Opinião

A minha participação no YALI Dakar

 

Leandro Lavres                    01/11/2016

Mestre em Sociologia / Associativista

 

O programa de formação YALI (Young African Leaders Initiative) é uma iniciativa do Presidente Barack Obama para potenciais jovens líderes africanos. Lançado em 2010, o programa foi-se dinamizando e se polarizando, um processo que culmina atualmente com a coexistência do YALI regional. Assim sendo, quatro polos regionais foram criados (Accra, Dakar, Pretória e Nairobi), permitindo a participação do maior número possível de potenciais jovens líderes africanos no programa YALI. S. Tomé e Príncipe consta entre os 16 países elegíveis para o YALI Regional de Dakar para a África do Oeste. E é por esta razão que, de 19 de Setembro a 21 de Outubro, tive o privilégio de ser o primeiro jovem santomense a marcar presença nesta versão regional doYALI em Dakar, que assinalava a sua segunda sessão.

Durante este período, o Centro Regional de Liderança de Dakar, acolheu cerca de 100 jovens dos 16 países elegíveis para um programa de formação intensiva em Liderança de cinco semanas. Neste âmbito, 3 áreas distintas de formação compõem o programa, dentre as quais o alumni deve escolher uma do seu interesse, nomeadamente: Public Management, Business and Entrepreneuship e Civic Leadership. A escolha da formação deve ir de encontro com o projeto pessoal/profissional de cada participante. Recomenda-se que cada alumni seja portador de uma iniciativa ou projeto a desenvolver no seio da sua comunidade ou país. Para mais informações, o leitor pode dirigir-se ao web site do programa.

Virtudes do YALI DAKAR

É sem exagero nenhum que confesso que essas cinco semanas de formação foram das melhores da minha vida. E não é que tenham faltado momentos bons na minha vida. Para que me faça entender, essas semanas foram verdadeiramente excecionais em vários sentidos. Primeiramente, foi, para mim, uma viagem descoberta da história e da diversidade do continente africano.

leandroA interação com os demais participantes de cada país distinto era como degustar um prato de mil sabores puramente africano. Algumas dessas pessoas ficarão na memória para sempre. E um grupo whatsapp foi criado justamente para permitir que esta interação perdure e derrube as barreiras do espaço-tempo. Todos os dias sou notificado com centenas de mensagens entrando no meu whatsapp. Diariamente cada um partilha com os outros as suas experiências quotidianas, informações úteis, anedotas e palavras motivadoras e de reconforto. A verdade é que o santomense sente-se menos africano ao entrar em contacto com as demais culturas africanas. O santomense não tem as mesmas referências, não dispõe dos mesmos códigos vestimentarios, linguísticos ou comportamentais, próprios a grande maioria dos países da África do Oeste.

Cheguei à conclusão pessoal de que o santomense desconhece o que é realmente ser africano. Era como se me estivesse africanizando pela primeira vez, apropriando-me da história do continente com que me identifico. Só por isso valeu a pena. Mas a coisa não fica por aqui. Na componente de formação em Civic Leadership, tive o prazer singular de disfrutar de formadores africanos de alto nível, que transmitiram conhecimento de excelência em temáticas diversas, tais como: Competências de vida, Desenvolvimento pessoal e profissional, Liderança transformacional, Trabalho em equipa, Gestão de organizações, Visão organizacional, Gestão de emoções, Montagem e Gestão de projetos, Marketing viral, Marketing social, Comunicação, Mobilização social, Serviço comunitário, etc. O conteúdo das formações é top level. O que muito me ajudou na composição do meu projeto, que tem a juventude como área de predileção.

A considerar

Como disse anteriormente, fui o primeiro jovem santomense, mas também o único. Por isso, há a necessidade de os jovens santomenses candidatarem massivamente. Alguns países como o Togo estavam em grande número (17 jovens). A coordenação do YALI DAKAR apela a uma maior participação dos jovens santomenses. Eis a principal razão deste artigo: partilhar, informar e sensibilizar os jovens a este programa de formação em liderança, concebido especialmente para os jovens africanos que querem marcar as suas comunidades, os seus países e o continente com o seu cunho de influência. Aproveito, desde já, o ensejo para informar que uma atividade de lançamento da página de facebook: Oportunidades Internacionais, cujos promotores são Dynka Amorim e Anne-Nuna Carvalho, está prevista para a segunda semana do mês de Dezembro do ano em curso, onde vários jovens ex-alumni do YALI partilharão as suas experiências com os demais jovens potenciais futuros alumni YALI.

Esta atividade terá como objetivo principal incentivar a candidatura de jovens santomenses para programas internacionais diversos, que compreendem bolsas de estudo, estágios, voluntariado, etc. Concernente ao YALI Dakar, há que reconhecer que o fato das formações serem realizadas, integralmente, na língua francesa coloca entrave ao interesse de muitos jovens. Foi por esta razão que, enquanto ainda estive ali, advoguei junto ao coordenador do programa sobre a necessidade de traduzir os documentos de formação para o português, tendo em conta a presença, no programa, de três (3) países lusófonos, nomeadamente Cabo-Verde, Guiné-Bissau e S. Tomé e Príncipe.

A questão será ponderada. Enquanto isso, que cada um veja a situação como um desafio a ultrapassar e como uma ocasião para se dedicar à aprendizagem de uma língua estrangeira. Dito isto, decidi dedicar-me ao inglês com o intuito de me candidatar ao Mandela Washington Fellowship de 2017. Tudo isso está ao alcance de qualquer jovem, rapaz ou rapariga. Como se diz, a força de vontade é tudo. Antes de concluir, permitam-me um último apelo: as candidaturas femininas são altamente incentivadas. O programa pretende alcançar a taxa de 50% ou mais de participação feminina. É a vossa hora, meninas! Não se acanhem! Empoderem-se!

 

 

3 Comments

3 Comments

  1. xico

    6 de Novembro de 2016 at 22:57

    Este programa é a forma que os USA encontraram para selecionar os membros da sociedade secreta para o continente africano, inocente quem acredita em bondade dos yankees.

  2. xico

    6 de Novembro de 2016 at 22:58

    Que participem mas nao vendam a alma ao Diabo.

  3. Ralph

    8 de Novembro de 2016 at 4:44

    É bom participar em tais iniciativas e, sem dúvida, os EUA fazem muitas boas coisas e são uma boa influência no mundo mas lembre-se de que os EUA não têm todas as respostas aos problemas do mundo. De facto, os EUA representam uma causa de muitos. Mantinha a mente aberta!

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