. Para depois em nome dos outros seus colegas da STP-Trading, pedir justiça. «Neste contexto a que apurar as responsabilidades no Brasil em primeira instância e em São Tomé, porque o governo e o povo são-tomense estão lesados, e se calhar o governo brasileiro também», pontuou.

O custo do transporte das mercadorias do Brasil para São Tomé e Príncipe é outro caso de polícia diz António Quintas. «Ouvimos numa conferência de imprensa em que se dizia que o custo dessa operação tinha ficado 2 milhões e 400 mil dólares, mas a linha de crédito é de 5 milhões. A quem diz que o frete do barco foi de 750 mil dólares norte americanos. Ouvimos numa conferência de imprensa que o frete foi de 1 milhão e 138 mil dólares. Soubemos paralelamente que já não é assim, se calhar o frete foi de 1 milhão e 600 mil dólares. Aqui já é matéria crime, tem que ser averiguado», enfatizou.

O mais grave ainda é o facto do Barco que trouxe as mercadorias, ter saído do Brasil com outro destino. «O barco que foi fretado e que deveria vir para São Tomé e regressar ao Brasil, foi para os Camarões deixar parte da carga. E não é o barco que inicialmente estava previsto para vir a São Tomé. È um barco que surge na última hora. É um barco que está em linha, não vem expressamente para São Tomé. Como é que o frete pode ficar este valor?», interrogou.

Por tudo isso, António Quintas em nome dos outros 6 colegas seus considera que «há aqui uma panóplia de situações que temos que encontrar respostas para elas», precisou para depois sublinhar que cabe as instituições judiciais encontrar tais explicações.

António Quintas Aguiar que se manifestou disposto a colaborar com a justiça, fez questão de frisar que está na posse de documentações fundamentais para a comprovação das anormalidades praticadas, e que vai entrega-las a justiça. «Nós tínhamos previsto a importação de leite através da empresa brasileira Cerelac. A lei brasileira não permite que o leite saia do Brasil sem ser em contentor lacrado. Como é que aparece sacos de leite escrito produto proibido, e quando se põe na caneca para fazer para criança parece papa. Porquê que temos que nos submeter a isto com um crédito de 5 milhões de dólares nas mãos», destacou António Quintas.

O comerciante vai mais longe e avisa que ninguém está acima da lei. «Porque nós entendemos que em nosso país, ou em qualquer estado de direito democrático ninguém está acima da lei. Eu estou disposto para colaborar com a justiça cá no Brasil e onde for necessário para tirarmos isso a limpo. O país tem que deixar de ser um país de impunidades. O país político não pode continuar a sobrepor-se ao país real», conclui António Quintas.

Quanto a situação da cidadã brasileira Mercia Radicchi que reclama pelo pagamento de indemnizações superiores a 94 mil dólares, pelos serviços prestados a mais de 1 anos, António Quintas diz que é de direito, e considerada que o estado deve pagar, porque a cidadã brasileira muito trabalhou.

Abel Veiga

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