Cultura

Escritora brasileira Ieda de Oliveira vem a São Tomé

Muitas vezes laureada pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, do Brasil, está chegando a São Tomé e Príncipe para, entre outros eventos (programação abaixo) como contação de histórias e oficinas, lançar sua mais recente obra, ‘As Cores da Escravidão’.

O livro narra a história do menino Tonho, um menino que vive o sonho de uma vida melhor. Embalado pelas histórias da avó, ele convence o amigo João a seguirem um ‘gato’ (homem que recruta trabalhadores, servindo de intermediário entre o empreiteiro e o peão) que apareceu na cidade convocando as pessoas para ganhar dinheiro. Mas a realidade encontrada pelos meninos é dura e triste.

Saiba mais a seguir.

DOCUMENTOS SOBRE O TRABALHO FORÇADO NO BRASIL INSPIRAM NOVA OBRA DE IEDA DE OLIVEIRA

“A obra As Cores da Escravidão é uma história sobre a inocência roubada, sonhos invadidos, infância escravizada. Mas também sobre esperança, compaixão, amizade e amor”.

Segundo a romancista Adriana Lisboa, que apresenta a obra editada pela FTD, com ilustrações de Rogério Borges, ela aborda “[…] um episódio que pede com tanta urgência para ser narrado – e que trata de um tema doloroso, muitas vezes varrido para debaixo do tapete […]”. “[…] O que se pede de nós é que, ombro a ombro com o herói, sustentemos a vista firme diante da feia visão daquilo que nós, seres humanos, cometemos contra nosso semelhante, e com isso compartilhemos, do fundo da nossa alma, a urgência de dizer: não mais! […]”.

E a história do herói, o menino Tonho, começa assim…

“[…] Um dia a gente tava jogando bola no campinho, quando começou a ver um mundo de gente passar com pressa. Fomos atrás. Tinha um homem falando alto e dizendo coisas muito boas. Que ele sabia onde tinha serviço bom pra todo mundo e que dava pra ganhar muito dinheiro […]”.

Era o Gato Barbosa que estava ali, pensou o herói, pra ajudar todos a ficar rico.

Mas logo, logo o sentimento de dor roubou a alegria…

“[…] Do lado de fora, esperando por todo mundo, um gato de nome Tanguá. Junto com ele, outros homens. Ele tinha a cara fina e um olho tapado. Achei que parecia mais pirata do que gato. Falava grosso e deseducado. Diferente do Gato Barbosa. Ele não ria. Foi logo dizendo que a gente ia trabalhar na derrubada da mata e que o gasto da viagem já estava anotado no caderno. Não entendi. O Gato Barbosa não falou nada disso […]”.

E a esperança foi sendo tomada pela angústia…

“[…] Aquela palavra escravo tinha ficado na minha cabeça como um machado batendo sem cessar, abrindo o corte da derrubada. Escravo, escravo, escravo, escravo… Marquês de Marabá… Tentei não ficar pensando. Eu precisava ser o Marquês de Marabá. Era tudo o que eu tinha. Falaram que ali a gente tinha preço. A gente e as partes da gente. Que um braço valia R$ 20, a mão sozinha R$ 5 […]”.

DOCUMENTO  DA COMISSÃO PASTORAL DA TERRA – TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO (informação que inspirou o livro).

“Eu, Sebastião Luiz Paulo, sou brasileiro, com 17 anos, sem documento, residente em Colinas, Tocantins, no poder da minha bisavó, que mora na rua 18 de Setembro s/nº, em Colinas, Tocantins, Sr. Valdir e Dª Zenaide, que convive com Raimundo Soares e trabalha na fazenda Volkswagen, entre Redenção e Santana do Araguaia.

[…]

Ele estava oferecendo uma boa remuneração por alqueires de serviço em uma fazenda do Sul do Pará, no município de Xinguara, e eu e mais 22 peões, incluindo dois menores, entramos em uma carreta de transportar gado e fomos até a fazenda Lagoa das Antas, no município de Xinguara, do fazendeiro Luiz Pires. Quando chegamos lá, encontramos o Gato Fogoió, que é o contabilista do Gato João Moaramas, que nos levou à fazenda Flor da Mata do fazendeiro Luiz Pires, a 300 km da fazenda em que estávamos. Fomos transportados de avião.

[…]

Depois de ter feito um alqueire e meio de juquirão e 20 km de aceiros, eu vi uma cena perigosa de um companheiro menor com idade mais ou menos 10 anos, que andava mais eu: em uma sexta-feira ele tomou uma bota emprestada para ir ao trabalho, pois não queria comprar uma pelo preço de 20,00 reais, tinha medo de ficar devendo e não poder mais ir embora, depois disseram que ele tinha roubado a bota, então o Gato Fogoió levou ele para o mesmo barracão abandonado que ficamos quando chegamos na fazenda Flor da Mata, e bateram, nele de facão, depois pegaram uma arma de calibre 38, apontaram para ele e mandaram ele correr sem olhar para trás, ele correu, entrou na mata e eu não o vi mais.

[…]

Por ser verdade, assino a presente declaração (impressão digital)

Tucumã, 15.8.97…”

APRESENTAÇÃO (do livro):

(escrita por Adriana Lisboa, autora dos romances ‘Azul-corvo’ e ‘Sinfonia em branco’, além de obras para crianças e jovens; recebeu, entre outros prêmios, o José Saramago, o Moinho Santista e o de Autor Revelação da FNLIJ; seus livros foram traduzidos em 13 países)

“É preciso ter muito talento para escrever uma história como a que Ieda de Oliveira conta neste livro. Não é para qualquer um a capacidade de perceber, no meio do descaso e dos descuidos do mundo, um episódio que pede com tanta urgência para ser narrado – e que trata de um tema doloroso, muitas vezes varrido para debaixo do tapete: escravidão no Brasil. Mas a escravidãono Brasil não foi abolida faz mais de um século? Não, as coisas não são bem como pensamos. Como gostaríamos de pensar.

Soma-se a isso a sensibilidade da narradora, a mão firme com que amarra suas páginas e a nós nelas, como se usasse de mágica, de modo que a gente já não sabe mais se está acompanhando a história ou se a história nos está acompanhando. É o que faz As cores da escravidão permanecer conosco muito depois de finda a última página.

Seguindo a vida de um pequeno herói que sonha, inocente, com o Gato de Botas, e encontra em vez dele um tal Gato Barbosa – um gato que chega na cidade ‘pra ajudar todo mundo a ficar rico’ e leva embora sonhos, leva embora infâncias (literalmente), Ieda não escreveu um livro qualquer.  Tenho certeza de que mesmo entre sua vasta e premiada obra, As cores da escravidãovai sempre ocupar um lugar especial. Trata-se de uma pequena grande aventura, costurada em angústia, esperança e alegria.

Olhar o mundo nos olhos é a verdadeira postura dos heróis. Aqui, o que se pede de nós é que, ombro a ombro com o herói do livro, sustentemos a vista firme diante da feia visão daquilo que nós, seres humanos, cometemos contra nosso semelhante, e com isso compartilhemos, do fundo da alma, a urgência de dizer: não mais! Daremos conta do recado?”

>>> 

AS CORES DA ESCRAVIDÃO: Editora FTD, romance recomendado para jovens e adultos, 96 páginas, R$ 32,90.

>>>>> PROGRAMAÇÃO IEDA DE OLIVEIRA EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE:

• 25/10/2013 (sexta-feira)

6h: Chegada

15h30: Encontro de coordenação das atividades

• 26/10/2013 (sábado)

15h: Entrevista no programa “Estação Brasil” na Rádio Jubilar (Programa de rádio da

responsabilidade da Embaixada do Brasil)

• 27/10/2013 (domingo)

(Livre)

• 28/10/2013 (segunda-feira)

14h às 17h: Oficina “A criação literária infantil e juvenil” para escritores, professores, agentes

de leitura e interessados em literatura infantil e juvenil.

Como escrever um texto de qualidade para crianças e jovens: contrato de comunicação, projeto

de comunicação e estratégias discursivas. O papel da ilustração no livro infantil e juvenil.

Local: Centro Cultural Brasil-São Tomé e Príncipe

• 29/10/2013 (terça-feira) (Dia nacional do livro)

17h: Palestra “A importância da literatura infantil e juvenil” + Lançamento do livro “As cores da

escravidão”

Local: Centro Cultural Brasil-São Tomé e Príncipe

• 30/10/2013 (quarta-feira)

10h: Atividade de leitura/contação de história para crianças de escola básica

Local: (a definir)

• 31/10/2013 (quinta-feira) (Dia do Saci)

10h: Atividade de leitura/contação de história para crianças

Local: Centro Cultural Brasil-São Tomé e Príncipe

• 1/11/2013 (sexta-feira): Partida

>>>>> IEDA DE OLIVEIRA é escritora, compositora e pesquisadora. Sua obra literária e musical é voltada para o público infantil e juvenil e inclui sucessos como ‘Emmanuela’, ‘Rhaimischimbilim – O mistério da família Sales’, ‘Viva o Reino da Terra’, ‘Boitatá e Curupira’ e ‘Bruxa e Fada, menina encantada’. Pós-doutora em Análise do Discurso (Université Paris 13), doutora em Estudos Comparados de Literaturas em Língua Portuguesa (USP), mestre em Literatura Brasileira (PUC-RJ e especialista em literatura infantil e juvenil (UFRJ). Por seus trabalhos já recebeu prêmios como Adolfo Aizen de Literatura Infantil, José Guilherme Merquior de Literatura Crítica, além de várias láureas Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Tels.: 55 21 9519-0101 e 2275-0027.

*** Em anexo, imagens da capa do livro e da escritora (créditos de Michele Lisboa)

bjinhos,

Cássia Valadão – Ass. de Imprensa

Elloo Comunicação & Produção Artística

www.elloocomunicacao.com.brtwitter.com/elloocomunicacao

Tels.:  55 (21) 3179-0164 / 6929-6930

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