Cultura

“Ellyzé – Autópsia da Alma” na Feira do Livro de Lisboa

Um livro de São Tomé e Príncipe com as janelas literárias abertas ao mundo, decorrido da apresentação, no dia 30 de maio último, na FNAC do Centro Comercial Vasco da Gama, em Lisboa, “Ellyzé – Autópsia da Alma”, está disponível na 95ª Edição da Feira do Livro de Lisboa.

Os visitantes da, quase, centenária exposição literária do Parque Eduardo VII, têm até o dia 22 de junho para desfrutarem das ilhas do Equador, através de “Ellyzé – Autópsia da Alma”, que também pode ser adquirido nas várias livrarias da FNAC.

Uma obra atestada, nessa apresentação, de prazer díspar para a crítica literária nacional, a socióloga Cláudia Costa e a Ilsy d’Alva, diretora editorial da Pena Real e além fronteiras, a Paula Amaro, diretora da Dinalivro, carrega testemunhos distintos da emigração africana que passou por Portugal, França e Inglaterra, sempre usufruindo da travessia atlântica com os distintos povos das Américas e da Ásia.

Com a chancela da Pena Real Editorial, “Autópsia da Alma” nas várias páginas de reflexão, os leitores dão de cara com momentos criativos de superação, apesar de sentimento de perda de uma filha, a Ellyzé, na flor da idade, os seus 26 anos.

Daí, leves que nem as folhas da gravana, são notórios os aconselhamentos de alheios que liam as lágrimas públicas, a derreterem a dor de luto nos olhos de um homem frágil de culpa. «- A morte, é a nossa maior amiga; está sempre por perto e disponível ao abraço. Creia que foi a sua hora e ela encontra-se bem, lá ao pé de Deus» para depois, a narrativa inserir São Tomé e Príncipe, as insignificantes ilhas na dimensão territorial, no centro do contexto internacional.

Senão vejamos, uma das dinâmicas das várias inseridas, em conjuntura histórica, a jovem universitária londrina, usando do discurso direto, é suficientemente esclarecedora, numa das discussões. «- Os ingleses tiveram as mãos na codificação das ilhas

O interlocutor perplexo, «golpeado no xadrez da vida» e «fracassado no confronto da memória da conversa pai e filha, tida não há muitos anos» aproveitou o empurrão e com um pé de dança, enquanto terapia tradicional, deveras oportuna no livro, traçou um breve percurso de um «capitão de mato contra o poder, a igreja católica e os patrões de cultura da cana-de-açúcar» para depois devolver a oração à investigadora histórica que «sempre surgirá, de rompante e coloca interregno que rouba as palavras

«- Você se recorda da interferência das ilhas do meio do mundo na deterioração da relação entre Portugal e Grã-Bretanha? Refiro-me ao ultimato britânico de 1890. A tradicional aliança luso-britânica, passava nos finais de século XIX e início de XX, por uma tensão, agravada pelo boicote dos chocolateiros ingleses ao precioso ouro de São Tomé e Príncipe, produto por detrás das riquezas de abastadas famílias e palácios portugueses, donos dos escravos e das roças das ilhas

Mantido em sentinela para que a interlocutora não perdesse o fôlego, nunca mais, o pai abriu bem os holofotes do raciocínio.

« – A persistência de Portugal em fechar os olhos à escravatura, na produção de cacau, apesar da abolição internacional do tráfico e trabalho escravo, levou o empresário britânico, William Cadbury, a explodir o escândalo que teve impacto internacional

Considerada, nessa apresentação no Centro Comercial Vasco da Gama, em Lisboa, pelo próprio autor, como uma cirurgia à consciência humana, o livro escava a terra profunda das ilhas, numa criatividade típica são-tomense de valorização da Língua Portuguesa, nas suas várias perspetivas de consumo brasileiro, africano e de milhões dos falantes do português.

«- Quando é que a tua filha viu lua?», para que no jogo, «A lembrança tinha ponta para esticar conversa à Betinha, numa tarde de abordagem aos filhos, as mil desgraças de África,» desde lá, onde tem o início a vida, para recuperar o olhar de meninice às receitas da sióra Mosa, a avó da jovem defunta, não menos interventiva no livro, «- Meu filho, inferno é aqui na terra! Quem faz mal, paga antes de entrar no purgatório».

Dias Cardoso

13.06.2025

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