Economia

Cacau biológico dá qualidade ao nome de São Tomé e Príncipe no mercado internacional

quebra.jpgA produção do cacau biológico, ou seja, sem a utilização de produtos químicos, já se transformou numa referência de alta qualidade de produtos são-tomense no mercado internacional. Para além de aumentar consideravelmente o rendimento dos agricultores, de cerca de 2 cêntimos do euro por cada quilo de cacau para mais de 1 euro e meio, através da produção biológica de cacau, as 40 comunidades agrícolas envolvidas na produção estão a dar exemplo de sucesso do trabalho agrícola em cooperativa. O rendimento da produção permite a cooperativa financiar projectos de impacto social, nas comunidades. Para este ano as 40 comunidades vão colocar no mercado francês mais de 400 toneladas de cacau biológico.

Sem qualquer uso de produtos químicos, e seguindo critérios rígidos de qualidade, desde a colheita, passando pela quebra e a fermentação até a secagem, desde 2001 que os agricultores são-tomenses começaram a descobrir a cultura do cacau biológico. «Desde o arranque deste programa em 2001 que contamos com a assistência técnica de uma sociedade francesa denominada KAOKA, que é especialista no âmbito da produção do cacau biológico. É alguém que tem experiência nesta produção noutras paragens do mundo como Equador, Vanuatu, etc. Ele trabalhou connosco, e hoje podemos dizer que secagem.jpgtemos algo que é sustentável e inédito a nível do país», assegurou António Dias, coordenador da fileira cacau biológico.

A fileira cacau biológico fortaleceu bastante nos últimos anos, recuperando a confiança e a esperança dos agricultores, antes desanimados devido ao fraco rendimento. Produziam o cacau de forma convencional, sem o respeito pelos critérios da alta qualidade. Suportavam custos elevados com a compra dos produtos químicos, e vendiam a produção para os compradores de cacau a preço irrisório, cerca de 5 mil dobras o quilo, equivalente a 2 cêntimos do euro.  «Para lhe dizer que quando começamos em 2001, o cepticismo tomou conta das comunidades produtoras do cacau biológico. Porque as pessoas diziam que as coisas dos agricultores em São Tomé e Príncipe não avançam. Nada em colectividade funciona. Mas hoje demonstramos o contrário. E muitos que lideravam o cepticismo vêm nos dizer que afinal o projecto é bom. E o que assistimos é que todas as comunidades agrícolas de São Tomé e Príncipe, estão interessadas em enfileirar na produção do cacau biológico», explicou o coordenador da Fileira Cacau Biológico.

Actualmente 40 comunidades agrícolas, reunidas em duas dezenas de associações, acreditam no futuro. O rendimento familiar subiu de 2 cêntimos do euro, para 1, 5 euro. O resultado de cada quilo do cacau biológico é de 34 mil dobras. A Cooperativa de Exportação do Cacau Biológico(CECAB) que tem a sua sede em Monte Forte antiga dependência da Roça Ponta Figo, ganhou força financeira e técnica para garantir a fiscalização do produto de alta qualidade, até a exportação. Está equipada com secadores térmicos, desumidificadores e outros equipamentos. Para além de assegurar a manutenção de toda a unidade de tratamento do cacau biológico a CECAB, desenvolve projectos de apoio social nas 40 comunidades. «É a própria cooperativa dos agricultores que compra os insumos, como o sulfato e distribui para os agricultores. As cooperativas têm uma equipa sócio técnica composta por agricultores líderes das comunidades que têm a missão de prestar assistência social, sobretudo a nível da saúde. Quando um agricultor está doente é a cooperativa que lhe assiste a nível de medicamentos. Quando um agricultor ou a sua família morre é a cooperativa que assegura todas as despesas», sublinhou António Dias.

Na roça Santa Luzia, no norte da ilha de São Tomé o Téla Nón testemunhou a satisfação dos agricultores num dia de colheita e quebra de cacau. Confirmaram a melhoria da condição de vida que o cacau biológico trouxe para os habitantes da comunidade. Muitos já conseguiram construir a sua própria casa. «Coisa impensável no passado recente», desabafou Júlio Semedo, um dos agricultores de Santa Luzia.

Através do cacau biológico, os agricultores começam a andar com os seus próprios pés e a contribuir para o desenvolvimento do país. No processo de exportação do cacau, a CECAB paga todas as obrigações fiscais, nunca deveu um tostão ao estado são-tomense. Muitos agricultores consideram que pela importância do projecto e o impacto positivo na melhoria das condições de vida de 1500 famílias são-tomenses, que agrupa mais de 6 mil pessoas, o governo deveria conceder a cooperação isenção das taxas aduaneiras de exportação. Esta medida poderia segundo os agricultores libertar mais recursos para investimentos a favor dos agricultores. «Por exemplo este ano a cooperativa comprou um tractor de 800 milhões de dobras, estamos a falar de cerca de 40 mil euros. Mais ainda a própria cooperativa comprou um gerador de 22 cavalos para o secador térmico. A própria cooperativ  cacau-biologico.jpga através do fundo das associações adquiriu por volta de 700 quites de materiais nomeadamente machim, bota, lima etc. Neste momento já reembolsaram mais de 95% do valor gasto e os outros 700 agricultores deverão beneficiar brevemente destes quites.  Nós vamos revolucionar o mundo rural», assegurou António Dias.

Até o final do ano a cooperativa promete mais de 400 toneladas de cacau biológico. Nos próximos 5 anos, projecta uma produção de 1000 toneladas. Para atingir tal objectivo já está a disseminar novas plantas de cacaueiro. Plantas de grande produção, e que resultam da técnica de enxertia. «Hoje estamos orgulhosos porque o cacau biológico de São Tomé e Príncipe é um dos melhores do  mundo. É a confirmação que recebemos a nível internacional. O próprio comprador também diz que é um cacau de renome», pontuou.

Desde 2005 que o cacau biológico de São Tomé e Príncipe tem selo de qualidade atribuído pelo organismo europeu, designado de ECOCER.

O potencial do cacau biológico na melhoria das condições de vida dos agricultores são-tomenses, é tema da conversa entre o Téla Nón e o responsável da fileira Cacau Biológico para ler na página ENTREVISTA.

Abel Veiga

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