PARCERIA – Téla Nón / Rádio ONU
Taxa de crescimento é a menor desde 2009; órgão cita ambiente económico mais desafiador; Moçambique deve sustentar crescimento anual de 7% ou mais entre até 2017; Angola destacada pelo impacto da queda do preço do petróleo.
Foto: Banco Mundial.
Laura Gelbert, da Rádio ONU em Nova Iorque.
Os países da África Subsaariana continuam a crescer, embora num ritmo mais lento devido a um ambiente económico mais desafiador.
De acordo com novas projeções do Banco Mundial, a expansão em 2015 vai desacelerar para 3,7%, em comparação aos 4,6% em 2014. Prevê-se que chegue à menor taxa de crescimento desde 2009.
Moçambique
De forma geral, o crescimento na região deve subir para 4,4% em 2016 e 4,8% em 2017.
Os dados estão na publicação do órgão intitulada Africa’s Pulse, ou Pulso de África, que analisa as tendências económicas e os dados recentes do continente duas vezes ao ano.
Em entrevista à Rádio ONU, o conselheiro sénior do departamento de pesquisa do órgão, Francisco Ferreira, explicou esta mudança.
“Os conflitos são uma parte disso, sem dúvida nenhuma, em alguns países da África. Mas talvez o fator mais importante, mais generalizado é realmente o fim do ciclo das commodities. O preço das matérias-primas como o petróleo, minério de ferro, cobre, vários produtos agrícolas que são exportados pela África tem caído nos últimos tempos após uma década e meia de alta. Essa queda está afetando um pouco as exportações, o valor das exportações, mas também o investimento que está sendo feito em vários países africanos. A África continua crescendo, mas realmente, num ritmo mais baixo do que anteriormente.”
Pulso de África
Segundo o documento, diversos países, entre eles Moçambique, vão continuar com um “crescimento robusto”. Espera-se que esta e outras nações sustentem um crescimento anual de 7% ou mais entre 2015-17. Entre elas estão a Cote d’Ivoire, ou Costa do Marfim, a Etiópia, o Ruanda e a Tanzânia.
Este crescimento será estimulado por investimentos em energia e transporte, gastos dos consumidores e investimento no setor de recursos naturais.
Matérias-primas
Segundo o Banco Mundial, a queda acentuada no preço do petróleo causou o recente enfraquecimento do crescimento.
Outros fatores externos são a desaceleração económica da China, as condições financeiras globais mais apertadas e nós de estrangulamento no suprimento de energia em muitos países africanos.
De acordo com o vice-presidente do Banco Mundial para a África, Makhtar Diop, “o fim do super-ciclo das matérias-primas apresenta uma oportunidade para os países africanos revigorarem as suas ações de reforma e, assim, transformarem as suas economias e diversificarem as fontes de crescimento”.
Pobreza
Segundo estimativas do Banco Mundial, a pobreza em África caiu de 56% em 1990 para 43% em 2012.
Ao mesmo tempo, a população africana teve avanços em todas as dimensões de bem-estar, particularmente em saúde, como mortalidade materna e infantil e matrículas da escola primária, onde diminuiu a diferença de género.
Entretanto, os países africanos continuam com uma alta taxa de natalidade, o que tem limitado o impacto das últimas duas décadas de crescimento económico sustentado na redução do número total de pobres.
No que diz respeito aos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, por exemplo, África não vai atingir a meta de reduzir à metade a proporção da população vivendo na pobreza entre 1990 e 2015.
Francisco Ferreira falou sobre a relação entre a desaceleração do crescimento em África e a questão da pobreza no continente.
“E isso só reforça essa tendência que nós infelizmente observamos de que a pobreza mundial vai estar cada vez mais concentrada nesta região, na África. Porque as outras regiões mais pobres, principalmente na Ásia, continuam crescendo um ritmo mais alto, China, Índia, outros países asiáticos. Então, há essa espécie de concentração. Continua havendo progresso na África, mas há uma concentração dessa pobreza restante muito forte neste continente”.
Angola
Os ricos recursos naturais da África Subsaariana fizeram da região uma rede de exportação de combustível, minerais, metais e produtos agrícolas. As matérias-primas representam cerca de três quartos dos bens de exportação da região.
Suprimentos robustos e demanda global menor causaram o declínio no preço das matérias-primas. De acordo com o relatório, por exemplo, a queda nos preços do gás natural, do minério de ferro e do café ultrapassou os 25% desde junho de 2014.
O documento do Banco Mundial aponta que o declínio do crescimento na região, de forma geral, tem nuances e os fatores prejudiciais variam entre países.
A queda nos preços afetou negativamente o crescimento dos países africanos exportadores de matérias-primas, especialmente os produtores de petróleo como Angola, República do Congo, Guiné Equatorial e Nigéria.
A mesma tendência ocorreu nos produtores de minerais e metais, como o Botsuana e a Mauritânia.
Instabilidade Política
Na África do Sul, Gana e Zâmbia, o documento cita fatores domésticos como restrições ao suprimento de energia.
No Burundi e no Sudão do Sul, ameaças de instabilidade política e tensões sociais têm impacto económico e social.
Reformas
Para o Banco Mundial, o crescimento na África Subsaariana será testado de forma repetida, com novos choques no ambiente económico global.
Segundo o relatório, o facto vai destacar a necessidade de os governos embarcarem em reformas estruturais para aliviar impedimentos domésticos aos crescimento.
O órgão cita, entre outras ações, os investimentos em nova capacidade energética, a atenção à seca e aos seus efeitos sobre a energia hidroelétrica e a melhor eficiência dos gastos públicos.
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