Assim como não há democracia sem democratas, uma democracia com democratas problemáticos, como alguns dos nossos, teria que ser, forçosamente, uma democracia com muitos problemas.Príncipe, SURGE ET AMBULA! (Príncipe, Levanta – te e Caminha)Os nossos “democratas” acham-se o máximo, infalíveis, intocáveis, estrelas. Há um outro grupo (ou será classe?) que, felizmente, não se arroga o estatuto de estrela, mas que exige que todo o mundo comungue da sua maneira de ver as coisas. Curioso é que esses democratas de araque se dizem acérrimos combatentes do sistema monolítico.
Os indivíduos de um outro grupo, porém, cada um à sua maneira, arrogam-se o direito de fazer extrapolações à colocação das pessoas que com elas se comunicam e começando logo uma campanha persecutória em relação ao visado.
A Ilha do Príncipe, que de príncipe deixa muito a desejar, clama pelo reconhecimento, pelo direito que lhe é próprio enquanto parte do território nacional. Os principenses já não votam (ou não deviam votar) pelos olhos de ninguém. Votam em gente, que tenha qualidades que o faça parecer capaz de tirar o Príncipe do buraco onde o meteram; que apresente projectos exequíveis e que possam dar conta de tal desiderato; que se apresente numa lista de gente com pergaminhos à altura; honesto, trabalhador e com capacidade de liderança. Menos do que isso é pouco.
Aquele que ama Príncipe e mantiver os medievais laços com quem quer que seja tem o direito e a obrigação de rompê-los. Unilateralmente. Há uns meses das eleições regionais torna – se impreterível que os cidadãos comecem a fazer o exercício de irem analisando os possíveis candidatos e cidadãos “anónimos” a candidatos que não se identificam com a questão do Príncipe e começar a elimina –los da lista dos amigos do Príncipe. É que a política é um pouco como o concurso público ou a participação nas olimpíadas: há que ter alcançado os mínimos exigidos.
Assim como no concurso público, quem não reunir os requisitos mínimos exigidos é excluído liminarmente; assim como não é aceite para as olimpíadas quem não tenha atingido os mínimos fixados; na política, a gente nem tem que ouvir lenga – lenga de quem não tenha o mínimo que a Região precisa e exige.
Ser democrata é isso mesmo: pensar com a própria cabeça; lançar questões necessariamente polémicas para produzir discussões, debates; tentar ajudar outras pessoas a formarem opinião própria; dizer umas quantas (às vezes amargas) verdades; mas, sobretudo, respeitar o direito das pessoas terem opinião diferente da nossa; respeitar as diferenças; não perseguir quem não nos bajula; não confundir a parte com o todo, nem o contrário; não investir cegamente contra o crítico, antes analisar a crítica, a modos de ver se ela não traz algum contributo para o nosso crescimento pessoal.
É não perder de vista esta verdade tão simples quanto fundamental: não há democracia sem democratas.
Carlos Gomes/ 11 de Junho/2009.
(Professor de Filosofia na Ilha do Príncipe)